Para os que amam Nova York mas detestam o Brasil
23 de Junho de 2014, 18:42 - sem comentários aindaPara os que amam Nova York mas detestam o Brasil
Por Fernando Brito
Se a nossa elite mentalmente colonizada tivesse um pingo de lucidez e um grama de compaixão (ou apenas um dos dois) olharia para o Brasil com um sentimento de paz e esperança, em meio a um mundo que regride à miséria das primeiras décadas do século passado.
Mas teimam em ver o exterior como um mundo ideal, onde tudo é limpo, lindo e tecnológico.
O mundo, em todas as partes, é simplesmente feito de pessoas.
Quando elas vivem reduzidas à condição de bichos, nem a cosmopolita Nova York é civilizada.
Leiam o trecho que reproduzo desta matéria de hoje em O Globo.
E a foto que copio acima, de Ryan e Shelley, um casal de moradores de rua.
Um ex-casal, aliás, porque Ryan, agora, está morto.
É bom para lembrar o que esquecemos depois que passamos a achar Charlie Chaplin apenas um comediante antigo, não um intérprete de gente sem cuidado e sem esperança.
E que o drama humano é só existencial e não também pela sobrevivência.
Talvez com isso os que praguejam contra as nossas alegrias e desprezam os nossos progressos possam entender o quanto caminhamos.
E, por isso, o quanto acreditamos que temos de continuar a caminhar.
Mas sempre assobiando, alegres, como Carlitos.
A Nova York dos excluídos
Isabel Deluca
O número de sem-teto em Nova York atingiu, este ano, o maior nível desde a Grande Depressão nos anos 1930. Segundo as últimas estatísticas federais, a população sem moradia aumentou 13% em comparação com o ano passado, apesar da suposta recuperação da economia — e enquanto a média nacional só faz diminuir. A tendência cresce sobretudo entre famílias e virou um dos maiores desafios do prefeito Bill de Blasio, que fez da habitação acessível um dos pontos centrais do seu discurso de campanha, para comandar uma cidade onde os aluguéis não param de subir.
Os nova-iorquinos que passam a noite em abrigos ou nas ruas chegaram a 64.060, de acordo com o relatório anual do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano (HUD, na sigla em inglês), que compila dados de três mil cidades americanas.
Só Los Angeles teve aumento maior: lá, os desabrigados cresceram 27%, embora o total ainda seja menor que o de Nova York. No resto do país, o número caiu 4% desde 2012: hoje são 610.042.
— A maior parte dos EUA mudou a tática de reagir ao problema, e está funcionando — explica o professor de Políticas Sociais da Universidade da Pensilvânia Dennis P. Culhane, autor do relatório do HUD. — O foco tem sido no realojamento imediato, muitas vezes na forma de mediação de conflitos, mas também com ajuda financeira. O modelo de botar num abrigo e esperar até que se consiga encontrar uma moradia, ou que o cidadão consiga juntar dinheiro para sair, não é o novo modelo que emerge no país. Mas é o de Nova York.
Na cidade mais rica do mundo, a crise é resultado sobretudo do aumento no número de famílias que já não podem pagar aluguel. O último censo registrou um declínio no número de apartamentos acessíveis em Nova York, enquanto a renda da classe média baixa só faz cair. Para Culhane, parte do problema ainda pode ser creditado à crise econômica:
— Há desemprego excessivo, afetando a capacidade de pagar o aluguel. Há mais jovens adultos e suas famílias com pais ou avós. Isso cria um ambiente estressante que pode levar ao despejo. É o que acontece em dois terços dos casos. A razão mais comum que os novos sem-teto reportam é conflito familiar na casa superlotada.
Em Nova York, as famílias já representam 75% da população dos abrigos. Há menos sem-teto nas ruas do que há uma década, mas a lotação nos dormitórios é recorde — 52 mil, sendo 22 mil crianças. Relatório divulgado em maio pela ONG Coalizão para os Desabrigados aponta outro recorde: o tempo médio que uma família permanece num abrigo atingiu 14,5 meses.
O Departamento de Serviços para Desabrigados disponibiliza diariamente dados sobre os abrigos. Na última quarta-feira, eram 30.540 adultos e 23.227 crianças. O número de sem-teto que pernoitam em refúgios municipais é, hoje, 73% maior do que em janeiro de 2002, quando o ex-prefeito Michael Bloomberg tomou posse. Ele tentou driblar a questão com uma série de políticas, mas o resultado foi a superlotação dos dormitórios públicos.
— Prefiro dormir na rua do que num abrigo — relata Elliot, um sem-teto de 52 anos que costuma passar as tardes na esquina da Rua 72 com a Broadway. — A comida é pavorosa. Os banheiros são imundos. Há ratos e baratas por todo canto.
Fonte: Tijolaço
O fiasco ISIS/ISIL: na realidade, um ataque ao Irã
23 de Junho de 2014, 12:15 - sem comentários aindaHá alguma coisa que soa em falso em relação à cobertura da crise no Iraque. Talvez a forma pela qual a mídia a retrata, a mesma tediosa história repetidamente contada, com apenas pequenas alterações na narrativa.
Por Mike Whitney, no Counterpunch
Por exemplo, eu li um artigo no Financial Times escrito pelo presidente do Conselho de Relações Exteriores, Richard Haass, onde ele diz que as forças militares de Maliki em Mosul “desapareceram”. Curiosamente, o editorial de Haass foi seguido por um artigo de David Gardner, que usou quase a mesma linguagem. Ele disse que “o exército desapareceu”.
Daí decidi folhear os jornais um pouco e descobri que muitos outros jornalistas foram picados pelo inseto “desaparecido”. Notei que aconteceu também com vários outros veículos, incluindo Politico, NBC News, News Sentinel, Global Post, The National Interest, ABC News etc..
Agora, a única maneira pela qual uma expressão não comumente usada como essa aparece com tal frequência, é se os diversos autores estivessem buscando suas palavras copiando uma autoridade central (como provavelmente o fizeram). Claro que o efeito foi o contrário do que se pretendia, isto é, estas histórias fabricadas de antemão deixam os leitores a coçar a cabeça e sentindo que alguma coisa suspeita está acontecendo.
Claramente, alguma coisa suspeita está acontecendo. Não dá para acreditar em toda essa fábula de que 1.500 jihadistas assustaram 30.000 guardas de segurança iraquianos fazendo-os tirar as calças, jogar seus rifles fora, trocar de roupas e correr para as montanhas. Não sei o que realmente aconteceu em Mosul, mas eu digo a vocês: não foi isso. A história toda está cheirando mal.
