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JILS | Juliana Souza

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

Somos contrári@s ao título de cidadão honorário de Curitiba para Silas Malafaia

25 de Abril de 2013, 11:34, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Escrevo para tod@s curitiban@s que lutam por uma sociedade sem discriminação, violência e ódio.
Está tramitando na Câmara Municipal de Curitiba, por iniciativa da vereadora Carla Pimentel (PSC), o Projeto de Lei Ordinária 006.00011.2013 que tem como objetivo conceder o título de Cidadão Honorário de Curitiba ao Pastor Silas Malafaia.
Tendo em vista que o Pastor em questão é um incentivador da intolerância contra a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), como pode ser facilmente verificado na internet, vimos por meio deste solicitar que as instituições, organizações e pessoas encaminhem um ofício pedindo que a proposição não seja aprovada, inclusive afirmando desconhecer qualquer benefício que o Pastor tenha trazido para Curitiba que mereceria a concessão desse título
É importante mandar o pedido para os e-mails e também protocolar as correspondências impressas na Câmara, em nome do Vereador Paulo Salamuni (Presidente da Câmara) paulo.salamuni@cmc.pr.gov.br; Vereador Pier Petruzziello (Relator da Proposição) pier.petruzziello@cmc.pr.gov.br e Vereador Pedro Paulo (Líder do Governo) pedropaulo@cmc.pr.gov.br
Para que a proposição não seja aprovada, é necessário o posicionamento contrário de pelo menos dez organizações, por isso pedimos que compartilhem e divulgem esta nota.

Contamos com a sua solidariedade.

Atenciosamente,
Juliana Souza
Secretária da Região Sul da ABGLT
Secretária Geral do Dignidade



"Quem ama se declara" texto de Daniel Galvão

23 de Abril de 2013, 21:24, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Hoje vou postar um texto que li e gostei muito pela sensibilidade que traz uma proposta para o movimento LGBT
QUEM AMA SE DECLARA 
de Daniel Queiroz Galvão*

