É assustadora a constatação de que a munição que matou Marielle faz parte de uma série cujos projéteis já foram achados em chacinas em outros lugares do Brasil e como diz a matéria do Extra que reproduzo, parece ter sido produzida com um fim especial, já que feita em muito maior número que as séries usuais produzidas para a PF. E justamente esta carga tão especial de projéteis é roubada e acaba por servir na matança. Há dias atrás este blogueiro já havia publicado artigos sobre o golpe e a mexicanização do Brasil.
Além da perseguição política escancarada contra o maior líder operário que o Brasil produziu, há muito mais coisas acontecendo que estão levando o Brasil a um caminho sem volta. Ainda é tempo de parar tudo isto, restituindo a democracia. Mas o tempo é curto e a esperança de um futuro melhor esta hoje aprisionada na PF em Curitiba.
Segue o artigo do Jornal Extra
Munição que matou Marielle veio de lote quase 200 vezes maior que o permitido
BRASÍLIA – O lote de munições UZZ18, de onde saíram os projéteis usados para assassinar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, foi vendido de forma irregular. Havia nada menos que 1.859.000 cartuchos na série. A quantidade é 185 vezes maior que a permitida no país, de 10 mil munições por lote. O Exército informou que vai apurar o caso com a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), que comercializou o produto para a Polícia Federal, após ser questionado pelo GLOBO nas duas últimas semanas.
“Expediente administrativo será encaminhado à empresa CBC para os levantamentos preliminares acerca do assunto”, informou, em nota, o Exército, responsável pela fiscalização de produtos controlados no país, entre eles munições. A venda feita pela CBC a Polícia Federal, de onde os projéteis foram desviados para criminosos, contrariou portaria do próprio Exército, que estabelece o lote padronizado de 10 mil cartuchos desde 2004.
A intenção da norma, editada a partir do Estatuto do Desarmamento, era limitar o tamanho dos lotes para melhorar o controle e a rastreabilidade das munições. Quando vendidas a órgãos de segurança ou às Forças Armadas, elas obrigatoriamente têm que apresentar uma gravação única na base dos estojos, para fins de identificação da procedência. Portanto, quanto menores forem os lotes, mais fácil rastrear quem vendeu, quem comprou, quando, além de eventuais desvios na cadeia de custódia.
Foi com base nessa marcação dos cartuchos, encontrados na cena do assassinato de Marielle e Anderson, executados em março, que os investigadores do Rio de Janeiro identificaram que os projéteis vieram de lote vendido pela CBC para o Departamento da Polícia Federal em Brasília em dezembro de 2006. A série comercializada tinha 1.859.000 munições para calibre 9 milímetros – todas com a mesma marcação de identificação. Verificou-se ainda, a partir do cruzamento de dados feito pelos investigadores, que munições dessa mesma série foram usadas em outros crimes, como nas chacinas de Osasco e Barueri, em São Paulo, com 17 mortos. O lote em questão, o UZZ18, foi vendido pela CBC apenas para a Polícia Federal, segundo informou o Exército, com base nos dados lançados no sistema de controle pela própria empresa.
O caso das munições usadas para matar Marielle e Anderson mostra dois problemas associados: o desrespeito à norma que limita o tamanho dos lotes para melhorar o controle do produto, o que ajudaria na elucidação de crimes, e também desvios do material dentro das instituições de segurança. É comum a ocorrência de armas e projéteis oficiais, até mesmo de uso restrito, que vão parar nas mãos de criminosos.
Questionada pelo Extra sobre o tamanho do lote, quase 200 vezes maior que o padrão exigido, e se havia alguma autorização especial para exceder o limite, a CBC restringiu-se a dizer que “informações sobre controle e rastreamento de munições no país só podem ser fornecidas ao Exército Brasileiro ou a órgão policial interessado, através de ofício”. E finalizou: “Qualquer demanda a respeito deverá ser encaminhada a estes órgãos”.