Tudo o que aconteceu em Mosul cheira mal e então quase todos os jornalistas e peritos do MSM estão usando a história para desacreditar Maliki e sugerindo que talvez o Iraque esteja melhor sem ele. Haass já disse que isso mostra que toda a “lealdade do exército ao governo é só fachada”. Gardner falou que o fato sinaliza “uma rápida falência do estado”. Outro editorial de Nicolas Kristof ataca Maliki por outras razões, como sendo muito sectário.
Aqui, Kristof:
(...) a decadência do Iraque não é uma falha do presidente Obama. Não é uma falha republicana. Eles têm alguma responsabilidade, mas, esmagadoramente maior é a falha do primeiro ministro do Iraque, Nouri Kamal al-Maliki.
Claro que Kristof não se compara ao porta voz imperial, Tom Friedman. Quando se trata de fanfarronices idiotas, Friedman ainda é o número um. Ele é o “jornalista especialista” que pode resumir tudo em apenas um artigo no jornal Sunday Times, intitulado “Five principles for Iraq” (Cinco princípios para o Iraque – NT):
O próprio primeiro ministro xiita do Iraque, Nouri Kalam al-Maliki, demonstrou que não gostaria de ver um Iraque democrático ou pluralista. Desde o dia 1º, ele tem usado seu gabinete para instalar xiitas em postos chaves da segurança, desprezando políticos e generais sunitas e direcionando dinheiro para as comunidades xiitas. Em uma palavra, Maliki se mostrou um completo imbecil. Para além do cargo de primeiro ministro, Maliki também ocupa o Ministério da Defesa, do Interior, e de conselheiro da Segurança Nacional, colocando também seus comparsas no controle do Banco Central e do Ministério das Finanças. Maliki tinha como escolher: fazer um governo sectário ou inclusivo. Ele escolheu o sectarismo. Nada lhe devemos. (Cinco princípios para o Iraque – Tom Friedman, New York Times).
Friedman matou no peito, hein? Falando em outras palavras, a razão pela qual o Iraque se tornou uma bandalheira geral, nada tem a ver com a invasão, a ocupação, os esquadrões da morte, com Abu Ghraib, a opção Salvador, a infraestrutura destruída, o ambiente poluído até as raízes, ou a guerra viciosa e sectária iniciada pelos Estados Unidos através de seu programa maluco de contrainsurgência. Não, não. A razão de ter o Iraque se transformado em lixo é o fato de que Maliki é sectário. Maliki malvado! Soa familiar?
Foi Putin na semana passada. É Maliki nesta semana. Quem será o próximo?
De qualquer forma, existe uma razão para tudo o que aconteceu em Mosul, mesmo que eu não possa verificar a autenticidade. Verifique este post no blog Syria Perspectives:
(...) Teórico de primeira hora do partido Ba’ath e braço direito de Saddam Hussein, ‘Izzaat Ibrahim al-Douri, nativo de Mosul (...) procurou aliados em um Iraque pós Saddam muito hostil ... ainda no jogo e procurado para ser executado pelo governo de al-Maliki, al-Douri ainda controla uma vasta rede de sunitas iraquianos do partido Ba’ath que operam de maneira similar à velha Organização Odessa que ajudou a fuga de nazistas depois da Segunda Guerra Mundial (...) ele ainda não tem uma estrutura de apoio necessária para hostilizar e derrubar al-Maliki, então ele fundou uma aliança esdrúxula no ISIS/ISIL através dos gabinetes de Erdogan (Turquia) e Bandar (Arábia Saudita). Nossos leitores podem perceber que a invasão de Mosul foi realizada por antigos oficiais iraquianos ba’atistas, suspeitos de abandonar seus postos, largando para trás uma força militar de 52.000 homens sem qualquer liderança, forçando dessa maneira um completo colapso das defesas da cidade. Não é possível considerar como coincidência o planejamento da ação e a colaboração prestada. (O núcleo do ISIS – uma espécie invasiva – Ziad Fadel, Syrian Perspectives).
Tenho lido variações da mesma explicação em outros blogs, mas não tenho como saber se isso corresponde à verdade ou não. Mas o que sei é que esta explicação é muito mais crível que a outra, porque traz profundidade e detalhes mais que suficientes, tornando o cenário bem plausível. A versão oficial – o “desaparecimento” – não tem nada disso. Ela apenas coloca uma versão fantasiosa na expectativa de que o povo acabe por acreditar, nem que seja na base da fé. Por quê? Só em razão de ter aparecido nos jornais? Pois esta é uma razão muito boa para não acreditar em nada.
A lenda do “exército desaparecendo” é apenas mais uma das muitas versões inconsistentes na apresentação que a imprensa-empresa faz de qualquer evento. Outra charada é a razão pela qual Obama assiste aos jihadistas bagunçarem o Iraque inteiro sem que ele mova uma palha para contê-los. Será mesmo que ninguém acha isso um tanto quanto estranho? Quando foi que um presidente em exercício nos Estados Unidos deixou de responder imediata e duramente a agressão similar?
Nunca. Os Estados Unidos sempre respondem. O padrão nunca muda. “Pare o que você está fazendo agora mesmo, ou vamos bombardeá-lo até que só restem pedacinhos”. Não é essa a resposta típica?
Claro que é. Mas até agora Obama não fez nenhuma ameaça. No lugar disso, ele condicionou seu apoio a al-Maliki ao dizer que o presidente encurralado precisa “começar a acomodar os sunitas através de participação em seu governo” antes que os Estados Unidos possam “dar uma mãozinha”. Que diabos de resposta claudicante é essa? Confira esta nota da MNI News:
O presidente Barak Obama alertou nesta sexta feira (13/6/2014) ao primeiro ministro iraquiano Nouri al-Maliki que os Estados Unidos precisam que ele comece a efetivar a participação sunita em seu governo, ou verão os Estados Unidos parar a ajuda que ele necessita, algumas tropas dos EUA no terreno para prevenir contra um ataque a Bagdá.
Obama enfatizou, em uma aparição ante as câmaras antes de sua mensagem do meio dia, que, embora esteja considerando as opções para uma intervenção militar nos próximos dias, o movimento inicial deve ser de Maliki. (Obama adverte o Iraque de Maliki, procurando a acomodação de sunitas – MNI)
Alguma vez na vida você já leu absurdo igual? Imagine se, vamos dizer, as hordas jihadistas reunam-se a apenas 50 milhas de Londres e estejam ameaçando invadir a qualquer momento a cidade. Será que Obama dirigiria ao primeiro ministro David Cameron a mesma mensagem?
“Ora, Dave... gostaria mesmo de ajudar vocês, mas antes disso, vocês têm que colocar alguns desses terroristas em seu governo. Tudo bem, Dave? É apenas para mostrar alguma ação afirmativa com os terroristas.”
