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Tânia Mandarino

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

Nota de Repúdio dxs Profissionais do Direito

26 de Setembro de 2016, 20:45, por Blog da Tânia


Nós profissionais do direito comprometidos com a Legalidade Democrática e com os princípios que norteiam o Estado do Democrático de Direito, manifestamos nosso repúdio a tentativa de criminalização ao exercício da advocacia criminal, notadamente, em relação ao advogado Roberto Teixeira, um dos defensores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na famigerada “Operação Lava Jato”.

Em março do corrente ano o escritório do advogado Roberto Teixeira – Teixeira, Martins, Advogados - teve seu sigilo quebrado por ordem do juiz federal Sergio Moro. Com isso, conversas de todos os 25 advogados da banca com pelo menos 300 clientes foram grampeadas, além de telefonemas de empregados e estagiários do escritório.
Recentemente os procuradores da Força Tarefa da “Operação Lava Jato” em episódio pirotécnico lamentável apresentaram, sem qualquer lastro mínimo probatório, denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-primeira-dama Marisa Letícia e mais seis pessoas. Apesar da flagrante ausência de justa causa para ação penal, a denúncia foi recebida pelo juiz federal da 13ª Vara de Curitiba. Como se não bastasse, após prenderem indevidamente o ex-ministro Guido Mantega e cometerem outras arbitrariedades, os procuradores da Força Tarefa ameaçam, agora, denunciar Roberto Teixeira advogado de defesa do ex-presidente Lula com o nítido propósito de constranger a defesa.

É fato notório que a democracia está ferida, os abusos e atentados contra o Estado de Direito que vem sendo perpetrados pelos procuradores da República e pelo juiz federal Sérgio Moro em nome de um fantasmagórico combate a corrupção já ultrapassaram todos os limites da legalidade. Ninguém, mas absolutamente ninguém, pode se colocar acima da Constituição da República e dos princípios fundamentais, entre os quais destacamos: a presunção de inocência, o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa e a proibição de provas obtidas ilicitamente.

Neste verdadeiro Estado de Exceção, prisões são decretadas para servirem de moeda de troca para futura e inescrupulosas delações; pessoas são retiradas de suas casas e conduzidas coercitivamente sem qualquer amparo legal; sentenças condenatórias são proferidas em completo desprezo as alegações da defesa; tudo realizado em assalto ao Estado de Direito e em nome do lema antiético de que “os fins justificam os meios”, sem qualquer observância aos princípios constitucionais e as leis processuais.

Necessário ressaltar que o advogado exerce papel fundamental no tão proclamado Estado Democrático de Direito. A nobre função do advogado está assegurada na Constituição da República (CR) que proclama: “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”. (Art.133 da CR). Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, está assentado que a qualquer homem acusado de um ato delituoso são “asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa”. (Art. XI)

Roberto Teixeira se graduou em 1969 pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); É integrante do Instituto dos Advogados de São Paulo – IASP e da Associação dos Advogados de São Paulo – AASP. Foi duas vezes presidente da OAB, Subseção de São Bernardo do Campo-SP.

Como bem ressaltaram os processualistas Rubens Casara e Antônio Melchior,

“O defensor atua com o objetivo de proteger o estado de liberdade do imputado. Sua missão democrática, portanto, possui uma dimensão pública, vinculado à defesa de um bem que é protegido em nome de um interesse também público: a liberdade. Aqui reside a força da atuação defensiva”.

Assim sendo, nós abaixo-assinados repudiamos veementemente o atentado à democracia, ao direito constitucional de ampla defesa e a liberdade do exercício profissional, mormente, do exercício da advocacia criminal que vem sendo indevidamente constrangida e atacada em nome do autoritarismo e de medidas draconianas.