 Mudar a história é  mudar o pensamento  a respeito de si mesmo” Malcolm X
Desde a pré-adolescência, nunca consegui compreender o motivo pelo qual uma pessoa, em suas palavras, se autoproclamava melhor que outra pelo simples fato de ser heterossexual. Isso sempre me assombrava e confesso que ainda hoje assusta.
Das maneiras mais diversas, a fala oficial heteronormativa adotada pelos grandes veículos de comunicação, incomodava por se tratar de  simulacro da realidade. Nas novelas, programas dominicais, dupla de ancoras em telejornais e, principalmente, nos chamados entretenimentos humorísticos, com suas piadas preguiçosas e mantenedoras de padrões dominantes,  a presença tipificada do  “papai e mamãe perfeitos”,  todos constituindo enredos onde não se reconhecia o amor entre iguais, o amor, amplo para além dos limites da anatomia.   
Ficava patente nas apresentações padronizadas um tipo de formato onde não havia espaço para a diversidade, para homoafetividade – linguagem adquirida em meio ao processo de enfrentamento da violência-, e quando havia era de maneira a desqualificar ou tornar ridículo pelo discurso a moça ou rapaz com trejeitos “inadequados”.
Entretanto, neste momento, a crítica não é para programas da televisão privada com inclinação homofóbica, nem para os negociadores da fé alheia que juram “curar gays”, nem mesmo aos reacionários do parlamento brasileiro que negam direitos iguais para todos. Esses sabem bem de que lado estão, no debate dos direitos humanos que negam. 
O apontamento tem endereço certo. E é, principalmente, para o valoroso movimento LGBT , que luta para que haja garantias de direitos às Lesbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros.  O direito pleno a todo cidadão em sua dissimilitude é o que importa.
Acontece que não são raras as vezes em que militantes desse Movimento, no desejo de fazerem a defesa do amor, em sua múltipla expressão,  se valem de um termo que reforça – sem intencionalidade - os contornos de uma sociedade construída em estereótipo monstruoso, pois inumano.  Refiro-me especificamente ao famigerado termo ASSUMIR, como intensificador de estigma.
O termo ASSUMIR está sempre presente nas falas de Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, que ao se colocarem em um debate, reafirmam sua orientação/gênero com o seguinte argumento: “Eu sou gay assumido”; “ assumo minha homossexualidade”. Entretanto, a palavra ASSUMIR segue como uma cruz na construção verbal do ativista, compondo uma afirmação argumentativa que restringe possibilidades ao invés de expandi-las, que é o que se deseja. Além de avocar “confissão penosa”, o que em outro aspecto, remete a certo heroísmo extemporâneo e igualmente prejudicial à Causa.
Identificar que Assumir é um verbo transitivo direto que está associado a um fardo, dor, crime e responsabilidade excessiva, é compreender que a Palavra exerce conotação de algo não bom, anômalo. Daí a necessidade de um outro fazer, uma outra linguagem capaz de criar na delicadeza novas fruição.
As pessoas quando dizem ASSUMIR, assumem  culpas, delitos, atos falhos e vergonhosos. É imprescindível quebrar  o estereótipo, ressignificar  o ato de posicionar-se  afirmativamente. Avançar na definição de um conceito mais próximo da satisfação e dos desejos. Desconstruir o conceito carregado de dor, romper a lógica da violência e o ranço que a palavra ASSUMIR engendra, é ação estratégica para a maior compreensão de que não há restrições para o ato de amar.
Deste modo, proponho uma imediata substituição do termo Assumir pelo Declarar-se. Por entender que o que é bom se declara. As pessoas declaram seus afetos, satisfação musical, poesias, amores  e paixões. Não é correto consigo mesmo dizer “eu me assumo” para tratar de minha  boa sentimentalidade, de meu sentimento mais belo. É um tipo de negação de si mesmo na palavra, negação do prazer. Minha afetividade, se decidir, eu a declaro!
Sabe-se que a língua obriga mais do que possibilita, compõe elemento potente no trato do cercear. Já a linguagem, mesmo com limitações, pode possibilitar de forma articulada em contextos atuais, uma maior aproximação daquilo que se pretende revelar. 
Roland Bartes afirmava que a linguagem é como uma pele, pois com ela se entra em contato com os outros. Para ele a linguagem é uma pele que esfrega-se no outro. É como se tivéssemos palavras ao invés de dedos, ou dedos nas pontas das palavras.
E é nesta perspectiva que ofereço ao exame de tod@s a substituição da palavra ASSUMIR por DECLARAR, não só aos  LGBT que sentem a suja navalha estúpida da homofobia cortando na sua carne, mas a tod@s os defensores dos direitos humanos que se indignam com demonstrações medievais de uma gente que vive na caverna, uma caverna midiática  do preconceito a se preocupar com o modo com que o outro pode gozar.
Mulheres, homens, gays e heteros, humanistas de todo Brasil, façamos uma declaração coletiva ao amor! À luta e à reinvenção!
“Ser gay é apenas mais uma declaração de amor. EU ME DECLARO!”


*Acrobata no amar e aprendiz. Militante dos Direitos Humanos, mestre em Ciência Política e pai de João.  Contato:  dqgalvao@yahoo.com.br



Matéria sobre bissexualidade

18 de Abril de 2013, 18:12, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Matéria sobre bissexualidade da UOL traz trechos de entrevista feita comigo.


http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2013/04/15/heterossexualidade-nao-e-natural-e-compulsoria-diz-sociologo.htm


"Heterossexualidade não é natural, é compulsória", diz sociólogo

Cléo Francisco
Do UOL, em São Paulo
15/04/201307h10Lumi Mae/UOL
  • É comum as pessoas acusarem os bissexuais de enrustidos, diz a psicanalista Regina Navarro Lins
    É comum as pessoas acusarem os bissexuais de enrustidos, diz a psicanalista Regina Navarro Lins
Apesar das mudanças sociais e maior abertura com relação à discussão da sexualidade, os bissexuais ainda são vistos com desconfiança e são alvo de preconceito. Um exemplo é Daniela Mercury, que desde que assumiu seu relacionamento amoroso com uma mulher tem sofrido críticas. A declaração da cantora atingiu também seu ex-marido, Marco Scabia. Ter dito que aceitava com naturalidade a sexualidade da ex-mulher causou estranhamento e lhe rendeu ser ironizado até na imprensa.

