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Sonho e liberdade em Vidas secas

24 de Fevereiro de 2019, 21:24 , por leandro alves dos santos - | No one following this article yet.
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Hoje, com diplomas em mãos, a releitura dessa obra continua a emocionar e encantar. A escrita revolucionária de 81 anos continua fundamental para um despertar do pensamento crítico. Certamente irei reler esse livro muitas outras vezes

Na semana em que se completa um ano de minha colação de grau reli Vidas secas, de Graciliano Ramos.

A primeira leitura da obra ocorrerá a doze ano atrás, em 2007. Era o primeiro ano que iria prestar vestibular e a obra fazia parte da lista de livro do vestibulares da Unicamp e USP.

A lista era muito boa. Continha também, que eu consigo lembrar, Dom Casmurro, Iracema, Sagarana, a poesia de Carlos Drummond de Andrade em A Rosa do Povo.

Em tempos de olavetes, uma lista com esses títulos faz até imaginar que se trata de duas universidades comunistas a despeito do fato de serem as duas universidades mais elitizadas desta América latina, onde vestibular existe para filho de pobre não entrar.

Até então, já há quatro anos terminado o ensino médio, jamais havia lido por completo uma obra literária brasileira. Cada leitura foi uma revolução em minha na minha existência, em minha consciência e capacidade de reflexão, em minha natureza humana, a época marcada pelo pensamento religioso.

Mas nenhuma leitura comoveu tanto ou foi tão marcante e tão impactante quanto a leitura de Vidas Secas.

A narrativa da vida humana em condições degradantes, no limite ou além do que é suportável.

O sonho de liberdades nas coisa mais simples...uma cama.

Os meninos sem nome. “Inferno”, como era possível uma palavra tão bonita significar uma coisa tão ruim? queria o menino mais velho saber.

A identificação com a cachorra baleia, “...era um bicho diferente dos outros”, que tinha a capacidade de julgar, que se aceitava  calmamente os exagerados carinhos dos meninos, que adorava Fabiano e “consumira a existência em submissão”, e mesmo na agonia desejava cumprir seu trabalho e conduzir os animais ao bebedouro. Na tentativa de manter-se viva e não sucumbir à morte busca conforto na imaginação, “...queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás.”

Como os personagens na história que buscavam a liberdade e sonhavam livra-se da opressão provocada tanto pela natureza implacável do sertão quanto pela sistema de produção capitalista em que estavam inseridos, eu buscava a minha liberdade, cursar engenharia em uma universidade pública. Acreditava na possibilidade de trabalhos melhores, salários melhores, vida melhor que a de meus antepassados.

Hoje, com diplomas em mãos, a releitura dessa obra continua a emocionar e encantar. A escrita revolucionária de 81 anos continua fundamental para um despertar do pensamento crítico. Certamente irei reler esse livro muitas outras vezes.

Se é certo que terei oportunidades melhores de conduzir os rumos de minha vida, com mais altivez e autonomia, também é certo que uma sociedade sem emprego, sem garantias e muito provavelmente sem aposentadoria, além do fato de que ainda há tantos outros que não conseguirão sequer concluir o ensino médio, então a releitura de vidas secas faz concretizar a certeza que a busca por liberdade não termina jamais. Não é apenas uma busca pessoa mas é também uma busca coletiva.

Fuga é o título do último capitulo, pois termina com a família novamente em fuga tentando preservar a vida.

Oportunidade é o título que eu escolho para a minha existência, nessa jornada de caminhos insertos tanto quanto as fugas da familia de retirantes como Fabiano, sinha Vitória e os dois meninos!

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