Aos meus amigos e às minhas amigas argentin@s, Uruguai@s, porto-riquenh@s, mexican@s, venezuelan@s, cuban@s, mexican@s, frances@s, italian@s, espanhóis, espanholas...
Estou escrevendo para vocês porque quero que compreendam aquele deprimente momento da abertura da Copa do Mundo no Brasil, onde nossa presidenta foi vaiada enquanto algumas pessoas, em coro, gritavam “ei, Dilma, vá tomar no cu!”.
Talvez vocês não tenham compreendido bem aquilo, ou, até, imaginado que aqui no Brasil é o costume, as pessoas encararem seus governantes, “corajosamente” com xingamentos de conotação sexual, quando estão descontentes com as coisas postas.
Então, devo esclarecer: não é o costume!
Costumeiro mesmo, aqui em meu país, são as atitudes chauvinistas, revestidas de um machismo doentio e covarde, este sim é o costume, o que lamento.
Explico: como é sabido, jamais um governante será capaz de agradar a tod@s, greg@s e troian@s, e antes de Dilma não era diferente. Em tempos idos, remotos ou não, já tivemos momentos de extrema insatisfação, tanto com governantes de estados-membros da República Brasileira, quanto com chefes do Estado Maior, como Dilma.
O próprio Fernando Collor de Melo, quando foi presidente do Brasil, foi alvo de fortes protestos, que culminaram com seu impeachment, ocasião em que ele teve que deixar o cargo que ocupava.
Outros senhores, como José Sarney, Paulo Maluf, Emílio Pita, em tempos mais recentes, sempre foram alvo de protestos por parte de brasileir@s insatisfeit@s e, me lembro bem, em Londrina, uma vez, tempos atrás, Maluf chegou a receber um ovo de galinha nas costas.
Outro deles, José Serra, já levou até uma bolinha de papel na testa.
A nenhum deles, porém, publicamente, nunca, jamais, em tempo algum, foi sugerido - em coro, ou em solo, que fossem tomar nos seus respectivos cus, como foi feito ontem no estádio, antes do jogo de abertura da Copa do Mundo no Brasil.
Sim, meus amigos e minhas amigas de fora do Brasil, as mulheres aqui em meu país são tratadas com crueldade, violência e covardia!
Se Dilma fosse um homem, o refrão seria outro.
Um xingamento de conotação sexual para uma mulher é uma forma de dizer a ela que não deveria estar ali, pois, na cabeça d@s porc@s machistas que povoam o meu país, uma mulher somente deve se prestar a atos libidinosos e a ser aquilo que os homens esperam que ela seja, nada mais.
Pessoas mandaram Dilma tomar no cu ontem no estádio, porque aqui no Brasil uma mulher não deveria ser uma pessoa, dotada de inteligência e capacidade, mas sim uma coisa, apenas e tão somente uma coisa, que deve se prestar a exibir seu corpo para a satisfação masculina nas peças publicitárias e jamais deveria se atrever a ocupar postos de comando, quanto mais ser a Chefe do Estado Maior!
Pessoas mandaram Dilma tomar no cu ontem ao vivo, em rede mundial, porque o que predomina no Brasil, é o ódio contra a mulher! O IPEA, um confiável instituto de pesquisa brasileiro, demonstrou que entre 2009 e 2011, o Brasil registrou 16,9 mil mortes de mulheres por conflito de gênero, especialmente em casos de agressão perpetrada por parceiros íntimos.
O ódio contra a mulher é tão grande no meu país, que em 2007 precisou ser promulgada uma lei para tentar fazer com que os homens não cometam violência contra suas mulheres.
Sim, aqui no Brasil é assim, nós chegamos ao cúmulo de ter que criar algumas leis que ordenem as pessoas a respeitar e a não agredir crianças, adolescentes, idosos e mulheres (!).
