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Mascarados revela quem são, o que pensam e o que queriam os Black Blocks

29 de Outubro de 2014, 7:40 , por Blogoosfero - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Baderneiros, desocupados, filhinhos de papai, bandidos — estes e outros adjetivos menos elegantes estiveram na ponta da língua de muita gente para definir os adeptos da tática Black Bloc, que, a partir de junho de 2013, invadiram as ruas com suas manifestações violentas e, para alguns, selvagens. Assim foram rotulados os jovens mascarados e vestidos de preto que estilhaçaram as fachadas de vidro de agências bancárias, depredaram e incendiaram lixeiras, destruíram pontos de ônibus e enfrentaram a Polícia Militar com pedradas e até garrafas incendiárias.

Mascarados – a verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc, (336 páginas, R$ 34,90) – publicado pela Geração Editorial é do 12o livro-reportagem da coleção História Agora, a mais polêmica do mercado editorial brasileiro, com obras como A Privataria Tucana, A Outra História do Mensalão, Segredos do Conclave e O Príncipe da Privataria – revela outra realidade, bem mais complexa. Pela visão da pesquisadora, socióloga e professora da Universidade Federal de São Paulo — Unifesp, Esther Solano Gallego, e pelos relatos do jornalista Bruno Paes Manso e dos próprios Black Blocs, e de um coronel da PM agredido pelos mascarados, entrevistados pelo jornalista Willian Novaes, lança-se uma nova luz sobre o assunto.

A verdade é um poliedro, diz a introdução do livro, para definir as diversas maneiras como podem ser vistos os jovens que levaram as autoridades a perder o sono desde o início das manifestações. A professora mostra que por trás da selvageria há uma mensagem — a voz do povo cansado da opressão a que é submetido no dia a dia. Para eles, revela Esther Solano Gallego, a violência do quebra-quebra é apenas jogo de cena se comparado às milhares de mortes, muitas delas tendo policiais como autores, que acontecem todo ano no Brasil — violência estatal que vitima principalmente os jovens das regiões mais afastadas, onde o Poder Público chega somente, ou principalmente, como repressor e nunca, ou raramente, como provedor de bem-estar e desenvolvimento.

Para chegar ao fundo da alma Black Bloc, Esther acompanhou os protestos protagonizados pelo grupo in loco, correndo o risco de ser atingida por bombas ou pedradas. Muitas vezes eram mais de seis horas acompanhando as manifestações. E ali mesmo ela entrevistava os ativistas, procurando entender a mente daqueles jovens e a nova realidade que se apresentava nas ruas de São Paulo e do Brasil.

O aprendizado de Esther foi o mesmo vivido pelo jornalista Bruno Paes Manso, um dos escalados pelo jornal O Estado de S. Paulo para cobrir a onda de protestos violentos. Bruno, enquanto descreve o que viu, revela também o que aprendeu com o Black Bloc. Iniciou a cobertura jornalística com uma visão do movimento e saiu com outra. Se não aprova a tática, pelo menos não a classifica como coisa de vândalo ou desocupado. A narrativa do jornalista mostra como, a cada protesto, sua visão sobre os jovens mascarados foi mudando e como ganharam o seu respeito.

Por fim, uma entrevista com Reynaldo Simões Rossi, coronel da PM, ferido em uma manifestação, e a visão dos próprios Black Blocs, contadas pelo jornalista Willian Novaes, por meio da história dos personagens que protagonizaram um ano de cenas de violência com o único objetivo de serem enxergados pela sociedade e, muito mais que isso, de transmitirem — talvez de uma maneira torta e equivocada — suas reivindicações de maior justiça social e fim das perseguições aos integrantes das camadas mais baixas da sociedade.

Fotógrafos na linha de frente

Como um dos mascarados disse que eles não fazem violência mas sim teatro, a obra é ilustrada com dezenas de imagens espetaculares de vários fotógrafos que estiveram na linha de frente, sem medos e correndo riscos de serem feridos, com a proposta de registrar o momento histórico.

Entre eles estão André Guilherme, Eli Simioni, Filipe Mota, Mídia NINJA, Tarek Mahammed / Fotógrafos Ativistas, Wesley Barba e Wesley Passos Todos cederam os direitos das imagens para a publicação.

Histórias reais — assim se faz o bom jornalismo — mostram o jovem que já se acostumara a enfrentar policiais militares e é retirado de um acampamento pela mãe, como se fosse um menino travesso. Ou de outro, herdeiro de família quatrocentona e empresário bem-sucedido, que acabou aderindo ao movimento quando foi dar uma lição de moral em um dos jovens e ouviu verdades que o comoveram. A carioca que vive pela causa e por isso é perseguida pela Polícia Militar e também pela milícia e que recebeu elogios do cantor Caetano Veloso em artigo publicado no jornal O Globo. Também tem o garoto homossexual da periferia de São Paulo que coordena as redes sociais do grupo, ou o adolescente apelidado de Mini Punk entre os seus pares. Histórias de jovens que dificilmente vão mudar o Brasil com o que chamam de “ação direta”, mas que afinal conseguiram dar um recado às autoridades e trazer para a realidade do cotidiano da classe média a violência de que são vítimas.

Quem são os autores:

BRUNO PAES MANSO, formado em economia (USP) e jornalismo (PUC-SP), trabalhou por dez anos como repórter no jornal O Estado de S. Paulo. Também atuou na revista Veja, Folha da Tarde e Folha de S. Paulo.  

ESTHER SOLANO, doutora em Ciências Sociais pela Universidad Complutense de Madri, é professora de Relações Internacionais da Unifesp.

WILLIAN NOVAES, jornalista, trabalhou nas redações de IstoÉ, Diário de S. Paulo e Diário do Grande ABC. Atualmente é diretor da Geração Editorial.


Tags deste artigo: brasil movimentos black blocks protestos polícia repressão

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