Custo do machismo no país de Rafinha: placas e pinos no braço porque disse “não”
14 de Outubro de 2011, 19:56por Conceição Oliveira do Blog Maria Frô, twitter: @maria_fro
Sexta feira passada eu e mais nove blogueiras feministas tivemos um encontro fantástico com a ministra Iriny Lopes, discutimos muitos assuntos, entre eles o caso Hope, Rafinha Bastos e outros. Preciso escrever a respeito, mas estou aguardando o vídeo que está sendo editado por uma das blogueiras que fez uma captação profissional.
Abaixo uma das fotos desse encontro:
Há boas notícias para as mulheres: em dezembro, ocorrerá a 3a Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres que já reuniu em mais de 2 mil municípios mais de 250 mil mulheres discutindo políticas públicas voltada para nós.
Uma de minhas questões para a ministra Iriny Lopes versou sobre o fato da pouca comunicação que existe na Secretaria para que os brasileiros entendam quais são as suas atribuições, quais são suas realizações, sua dimensão, seu orçamento, sua autonomia, já que, apesar do status de Ministério, as Secretarias como a de Direitos Humanos, a SEPPIR e a SPM estão ligadas à Presidência da República.
Ao conhecermos a real importância de uma Secretaria como esta talvez possamos parar de negar o machismo secularmente entranhado em nossa sociedade, parar de rir de ogros, parar de achar que a publicidade que trata mulheres como objeto e não como um sujeito de vontades e escolhas e ainda diz que o certo é ser objeto não seja uma boa publicidade. Talvez entendamos que é impossível não apoiar ações institucionais que lutem também contra a violência simbólica presente nos programas de humor sem graça alguma. Quem sabe assim, rapazes como o que agrediu a jovem potiguar compreendam, finalmente, que quando dizemos não, queremos dizer: NÃO!
A foto e os depoimentos abaixo foram retirados de O Globo
Rhanna Diógenes, 19 anos, passou por cirurgia para colocação de placa e pinos no antebraço direito (Foto: Arquivo pessoal)
“Estava conversando com minha amiga em um sofá, quando ele se aproximou e já tentou me beijar. Eu disse que não e me afastei. A partir daí, ele começou a me xingar com palavras que me recuso a repetir.”
(…)
Foi aí que ele apareceu de novo, tentando me beijar. Eu expliquei para ele que não o conhecia, que não era para ele fazer aquilo. Ele agarrou meu braço com muita força, como que se fosse me levar para outro lugar. Eu joguei o refrigerante nele e ele me empurrou pelo braço até o chão.”
(…)
Com um ele me empurrava para o chão e com o outro ele puxou o braço para cima. (…) Era muita dor. Vi meu braço virado e só pensava em segurá-lo, meu braço ficou solto.”
Abaixo o vídeo do circuito interno da casa noturna de Natal que mostra o momento da agressão
—-
Leia Também:
Rafinha Bastos e suas piadas de apologia ao estupro denunciados no MPF
Ministra pede punição de Roger Abdelmassih por manipular embriões e abuso sexual
SPM sobre Zorra Total: Solidarizar-se com as mulheres não é pedir censura
30/09 – Conar instaura processo ético para investigar campanha “Bündchen – Hope Ensina”
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Iriny Lopes: “O que fizemos foi respeitar as solicitações recebidas pela nossa ouvidoria”
Metroviárias de SP denunciam o programa Zorra Total
Ministra Iriny Lopes: “Sugerir não tira pedaço de ninguém”
SPM sobre Zorra Total: Solidarizar-se com as mulheres não é pedir censura
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Custo do machismo no país de Rafinha: placas e pinos no braço porque disse “não”
14 de Outubro de 2011, 16:56 - sem comentários aindapor Conceição Oliveira do Blog Maria Frô, twitter: @maria_fro
Sexta feira passada eu e mais nove blogueiras feministas tivemos um encontro fantástico com a ministra Iriny Lopes, discutimos muitos assuntos, entre eles o caso Hope, Rafinha Bastos e outros. Preciso escrever a respeito, mas estou aguardando o vídeo que está sendo editado por uma das blogueiras que fez uma captação profissional.