Para Richard Miskolci, professor do departamento de Sociologia da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), a sociedade exerce forte influência para que os indivíduos se definam como heterossexuais. "Todos têm essa possibilidade de se relacionar com o mesmo sexo, mas, no processo de socialização, as pessoas podem perdê-la. Desde crianças somos adestrados. Heterossexualidade não é algo natural, hoje sabemos que ela e compulsória", declara Miskolci. 

SITE DE ENCONTROS

O site de relacionamentos extraconjugais Ashleymadson, no Brasil desde agosto de 2011, tem um serviço, ainda em teste, destinado a bissexuais.

O número de homens que se cadastraram para utilizá-lo chamou atenção a ponto de provocar a aceleração da implantação do acesso ao serviço em português.

"São homens que se dizem casados atrás de outro homem. Como é baixo o número de casamentos gays no Brasil, entendemos que seja um casamento heterossexual, cujas pessoas procuram alguém do mesmo sexo", diz o diretor Eduardo Borges.

O site tem um milhão de cadastros e cerca de 25 mil usuários no serviço para bissexuais.
 
"Nas ciências sociais, desde a década de 1960, começaram a surgir estudos que mostram que as pessoas são socialmente treinadas para gostar do sexo oposto", afirma o professor, que pesquisa o uso das mídias digitais voltadas para pessoas que buscam parceiros amorosos. "Muitos homens casados ou com noiva e namorada criam perfis buscando relacionamento com outro homem, a maioria em segredo" (veja no quadro dados de um site de encontros em relação a bissexuais). 
 

Preconceito

A educadora Juliana Inez Luiz de Souza, 25 anos, que também é assessora em uma central sindical de Curitiba, no Paraná, conta que é muito comum sofrer preconceito quando está de mãos dadas com sua mulher. "Ouço frases do tipo: 'Posso entrar no meio?' ou 'Sapatão dos infernos'. Já jogaram ovo na gente, levei cuspida junto com uma namorada", declara Juliana. "Mas não é porque sou casada com uma mulher e pretendo ficar muito tempo com ela que eu sou lésbica. E também não significa que quando estou com um homem sou heterossexual. Sou bissexual. E as pessoas precisam saber que isso existe". 
Além dos problemas enfrentados por Juliana, muitos outros podem aparecer no caminho de quem decide mostrar à sociedade que essa é sua orientação sexual.  "O bissexual sofre muito preconceito. Já ouvi muitas vezes que não existe bissexual, mas homossexual que não quer se assumir. Isso não é verdade", afirma o psiquiatra, sexólogo e diretor do departamento de Sexualidade da Associação Paulista de Medicina Ronaldo Pamplona da Costa.

Segundo a psicanalista Regina Navarro Lins, é comum a acusação de que os bissexuais ficam em cima do muro. "São tidos como gays enrustidos. Numa cultura de mentalidade patriarcal, se você diz que é bissexual, também informa que faz sexo com seu oposto, o que pode amenizar um pouco o preconceito", afirma Regina, que é autora de onze livros entre os quais "A Cama na Varanda" e "O Livro do Amor" (editora Best Seller), além de manter um blog no UOL
 

Ideia equivocada

 
Além de tachados como indefinidos sexualmente, os bissexuais também podem ser considerados promíscuos por alguns, como conta Juliana. "É outro clichê: bissexual é pervertido e topa tudo. As pessoas têm a visão que bissexual não se completa só com um na hora da transa, que precisa ter o outro",  fala a assessora, que completa: "Eu me contento muito bem, seja com um ou com outro. Estou casada com uma mulher há três anos e minha relação é monogâmica, como a maioria dos casamentos, no estilo tradicional".

A psicóloga Claudia Lordello explica que essa é uma ideia errada a respeito das pessoas com essa orientação. "O bissexual pode ter relacionamentos estáveis e duradouros", afirma ela, que também é sexóloga do projeto Afrodite, o ambulatório de sexualidade feminina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). 
 
