O fracasso do golpe no país surreal
21 de Setembro de 2018, 12:46“A Revolução que acalentamos na juventude, faltou.
A vida, não. A vida não falta.
E não há nada mais revolucionário que a vida...” (1994) [*]
Será vão o esforço intelectual, mesmo das cabeças mais brilhantes, empenhadas em utilizar as categorias cartesianas para decifrar o Brasil. Aqui nos trópicos, nem mesmo o surrealismo – como advertia Alejo Carpentier na Introdução Manifesto ao “El reino de este mundo” – seria capaz de dar conta dos paradoxos da esfinge...
Contados dois anos, desde a deposição da presidente eleita, Dilma Rousseff, de desmoralizar e isolar o Partido dos Trabalhadores, numa vitória arrasadora em toda linha, nas ruas e nas instituições, as forças sociais e políticas que desferiram o golpe de estado, em 2016, chegam às vésperas das primeiras eleições presidenciais pós-golpe numa situação singular: desabou a “Ponte para o futuro” prometida no momento do triunfo da conspiração. O país foi conduzido, em marcha batida – para que não se desse às forças populares fôlego suficiente para respirar e reagir ao assalto aos direitos conquistados no período anterior – à entrega dos recursos naturais, à liquidação das políticas de inclusão social, à destruição do projeto de crescimento soberano e com distribuição de renda.
O golpe fracassou. Para impor ao país os objetivos da agenda neoliberal, os golpistas chegam às eleições de 2018 que eram sonhadas como o selo que haveria de conferir a sonhada legitimidade, carregando nos ombros alguns fardos pesados: a) um fracasso econômico insofismável. O país foi conduzido à recessão e a sucessivas quedas nas atividades industriais, comerciais e de serviços. Só os bancos, como não podia deixar de ser, seguem imunes às crises; b) um fracasso social, traduzido nas altas taxas de desemprego, na precarização das relações de trabalho, na liquidação das políticas de inclusão como o “Minha Casa Minha Vida” e o “Bolsa Família” que devolvem o país ao mapa da fome e c) um fracasso político que levou à gigantesca rejeição popular ao governo, ao ponto de não contar com um único candidato na corrida presidencial que se disponha a defende-lo, mesmo os mais comprometidos com ele, como Alckmin e Meirelles.
O personagem que encarna o golpe – o usurpador Michel Temer – se converteu num fantasma abominável, a quem ninguém mais dirige, senão para execrá-lo. De quem todos fogem, mesmo seus sócios mais íntimos, porque sua imagem diante da população contamina a credibilidade de qualquer pretensão.
Hoje, os dois líderes que representam as forças políticas de maior relevância, estão formalmente fora da disputa. Um na prisão. O outro no hospital. Ambos representados nesse momento por seus vices. O primeiro por um advogado, economista. O outro, por um general. Peculiaridades da esfinge tropical... 2018 revela, ao Brasil que ainda deseja entender o que se passa, que o Brasil não resolveu o impasse entre a cultura autoritária, racista, misógina e politicamente colonizada e a cultura democrática, inclusiva e defensora da soberania. Em outros termos: o impasse entre a Casa Grande e a Senzala. Entre seguir cumprindo a condenação de ser colônia ou manter de pé o projeto de se tornar um dia uma nação.
O cenário destas eleições presidenciais de 2018, nos remete a uma tela de Debret: um dos contendores se encontra atado ao pelourinho, os demais, com os braços livres empunham o chicote e fustigam. Assim funciona a democracia nesses trópicos... As elites brasileiras – leia-se, o capital financeiro, os oligopólios dos meios de comunicação, os donos do agronegócio – ainda não entenderam, por subestima-lo sistematicamente, que a cada vez que impõem uma derrota a Lula, pela força do aparato do Estado sob seu controle, como ocorre agora ao negar-lhe o direito à candidatura, ele dá a volta por cima e se apresenta mais forte na batalha seguinte. Há quem formule a crítica de que Lula não deveria “desistir da candidatura”. Deveria ir até o fim. A resposta de Lula é, desde a prisão onde se encontra, lançar a candidatura de Fernando Haddad e demonstrar a capacidade das esquerdas para se renovar e imprimir um novo vigor na disputa.