Abaixo uma das fotos desse encontro:
Há boas notícias para as mulheres: em dezembro, ocorrerá a 3a Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres que já reuniu em mais de 2 mil municípios mais de 250 mil mulheres discutindo políticas públicas voltada para nós.
Uma de minhas questões para a ministra Iriny Lopes versou sobre o fato da pouca comunicação que existe na Secretaria para que os brasileiros entendam quais são as suas atribuições, quais são suas realizações, sua dimensão, seu orçamento, sua autonomia, já que, apesar do status de Ministério, as Secretarias como a de Direitos Humanos, a SEPPIR e a SPM estão ligadas à Presidência da República.
Ao conhecermos a real importância de uma Secretaria como esta talvez possamos parar de negar o machismo secularmente entranhado em nossa sociedade, parar de rir de ogros, parar de achar que a publicidade que trata mulheres como objeto e não como um sujeito de vontades e escolhas e ainda diz que o certo é ser objeto não seja uma boa publicidade. Talvez entendamos que é impossível não apoiar ações institucionais que lutem também contra a violência simbólica presente nos programas de humor sem graça alguma. Quem sabe assim, rapazes como o que agrediu a jovem potiguar compreendam, finalmente, que quando dizemos não, queremos dizer: NÃO!
A foto e os depoimentos abaixo foram retirados de O Globo
Rhanna Diógenes, 19 anos, passou por cirurgia para colocação de placa e pinos no antebraço direito (Foto: Arquivo pessoal)
“Estava conversando com minha amiga em um sofá, quando ele se aproximou e já tentou me beijar. Eu disse que não e me afastei. A partir daí, ele começou a me xingar com palavras que me recuso a repetir.”
(…)
Foi aí que ele apareceu de novo, tentando me beijar. Eu expliquei para ele que não o conhecia, que não era para ele fazer aquilo. Ele agarrou meu braço com muita força, como que se fosse me levar para outro lugar. Eu joguei o refrigerante nele e ele me empurrou pelo braço até o chão.”
(…)
Com um ele me empurrava para o chão e com o outro ele puxou o braço para cima. (…) Era muita dor. Vi meu braço virado e só pensava em segurá-lo, meu braço ficou solto.”
Abaixo o vídeo do circuito interno da casa noturna de Natal que mostra o momento da agressão
—-
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SPM sobre Zorra Total: Solidarizar-se com as mulheres não é pedir censura
6 de Outubro de 2011, 21:19 - sem comentários aindapor Conceição Oliveira do Blog Maria Frô, twitter: @maria_fro
Nunca o termo ‘censura’ foi tão pronunciado e tão esvaziado de sentido. Está ficando cansativo ler tanta gente falando sobre o que não domina. Assim, antes que a desinformação – que em tempos de mídias sociais corre feito rastilho de pólvora – se instale, reproduzo nota da SPM sobre o quadro Zorra Total.
Nota sobre quadro do programa Zorra Total da TV Globo
Da Secretaria de Políticas para Mulheres
06/10/2011
Noticias divulgadas nesta quinta-feira, 6, por vários veículos nacionais de comunicação, informam sobre um hipotético pedido desta Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres (SPM), dirigido à Rede Globo de Televisão, para que retire do ar um dos quadros de humor do programa Zorra Total.
A Secretaria esclarece que em nenhum momento dirigiu qualquer solicitação desta natureza para a emissora de televisão.
No dia 29 de setembro, a sub-secretária Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Aparecida Gonçalves, enviou uma nota de apoio à Secretaria de Assuntos das Mulheres do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, que protestavam contra o referido quadro do programa.
Em Carta Aberta à População de São Paulo, as trabalhadoras do Metrô afirmaram que o quadro, que apresenta as personagens chamadas Valéria e Janete, banaliza o assédio sexual, problema enfrentado com frequência por mulheres que utilizam o transporte público coletivo.
Na nota, a secretária afirma: “Parabenizamos a iniciativa e endossamos a necessidade de debater e ações como esta, que visam desconstruir discursos de uma cultura que, até mesmo camuflada de humor, perpetua a violência simbólica contra as mulheres”.