"Há promíscuos e não promíscuos heterossexuais, bissexuais e homossexuais. O indivíduo que realiza sua bissexualidade não pode ser considerado promíscuo por esse comportamento exclusivamente", declara a psiquiatra Carmita Abdo, fundadora e coordenadora do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade da USP). "Promiscuidade é trocar ou acumular parcerias sem critério e sem limite. É fazer do sexo uma forma banal e irresponsável de relacionamento. E isso resulta de um perfil de personalidade independentemente da orientação sexual", diz a médica. 
 
Carmita explica que o bissexual tem como característica sentir-se atraído pelos dois sexos, mesmo que não exercite essa prática. "Essa pessoa pode decidir e se empenhar para restringir-se a um só tipo de relacionamento, porque fez um investimento emocional numa relação, constituiu família por exemplo. Mas, em essência, o bissexual continua atraído por homens e mulheres".

Ou seja: há os que se definem por uma relação no concreto e sublimam o outro lado ou o vivem apenas na fantasia, por meio de filmes, internet. E há os que fazem sexo de forma concreta com homens e mulheres.

Pesquisa

 
Em 2008, para o estudo Mosaico Brasil, coordenado pela psiquiatra Carmita Abdo, foram entrevistados mais de 8.200 brasileiros entre 18 e 80 anos, em dez capitais, sendo 49% homens e 51% mulheres. Entre várias outras perguntas, os participantes responderam se faziam sexo habitualmente só com homens, apenas com mulheres ou com os dois. O resultado: 2,6% dos homens responderam que faziam sexo com ambos e 1,4% das mulheres deram a mesma resposta. "Cerca de 2% das pessoas se identificaram como bissexuais, no Brasil. É um número que coincide com as estatísticas internacionais de pessoas adultas que já têm sua orientação sexual definida", conta Carmita.
 
 

Fronteiras

 
Para a historiadora Mary Del Priore, a noção de bissexualidade ganhou força a partir dos anos 1970, com as transformações sociais como a entrada das mulheres no mercado de trabalho, a liberdade sexual trazida pela pílula anticoncepcional e o movimento hippie.

"Mulheres vestem calças compridas e se masculinizam para vencer profissionalmente. Rapazes deixam os cabelos compridos. Começam a se apagar as fronteiras entre o que é masculino e feminino, permitindo às pessoas transitarem de um papel para o outro. É o pano de fundo para o conceito da bissexualidade", fala Mary, que estuda a sexualidade no Brasil através dos séculos.

"Caminhamos para um mundo onde os papéis sexuais vão ficar cada vez mais diluídos e as pessoas vão se permitir escolher e não ser necessariamente a mesma coisa a vida toda", afirma a pesquisadora, que finaliza: "A bissexualidade se abre hoje como uma possibilidade para todo mundo. Acho que a intolerância em relação ao bissexual vai decrescer". 
 
O pensamento da psicanalista Regina Navarro Lins segue essa linha de raciocínio. "É possível que haja mais bissexuais daqui a algum tempo por conta da dissolução das fronteiras entre masculino e feminino. Não existe mais nada que só interesse a mulher ou ao homem".

Ela também explica os motivos que a levam a concordar que os bissexuais terão mais liberdade para assumirem sua orientação. "Acredito que, no futuro, muito mais gente poderá ser bissexual porque a escolha de objeto de amor provavelmente se dará pelas afinidades e não pelo fato de ser homem ou mulher", afirma.
 

Tudo pode mudar

 
O indivíduo pode descobrir ter atração pelos dois sexos em qualquer momento da vida. "Esse interesse pode ser pelo mesmo sexo ou o contrário: a pessoa vive uma relação homossexual e, descobre que tem desejo pelo sexo oposto", segundo a psicóloga Claudia Lordello.
 
O psiquiatra Ronaldo Pamplona da Costa também acredita nesta possibilidade. "A orientação sexual pode ir mudando no decorrer da vida. Sei do caso de um homossexual assumido por 30 anos, casado com outro homem que, aos 60, casou com uma mulher por opção", fala o psiquiatra que também é autor do livro "Os Onze Sexos – As Múltiplas Faces da Sexualidade Humana" (Kondo Editora). 
 
Mas, segundo Fernando Seffner, professor da pós-graduação em Educação e coordenador da linha de pesquisa em Educação, Sexualidade e Relações de Gênero na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), não existe uma estrutura social que permita ao bissexual viver sua orientação tranquilamente.