Parece (e é) uma insanidade, uma loucura, mas é isto que Obama quer que Maliki faça. Então, que se passa? Por que, em vez de ajudar, Obama fica fazendo ultimatos? Talvez a agenda de Obama seja diferente da de Maliki, e os acontecimentos que estão em curso atualmente lhe beneficiem...
É o que parece, com certeza. Basta olhar o que Friedman diz logo em seguida no mesmo artigo. Ajuda a esclarecer algumas coisas. Disse ele:
Pode ser que o Irã, assim como seu astuto comandante da Guarda Revolucionária Força Quds, General Qassem Suleimani, não seja tão esperto, afinal. Foi o Irã que armou seus aliados xiitas com bombas de formato especial que mataram e feriram tantos soldados americanos. O Irã nos quer fora. Também foi o Irã a pressionar Maliki para que não assinasse um tratado com os Estados Unidos que daria às nossas tropas cobertura legal para permanecer no Iraque. O objetivo do Irã era a hegemonia regional. Bem, Suleimani: “A confusão é sua”. Agora suas forças estão dispersas na Síria, Líbano e Iraque, enquanto as nossas estão voltando para casa. Tenha um bom dia. (Cinco princípios para o Iraque, Tom Friedman, New York Times)
É interessante, não é? Basicamente, Friedman admite finalmente que todo esse fiasco é sobre o Irã, que se tornou o grande vencedor no jogo da guerra do Iraque. Naturalmente, isso irrita profundamente o pessoal em Washington, Tel Aviv e Riad. Como a irritação não tem fim, cozeram este plano pateta para remover Maliki totalmente ou pelo menos cortar rente suas asas. Não é o que está acontecendo? É por isso que Obama aponta uma arma para a cabeça de Maliki e lhe diz que tem que comer um saco de sal antes de ser ajudado pelos Estados Unidos. Porque ele está decidido a enfraquecer a força hegemônica do Irã em Bagdá.
Friedman também aponta que o acordo do Estado das Forças poderia permitir que as tropas americanas permanecessem no Iraque. Como al-Maliki rejeitou o acordo, Washington se enfureceu e preparou o picadeiro para esta última farsa. Por bem ou por mal, Obama quer porque quer reverter essa decisão. É apenas a forma pela qual Washington toca seus negócios, torcendo braços e quebrando pernas. O mundo inteiro sabe disso.
Para entender o que acontece hoje em dia no Iraque, temos que aprender um pouco de história.
Em 2002, a administração Bush encarregou a Rand Corporation “de desenvolver e dar forma a uma estratégia de pacificação de populações muçulmanas nos locais onde os Estados Unidos têm interesses comerciais ou estratégicos”. O plano desenvolvido se chamou “Estratégia dos Estados Unidos para o mundo muçulmano depois de 11/9” – o qual recomendava que os EUA, “alinhem sua política aos grupos xiitas que pretendem mais participação nos governos e mais liberdade política e expressão religiosa. Se esse alinhamento puder ser edificado com sucesso, irá erguer uma barreira contra movimentos radicais islâmicos e construir a fundação de uma posição estável dos Estados Unidos no Oriente Médio”.
Os Bushies
Os Bushies decidiram seguir esse plano maluco que provou ser um erro tático monumental. Ao lançar todo o poder de sua força no apoio aos xiitas, eles dispararam uma rebelião sunita massiva que iniciou cerca de 100 ataques por dia contra soldados dos Estados Unidos. Por sua vez, estes ataques levaram os EUA a uma contrainsurgência selvagem que levou à morte dezenas de milhares de sunitas e reduziu o país a ruínas. Os ataques cruéis de Petraeus se ocultavam por trás da cortina de fumaça de uma enganosa política de Relações Públicas em uma guerra civil sectária. Foi uma guerra genocida contra o mesmo povo que agora Obama tacitamente apoia em Mosul e Tikrit.
Neste caso, houve uma grande mudança da política, certo? O fato de que os EUA têm uma abordagem de ficar longe do ISIS/ISIL parece sugerir que a administração Obama acabou por abandonar a estratégia Rand completamente e neste instante, procura maneiras de apoiar os grupos sunitas em seu esforço para derrubar o regime de Assad em Damasco, enfraquecer o Hezbolá e diminuir o poder do Irã na região. Apesar de ser estratégia ao mesmo tempo implacável e desprezível, ao menos faz algum sentido, na lógica perversa da expansão imperial, o que o plano Rand nunca fez.
O que está acontecendo atualmente no Iraque foi antecipado por Seymour Hersh em 2007, no seu artigo “The Redirection”. (O redirecionamento) O autor Tony Cartalucci, em seu próprio artigo, faz uma ótima resenha desta peça. Diz ele:
O “redirecionamento”, documentos (...) dos Estados Unidos, Arábia Saudita e Israel, na intenção de criar e posicionar extremistas sectários em toda a região para confrontar o Irã, a Síria e o Hezbolá no Líbano. Hersh aponta que estes “extremistas sectários” ou eram a Al-Qaida ou eram vinculados à Al-Qaida. O exército ISIS/ISIL que se move para Bagdá é o resultado final dessa conspiração, um exército que se move e opera com impunidade total, ameaçando derrubar o governo sírio, purgar as forças pró Irã no Iraque e também ameaçando o próprio Irã através de criação de pontes que mantenham a salvo tanto a Otan quanto a Al-Qaida em paraísos na Turquia, no Norte do Iraque e até as próprias fronteiras iraquianas... Isso é, de fato, uma reinvasão do Iraque para atender a interesses ocidentais - mas desta vez sem a participação direta das forças ocidentais – e sim com uma força ocidental por procuração, da qual o ocidente procura desesperadamente negar qualquer conhecimento ou conexão. (America’s Covert Re-Invasion of Iraq, Tony Cartalucci, Information Clearinghouse).
Devagar vamos chegando ao fundo da questão, certo? Agora talvez já sejamos capazes de identificar a política que guia todos esses eventos. O que sabemos com certeza é que os Estados Unidos precisam quebrar a força iraniana no Iraque. Mas a pergunta é: como eles planejam conseguir isso?
Bem. Eles poderiam se utilizar de seus velhos amigos, os ba’athistas com os quais têm estado em contato desde 2007. Pode até dar certo. Em seguida, para que a mistura tenha credibilidade, terão que adicionar alguns jihadistas.
Bem. Mas significam estes fatos que Obama está apoiando ativamente ao ISIS/ISIL?
Não. Não necessariamente. Outras agências de inteligência já têm conexão com o ISIS/ISIL, que podem não precisar de apoio direto dos EUA. (Nota: muitos analistas dizem que o Estado Islâmico do Iraque e al-Sham [Islamic State of Iraq and al-Shan – ISIS] recebem generosas doações da Arábia Saudita e Qatar, ambos convictos aliados dos Estados Unidos). De acordo com o London’s Daily Express: “por meio de aliados como a Arábia Saudita e o Qatar, o ocidente (tem) apoiado vários grupos rebeldes que então, se transformaram no ISIS e outras milícias ligadas à Al-Qaida (Daily Teleghraph, 12/06/2014).