É prática da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, desde a sua implantação, se solidarizar com manifestações que contestem todas as formas de banalização da condição da mulher.
A Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres reafirma a importância deste debate, e de forma especial nos meios de comunicação de massa, pois eles são importantes instrumentos de formação da sociedade.
Brasília, 06 de outubro de 2011
Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres
30/09 – Conar instaura processo ético para investigar campanha “Bündchen – Hope Ensina”
Ana Arantes: O Sexismo Benevolente
Iriny Lopes: “O que fizemos foi respeitar as solicitações recebidas pela nossa ouvidoria”
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Iriny Lopes: “O que fizemos foi respeitar as solicitações recebidas pela nossa ouvidoria”
3 de Outubro de 2011, 21:26por Conceição Oliveira do Blog Maria Frô, twitter: @maria_fro
Uma das críticas mais infundadas por parte de blogs da esquerda e de espectros da direita no caso da ação da Secretaria de Políticas para as Mulheres em relação à peça publicitária da Hope foi a acusação de que o governo estaria ‘censurando’ a ‘liberdade de expressão’. Confusões imensas. Primeiro porque a propaganda não goza de um direito constitucional como se fosse um simples cidadão; segundo porque a publicidade e o marketing estão condicionados a leis específicas em nosso país e, por último, a Ouvidoria da SPM atendeu a inúmeros pedidos de entidades de defesas das mulheres (ela existe pra isso) e encaminhou pedido para o CONAR, pois a SPM não tem poderes de censura.
Voltarei com mais tempo para discutir estas e outras confusões num debate que acho de suma importância e que mais uma vez foi diminuído, ridicularizado e estereotipado pelos ‘modernos’ que acham as feministas um bando de seres sem humor.
Adianto que temos humor quando há graça nas coisas, mas não temos mais tolerância para bobagens, para violências simbólicas e para discursos que recolocam a mulher antes da década de 20 do século passado.
Por enquanto fiquem com a excelente entrevista feita por Matheus Pichonelli com a ministra Iriny Lopes, publicada na Carta Capital.
‘Fui ridicularizada’
Por: Matheus Pichonelli*, na Carta Capital
03/10/2011
A ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Iriny Lopes; Foto: Valter Campanato/ABrNa semana passada, a ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Política para as Mulheres, se tornou a integrante mais falada do primeiro escalão do governo Dilma Rousseff. O motivo, diferentemente dos outros cinco ministros que deixaram suas pastas sob suspeitas, foi uma nota assinada pela secretaria em que pedia a suspensão, ao Conar (Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária), de uma propaganda com a top Gisele Bündchen. Na campanha, promovida pela Hope Lingerie, a modelo ensina as mulheres a dar más notícias aos maridos (como excesso de gastos ou batida de carro) sem risco de serem recriminadas: tirando a roupa.
Foi o suficiente para que movimentos em defesa das mulheres manifestassem repúdio ao conteúdo da propaganda, endossado pela secretaria do governo federal. A “reação à reação”, no entanto, foi ainda mais forte: a ministra foi criticada por supostamente tentar cercear a liberdade de expressão. Para os “críticos da crítica”, faltou bom humor ao governo e às feministas.
Em entrevista a CartaCapital, Iriny Lopes, mineira 55 anos, afirma ter ficado “estupefata” com a politização do debate – que, segundo ela, não respondeu se a propaganda era, afinal, boa ou prejudicial à mulher. Para a ex-deputada, a campanha com a top tinha um recado subliminar desrespeitoso à mulher, que coloca à disposição o próprio corpo para amenizar a ira do companheiro. Na entrevista, a ministra não poupou também o humorista Rafinha Bastos, no centro de polêmica após dizer, no ar, que “comeria” a cantora Wanessa Camargo, que está grávida, e o bebê dela. “O estupro não é piada, é crime”, diz a ministra, para quem brincadeiras desse tipo só reforçam o medo de as mulheres denunciarem agressões – e fazem com que os agressores se sintam seguros da impunidade. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
CartaCapital: O que levou a secretaria a pedir a suspensão da propaganda com a modelo Gisele Bündchen?