"O sujeito prefere manter compromisso estável com uma mulher, de quem gosta de verdade, e ter relações com homens em segredo", conta Seffner, cuja tese de doutorado abordou a bissexualidade masculina. Para ele, o movimento gay tem o grande mérito de ter construído a homossexualidade como vida viável, com possibilidade de adotar filho, ter um companheiro, estrutura social, mesmo com os preconceitos. 



Depoimento de uma Mãe pela Igualdade, Giorgina Martins

2 de Abril de 2013, 20:43, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Por parte de mãe
Georgina Martins (Professora de literatura infantil e juvenil do curso de Pós-Graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, escritora de livros para crianças e jovens e integrante do grupo Mães pela igualdade).

— Mãe, eu queria tanto ser menina.
— É mesmo, meu filho?
— Eu queria ser menina pra poder passar batom, você deixa eu passar batom?
— Você tem asma, não pode usar batom, pode lhe fazer mal... mas você queria ser menina só para isso? Hoje em dia não vemos por aí os homens usando batom, mas quem sabe quando você crescer isso já não se tornará uma coisa comum?  Antigamente os homens não usavam brincos e agora usam, não é? Se isso acontecer mesmo, você não vai precisar ser menina, não acha?
Essa conversa já faz dezesseis anos, por isso não me recordo com exatidão da resposta do Camilo à minha pergunta sobre a manifestação do seu desejo de tornar-se uma menina; no entanto, tenho a certeza de que naquele momento, do alto da sabedoria dos seus quase três anos de idade, meu filho já dava sinais de que outras tantas conversas como aquela seriam extremamente importantes, não só, para a construção de sua identidade de gênero, como também para iluminar os incertos e muitas vezes espinhosos caminhos que a função materna me obrigava a trilhar.
Ainda que eu soubesse que seu manifesto desejo pelo batom, assim como sua preferência por brincadeiras tradicionalmente reconhecidas como sendo de menina, bem como seu fascínio por tudo que pertencia ao universo feminino, não necessariamente se configurassem em índices que o aprisionassem para sempre a uma identidade feminina — principalmente pelo fato de tudo isso se manifestar em tão tenra idade —, algo da categoria do inefável alimentava minha certeza de que Camilo seria gay. Em função disso comecei a me preparar junto com ele para os conflitos que teríamos de enfrentar.
Muito embora eu não desconsidere as diversas opiniões acerca da origem da identidade homoerótica, como aquelas que defendem ser essa identidade uma construção cultural, tenho por convicção que meu filho nasceu gay. Constatação que não utilizo como único parâmetro para refletir sobre as diversas identidades homoeróticas existentes, sobretudo por conta dos mais variados matizes que modulam essa questão.  Na verdade, a meu ver, saber a origem do homoerotismo, necessidade tão cara a vários cientistas, tem contribuído muito pouco, ou quase nada, para municiar a luta constante contra a violência diária a que estão expostas as pessoas lgbts em todo o mundo.
Diferente das crianças que tiveram de enfrentar o preconceito e consequentemente a violência física e verbal dentro da própria casa — situação determinante para a construção de uma identidade frágil e muitas vezes desestruturada—, Camilo, em todos os momentos em que foi obrigado a enfrentar os conflitos que se colocavam entre ele e as outras crianças com as quais se relacionava, pode contar com a compreensão e o acolhimento de sua família, o que julgo ter sido muito importante na construção de sua personalidade.
Um dos primeiros problemas que Camilo teve de enfrentar por conta de sua admiração por tudo que dizia respeito ao universo feminino, foi aos seis anos de idade, ocasião em que começou a cursar o primeiro ciclo do nível fundamental de ensino. Logo na primeira semana de aula, sua identificação com as personagens femininas das histórias que a professora lia para a turma foi posta em xeque de maneira um tanto desrespeitosa, o que demonstrou o total despreparo da referida professora e, consequentemente, da escola para lidar com a questão que se apresentava.