O que importa, no que concerne a Obama, é que os objetivos estratégicos do ISIS/ISIL coincidem com os dos Estados Unidos. Ambos querem maior representação política para os sunitas, ambos querem minimizar a influência política do Irã no Iraque e ambos apóiam um plano suave de divisão que o antigo presidente do Conselho de Relações Exteriores, Leslie H. Gelb, chamou de “a única estratégia viável para corrigir o erro histórico (do Iraque) em movimento para a criação de três estados, o que solucionaria a situação: curdos no norte, sunitas no centro e xiitas no sul”. Este é o motivo pelo qual Obama não atacou ainda a milícia, mesmo que tenham marchado até a 50 quilômetros de Bagdá. Ocorre que os EUA se beneficiam com o desenvolvimento da situação até agora.
Vamos resumir:
Dependendo da situação, o governo dos Estados Unidos, “apóia” ou “não apóia” o terrorismo?
Sim.
As agências de inteligência fornecem armas e apoio logístico às organizações terroristas na Síria?
Sim.
A CIA também?
Sim.
O governo Obama deu sinais de que gostaria de ou se livrar de Maliki ou diminuir de muito o seu poder?
Sim.
Acontece assim porque a atual disposição fortalece a influência regional do Irã?
Sim.
O ISIS/ISIL acabará por invadir Bagdá?
Não. (Trata-se apenas de mero palpite, mas espero que alguma coisa já tenha sido tratada entre a equipe de Obama e os líderes do partido Ba’ath. Caso Bagdá realmente estivesse em perigo, provavelmente Obama agiria de forma diferente, com maior seriedade).
A Síria e o Iraque serão fracionados?
Sim.
O ISIS/ISIL é uma criação da CIA?
Não. De acordo com Ziad Fadel, “ISIS/ISIL é criação de um homem que sozinho jogou com a Al-Qaida como um iô-iô. Bandar bin Sultan”.
É possível que o ISIS/ISIL receba ordens de Washington?
Provavelmente não, mesmo levando-se em conta que suas ações parecem coincidir com objetivos estratégicos dos EUA. (Este é o ponto!)
A relutância de Obama quanto a lançar um ataque contra o ISIS/ISIL indicam que ele pretende enfraquecer o poder do Irã no Iraque, redesenhar o mapa do Oriente Médio e fazer nascer novas regiões politicamente irrelevantes dominadas por senhores da guerra e líderes tribais?
Sim, sim e sim.
[*] Mike Whitney é um escritor e jornalista norte-americano que dirige sua própria empresa de paisagismo em Snohomish (área de Seattle), WA, EUA. Trabalha regulamente como articulista freelance nos últimos 7 anos. Em 2006 recebeu o premio Project Censoredpor um reportagem investigativa sobre a Operation FALCON, um massiva, silenciosa e criminosa operação articulada pela administração Bush (filho) que visava concentrar mais poder na presidência dos EUA. Escreve regularmente em Counterpunch e vários outros sites. É co-autor do livro Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press) o qual também está disponível em Kindle edition.
Recebe e-mails por: fergiewhitney@msn.com.
Fonte: Rede Castorphoto.
Traduzido pelo coletivo Vila Vudu
Chico Buarque dá o recado
14 de Junho de 2014, 22:41 - sem comentários ainda"A VERDADE É QUE antes do PT chegar ao poder teve uma turma que ficou 500 anos mandando aqui no Brasil e esse país se tornou um paíseco de 5º mundo. Entramos na década de 80 ainda sendo uma república das bananas, governados por ridículos generais sem voto, ditadores golpistas assassinos e ignorantes, que “preferiam cheiro de cavalo a cheiro de povo“. Aí finalmente vem um partido que faz o Brasil avançar, tira nossa coleira dos USA, da um pé no traseiro do FMI, alça o país a 6ª economia do mundo fazendo o PIB saltar de 1 para mais de 2,4 trilhões em uma década, tira 50 milhões de brasileiros da pobreza, cria uma nova classe média de mais de 100 milhões com emprego, renda, carteira assinada e conta no banco... Enfim, avanços EXTRAORDINÁRIOS em uma década ! Mas a mídia, conservadora e recalcada, sabota e cria um clima de que estamos "a beira do abismo". E tem gente que vai na onda e não lembra do nosso passado medíocre..."
Chico Buarque
Dilma responde a vaias recebidas da área VIP composta somente por ricos e famosos
13 de Junho de 2014, 21:27 - sem comentários ainda___________________________
Lula fala sobre as vaias a Dilma
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta sexta-feira (13) as ofensas direcionadas à presidente Dilma Rousseff durante a abertura da Copa do Mundo, na quinta (12), no Itaquerão, em São Paulo. Chamou de moleques os autores dos gritos. Lula disse que as vaias demonstram "falta de respeito" com a presidente e que a "falta de educação" não tem relação com classe social.
"Não é dinheiro, nem escola nem título de doutor que dá educação para a pessoa. Educação se aprende em casa", disse. "Eu acho que a instituição Presidência da República, liderada por uma mulher, tem que ser respeitada. Eu vi alguns moleques gritarem no campo e não eram nenhum pobre que estava passando fome, que não tinha escola. Pelo contrário, parecia que que comiam demais e estudavam de menos porque perderam a vergonha e a falta de respeito com nossa presidente", afirmou Lula.
Lula afirmou que enfrentou vários presidentes desde a ditadura militar (1964-85), mas sempre com respeito. "Nunca tive coragem de faltar com respeito", afirmou o petista.
Fonte: 247
Imagem: Google
Evo Morales: "A estratégia do imperialismo é criar conflitos"
28 de Maio de 2014, 11:38 - sem comentários aindaO presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou nesta quarta-feira (28) que os países imperialistas auspiciam as crises sociais em diversos países latino-americanos, porque pretendem intervir contra os governos progressistas por meio da Organização do Tradado do Atlântico Norte (Otan). Morales participou da inauguração da 17ª Conferência Ministerial do Movimento de Países Não Alinhados (Mnoal), celebrada na Argélia.
“A estratégia do império é criar conflitos sociais para intervir com a Otan”, disse o presidente boliviano ao ressaltar que a intenção imperialista é “submeter e fracionar” os governos da América Latina. Para Morales, uma prova disso é o caso da Venezuela, onde estão impulsionando um conflito interno para planejar outra intervenção militar.
O chefe de Estado aproveitou a oportunidade para tecer críticas ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que, segundo ele, objetiva apoderar-se das riquezas naturais das nações em vias de desenvolvimento.