Iriny Lopes: Recebemos, através da nossa Ouvidoria, cobranças para que a secretaria tomasse uma posição. A ouvidoria existe para isso, para ouvir a sociedade. Faz parte do processo democrático. Não nos compete julgar o mérito (da suspensão da propaganda), isso compete ao Conar. No nosso juízo havia uma característica sexista na propaganda, de coisificação da mulher. Havia uma ideia de que, para conter a violência do companheiro, era necessária a erotização. De fato, elas devem ser bonitas, lindas, desejadas, assim como eles para elas. Mas não com esse tipo de brincadeira, que perpetua a ideia da mulher-objeto. Nós solicitamos que o Conar se manifestasse. E fomos informados pelo Conar de que outros 11 pedidos semelhantes foram anexados à nossa representação.CC: O pedido foi interpretado como uma tentativa de censura. O ex-governador José Serra lembrou o episódio para criticar o governo.
IL: Qualquer coisa que a gente faça sempre será politizada. Principalmente num país conservador como o nosso. A questão levantada pela representação não é o que virou o debate. A questão foi tratada de uma maneira conservadora e politizada. E contra um governo que está dando muito certo numa situação desfavorável, que é a situação econômica. Uma mulher dando certo num campo desses incomoda muita gente, por ser uma mulher de esquerda.CC: Com o pedido de suspensão, a ideia de que o governo tentava censurar a propaganda não ficou justificada?
IL: Foi uma interpretação de conveniência. Duas coisas me deixaram estupefata nessa história. Primeiro, num tema tão importante, o mérito não foi debatido. Queríamos discutir se aquela publicidade, ao fazer uma brincadeira, era boa ou má para as mulheres. Mas o que houve foi uma politização, passaram a imagem de que queríamos a censura, o cerceamento, porque enviamos o tema para um órgão de auto-regulamentação do qual não temos assentos nem voz nem indicamos ninguém. É um órgão com plena autonomia.CC: Não seria mais indicado uma nota de repúdio, como foi feito à direção da empresa de lingerie?
IL: Não acho que tenha havido prejuízo pelo fato de termos solicitado, com base nos artigos do próprio regimento, a apreciação da suspensão. Isso já foi feito outras vezes. Ganha-se uma vez, perde-se outras. O que fizemos foi respeitar as solicitações recebidas pela nossa ouvidoria. Uma nota de repúdio politizaria muito mais, embora no nosso pedido houvesse uma opinião prévia que balizou nossa sustentação.
A ministra de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, durante audiência pública na comissão especial sobre o Plano Nacional de Educação. Foto: Renato Araújo/Agência Brasil
CC: A senhora se disse estupefata por dois motivos. Qual o segundo?
IL: Foi o absoluto machismo que ainda está posto dentro da sociedade brasileira. As charges que buscaram me ridicularizar, feitas por quem desconhece o tema em debate, eram tentativas de se retomar aquela ideia que opõe mulheres feias e bonitas, gordas e magras. Quando, na verdade, não há ressentimento algum, e sim uma cultura de igualdade, de contestação ao status quo no qual a mulher é vista como um ser subalterno. Não temos nada contra a propaganda de lingerie ser bem humorada, não temos nada contra isso. Só que a brincadeira foi muito sem graça. Há outras maneiras de ser alegre, ser brincalhão, sem colocar a mulher em posição subalterna.CC: Na propaganda, a Gisele Bündchen se coloca como uma mulher que põe o corpo à disposição para compensar uma má notícia. Muitos críticos diziam ter medo de que a piada se espalhasse, e que os homens dissessem para suas mulheres e amigas, mesmo que na brincadeira: “ok, você fez bobagem, agora tira o sutiã que fica tudo certo”. É um exagero?