A prisão arbitrária imposta pelo aparato judicial brasileiro permitiu a Lula recuperar sua estatura única como líder popular do país. E recuperou a imagem do Partido dos Trabalhadores para as lutas sociais e eleitorais do próximo período. O PT alcança, hoje, a preferência partidária de 25% da população brasileira. Os partidos comprometidos com o golpe, todos, não alcançam 5%.
De dentro do hospital, o capitão envia sua mensagem – a única que é capaz de enviar – de apologia da violência fascista como forma de resolver os conflitos da sociedade e atrair para si os votos da direita atônita que perdeu para ele a “embocadura do discurso”. Trata de assegurar a hegemonia política que conquistou sobre a massa dos setores sociais que foram para as ruas respaldar os condutores do golpe de 2016.
As declarações do ex-presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, na última semana explicitando uma autocrítica sobre os descaminhos do partido que, segundo ele, se afastou do respeito à democracia, ao não reconhecer a derrota de 2014; ao embarcar na aventura do golpe em 2016; e por fim, ao integrar-se ao governo Temer, consumou uma trajetória de equívocos. Palavras que soaram como um dobre de finados sobre a campanha dos tucanos.
Atestam, as declarações do Senador, que o discurso da direita foi capturado pela extrema-direita encarnada pelo capitão. A direita bem pensante rendeu-se a um discurso tosco e simplificador. O bolsonarismo se apresenta como uma espécie de integralismo da idade da pedra, nutrido pela maré conservadora mundial contemporânea. Aqui mora precisamente o perigo: o capitão simbolicamente vertebrou o discurso fascista com uma parcela significativa da base popular. Eis aí o rosto da fera que espreita a democracia brasileira: um fascismo popular numa sociedade conflagrada.
A peculiar democracia brasileira, depois de relativizar a vigência da Constituição de 1988, vem nos oferecendo um cardápio variado de cenas exemplares. A mais vistosa é o “pelourinho eletrônico” montado na praça maior de Pindorama: o Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão. Por ela desfilam todos os candidatos que a emissora convoca. Ali são submetidos ao açoite público, com o lustroso casal de âncoras executando o suplício, como executavam os antigos feitores.
Elevado a técnica jornalística, o interrogatório reproduz a lógica do que se punha em prática nas salas acústicas da Rua Tutoia ou da Barão de Mesquita: a tese chega pronta. O interrogado tem todo o direito de confirmar ou desmentir. Desde que se atenha ao texto previamente preparado...
No “pelourinho eletrônico” os postulantes ao mais importante cargo da república são supliciados ante os olhos incrédulos ou indignados dos expectadores por um poder que se atribui uma tutela sobre a sociedade, que a sociedade não lhe delegou. Inverte-se assim, nessa democracia tropical, a ordem dos fatores. Uma empresa que atua como concessão do poder público, de acordo com a Constituição, assume o papel de concedente: opera sem qualquer inibição para impor o nome que mais lhe convém. Pretende, assim, assegurar as condições para seguir governando o governo...
A movimentação dos números apresentados pelos levantamentos de opinião desses últimos dias apontam para uma decisão dramática – mais uma vez – entre o Petismo representado por Fernando Haddad com forte impulso ascendente e o Anti-Petismo, agora sob a liderança fascista do ex-capitão, já que a “direita civil” perdeu substância como porta-voz do projeto neoliberal para o país.
Para as esquerdas está posto o desafio de unificar-se e buscar ampliar sua capacidade de atrair os setores populares dispostos a votar na candidatura de Fernando Haddad ancorada e apoiada por Lula. Para a “direita civil” resta a escolha de respaldar abertamente o fascismo ou retomar o caminho de defesa da democracia do qual se afastou ao questionar os resultados das urnas de 2014.
* Pedro Tierra (Hamilton Pereira) é poeta, ex- Presidente da Fundação Perseu Abramo.
Nota
* Versos do Poema “Os Filhos da Paixão“
Ciro alerta para risco de ditadura contido na ascensão de Bolsonaro
21 de Setembro de 2018, 12:00Em linha com o discurso de Ciro Gomes, a ascensão da retórica nazista é real, a ponto de o Brasil chegar à capa da revista britânica The Economist.
Por Redação – de São Paulo
O Brasil está diante da ameaça de cair num “fenômeno nazista e militarista”, disse nesta quinta-feira o candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes. Ele voltou a afirmar que os eleitores votem por convicção no primeiro turno, deixando o chamado voto útil para a segunda rodada. Este seria o antídoto mais adequado para que Bolsonaro seja neutralizado antes mesmo de chegar à próxima etapa das eleições.
