Na semana em que se completa um ano de minha colação de grau reli Vidas secas, de Graciliano Ramos.
A primeira leitura da obra ocorrerá a doze ano atrás, em 2007. Era o primeiro ano que iria prestar vestibular e a obra fazia parte da lista de livro do vestibulares da Unicamp e USP.
A lista era muito boa. Continha também, que eu consigo lembrar, Dom Casmurro, Iracema, Sagarana, a poesia de Carlos Drummond de Andrade em A Rosa do Povo.
Em tempos de olavetes, uma lista com esses títulos faz até imaginar que se trata de duas universidades comunistas a despeito do fato de serem as duas universidades mais elitizadas desta América latina, onde vestibular existe para filho de pobre não entrar.
Até então, já há quatro anos terminado o ensino médio, jamais havia lido por completo uma obra literária brasileira. Cada leitura foi uma revolução em minha na minha existência, em minha consciência e capacidade de reflexão, em minha natureza humana, a época marcada pelo pensamento religioso.
Mas nenhuma leitura comoveu tanto ou foi tão marcante e tão impactante quanto a leitura de Vidas Secas.
A narrativa da vida humana em condições degradantes, no limite ou além do que é suportável.
O sonho de liberdades nas coisa mais simples...uma cama.
Os meninos sem nome. “Inferno”, como era possível uma palavra tão bonita significar uma coisa tão ruim? queria o menino mais velho saber.
A identificação com a cachorra baleia, “...era um bicho diferente dos outros”, que tinha a capacidade de julgar, que se aceitava calmamente os exagerados carinhos dos meninos, que adorava Fabiano e “consumira a existência em submissão”, e mesmo na agonia desejava cumprir seu trabalho e conduzir os animais ao bebedouro. Na tentativa de manter-se viva e não sucumbir à morte busca conforto na imaginação, “...queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás.”
Como os personagens na história que buscavam a liberdade e sonhavam livra-se da opressão provocada tanto pela natureza implacável do sertão quanto pela sistema de produção capitalista em que estavam inseridos, eu buscava a minha liberdade, cursar engenharia em uma universidade pública. Acreditava na possibilidade de trabalhos melhores, salários melhores, vida melhor que a de meus antepassados.
Hoje, com diplomas em mãos, a releitura dessa obra continua a emocionar e encantar. A escrita revolucionária de 81 anos continua fundamental para um despertar do pensamento crítico. Certamente irei reler esse livro muitas outras vezes.
Se é certo que terei oportunidades melhores de conduzir os rumos de minha vida, com mais altivez e autonomia, também é certo que uma sociedade sem emprego, sem garantias e muito provavelmente sem aposentadoria, além do fato de que ainda há tantos outros que não conseguirão sequer concluir o ensino médio, então a releitura de vidas secas faz concretizar a certeza que a busca por liberdade não termina jamais. Não é apenas uma busca pessoa mas é também uma busca coletiva.
Fuga é o título do último capitulo, pois termina com a família novamente em fuga tentando preservar a vida.
Oportunidade é o título que eu escolho para a minha existência, nessa jornada de caminhos insertos tanto quanto as fugas da familia de retirantes como Fabiano, sinha Vitória e os dois meninos!