IL: Esse é o perigo. Tudo ali era subliminar. Havia uma mensagem subliminar quando era mostrado um carimbo dizendo que dar o recado com roupa era errado. Qual é a intenção ao mostrar isso? É essa coisa da mulher-objeto, que para manter uma relação precisa de um nível de erotismo. Pode ser uma brincadeira saudável entre casais, mas levamos em consideração essas brincadeiras que perpetuam esse status que queremos superar. Nós trabalhamos muito por igualdade, e esse tipo de coisa não ajuda. Isso influencia na atual e nas próximas gerações. Temos procurado com a mídia manter esse diálogo, para que a propaganda e os programas ajudem a alavancar as conquistas das mulheres. Nossa visão em relação à publicidade não é moralista.CC: Como a medida tomada pela secretaria, sugerindo a suspensão da propaganda, foi recebida dentro do governo?
IL: Não faltou solidariedade. Nem contra nem a favor. Temos um nível de autonomia dentro do governo.CC: A senhora conversou com a presidenta Dilma?
IL: Nós, ministros, somos respeitados pela presidenta, não fizemos nada fora da legislação. Não temos nenhum problema. Sabemos exatamente a firmeza com que ela conduz o conjunto do governo. Não tivemos falta de solidariedade.CC: Na mesma semana em que houve a propaganda da lingerie, muito se falou sobre a piada, feita pelo humorista Rafinha Bastos, com a cantora Wanessa Camargo…
IL: Foi uma falta de respeito absurda e é necessário que haja uma retratação. Ele desrespeitou a mulher e a gravidez de uma mulher. Isso é duplamente complicado. Não sei como a cantora tratou essa questão. É, de novo, a mesma coisa: a mulher como objetivo, como vítima da erotização, e numa situação de gravidez. Não se fala isso para nenhuma mulher. É uma ofensa à criança que ela traz. Ele precisa entender que as mulheres gostam de elogios, assim como eles. Mas não esse tipo de elogio. Foi uma grosseria, uma insensibilidade.CC: A piada foi feita num programa de humor que tem alta audiência, que se espalha rapidamente pela internet e sites de compartilhamento. De que maneira a secretaria debate essa questão?
IL: Temos discutido um aspecto um pouco mais amplo, porque estamos discutindo com o Ministério da Justiça, o Ministério da Saúde, dos Esportes. Pensamos em campanhas que possam influenciar na postura das pessoas para inibir e constranger esses abusos e falta de responsabilidade, principalmente para o reconhecimento dos direitos das mulheres.CC: Muitos vão dizer que era só uma piada.
IL: Muitos nos cobram pelo aumento dos casos de estupro e de homicídio, mas precisamos compartilhar responsabilidade. Quando a pessoa que faz um programa massivamente difundido e diz que a mulher feia deve agradecer pelo estupro, isso é um crime, e não uma piada. Se o estupro vira uma piada, então a violência se banaliza. As mulheres não registram o crime porque acham que o caso não vai seguir adiante. Os agressores ficam cada vez mais tranquilos e passam a confiar na impunidade. Muita gente não denuncia porque não quer se expor para os vizinhos, os amigos, os colegas de trabalho, a família, e carrega a dor sozinha. Muitas vezes as pessoas assistem a casos de agressão no recinto familiar e se omite. Não é uma coisa banal.CC: Muitos viram na reação da secretaria e dos movimentos feministas falta de bom humor. O que se disse foi que houve uma atitude ‘politicamente correta’. Como evitar que o debate caia nessas afirmações?
IL: É preciso insistir na discussão, no debate. Quando for possível, com diálogos diretos para a sensibilização, com seriedade. É importante que se discuta os conteúdos, os níveis de repercussão e de cultura que aquilo vai constituindo. É a insistência de furar bloqueios, de não ficar acuado e usar instrumentos legais quando não for possível o diálogo. É também ampliar as ouvidorias, ter um Ministério Público atuante. Eu convivi sempre com essa questão, sempre foi militante. Na Câmara presidi Comissão de Direitos Humanos, e dirigimos a campanha “Quem financia baixaria é contra a cidadania”. Foi uma reação aos programas, publicidade e publicações que trabalham pejorativamente as questões de raça, gênero, orientação sexual e classe social.*Matheus Pichonelli: Formado em jornalismo e ciências sociais, é subeditor do site e repórter da revista CartaCapital desde maio de 2011. Escreve sobre política nacional, cinema e sociedade. Foi repórter do jornal Folha de S.Paulo e do portal iG. Em 2005, publicou o livro de contos ‘Diáspora’.