Alegando o fato de que ele era um menino e não uma menina, a professora o impediu de ser a bruxa de uma história que estava sendo construída coletivamente com a turma; oferecendo como solução para o impasse, que ele exercesse o papel de bruxo e não de bruxa. Tal solução, para alívio da professora, foi acatada por ele sem nenhum questionamento, penso eu que em função de sua pouca intimidade com aquele espaço. No entanto, ao chegar em casa, a questão, aparentemente resolvida, voltou a incomodá-lo, e para resolvê-la ele solicitou que eu lesse a tal história substituindo a palavra bruxo por bruxa, uma vez que sua identificação era com a bruxa e não com bruxo.
Diante de tal situação procurei a escola para esclarecer que Camilo poderia ser o que quisesse ser: bruxa, bruxo, fada, príncipe ou princesa, e que a equipe da escola deveria, não só estar preparada para lidar com essa questão, como ainda garantir que ele fosse respeitado e acolhido pelos amigos, independente do papel que quisesse exercer nas histórias ficcionais trabalhadas pela escola. Felizmente, para minha surpresa, a direção da escola assumiu seu despreparo para lidar com o assunto e se prontificou a buscar soluções no sentido de instrumentalizar toda a equipe para que coisas como aquela não ocorressem mais. Dentre essas soluções, estava posto um convite para que eu ajudasse nesse processo de reflexão sobre o tema, o que acabou por proporcionar a minha inserção no corpo docente daquele estabelecimento de ensino, lugar onde atuei por cinco anos.
Foi a partir dessa experiência que comecei a pensar em como promover essa reflexão também entre os alunos e seus pais, o que me levou a escrever um livro de ficção para crianças: O menino que brincava de ser, publicação muito elogiada, mas até hoje, muito pouco adotada nas escolas, penso que em decorrência da grande dificuldade dos professores em lidar com o tema.
Depois desse livro escrevi e publiquei mais dois sobre o assunto, e sempre que sou convidada a falar sobre literatura e ensino procuro incluir o tema nas discussões como forma de contribuir para a erradicação do preconceito.
Como filha de nordestino pobre, que na década de 50 veio tentar a vida no “Sul maravilha”, aprendi desde cedo a lidar com o preconceito e a rejeição. Meu pai, típico cearense de um tempo em que a seca e a fome dizimavam a população nordestina, trazia em seu corpo as características que no eixo Rio e São Paulo o distinguiam como cidadão inferior: a baixa estatura e a cabeça achatada, daí suas três alcunhas: “Seu Baixinho”, “Ceará” e “Cabeça Chata”; além de vez por outra ser chamado de “Paraíba”, adjetivo até hoje utilizado para qualificar os porteiros dos prédios da Zona Sul do Rio de Janeiro e os operários da construção civil, profissionais vistos como cidadãos de segunda classe.
Essa forma de exclusão, que em vários momentos me fez sentir vergonha de minha origem, somada aos conselhos de minha mãe (uma ex empregada doméstica que sequer ouvira falar da ética aristotélica) sobre como deveríamos nos comportar em sociedade: — “Minha filha, não devemos fazer ao outro aquilo que não gostamos que façam com a gente”— municiaram minha luta diária contra todo tipo de preconceito e discriminação. Circunstância que alicerça minha militância em prol das causas do movimento LGBT, como uma das integrantes do grupo Mães pela igualdade.
Concebido por Joseph Huff-Hannon, ativista da All out, organização não governamental americana que organiza campanhas via redes sociais para garantir os direitos LGBTs em todo o mundo, o Mães pela igualdade busca resgatar a tradição histórica da força e da coragem da figura materna em todas as culturas, plasmada nas diversas representações da humanidade, como na literatura, via a mãe de Pavel, o camponês pobre e militante do romance de Gorki, a Mãe coragem de Brecht, mulher pobre que tenta impedir que a obrigatoriedade do alistamento à guerra destrua sua família, e no plano da realidade quase ficcional, as Mães da praça de maio, até hoje incansáveis na luta contra a opressão e à violência.