1-Leonardo Isaac Yarochewsky – Advogado e Professor de Direito Penal da PUC-Minas
2-Francisco Celso Calmon Ferreira da Silva, OAB-ES
3-Magda Barros Biavaschi desembargadora aposentada TRT 4, pesquisadora no CESIT/IE/UNICAMP
4-Romulo de Andrade Moreira - Professor de Direito Processual Penal - Bahia
5-Antonio Pedro Melchior. Professor de Direiro Processual Penal e Advogado Criminalista.
6-Marcio Tenenbaum - advogado RJ
7-Pedro Estevam Serrano - advogado e Professor de Direito Constitucional da PUC-SP
 8-Alexandre  Hermes  Dias  de  Andrade  Santos ,  Advogado
9-Claudio Carvalho - Professor da UESB - BA
10-Mauricio Dieter - Professor de Criminologia da USP
11-Antônio Martins - Professor de Direito Penal
12-Fabio da Silva Bozza - Professor de Direito Penal
13-Reinaldo Santos de Almeida - Advogado e Professor
14-Caio Patricio de Almeida - Advogado e Professor
15-Gabriel Lira - Advogado
16-Rafael Valim - Advogado e Professor da PUC
17-Gustavo Marinho - Advogado
18-Felipe Olegário - advogado
19-Bruno Espiñeira Lemos - Advogado e professor de Processo Penal
20-Sergio Graziano, Advogado e Professor Penal e Processo Penal na UCS/RS.
21-Márcio Augusto Paixão, advogado RS
22-Celso Antônio Bandeira - Jurista
23-Weida Zancaner - Professora aposentada de Direito Administrativo da PUC-SP
24Lucas Sada - Advogado do Instituto de Defensores de Direitos Humanos  (DDH)
25-Sergio Sant'Anna - Professor de Direito Constitucional da UCAM
26-Gabriela Zancaner - Professora de Direito Constitucional da PUC-SP
27-Roberto A. de Aguiar, Professor de Direito e ex-Reitor da UnB.
28-Wanja Carvalho, Procuradora Federal apos.
29-João Ricardo Wanderley Dornelles - Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC-Rio; Coordenador-Geral do Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio
30-Wilson Ramos Filho - Doutor; professor de Direito do Trabalho da UFPR
31-Carol Proner - Doutora; Professora de Direito Internacional da UFRJ
32-Mauricio Zockun - advogado e professor da PUC/SP
33-Gisele Cittadino - PUC-Rio
34-Tarso Cabral Violin -advogado e professor de Direito da PUCPR e FAPI
35-Nilton Correia - advogado e ex presidente da ABRAT (associação brasileira dos advogados trabalhistas)
36-José Carlos Moreira da Silva Filho - Professor na Faculdade de Direito e no Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da PUCRS
37-Maria Helena Barros de Oliveira Advogada e Pesquisadora da Fiocruz. Chefe do Departamento Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural DIHS/FIOCRUZ                      38-Maria Luiza Quaresma Tonelli - advogada
39-Guilherme Marinho - Advogado e Professor de Direito Penal da PUC-Minas
40-Ronaldo Garcia Dias - advogado e Professor de Processo Penal 
41-Leonardo Avelar Guimaraes - Advogado e Professor de Processo Penal da ESA-MG
42-Maria Goretti Nagime - Advogada e Professora
43 - Humberto Marcial Fonseca - Advogado - BH/MG
44- Aurenice Accioly Lins
Recife- PE
45 -  Vera Lúcia Santana de Araújo advogada -Brasília 
46 -  Hudson Cunha advogado *Brasília-DF
47 -  Melillo Dinis do Nascimento advogado Brasília,  
48 -  Clarissa Coelho Saraiva A.  Rodrigues* advogada * Brasília DF
49 -  Orisson Augusto Costa e Silva advogado criminalista * Brasília DF, 
50 — 
52 — Tânia Mandarino -  advogada -  Curitiba PR
53 - Silvia Marina Ribeiro de Miranda Mourão - advogada - OAB/PA 5627
54 —Beatriz Vargas -  professora da Faculdade de Direito UnB, 
55 —Roberto Bueno -  professor da Faculdade de Direito da UnB (CT) /UFU,
56 - Fernando Rocha, advogado DF



Sobre Arnaldo Antunes no Guairão, em Curitiba

18 de Outubro de 2015, 21:41, por Blog da Tânia

Confesso ter ficado impressionada com as condições estruturais ontem a noite, no Guairão. A começar pelo som, que não estava legal e a gente podia perceber em expressões faciais do Arnaldo Antunes que, a despeito de ser tão zen, parecia visivelmente incomodado. 




Arnaldo abriu o show com "Antes" e a impressão que eu tive era de que ele usava essa música pra passar o som no palco, com a banda. 