O post Iriny Lopes: “O que fizemos foi respeitar as solicitações recebidas pela nossa ouvidoria” apareceu primeiro em Viomundo - O que você não vê na mídia.
Iriny Lopes: “O que fizemos foi respeitar as solicitações recebidas pela nossa ouvidoria”
3 de Outubro de 2011, 18:26 - sem comentários aindapor Conceição Oliveira do Blog Maria Frô, twitter: @maria_fro
Uma das críticas mais infundadas por parte de blogs da esquerda e de espectros da direita no caso da ação da Secretaria de Políticas para as Mulheres em relação à peça publicitária da Hope foi a acusação de que o governo estaria ‘censurando’ a ‘liberdade de expressão’. Confusões imensas. Primeiro porque a propaganda não goza de um direito constitucional como se fosse um simples cidadão; segundo porque a publicidade e o marketing estão condicionados a leis específicas em nosso país e, por último, a Ouvidoria da SPM atendeu a inúmeros pedidos de entidades de defesas das mulheres (ela existe pra isso) e encaminhou pedido para o CONAR, pois a SPM não tem poderes de censura.
Voltarei com mais tempo para discutir estas e outras confusões num debate que acho de suma importância e que mais uma vez foi diminuído, ridicularizado e estereotipado pelos ‘modernos’ que acham as feministas um bando de seres sem humor.
Adianto que temos humor quando há graça nas coisas, mas não temos mais tolerância para bobagens, para violências simbólicas e para discursos que recolocam a mulher antes da década de 20 do século passado.
Por enquanto fiquem com a excelente entrevista feita por Matheus Pichonelli com a ministra Iriny Lopes, publicada na Carta Capital.
‘Fui ridicularizada’
Por: Matheus Pichonelli*, na Carta Capital
03/10/2011
A ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Iriny Lopes; Foto: Valter Campanato/ABrNa semana passada, a ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Política para as Mulheres, se tornou a integrante mais falada do primeiro escalão do governo Dilma Rousseff. O motivo, diferentemente dos outros cinco ministros que deixaram suas pastas sob suspeitas, foi uma nota assinada pela secretaria em que pedia a suspensão, ao Conar (Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária), de uma propaganda com a top Gisele Bündchen. Na campanha, promovida pela Hope Lingerie, a modelo ensina as mulheres a dar más notícias aos maridos (como excesso de gastos ou batida de carro) sem risco de serem recriminadas: tirando a roupa.
Foi o suficiente para que movimentos em defesa das mulheres manifestassem repúdio ao conteúdo da propaganda, endossado pela secretaria do governo federal. A “reação à reação”, no entanto, foi ainda mais forte: a ministra foi criticada por supostamente tentar cercear a liberdade de expressão. Para os “críticos da crítica”, faltou bom humor ao governo e às feministas.
Em entrevista a CartaCapital, Iriny Lopes, mineira 55 anos, afirma ter ficado “estupefata” com a politização do debate – que, segundo ela, não respondeu se a propaganda era, afinal, boa ou prejudicial à mulher. Para a ex-deputada, a campanha com a top tinha um recado subliminar desrespeitoso à mulher, que coloca à disposição o próprio corpo para amenizar a ira do companheiro. Na entrevista, a ministra não poupou também o humorista Rafinha Bastos, no centro de polêmica após dizer, no ar, que “comeria” a cantora Wanessa Camargo, que está grávida, e o bebê dela. “O estupro não é piada, é crime”, diz a ministra, para quem brincadeiras desse tipo só reforçam o medo de as mulheres denunciarem agressões – e fazem com que os agressores se sintam seguros da impunidade. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
CartaCapital: O que levou a secretaria a pedir a suspensão da propaganda com a modelo Gisele Bündchen?