“Enquanto houver um pensamento de dominação e de intervenção não haverá paz”, assinalou Morales, que agregou ainda que “a paz não é, nem será, filha do gasto militar, nem de bases militares, nem da indústria bélica. A paz é produto da justiça e da igualdade de nossos povos”.
Fonte: Agência Venezuelana de Notícias (AVN)
Tradução: Théa Rodrigues, da redação do Portal Vermelho
Imagem: Google
Diálogo entre "professor" e aluna
27 de Maio de 2014, 16:27 - sem comentários aindaVejam o nível do debate numa sala de aula da FGV (Fundação Getulio Vargas), no ano da graça de 2014, na República Federativa do Brasil: (por Gabriel Priolli)
"Hoje estava em sala de aula (aluna no curso de direito) e o professor começou a falar abobrinhas. Eu ouvindo. Parecia estar vomitando a Veja (Revista Veja). Eu me segurando. Aí veio a Copa e ele vomitando Veja, gastos que deveriam estar na saúde, educação, nada de retorno.
Acontece que minha faculdade é da FGV (Fundação Getúlio Vargas), então perguntei se a FGV era uma instituição de moleques ou uma empresa séria. Ele perguntou o que eu queria dizer. Eu disse que a FGV estimou 143 BILHÕES de retorno financeiro da Copa.
Ele passou para a etapa seguinte de todo alienado:
"Mas esse dinheiro vai pra quem?".
Eu: "Como professor de economia o Sr. não devia dizer uma asneira dessas, sabe como a moeda circula num país".
Ele: "Vai junto com o meu dinheiro pra distribuir pra pobres do Nordeste".
Eu: "Ou com o meu dinheiro pra sustentar sua filha numa federal ou em bolsa de pós-graduação no exterior, e eu gostaria de poder escolher, porque o meu iria para os pobres do nordeste."
Ele: "O problema é que 'nós, paulistanos', carregamos o Brasil nas costas. 80% do dinheiro do país é nosso e 80% dos votos são dos pobres do nordeste" (outro absurdo se analisarmos a densidade demográfica, mas já sei que pra eles todo mundo que não é de SP é nordestino).
Eu: "Então devolvam a nossa matéria-prima, nosso trabalho e o dinheiro que expropriaram do resto do país concentrando toda a renda e investimentos no seu estado".
Os colegas de sala gritavam como torcida organizada. Entre outras asneiras ele disse que o estádio Mané Garrincha é do governo federal (!!!!) A aula foi suspensa.
Acho que serei a primeira aluna da FGV a obter o direito de fazer curso presencial a distância. Bem melhor do que ficar ouvindo um professor de graduação vomitar asneiras num espaço que devia ser dedicado a análise dos fatos, e não à reprodução de desinformação.
Não aguentei. Foi punk."
Banco do Sul: outro legado de Chávez
27 de Maio de 2014, 12:33 - sem comentários aindaOs chanceleres da Unasul, reunidos na semana que passou no Equador, decidiram pela implementação do Banco do Sul, com um capital inicial de 7 bilhões de dólares, ferramenta financeira destinada ao financiamento de projetos de integração da América do Sul.
Por Beto Almeida*, na Carta Maior
Trata-se de mais um dos grandes legados do presidente Hugo Chávez, falecido em 2013. Sem dúvida, o lado visionário de Chávez também se revela aqui nesta decisão, que vinha sendo procrastinada injustificadamente, inclusive pela relutância das autoridades financeiras do Brasil. Da mesma forma que até hoje, o governo brasileiro não tomou qualquer medida para vincular-se à Telesur oficialmente, favorecendo a integração informativo-cultura da América Latina, o que teria plena sintonia
com o discurso autocrítico feito por Lula em encontro com blogueiros, quando reconheceu muito pouco foi feito para a democratização da comunicação no Brasil.
O Banco do Sul, assim como a Unasul, nasceu graças a uma pregação incansável de Chávez, e agora já terá a companhia do Banco dos Brics, bem como de outras medidas adotadas pela Rússia, China e Iran para a desdolarização gradual da economia. O Banco do Sul é também uma grande bofetada nos EUA e, tal como o BNDES já vem fazendo, ao financiar a construção do Porto de Mariel, em Cuba, representará uma capacidade ampliada para a realização de projetos de infraestrutura que avancem na integração da América Latina, sempre sabotados pelos EUA.
Certamente, com mais esta ferramenta, surge clara a possibilidade de ampliar as operações sem o dólar - indispensável ante a crise e a instabilidade do capitalismo internacional - bem como o encorajamento para tirar do papel um conjunto de projetos integracionistas, a exemplo do que a Rússia, a China e o Iran já vem fazendo em matéria energética. Depois de Unasur, Telesur, Banco do Sul, agora pode estar chegando a vez do Gasoduto do Sul, tão sonhado pelo revolucionário Hugo Chávez.
Mas, para que isto se torne realidade, é preciso manter a unidade das forças progressistas, seja no Brasil, na Venezuela, na Argentina, Uruguai e Bolívia, seguindo o exemplo de uma persistência revolucionária incansável que nos legou Chávez, desde a audaciosa, meticulosa e arriscada construção de um movimento revolucionário bolivariano no interior das forças armadas venezuelanas. É este instrumento que hoje, materializado na unidade cívico-popular, mantém de pé a Revolução Bolivariana, capaz de impulsos construtivos como o Banco do Sul, de amplificar as energias da Revolução Cubana e de iluminar permanentemente os árduos caminhos da indispensável integração latino-americana.Como todo revolucionário, Chávez ultrapassa seu tempo físico e se mantém entre nós como criador, um construtor, um animador e um formador de consciências transformadoras.
*Beto Almeida é Membro do Diretório da Telesur
Fonte: Vermelho
Imagens: Google (colocadas por este blog)
A Bolsa Família e o estado de bem estar inglês
22 de Maio de 2014, 13:22 - sem comentários aindaPor Maria Eduarda Johnston*
Quando visitei Londres pela primeira vez, fiquei impressionada com a riqueza da cidade. Trafalgar Square com seus leões imponentes, a National Gallery e seu acervo de sonhos, o British Museum e suas múmias, deuses gregos e outros muitos tesouros arqueológicos. O tamanho destes prédios, que abrigam algumas das melhores coleções do mundo, o palácio da rainha, os parques, eu poderia escrever parágrafos e mais parágrafos sobre as maravilhas de Londres. Na minha cabeça eu só pensava: que povo rico! Mas a história não foi sempre assim. O Império Britânico sem dúvida era muito rico, mas o povo… O que se vê nas ruas das grandes cidades da Inglaterra hoje é bem diferente do que se via antes da segunda guerra, com grande parte da população vivendo em condições precárias, ainda sem ter o privilégio de sonhar com os benefícios, que a revolução industrial havia trazido para os mais ricos da sociedade.