Bolsonaro é desnudado pela bíblia mundial do capitalismo, a revista britânica The Economist— O povo brasileiro está em revolução, as pessoas estão mudando violentamente, estão procurando um caminho e eu entendo com o meu coração esse sentimento, porque é muita emoção, muita mudança de última hora… muita ‘fake news’ — disse Ciro a jornalistas após participar de uma reunião no Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), na capital paulista.
Voto útil
Ainda segundo o ex-governador do Ceará, “as pessoas estão preocupadas, o Brasil está ameaçado de uma queda no precipício, um fenômeno nazista, militarista e extremista”.
— Mulheres estão sendo insultadas pelo mero fato de serem mulheres, meninos e meninas brigando de forma odienta, descambando para a violência, um candidato que emula a violência sofreu o que não pode acontecer, pela primeira vez na história moderna do Brasil — pontuou.
Para Ciro, nesse quadro, não é possível a pregação do voto útil já no primeiro turno.
— Voto útil é a negação da preferência do cidadão, o cidadão tem que votar em quem ele achar melhor e ficar em paz com a sua consciência — argumentou Ciro, lembrando ser possível evitar que o representante neofascista chegue ao segundo turno das eleições.
Datafolha
A possibilidade de apelos pelo voto útil cresceu depois que o Ibope divulgou pesquisa na terça-feira mostrando o candidato do PT, Fernando Haddad, isolado no segundo lugar, com 19 por cento das intenções de voto, enquanto Ciro tinha 11 por cento. O presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, liderava com 28 por cento.
Mas, nesta madrugada, o Datafolha divulgou levantamento mostrando Ciro e Haddad em empate técnico, embora o petista apareça numericamente à frente (16% a 13 por cento). Bolsonaro somou 28 por cento das intenções de voto também nesta pesquisa.
Apesar do quadro menos desfavorável na sondagem mais recente, Ciro voltou a colocar em dúvida os institutos de pesquisa.
— O que a gente precisa tirar de lição dessas pesquisas, que estão saindo praticamente todo dia, é que não é razoável que um cidadão amadurecido politicamente entregue sua decisão, sua preferência em relação à sorte da nação, da sua família, a institutos de pesquisa, nem porque eles podem ser desonestos, porque nesse país até deputado se compra, quanto mais instituto de pesquisa — afirmou o presidenciável.
The Economist
Em linha com o discurso do candidato pedetista, o risco de ascensão da retórica nazista é real, a ponto de o Brasil chegar à capa da bíblia internacional do capitalismo, a revista britânica The Economist desta semana. Com o título “Jair Bolsonaro, a mais recente ameaça da América Latina”, a publicação, uma das mais respeitadas em todo o mundo, especialmente quando o assunto é liberalismo econômico, afirma que o candidato do PSL seria um “presidente desastroso”.
A reportagem diz que Bolsonaro é o último de um grupo de populistas, que inclui de Donald Trump nos Estados Unidos, a Rodrigo Duterte nas Filipinas e uma coalizão de esquerda e direita com Matteo Salvini na Itália. “Bolsonaro seria uma adição particularmente desagradável ao clube. Se ele vencesse, poderia colocar em risco a própria sobrevivência da democracia no maior país da América Latina”, afirma o texto.
Para a revista, as eleições de outubro dão ao Brasil a chance de começar de novo. No entanto, se, como parece possível, a vitória for para Jair Bolsonaro, um populista de direita, o país corre o risco de piorar tudo. “Bolsonaro, cujo nome do meio é Messias, promete a salvação, mas na verdade ele é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina”, resume o texto.
Haddad e o antipetismo. Antipetismo?
19 de Setembro de 2018, 21:56Em primeiro lugar, é bom que se registre que, com todo o tal do antipetismo, Lula liderava as intenções de voto (chegou a 39%) e, nas projeções de segundo turno, ganhava de todo mundo, inclusive de Bolsonaro.
Por Chico Junior – do Rio de Janeiro
Digamos que o candidato do PT à presidência da República, Fernando Haddad, consiga mesmo ir para o segundo turno, conforme estão apontando as mais recentes pesquisas de opinião. E que o seu adversário seja mesmo Jair Bolsonaro.
