POR FERNANDO BRITO

Pouca coisa acontece por acaso e, na Operação Lava Jato, nada mesmo.
A escolha desta manhã pelos procuradores da Força Tarefa de Curitiba para a apresentação de nova denúncia contra José Dirceu, horas antes de o Supremo Tribunal Federal examinar o pedido de liberdade provisória do ex-ministro, é um em nada velado desafio à cúpula do Judiciário.
E, como se não bastasse a evidência temporal, a turma do Dr. Dallagnol ainda solta uma nota “oficial” advertindo (claro, ao STF) que “a liberdade do réu acarreta sérios riscos para a sociedade em razão da gravidade dos crimes, da reiteração delitiva e da influência do réu no ambiente político-partidário”.
Os espasmos autoritários dos rapazes de Curitiba, embora não admissíveis, certamente não são nada diante da postura do Supremo que mal e mal, apenas em alguns momentos, consegue tirar do pescoço o pé que lhe põe o MP.
O sistema judicial brasileiro, em todo o caso, está sendo “enxugado”. Reduzidos a meros homologadores – por gosto ou por medo – dos promotores, é agora que a coisa funciona: primeiro você prende, depois você condenae, se valer a pena, negocia essa condenação com delações premiadas.
E, claro, beneficia os grandes empresários, os grandes beneficiários da corrupção – quem deu “um por fora” certamente ganhou muito mais “por dentro” – transformando os políticos quase que em algo único.
Hoje, no Valor, o insuspeitíssimo Antonio Figueiredo Basto, um dos advogados predileto de delatores, diz ao valor, com todas as letras, que o “Ministério Público, está privilegiando o tubarão grande e está punindo o pequeno” e utilizando a máquina de fazer delações para um único fim: fazê-las “direcionadas a destruir o sistema político”.