O que mudou com o pós-guerra foi a ampliação dos direitos econômicos e sociais, com princípios baseados em igualdade de oportunidades e distribuição de riqueza. O programa se deu em duas frentes: a da saúde e educação e a dos benefícios sociais.
O Sistema Nacional de Saúde (NHS em inglês) foi criado em 1948 e é motivo de orgulho dos britânicos. É óbvio que existem problemas com o sistema de saúde daqui. Volta e meia surgem escândalos de maus-tratos e má administração em hospitais públicos. Ainda assim, a maioria vê o NHS como uma instituição que define um modo de vida. Os comentários sobre a saúde nos Estados Unidos, onde quem não tem um plano de saúde está frito, vem sempre com um tom de desaprovação e pena.
Na Inglaterra existem as ‘Public Schools’ que eu achava que eram escolas públicas, mas são as particulares. Isso porque antigamente só existiam as escolas de igrejas, depois surgiram outras abertas ao público, que podia pagar. Daí o termo ‘public’.Mais tarde vieram as ‘state schools’, o que nós chamamos de escolas públicas. Como excelência é uma coisa que não existe, uma vez que sempre se pode melhorar, os jornais aqui reclamam que o resultado dos estudantes britânicos em testes internacionais como o PISA fica atrás de muitos outros países. Não sou nenhuma especialista no sistema educacional britânico, mas posso contar a minha experiência. Há anos trabalho como voluntária na escola da minha filha, ajudando a promover a leitura. Até hoje quando chego lá fico deslumbrada com a qualidade do ensino e com a disponibilidade de recursos didáticos. Num rasgo de autopiedade, fico com pena da menina que eu fui, quando comparo a minha escola particular em Belo Horizonte com a escola pública da minha filha. Educação aqui é coisa séria, que pode fazer ou derrubar um político.
Quem fica em casa cuidando de um membro da família doente (com algum tipo de necessidade especial) recebe um salário do governo. Até os 18 anos, tratamento dentário e medicamentos são de graça, benefício também dado às gestantes. Aliás, os medicamentos são subsidiados para todos, o bolsa remédio. O preço máximo de um medicamento é £7.85 (cerca de 30 reais). Se o remédio custa menos, o paciente paga o valor do remédio. Se custar mais, o governo paga a diferença. O médico escreve a receita e o paciente retira o medicamento em qualquer farmácia. Se o paciente não tem como ir sozinho até o hospital para um tratamento, o hospital tem que resolver o problema de transporte. Se não fala inglês direito, o hospital (e os tribunais também) tem que fornecer um intérprete. Os velhinhos recebem uma ‘bolsa quentinha’ todos os dias em casa (meals on wheels), a preços subsidiados, se eles têm como pagar. Se não, vai de graça mesmo. Eles têm também ‘bolsa energia’ – o ‘gas benefit’, uma ajuda de custo para pagar as contas de gás e eletricidade. O ‘bolsa tv’ é para eles não pagarem o imposto para ver televisão ( TV Licence). Aqui tem que se pagar para ver televisão, mesmo os canais abertos. O ‘bolsa transporte público’ é subsidiado para estudantes e idosos. Depois de dar a luz, a mãe e o bebê recebem várias visitas dos agentes de saúde, até eles acharem que a família não precisa de mais de ajuda. Cabe ao Estado fornecer moradia digna para seus cidadãos, uma espécie de ‘bolsa moradia’. Se não tem uma casa ou apartamento disponível, o sem teto vai para um hotel, pago pelo governo. Tem também o ‘child benefit’ (bolsa família), o seguro por doença ou invalidez e o seguro desemprego, só para lembrar alguns.
Todos esses benefícios custam dinheiro e são bancados com o que é arrecadado pelos impostos. O imposto de renda varia entre 20 e 45%, dependendo da faixa salarial ou de ganhos. Se contar com a contribuição do National Insurance, (previdência) o imposto pode chegar a 54% dos vencimentos.Tem também o Council Tax (tipo um IPTU), o VAT, que é o ICMS inglês ( cigarro e bebidas recebem uma sobretaxa). Não é barato, tem gente reclama que o dinheiro não é sempre bem gasto e que existem pessoas que tiram proveito do sistema. Mesmo assim nunca vi ninguém chamando esses benefícios de bolsa esmola ou dizendo que tem que se ensinar a pescar e não dar o peixe.
Volta e meia aparece nos jornais alguém que burlou o sistema. Os jornais sensacionalistas adoram essas histórias, que apesar de exibirem um absurdo, são exceções. Nestas matérias frequentemente se vê um sujeito jogando golfe, ou futebol, mesmo estando afastado do trabalho por problemas na coluna. Aliás, problema de coluna é um clássico dos que exploram o sistema. Não que muitos não sejam genuínos, mas provar ou negar que alguém tem dor nas costas é difícil.
Morar no centro de Londres é caríssimo. Entretanto o Westminster Council ,uma espécie de administração regional de Westminster, paga aluguéis altíssimos para que algumas famílias de baixa renda possam morar num dos bairros mais ricos do planeta. Os críticos do sistema dizem que não é justo eles bancarem (através de impostos) para que outros morem em áreas onde eles nem podem sonhar em poder pagar. Os defensores da ideia dizem que não se pode retirar essas famílias de lá, onde elas formaram laços sócio afetivos, não seria justo. Eles vão ainda mais longe: se os pobres forem tirados da região, Londres vai viver um ‘apartheid’ social. Um lugar onde só vivem os ricos e os pobres são segregados, levando assim os princípios de igualdade e oportunidades por água abaixo.
Ah, os britânicos e seus princípios. Logo que me mudei para Inglaterra, quando os ânimos pós 11 de setembro ainda estavam exaltados, se discutia muito a obrigatoriedade de um documento de identidade. Aqui ninguém é obrigado a ter e muito menos portar o RG. Eu, que nasci e cresci num país onde não se deve sair de casa sem a carteira de identidade, achei que eles estavam fazendo muito barulho por nada. O que é que tem andar com um documento no bolso? Foi então que eu li um artigo que nunca mais me esqueci. Dizia que se você colocar um sapo na água fervendo, antes que você perceber, ele já terá pulado fora. Mas, se você colocar o sapo numa panela com água tépida e ligar o fogo, quando ele se der conta, ele já terá virado sopa. Com os direitos sociais adquiridos é a mesma coisa: um dia é uma carteira de identidade, outro dia o sigilo bancário quebrado. Um dia se tira os pobres do centro de Londres, no outro, os princípios que regem o programa de bem-estar social perdem o sentido e o sistema entra em colapso.