Haddad está, virtualmente, no segundo turno das eleições, segundo corretora de valoresA questão que se coloca, e que deixa os eleitores de Haddad preocupados, é: o chamado antipetismo, o voto anti PT, será capaz de derrotá-lo.
Em primeiro lugar, é bom que se registre que, com todo o tal do antipetismo, Lula liderava as intenções de voto (chegou a 39%) e, nas projeções de segundo turno, ganhava de todo mundo, inclusive de Bolsonaro.
Centro
Em segundo lugar, a eleição do segundo turno se caracterizará pelo embate das forças democráticas, progressistas, representadas por Haddad, contra as forças antidemocráticas, conservadoras, representadas por Bolsonaro.
É claro que o voto antipetista existe e certamente irá para Bolsonaro, mas resta saber se será suficiente para dar a vitória ao capitão.
Outra questão importante é que, após o primeiro turno, e estando no segundo, Haddad vai ter que, obrigatoriamente, caminhar para o centro, caso queira conseguir as indispensáveis e fundamentais alianças que o ajudarão a derrotar Bolsonaro. Conseguir o apoio de PDT de Ciro, da Rede de Marina, do PSB e até do PSDB de Alckmin será muito importante. O PT já dá sinais que a estratégia de adotar um tom mais moderado na campanha poderá começar já neste primeiro turno.
Radical
Em suma, além do voto popular, o PT tem que conseguir apoio político.
E o PT sabe como fazer isso. Afinal, é um partido bem estruturado em nível nacional, tem uma militância ativa, governou o país por quatro vezes seguidas e certamente formará uma base parlamentar que o credenciará a fazer as alianças necessárias.
Para Bolsonaro, conseguir esse leque de alianças será bem mais difícil. Pertence a um partido pequeno (PSL), desestruturado, e tem um discurso capenga quando se trata de questões estruturais para a governança e desenvolvimento do país. Isso sem contar o discurso radical de extrema-direita.
Páreo duro
Ele, Bolsonaro, sabe que vai ser difícil vencer o adversário, seja lá quem for, tanto que já anda dizendo que, se não vencer é porque houve fraude, levantando desconfianças em relação à votação eletrônica, mas esquecendo-se que foi eleito diversas vezes em votação eletrônica.
Nas projeções de segundo turno (de acordo com a última pesquisa do Ibope), o páreo está duro entre Haddad e Bolsonaro. Mas, apesar do antipetismo, Haddad tem 40% das intenções de voto, mesmo índice de Bolsonaro.
Mas, é aquela história, segundo turno é outra eleição e entram em cena fatores que não agiam no primeiro turno.
Aguardemos as próximas pesquisas.
Chico Júnior é jornalista.
Mourão desautoriza Bolsonaro em declaração sobre fraude nas eleições
17 de Setembro de 2018, 20:51No domingo, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo do hospital onde está internado, após ser esfaqueado dia 6, e reforçou sua tese de uma possível fraude no pleito de outubro, afirmando que “não temos qualquer garantia nas eleições”.
Por Redação – de São Paulo
Os desentendimentos entre o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB) e o companheiro de chapa, Jair Bolsonaro (PSL), antes restritas à coordenação de campanha, tornaram-se públicos, nesta segunda-feira. Candidato a vice-presidente, Mourão afirmou ser necessário “relevar o discurso” do presidenciável sobre uma possível fraude na eleição.
General Mourão diz que declarações de Bolsonaro não devem ser levada a sério— Tem que relevar um homem que praticamente morreu, quase morreu, que passou por duas cirurgias graves. O cara está fragilizado, então vamos relevar o que ele disse. Minha posição é que o jogo é esse, nós vamos jogar e vencer no primeiro turno — imagina Mourão.
No domingo, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo do hospital onde está internado, após ser esfaqueado dia 6, e reforçou sua tese de uma possível fraude no pleito de outubro, afirmando que “não temos qualquer garantia nas eleições”.
‘Minha 45’
Esse tema tem sido recorrente nas declarações do presidenciável. Pouco antes do atentado ele voltara ao assunto, falando que em nenhum outro país do mundo a votação e a apuração é completamente eletrônica, o que seria um sinal claro da fragilidade do sistema adotado pelo Brasil.