Identificadas através da extensa rede de amigos e simpatizantes da população lgbt, essas mães foram convocadas, em um primeiro momento, a se unirem em torno da luta contra a violência e a discriminação a que são diariamente submetidos os próprios filhos. Para tanto foi organizada, em parceria com a Coordenadoria especial da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio de Janeiro, uma exposição fotográfica, que circulou por três praças públicas da cidade durante o mês de maio de 2012. Durante esse período, seis monitores forneciam informações e material publicitário ao público que visitava a exposição, bem como recolhiam mensagens e depoimentos de apoio à causa lgbt. Esse material foi afixado a uma árvore artesanal que será  oportunamente entregue à presidente Dilma Rousseff como representação do nosso desejo de implantação urgente de políticas públicas eficazes de combate à homofobia. Uma árvore simbólica capaz de frutificar o respeito, a justiça e a solidariedade.
Umberto Eco disse uma vez que cada presente elege um passado que lhe é familiar, e nesse sentido, em relação à violência que assola a população lgbt, apesar de nós, brasileiros, não termos vivido a Idade Média, no que se refere ao preconceito contra aqueles que ousam dizer seus nomes, não devemos nada ao fundamentalismo religioso que assombrou a Europa medieval,  e se não estivermos atentos e fortes corremos o sério risco de em pleno século XXI sucumbirmos a ele.
Por tudo isso nossos corações de mães de filhos lgbts se põe vinte e quatro horas por dia em estado de alerta e sobressalto quando nossos filhos saem de casa, quando testemunhamos a violência tão próxima e íntima de nós, como ocorreu há uns meses na Lapa, um point turístico desta cidade que se quer maravilhosa, onde quatro jovens gays, amigos de nossos filhos, abandonados à própria sorte, foram humilhados e espancados, sem que pudessem contar com o direito inerente a todo cidadão de ser protegido pela polícia de sua cidade.
Segundo relatório feito pelo grupo gay da Bahia, que há mais de três décadas coleta informações sobre homofobia, o Brasil ocupa a posição de primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos homofóbicos, pois só no ano de 2011 foram documentados 266 assassinatos de gays, lésbicas e travestis. Daí a importância da nossa união, daí nossa luta constante contra toda forma de violência. E ainda que pareça óbvio, essas mulheres, cujos filhos são gays, lésbicas, travestis ou trans precisam a todo momento lembrar a sociedade que esses filhos, como quaisquer outros, têm mães.
Infelizmente, em nosso grupo há três mães cujos filhos foram vitimas de crimes homofóbicos, todos impunes até hoje, como a mineira de Montes Claros, Marlene Xavier que há dez anos tenta fazer colocar na cadeia os assassinos confessos de seu filho. É dela a carta que segue como denúncia para que o crime não mais continue impune. São delas as palavras que escolho para encerrar esse depoimento:
No dia 1º de março de 2002, a cidade de Montes Claros foi surpreendida com a notícia do bárbaro assassinato do bailarino e ator IGOR LEONARDO LACERDA XAVIER, cometido pelo assassino confesso RICARDO ATHAYDE VASCONCELOS, tendo como comparsa seu filho DIEGO RODRIGUES ATHAYDE VASCONCELOS.
O assassino encontrando Igor em um bar, o convidou para ir até seu apartamento, com o pretexto de lhe emprestar material que o ajudaria na produção de seu próximo espetáculo. Lá com a ajuda do próprio filho, torturou e matou o meu filho com cinco tiros. O crime aconteceu em um prédio de apartamentos no centro da cidade. Os moradores ligaram com insistência para a polícia. Mas esta não se fez presente. Os criminosos arrastaram o corpo do meu filho por três andares escada abaixo, maltratando terrivelmente o seu corpo; colocaram o mesmo na carroceria do carro de um parente chamado para ajudar no ato criminoso, lavaram o sangue do apartamento e das escadas, lançaram o corpo em uma estrada vicinal, desmontaram e jogaram fora as armas e fugiram para Belo Horizonte.
 Não sei quanto tempo levaram para fazer tudo isso; mas a polícia só apareceu de manhã quando os bandidos já estavam em segurança a caminho da capital do estado. Foi pedida a prisão preventiva dos assassinos. Eles fugiram e pediram Habeas Corpus que foi negado no TJ MG e concedido no STJ, supostamente por meios fraudulentos, pois todos sabem do poderio econômico e político dos assassinos, que escorados na impunidade, desafiam a nossa família e a sociedade, andando livremente pelas ruas. 