Pessoas mandaram Dilma tomar no cu ontem para que todo o mundo ouvisse, em alto e bom som, que as elites brasileiras sempre tiveram verdadeira fascinação pelas relações de subjugação e violência, em posições de exploração, onde o mais forte oprime o mais fraco.
Mas é importante que se diga que não foi do Brasil aquele coro perverso que se ouvia ontem na abertura da Copa; Dilma foi mandada tomar no cu apenas por representantes de uma elite burra, arcaica e covarde que, como já disse o professor Lênio Streck, “têm um gosto atávico pela escravidão do outro”.
Eles simplesmente a odeiam por que, como se não bastasse todos os avanços sociais de libertação de pessoas que a elite insistia em manter como escravas no Brasil, Dilma ainda se atreve a ser Mulher e, sendo mulher, no posto em que está, ela quebra todos os paradigmas sexistas que esta mesma elite nojenta vinha insistindo em manter por 500 anos neste país.
Nas palavras do Pragmaticista Dr. Maurício Fernandes Neves Benfatti, "A Dilma é uma ótima desconstrutora de metáforas sexistas arraigadas. Metáforas sexistas são, para crianças, como um quebra-cabeças bisonho formatado com peças que não combinam, mas que são impostas pela premência do sexismo numa dada sociedade. A maneira mais óbvia de uma pessoa começar a refletir sobre as insanidades encarceradas nas abstrações das metáforas sexistas é tendo um exemplo concreto de que as mulheres não são o que os homens querem delas..."
Portanto, car@s amig@s de fora do Brasil, Dilma só recebeu tais xingamentos, por que, no meu país, ela é o máximo exemplo concreto de que as mulheres não precisam ser o que os homens querem delas e isto põe a elite covarde e machista em pânico, pois é algo que diz eloquentemente para nossas crianças e, portanto, para o nosso futuro, que o Brasil pode construir uma sociedade igualitária exterminando as relações de exploração, assim como estamos exterminando a miséria e a fome.
Dilma não se submete às elites brasileiras; não lhes dá atenção, e, como Lula, segue retirando-lhes o privilégio de ser os únicos a frequentar universidades, viajar para o exterior, ter belos modelos de automóveis e a ter acesso às prateleiras mais sofisticadas dos supermercados.
A elite brasileira é, portanto, o próprio cu. O cu que há 12 anos já não é mais o centro das atenções neste país, e, por isto, carentes e perversos, rogavam tanto para que Dilma fosse tomar nele.
Por fim, car@s amig@s, que a cena patética transmitida pela mídia ontem para o mundo, sirva apenas para a compreensão de que, sim, o Brasil é um país de porcos chauvinistas onde o machismo e o sexismo tem destruído a vida das mulheres. E a Presidenta Dilma Rousseff é a expressão máxima da destruição desse paradigma.
Quem ofendeu a Presidenta Dilma Rousseff ontem, com a ordem imperativa de que ela fosse tomar no cu, está, na verdade, com o cu na mão diante do medo pelo que esta Mulher, ao chegar aonde chegou, representa em termos de possibilidades coletivas de libertação feminina neste país.
Saibam todos que, os que ontem ofenderam a nossa Chefe de Estado Maior com palavras de cunho sexual, ofenderam também aos brasileiros e as brasileiras que lutam diariamente por uma sociedade justa e igualitária.
Nós, que amamos verdadeiramente o Brasil, queremos ver nele homens e mulheres convivendo de forma igualitária, sem o que, jamais será possível a existência de uma sociedade livre, justa e solidária.
Nós a estamos construindo! Nós somos aqueles, que continuamos a cantar, com voz vibrante, o Hino Nacional depois que a banda para. Vozes que, estas sim, representam o verdadeiro espírito do Brasil que floresce, apesar do insistente coro das elites decadentes, cuja voz, histérica, débil e rouca, morre lentamente como o último grito de um moribundo.
(por Tânia Mandarino)
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