Em discurso para uma plateia de empresários, Mourão defendeu as reformas tributária, da Previdência e da Constituição, após provocar polêmica, na semana passada, ao dizer que a Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo.
— Outro dia eu externei minha opinião sobre a questão da Constituição e fui taxado de antidemocrático. Se eu fosse antidemocrático, eu não estaria participando da eleição, eu estaria com a minha 45, limpando ela bonitinha, e aguardando melhores dias. Não é isso que estou fazendo, obviamente — diz ele.
Bolsonaro, “O sincero”!
15 de Setembro de 2018, 11:28Reproduzimos, a seguir, um texto de Ângelo Cavalcante, economista e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Por Maria Fernanda Arruda – do Rio de Janeiro
“Uga-uga! O epíteto não é casualidade… É que, de verdade, podemos acusar o ‘Bozo’ de qualquer coisa menos de ser insincero. Ele é absolutamente sincero no que pensa, faz, age e procede. E deixou isso bastante claro em quase trinta anos de atividade parlamentar, não por acaso, absolutamente estéril e improdutiva, custeada, é claro, por todo o populacho do Brasil.
Maria Fernanda Arruda escreve para o Correio do BrasilVou tentar ser mais claro! É que quando o ‘Bozo’ diz que ‘quilombola é animal’ ele, de fato, está dizendo que ‘preto’ é mesmo inferior; que é animalizado e que, justo por isso, deve ser pesado em ‘arrobas’; não casualmente, uma medida primitiva de um Portugal mercantil, medieval e que levou a cabo um dos maiores genocídios de todas as histórias ocidentais por infindáveis três séculos nesta terra tropical.
Quando o ‘capitão’ diz ‘não te estupro porque você não merece’ ele está se utilizando de uma categoria que efetivamente, é parte do seu repertório argumentativo; que está intensa e densamente presente em seu sistema de avaliação; que é parte do seu vernáculo cotidiano e diário. O estupro, esse crime absurdo e inominável contra mulheres e crianças, é uma constante no juízo escravocrata e dominante desse indivíduo.
Fascista
De tal sorte que, sempre em situações de confronto, tensão ou diferença tal qual as que se sucederam com a deputada federal Maria do Rosário acontecem, esta infame categoria e possibilidade de mediação é automaticamente acionada pela ‘peça’.
E mais… Quando a gravidez, condição feminina desde quando vivíamos feito girinos, em pântanos e alagadiços a milhões e milhões de anos atrás é entendida por ‘Bozo’ como fator impeditivo para o desenvolvimento econômico, logo e, portanto, ‘mulheres devem ganhar menos’, ele não está brincando! Está dizendo SIM que você, mulher, pelo fato de ser mulher, independente de sua condição intelectual, formativa, produtiva e profissional deve ser sub-remunerada, sub-avaliada e sub-situada nas estruturas de produção e crescimento econômico porque… Você pode engravidar!
Mais sincero… Impossível! Quando o fascista afirma que é preciso postar um ‘berro’ na mão de cada homem ou mulher desse país e que, lembremos, mata mais do que qualquer guerra no mundo, ele está dizendo que é preciso espalhar armas a ‘dar com paus’ para acabar com a violência neste Brasil de sangue, ódios e muitas matanças. É inacreditável!
‘Reaças’
Quando oferece gramas para nordestinos eleitores de Lula ele está, verdadeiramente, oferecendo gramas aos nordestinos e eleitores de Lula. Mesmo os que se formaram em Medicina, Engenharia ou Odontologia e estão, em quebradas, roçados e outas distâncias, prestando servições fundamentais aos mais pobres e necessitados. Não… Bolso não está brincando! Ele disse porque crê; crê porque assim vê e entende; e desta feita, entende, porque é do seu mundo de tortura, opressão e violência contra todos os que lutaram por liberdade, democracia e justiça nesse país.
Sinceridade… É isso! Bolso é o ‘sincero’! Fora disso, é burrice minha, sua e de todo mundo e; como militância e conduta diária e cotidiana de espessa camada adiposa de ‘reaças’ e que, feito ‘âncoras do atraso’ impedem o barco do Brasil de avançar e se espalham na sociedade e nas instituições do país empatando e bloqueando nosso desenvolvimento humano e civilizacional”.
Maria Fernanda Arruda, colunista do Correio do Brasil e escritora.