Conversando com um jornalista amigo que mora em Paris, ele disse que gostaria que o filho tivesse mais contato com a família no Brasil e que a gente perde muito morando no exterior. Ele completou: mas eu não trocaria a educação humanista que meu filho recebe aqui na França por nada. Concordo em gênero, número e grau com ele. Uma educação humanista pressupõe que o indivíduo aprenda a considerar e valorizar o bem comum mais amplo e não só a sua necessidade pessoal e imediata. O ‘bolsa família’ inglês, como o ‘bolsa família’ brasileiro, precisa passar por ajustes. Pode ser mais eficiente e mais justo. Mas se você me perguntar qualquer dia da semana, eu vou dizer que muito melhor com ele do que sem ele.
*Maria Eduarda Johnston é uma brasileira que vive em Londres.
Fonte: Sul21
Imagem: Google (colocada por este blog)
Socorro Gomes denuncia imperialismo em entrevista na Argentina
21 de Maio de 2014, 10:58 - sem comentários aindaSocorro Gomes, presidenta do Cebrapaz e do Conselho Mundial (CMP), deu entrevista ao jornal argentino Página/12, durante a sua participação na Reunião Continental Americana do CMP, em Buenos Aires, nos dias 13 e 14 de maio. Leia a seguir a íntegra da entrevista, publicada em 19 de maio.
Estados Unidos cercam o mundo com bases e frotas
Os Estados Unidos continuam sendo a maior ameaça à paz mundial, mas a América Latina conta com os instrumentos de integração necessários para fazer frente à sua hegemonia. Com esta ideia se apresentou Maria do Socorro Gomes Coelho, presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP), uma organização criada nos inícios da Guerra Fria.
“Depois da queda do Muro de Berlim, muitas coisas mudaram. Antes, havia dois polos de poder: o socialista, liderado pela União Soviética, e o capitalista, capitaneado pelos Estados Unidos. Mas ao se desintegrarem a União Soviética e o socialismo no leste da Europa, os EUA ficaram como a única força, unilateral e total, o que produz um desequilíbrio,” afirmou a política brasileira à Página/12.
De acordo com a explicação de Socorro Gomes Coelho, Washington aposta na militarização como estratégia para persuadir seus adversários, em conjunto com a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). “Os Estados Unidos cercam todos os continentes com bases militares, que hoje representam mais de mil, inclusive na América Latina. Mas, além disso, existem as frotas de guerra norte-americanas em todos os mares e oceanos. A Otan mudou sua concepção: já não serve apenas para o Atlântico Norte, mas opera em todo o mundo. Invadiu a Iugoslávia, Iraque, Líbia e ameaçou fazer o mesmo na Síria,” explicou.
“Os Estados Unidos falam de democracia e direito internacional, mas se servem da espionagem e espalham suas frotas de Marinha de guerra. Nem uma criança acredita mais nas falsidades morais desse país,” agregou Gomes Coelho, que também dirige o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz).
O CMP realizou uma reunião nesta semana, em Buenos Aires, onde se debateram assuntos de alcance global e regional. Sua titular mostrou-se esperançosa ante as negociações de paz entre o governo colombiano e a guerrilha das Farc.
“A Colômbia vem sofrendo há muitas décadas e precisa de paz. Mas é certo que há um conflito, uma guerra civil. Então, é preciso saber o que foi que provocou esse conflito: uma estrutura agrária profundamente concentrada e a falta de liberdade para expressar divergências políticas,” explicou. Também recordou que o presidente Juan Manuel Santos foi ministro da Defesa durante o governo de Álvaro Uribe, acusado de ser pai do paramilitarismo colombiano. “Santos foi o responsável pela invasão do território equatoriano como ministro de Uribe. Homens como o ex-presidente fazem muito mal à Colômbia,” destacou.
Mas para Gomes Coelho, a América Latina está na dianteira quanto a sua oposição à guerra, “por isso é que os Estados Unidos estão desesperados, por não perder o seu quintal.” Além disso, asseverou que a chegada de Hugo Chávez ao poder, em 1998, rompeu com a tutelagem de Washington na região.
“Os latino-americanos viviam muito separados, não havia unidade. Hoje há uma identidade latino-americana, algo que devemos, em parte, a Chávez, que foi um chefe de Estado com muita coragem, que chamava as coisas por seus nomes. Os povos da América Latina uniram-se através da Unasul, do Mercosul, da Alba e da Celac, criando instrumentos próprios de integração, como a PetroCaribe e o Banco do Sul. A Organização de Estados Americanos (OEA), que é um assentamento dos Estados Unidos no continente, era o mecanismo usado pela Casa Branca para levar adiante seus planos na região,” disse.
Segundo a presidenta do CMP, a prepotência de Washington não tem freios e, como Chávez atreveu-se a desafiar abertamente o “império”, a Venezuela enfrenta atualmente uma campanha para derrubar o seu sucessor, o presidente Nicolás Maduro. “Os Estados Unidos preparam um golpe de Estado continuamente na Venezuela, com sabotagem econômica, com mercenários, gerando caos e usando uma ferramenta muito importante, que são os grandes meios de comunicação,” advertiu. Uma estratégia que replicam em outras partes do mundo.
“São justamente os EUA que salientam as disputas étnicas e tribais na África, na Líbia e na Síria, com os distintos grupos religiosos. Por isso, fomenta essas disputas, para criar caos e divisão. Tudo isso, para servir a sua hegemonia comercial e política,” insistiu.
Gomes Coelho, que foi secretária de Justiça e Direitos Humanos do estado do Pará, referiu-se também à situação em seu país e aos protestos em torno da organização do Mundial de futebol. “É certo que foi preciso muito gasto, mas a infraestrutura permanecerá. A oposição quer usar o Mundial para criar descontentamento e dizer que ninguém quer a Copa, justo no país do futebol. É um falso debate,” sustentou.
Tampouco duvidou da aliança entre a oposição e os meios de comunicação mais influentes do Brasil para impedir a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, em outubro, um plano que – assegurou – começou com as manifestações contra o aumento do preço dos transportes públicos. “O povo saiu às ruas para demonstrar seu descontentamento, algo legítimo e necessário em uma democracia. O que ocorreu foi que a direita e os grandes meios potencializaram esse conflito dos transportes para criar caos. O povo não queria a saída do governo, mas que este resolvesse seus problemas,” argumentou.
Entretanto, a diretora do Cebrapaz estimou que Rousseff obterá um segundo mandato, ainda que reconhecesse o custo que pode significar para o Partido dos Trabalhadores (PT) ter alianças com distintos setores em busca de um triunfo eleitoral. “Lula postulou-se quatro vezes e foi derrotado três, sempre com uma coalizão mais à esquerda. Na quarta vez, apresentou-se com uma aliança mais ampla e aí entraram o centro e a centro-direita. Isso garantiu a vitória, não com um projeto como queríamos. O Estado e suas instituições são conservadoras. Avançamos muito, mas não tanto como deveríamos, por causa dessas alianças,” afirmou. “É algo contraditório porque, sem elas, não teríamos chego até aqui,” agregou.