“Desde 2002 a família, amigos e a classe cultural montesclarense vêm lutando ininterruptamente por justiça, respeito aos direitos humanos e diferenças, colocando o caso IGOR XAVIER como uma bandeira de reflexão e luta permanente por direitos iguais, não só em Montes Claros e no Norte de Minas, mas também em todos os lugares em que o ser humano vem sendo ultrajado.  Entretanto, os assassinos alicerçados na tradição familiar e no poder do dinheiro, ainda hoje se encontram em liberdade, pelo fato de seus advogados estarem impetrando recursos seguidamente mesmo perdendo todos.”
 Sendo um crime hediondo, onde os bandidos demonstraram premeditação, frieza e crueldade e que por respeito à justiça já era para estarem na cadeia, o caso se arrasta, pois a todo momento a defesa aproveita as brechas nas leis brasileiras para requerer embargos, recursos especiais, extraordinários entre outras invenções jurídicas protelando o julgamento. Finalmente o júri foi marcado para o dia 27/06/2007. Com todo o aparato e prontas todas as demandas que envolvem um julgamento, o mesmo foi cancelado no dia 25/06/2007 dois dias antes de acontecer; trazendo com isso, mais angustia e decepção com os poderes públicos.
 Nova esperança se vislumbra em 2011. O júri foi marcado para o dia 07/06/2011. O juiz responsável pela vara, Dr. Antonio de Souza Rosa, retira o processo da pauta alegando que as minhas lamúrias e declarações do meu repúdio contra a demora, iriam interferir na decisão do júri. Começa para a família e a comunidade uma espera angustiante por pronunciamento do tal juiz marcando uma nova data para o júri; até que em 25/08/2011, o processo é suspenso. O tiro de misericórdia veio em 14/10/2011 quando acontece o desaforamento do caso para Belo Horizonte, dificultando ainda mais o nosso acesso a informações, já que, por absoluta falta de condições financeiras, não temos advogado constituído.
 O jogo macabro novamente se inicia em 2012. Nova data para julgamento é marcada para o dia 29/11/2012. O pingue-pongue justiça X bandidos continua e o júri é desmarcado; e como das outras vezes o motivo permanece em segredo. No dia 05/09/2012 é designada nova data, agora para 27/08/2013. Enquanto isso assassino pai e assassino filho vão adquirindo cada vez mais vantagens; e a justiça cada vez mais cega agora dorme placidamente em berço esplêndido.
 Infelizmente o Código Penal Brasileiro, caduco e ultrapassado, permite todos esses abusos, facilitando que criminosos continuem em liberdade enquanto o processo fica parado e mofando nas prateleiras dos órgãos responsáveis até cair no esquecimento e talvez nem haver julgamento. É o império da impunidade. 
IGOR XAVIER, profissional da arte, batalhador incansável pelo avanço da cultura em sua cidade natal – Montes Claros. Bailarino, coreógrafo, produtor e diretor de espetáculos. Impressionava a todos pela retidão de caráter, humildade e responsabilidade.

Motivo do crime: Homofobia.

Eu sou a mãe de Igor Xavier e não me conformo. Em março deste ano de 2012, se completaram dez anos em que não sinto o abraço do meu filho, não vejo o brilho dos seus olhos e o som da sua risada cristalina nunca mais chegou aos meus ouvidos. Há muito nossa família convive com a dor, a saudade e a decepção com a justiça, enquanto os assassinos desfilam de cabeça erguida apostando na impunidade. Seus advogados afogados em rios de dinheiro providenciam para que não aconteça julgamento.
Apelo ao PODERES CONSTITUIDOS que façam com que a lei seja cumprida e esse julgamento aconteça o mais rápido possível. É preciso que façamos alguma coisa que mostre ao mundo nosso repúdio contra a covardia, a violência e o desrespeito aos Direitos Humanos. Enquanto isso não acontece, e enquanto me restar um sopro de vida, lutarei para que a justiça seja feita. É preciso não se curvar diante da injustiça.
 O estado brasileiro está em dívida com seus filhos; e eu me envergonho disso.
                                                                            Marlene Xavier