Iriny Lopes: Recebemos, através da nossa Ouvidoria, cobranças para que a secretaria tomasse uma posição. A ouvidoria existe para isso, para ouvir a sociedade. Faz parte do processo democrático. Não nos compete julgar o mérito (da suspensão da propaganda), isso compete ao Conar. No nosso juízo havia uma característica sexista na propaganda, de coisificação da mulher. Havia uma ideia de que, para conter a violência do companheiro, era necessária a erotização. De fato, elas devem ser bonitas, lindas, desejadas, assim como eles para elas. Mas não com esse tipo de brincadeira, que perpetua a ideia da mulher-objeto. Nós solicitamos que o Conar se manifestasse. E fomos informados pelo Conar de que outros 11 pedidos semelhantes foram anexados à nossa representação.CC: O pedido foi interpretado como uma tentativa de censura. O ex-governador José Serra lembrou o episódio para criticar o governo.
IL: Qualquer coisa que a gente faça sempre será politizada. Principalmente num país conservador como o nosso. A questão levantada pela representação não é o que virou o debate. A questão foi tratada de uma maneira conservadora e politizada. E contra um governo que está dando muito certo numa situação desfavorável, que é a situação econômica. Uma mulher dando certo num campo desses incomoda muita gente, por ser uma mulher de esquerda.CC: Com o pedido de suspensão, a ideia de que o governo tentava censurar a propaganda não ficou justificada?
IL: Foi uma interpretação de conveniência. Duas coisas me deixaram estupefata nessa história. Primeiro, num tema tão importante, o mérito não foi debatido. Queríamos discutir se aquela publicidade, ao fazer uma brincadeira, era boa ou má para as mulheres. Mas o que houve foi uma politização, passaram a imagem de que queríamos a censura, o cerceamento, porque enviamos o tema para um órgão de auto-regulamentação do qual não temos assentos nem voz nem indicamos ninguém. É um órgão com plena autonomia.CC: Não seria mais indicado uma nota de repúdio, como foi feito à direção da empresa de lingerie?
IL: Não acho que tenha havido prejuízo pelo fato de termos solicitado, com base nos artigos do próprio regimento, a apreciação da suspensão. Isso já foi feito outras vezes. Ganha-se uma vez, perde-se outras. O que fizemos foi respeitar as solicitações recebidas pela nossa ouvidoria. Uma nota de repúdio politizaria muito mais, embora no nosso pedido houvesse uma opinião prévia que balizou nossa sustentação.
A ministra de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, durante audiência pública na comissão especial sobre o Plano Nacional de Educação. Foto: Renato Araújo/Agência Brasil
CC: A senhora se disse estupefata por dois motivos. Qual o segundo?
IL: Foi o absoluto machismo que ainda está posto dentro da sociedade brasileira. As charges que buscaram me ridicularizar, feitas por quem desconhece o tema em debate, eram tentativas de se retomar aquela ideia que opõe mulheres feias e bonitas, gordas e magras. Quando, na verdade, não há ressentimento algum, e sim uma cultura de igualdade, de contestação ao status quo no qual a mulher é vista como um ser subalterno. Não temos nada contra a propaganda de lingerie ser bem humorada, não temos nada contra isso. Só que a brincadeira foi muito sem graça. Há outras maneiras de ser alegre, ser brincalhão, sem colocar a mulher em posição subalterna.CC: Na propaganda, a Gisele Bündchen se coloca como uma mulher que põe o corpo à disposição para compensar uma má notícia. Muitos críticos diziam ter medo de que a piada se espalhasse, e que os homens dissessem para suas mulheres e amigas, mesmo que na brincadeira: “ok, você fez bobagem, agora tira o sutiã que fica tudo certo”. É um exagero?
IL: Esse é o perigo. Tudo ali era subliminar. Havia uma mensagem subliminar quando era mostrado um carimbo dizendo que dar o recado com roupa era errado. Qual é a intenção ao mostrar isso? É essa coisa da mulher-objeto, que para manter uma relação precisa de um nível de erotismo. Pode ser uma brincadeira saudável entre casais, mas levamos em consideração essas brincadeiras que perpetuam esse status que queremos superar. Nós trabalhamos muito por igualdade, e esse tipo de coisa não ajuda. Isso influencia na atual e nas próximas gerações. Temos procurado com a mídia manter esse diálogo, para que a propaganda e os programas ajudem a alavancar as conquistas das mulheres. Nossa visão em relação à publicidade não é moralista.CC: Como a medida tomada pela secretaria, sugerindo a suspensão da propaganda, foi recebida dentro do governo?
