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Dilma, na Alemanha, levanta suspeitas sobre manobras entre os exércitos do Brasil e dos EUA

18 de Novembro de 2017, 17:51 , por Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
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Em entrevista ao diário Jung Welt, em Berlim, a presidenta deposta Dilma Rousseff (PT) explicou o golpe.

 

Por Redaçãoo, com Ana-Carolina Sihler e Peter Steiniger/JW – de Berlim

 

Na longa entrevista ao diário alemão Junge Welt (JW), publicada na edição deste sábado, a presidenta cassada Dilma Rousseff não pronunciou o nome do presidente de facto, Michel Temer, uma única vez. Na conversa com os jornalistas Ana-Carolina Sihler e Peter Steiniger, Dilma voltou a afirmar que o Brasil foi alvo de um golpe de Estado; em curso ainda hoje, mais de um ano e meio depois. Embora não aponte a participação direta dos EUA na sua derrubada; acredita que as recentes manobras conjuntas entre militares norte-americanos e brasileiros, na Amazônia, têm “algo de muito estranho”.

Dilma falou, em Berlim, a convite da Fundação Friedrich Ebert; ao lado da ex-ministra da Justiça alemã Herta Däubler-Gmelin (SPD)

Dilma falou, em Berlim, a convite da Fundação Friedrich Ebert; ao lado da ex-ministra da Justiça alemã Herta Däubler-Gmelin (SPD)

Dilma Rousseff, como lembraram os entrevistadores, foi a primeira mulher eleita para a Presidência da República, na História do Brasil. “Ela é filiada ao PT, um partido de centro-esquerda. Em Outubro de 2014, foi eleita para seu segundo mandato. Em 2016, o Congresso derrubou seu governo, sob o pretexto de que ela havia violado normas legais”, acrescentaram.

Dilma falou ao JW, na última terça-feira, na capital alemã, após uma palestra para universitários. A convite da Fundação Friedrich Ebert; ao lado da ex-ministra da Justiça alemã Herta Däubler-Gmelin (SPD), Dilma falou em um evento sobre a politização do Judiciário. Na conversa com jornalistas, a presidenta deposta lembrou seu passado marxista. Disse que, mesmo quanto estava presa, leu os três tomos d’O Capital e As questões agrárias, do jornalista e filósofo marxista tcheco-austríaco Karl Koutsky.

— Eles provavelmente não faziam ideia do que se tratava — disse Dilma, em relação à censura imposta na época; principalmente nos presídios militares.

Viés neoliberal

Embora ela tenha sido alvo de um impedimento, que considera um golpe de Estado; “os militares permanecem nas casernas”, repararam os entrevistadores.

— Passei por dois golpes de Estado. O primeiro, em 1964, seguiu para uma ditadura militar. Algo típico para aquela época. Como parte da Guerra Fria, o mundo aceitava que os EUA apoiassem tais intervenções. Isso está bem documentado nos arquivos já abertos (nos EUA) sobre tais fatos. (…) Minha queda representa um outro tipo de golpe, sob condições históricas alteradas. Ele ocorreu, no campo formal, dentro de ‘regras democráticas’.

Permitiu a vitória de todos aqueles que queriam destruir a democracia. Este golpe parlamentar-judicial, interessante lembrar, teve uma abordagem de Milton Friedman (pensador neoliberal *1912-2006). Segundo Friedman, “é preciso explorar uma crise para transformar o politicamente impossível no politicamente inevitável” — afirmou.

STF dividido

Para Dilma seus oponentes tiraram proveito da crise política que resultou da crise econômica. Ela lembrou que o Brasil, tal qual outras economias emergentes, foi atingido pela crise financeira de 2008/2009. “Primeiro, de uma forma mais branda que nos demais países. Os preços das commodities sofreram um colapso, a cotação do petróleo despencou para US$ 20, US$ 30 o barril”, lembrou.

— Isso afetou o mercado exportador dos países emergentes e em desenvolvimento. O crescimento chinês também seguiu mais devagar; e isso teve um impacto significante no Brasil. Coincidiu com a campanha presidencial de 2014, que ocorreu de forma extremamente polarizada. Dois projetos se enfrentaram. Um que se baseava na soberania, no desenvolvimento e na redução da desigualdade; utilizando fundos públicos. Esse processo é oposto daqueles que querem reintegrar o Brasil no neoliberalismo do ponto de vista econômico, social e geopolítico. É onde nós estamos agora — acrescentou.

Segundo Dilma, após o golpe de Estado, que muitos ainda não admitem ter ocorrido, “todas as instituições do Brasil estão comprometidas”.

— Como se tivessem se infectado. A imagem que permanece do golpe – um impeachment sem nenhuma razão legal – é que eles lancetaram um tumor. O que infecta todas as instituições. Agora, há disputas no Supremo Tribunal Federal (STF) e este está visivelmente dividida. Em um momento, ele decide de uma forma e, no próximo, de forma totalmente diferente. Assim é com a acusação, em todos os setores da sociedade — pontuou.

Cumplicidade com EUA

Sobre a participação dos EUA no golpe, em curso, no entanto, Dilma apenas desconfia:

— Não estou dizendo que os EUA não tiveram influência no golpe. Gostaria de responder assim: as elites brasileiras são suficientemente capazes de realizar um golpe. Eles fizeram isso sozinhos. Talvez eles tivessem algum suporte de informação, espionagem. Sabe-se que havia escutas na minha casa e na Petrobras. A (premiê alemã) Angela Merkel passou por isso. Na Petrobras, existem casos não resolvidos de grandes vazamentos de dados. Somente a história revelará o que realmente aconteceu lá — desconversou.

Dilma encerrou a entrevista com uma preocupação externada: as manobras norte-americanas na Amazônia:

— No final dessa nossa conversa, gostaria de me referir ao artigo (publicado no JW, na véspera) sobre uma questão muito séria (o exercício militar com o envolvimento dos EUA na Amazônia). O assunto é muito suspeito. Isso é diferente de convidar um ou outro especialista. O Brasil nunca tolerou tropas estrangeiras em seu território. Mesmo com as ações dos militares em certas regiões fronteiriças e não especialmente na Amazônia. Nós nunca aceitamos isso. Fazer isso é extremamente ruim; especialmente perto ou na fronteira com a Venezuela. Uma intervenção militar de qualquer país na Venezuela seria uma catástrofe para o mundo, para o Brasil e a América Latina — concluiu.

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Fonte: https://www.correiodobrasil.com.br/dilma-na-alemanha-levanta-suspeitas-sobre-manobras-entre-os-exercitos-do-brasil-e-dos-eua/

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