Por essa razão, considerou que é tempo de promover uma reforma do sistema político, para que os partidos não se vejam obrigados a formar coalizões com outras forças que possam obstruir um processo de mudança. “Avaliamos sempre a reforma do sistema político, o que é uma verdadeira luta. Para convocar uma Constituinte é necessário convocar o povo. E veremos quem ganha nesse jogo. A maioria no Congresso não é da Dilma. O PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro, ao que pertence o vice-presidente do país, Michel Temer – tem parte da sua bancada na oposição. É um partido contraditório,” avaliou.
![]() |
Eduardo Campos e Aécio Neves |
![]() |
Marina Silva |
Entrevista: Patricio Porta
Foto: Adrián Pérez
Fonte: Página/12
Tradução de Moara Crivelente
Retirado do site CEBRAPAZ
Fernando Lugo diz que novos golpes na América Latina virão da mídia e de grandes empresas
11 de Maio de 2014, 22:16 - sem comentários aindaPor Vanessa Martina Silva, do Opera Mundi
“Possivelmente, os novos golpes na América Latina não vão sair dos quartéis militares, mas das multinacionais e dos meios de comunicação.” A opinião é de Fernando Lugo, senador paraguaio e presidente deposto por um golpe parlamentar em junho de 2012.
Em evento organizado na Grande São Paulo nesta sexta-feira (09/05) para discutir o processo histórico e político que permeou golpes militares no cone sul e o funcionamento da Operação Condor no contexto das ditaduras, o político paraguaio afirma que o manual da derrubada de governos democráticos hoje é outro: tem traços muito mais civis do que essencialmente militares.
“Os processos políticos na Bolívia, na Venezuela e no Equador indicam a superação neoliberal, mas temos o desafio de evitar o que ocorreu de maneira grosseira em Honduras”, disse referindo-se ao golpe de junho de 2009 que acabou derrubando o presidente Manuel Zelaya.
“No Paraguai, quem ganhou com o golpe? Os plantadores de soja, o agronegócio. No país, há uma classe que sempre teve os grandes negócios do Estado e tem medo de perder seus privilégios. Mas o povo originário, os camponeses continuam sem terras. Somente nesta transição morreram 138 camponeses no Paraguai”, afirmou, ao citar a multinacional Monsanto como responsável por financiar o golpe paraguaio.
Internacionalização da direita
O teatro projetado pelo arquiteto modernista Rino Levi, na Praça do 4º Centenário em Santo André, ficou lotado de jovens nesta sexta-feira (09/05), em sua maioria universitários, interessados em conhecer melhor o histórico de derrubada de governos democráticos no continente e a cooperação do aparelho de repressão de Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai via Operação Condor.
O evento “Ditaduras no Cone Sul 50 anos Depois”, realizado pelas prefeituras de Santo André e São Bernardo do Campo, teve início ontem e seguirá até domingo (11/05) abordando temas como a integração das Forças Armadas no contexto da Operação Condor; Copa do Mundo e os governos ditatoriais; o papel dos Estados Unidos nos golpes militares na região; repressão a artistas e manifestações culturais; a censura da mídia e o papel da Igreja Católica no período. A transmissão pode ser acompanhada ao vivo aqui.
A partir das discussões, será criado o Observatório da Democratização no Cone Sul. As exposições do seminário internacional deverão se tornar um livro com 200 páginas, que será entregue aos participantes e a escolas da região.
Além de Fernando Lugo, o painel de ontem debateu a “Luta de Resistência e a Democratização dos Países do Cone Sul” e teve entre seus expositores o filho do ex-presidente João Goulart, João Vicente Goulart, o sobrinho do ex-presidente chileno Salvador Allende, Andre Pascal Allende, e a ex-guerrilheira do Araguaia Crimeia de Almeida.
“O objetivo do Plano Condor foi impedir toda mudança social e democrática na América do Sul e liquidar todos os movimentos progressistas em nossas mãos”, afirmou Lugo após fazer um apanhado histórico das ditaduras na região e particularmente no Paraguai, onde o ditador Alfredo Stroessner governou de 1954 a 1989, perseguindo os movimentos de resistência no país e dando as bases para o desenvolvimento de um Estado neoliberal.
Ao mesmo tempo em que hoje há um movimento favorável à integração sul-americana com a criação da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), do Banco do Sul e do fortalecimento do Mercosul, há, na opinião do ex-presidente, uma “internacionalização da direita e da extrema direita” no subcontinente e “o desafio dos governos progressistas é conter as forças fascistas que estão se alinhando”.
Verdadeira democratização
Com sete meses de gravidez, Criméia de Almeida foi sequestrada e torturada por altos comandantes do Exército brasileiro por ter participado da Guerrilha do Araguaia entre 1968 e 1972. Ao sair da prisão, após nunca ter sido julgada, iniciou uma luta pela anistia ampla, geral e irrestrita e pelo direito de conhecer o que aconteceu com as 475 pessoas que morreram ou desapareceram durante a ditadura militar.
Mas, apesar da sentença proferida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que em 2010 determinou que não existe autoanistia, que os militares não estão isentos das mortes e desaparecimentos no país e que os responsáveis devem ser julgados e punidos, nada foi feito no Brasil. Na avaliação de Criméia, apesar de a instauração da Comissão da Verdade no país ser um avanço, ela caminha lentamente e com pouca transparência.
Andrés Pascal Allende, sobrinho do ex-presidente Salvador Allende completou o balanço da herança da ditadura nos tempos atuais ao mencionar que no Chile, a Constituição vigente é a que foi feita pelo ditador Augusto Pinochet e questionou: “o que está sendo feito para impedir que ocorram novos golpes na América do Sul?”.
“Na verdade, as escolas militares seguem ensinando as mesmas doutrinas de 30 anos atrás. No Chile, os militares são obrigados a estudar a tese de geopolítica de Pinochet, então que mudanças tivemos nas Forças Armadas?” Em sua visão, a região ainda corre o risco de vivenciar situações similares à dos anos 1960-70, “basta ver o manual que está sendo implementado na Venezuela com as agitações nas ruas e o que ocorreu com o Paraguai”, afirmou.
Diante deste quadro, se as Forças Armadas “não abrirem as portas para a participação cidadã, não eliminar seu caráter classista e não reduzir os gastos com defesa, estaremos diante do perigo de novos golpes militares na América Latina”. Allende conclui que para fazer estas mudanças no interior das Forças Armadas, “não podemos estar sozinhos, por isso é fundamental que tenhamos unidade entre os latino-americanos”.
Fonte: Sul21
Imagens: Google