IL: Não faltou solidariedade. Nem contra nem a favor. Temos um nível de autonomia dentro do governo.CC: A senhora conversou com a presidenta Dilma?
IL: Nós, ministros, somos respeitados pela presidenta, não fizemos nada fora da legislação. Não temos nenhum problema. Sabemos exatamente a firmeza com que ela conduz o conjunto do governo. Não tivemos falta de solidariedade.CC: Na mesma semana em que houve a propaganda da lingerie, muito se falou sobre a piada, feita pelo humorista Rafinha Bastos, com a cantora Wanessa Camargo…
IL: Foi uma falta de respeito absurda e é necessário que haja uma retratação. Ele desrespeitou a mulher e a gravidez de uma mulher. Isso é duplamente complicado. Não sei como a cantora tratou essa questão. É, de novo, a mesma coisa: a mulher como objetivo, como vítima da erotização, e numa situação de gravidez. Não se fala isso para nenhuma mulher. É uma ofensa à criança que ela traz. Ele precisa entender que as mulheres gostam de elogios, assim como eles. Mas não esse tipo de elogio. Foi uma grosseria, uma insensibilidade.CC: A piada foi feita num programa de humor que tem alta audiência, que se espalha rapidamente pela internet e sites de compartilhamento. De que maneira a secretaria debate essa questão?
IL: Temos discutido um aspecto um pouco mais amplo, porque estamos discutindo com o Ministério da Justiça, o Ministério da Saúde, dos Esportes. Pensamos em campanhas que possam influenciar na postura das pessoas para inibir e constranger esses abusos e falta de responsabilidade, principalmente para o reconhecimento dos direitos das mulheres.CC: Muitos vão dizer que era só uma piada.
IL: Muitos nos cobram pelo aumento dos casos de estupro e de homicídio, mas precisamos compartilhar responsabilidade. Quando a pessoa que faz um programa massivamente difundido e diz que a mulher feia deve agradecer pelo estupro, isso é um crime, e não uma piada. Se o estupro vira uma piada, então a violência se banaliza. As mulheres não registram o crime porque acham que o caso não vai seguir adiante. Os agressores ficam cada vez mais tranquilos e passam a confiar na impunidade. Muita gente não denuncia porque não quer se expor para os vizinhos, os amigos, os colegas de trabalho, a família, e carrega a dor sozinha. Muitas vezes as pessoas assistem a casos de agressão no recinto familiar e se omite. Não é uma coisa banal.CC: Muitos viram na reação da secretaria e dos movimentos feministas falta de bom humor. O que se disse foi que houve uma atitude ‘politicamente correta’. Como evitar que o debate caia nessas afirmações?
IL: É preciso insistir na discussão, no debate. Quando for possível, com diálogos diretos para a sensibilização, com seriedade. É importante que se discuta os conteúdos, os níveis de repercussão e de cultura que aquilo vai constituindo. É a insistência de furar bloqueios, de não ficar acuado e usar instrumentos legais quando não for possível o diálogo. É também ampliar as ouvidorias, ter um Ministério Público atuante. Eu convivi sempre com essa questão, sempre foi militante. Na Câmara presidi Comissão de Direitos Humanos, e dirigimos a campanha “Quem financia baixaria é contra a cidadania”. Foi uma reação aos programas, publicidade e publicações que trabalham pejorativamente as questões de raça, gênero, orientação sexual e classe social.*Matheus Pichonelli: Formado em jornalismo e ciências sociais, é subeditor do site e repórter da revista CartaCapital desde maio de 2011. Escreve sobre política nacional, cinema e sociedade. Foi repórter do jornal Folha de S.Paulo e do portal iG. Em 2005, publicou o livro de contos ‘Diáspora’.
O post Iriny Lopes: “O que fizemos foi respeitar as solicitações recebidas pela nossa ouvidoria” apareceu primeiro em Viomundo - O que você não vê na mídia.