Passado o som com a banda, na sequência veio "Põe Fé que Já É" e, ai sim, eu percebia que ele olhava pra cima, pro pessoal do som e repetia com fervor "agora vai!" pra ver se a coisa se ajustava, mas o som continuava ruim... 






                                      
Mesmo assim ele me matou de chorar quando cantou "Vilarejo" e, parecendo adivinhar que eu ia chorar... 










Na sequência engatou "Saudade Farta" cantando "Nega, eu queria tanto secar o seu pranto, mas eu tô aqui, longe








Arnaldo também ultrapassou a distância em que foi colocado da plateia com sua banda, pulando por cima daquelas caixas de som que os cercavam no segundo plano de palco em que estavam, quase nas coxias (bem longe da plateia) e vindo por diversas vezes pra beirinha do palco, onde sentou, deitou e rolou, tendo ao final descido e caminhado pelo meio do público no Guairão, ou seja, não adiantou nada tentar isolá-lo como deus, lá no fundo do palco! 




A banda da Vilma Ribeiro, cantora e  compositora curitibana que abriu o show (ficando quase o mesmo tempo no palco que Arnaldo e banda), era bem legal, mas, porque não colocaram o Arnaldo e sua banda em primeiro plano, perto da gente, assim como colocaram a Vilma? 

Ah, e quanto ao Guairão, zútelivre de precisar fazer um xixizinho básico depois que você já entrou no teatro: tem que dar a volta ao mundo pra chegar num lugar onde está escrito "banheiros em reforma, dê novamente a volta ao mundo e vá para o outro lado" e, ai, quando você dá a nova volta ao mundo e vai para o outro lado, se depara com a placa "banheiros em reforma, desculpe os transtornos e vá para o andar de cima".

Aliás, vocês podem até me bater, mas eu penso que teatro não é lugar de show! Todo as gentes amordaçadas, sentadas em suas cadeiras, sem poder dançar, aonde já se viu? Ainda bem que, ao final, o Arnaldo levantou a galera, mas, mesmo assim, foram só uns, poucos, minutinhos, do show que já foi curto e que levou da gente pelo menos as duas primeiras músicas passando o som.

Na primeira parte do show, Arnaldo cantou só as músicas novas do novo Álbum "Já É", e depois avisou que ia mesclar as músicas do álbum novo com músicas mais conhecidas.

Ao final ouvi várias pessoas comentando que não gostaram do álbum novo... Talvez aquele velho apego ao que já se conhece. Eu, que já vinha ouvindo o álbum novo há dias, confesso que estou encantada: na minha modesta opinião, é o trabalho mais absolutamente psicanalítico já realizado por Arnaldo. 

Veja-se, por exemplo, a letra de Mágoa ("Se Você Nadar"):

"mágoa você fica mais hostil sem se dar conta não consegue ser legal com quem encontra ela entra e toma conta de você mágoa murcha as flores do jardim como uma praga enche a sua casa de velhos fantasmas deixa o lixo acumulado apodrecer mas se você puder nadar até o outro lado vai ver tudo menos embaçado livre do rancor todo seu amor vai jorrar agora como água " (...)

Mas no geral, o show em si foi uma perfeição! Pena que o som não estava bom, e que eu fiquei com vergonha por ver Arnaldo Antunes incomodado com isso, e que os banheiros eram tão longe, com plaquinha de "desculpe-nos pelos transtornos"... Mas isso deve ser coisa de desgovernos que não estão nem ai para Teatros, um outro papo, prum outro post... 

Por ora prefiro ficar com este bom momento que capturei, do velho e bom Arnaldo Antunes cantando "Lugar Nenhum":









ULTIMATUM Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fora!

14 de Setembro de 2015, 11:06, por Blog da Tânia


ULTIMATUM


Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fora.

Fora tu, Anatole France , Epicuro de farmacopeia homeopática, tenia-Jaurès do Ancien Régime, salada de Renan-Flaubert em loiça do século dezassete, falsificada!

Fora tu, Maurice Barrès, feminista da Acção, Châteaubriand de paredes nuas, alcoviteiro de palco da pátria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos dos outros, vestindo do seu comércio !

Fora tu, Bourget das almas, lamparineiro das partículas alheias, psicólogo de tampa de brasão, reles snob plebeu, sublinhando a régua de lascas os mandamentos da lei da Igreja!

Fora tu, mercadoria Kipling, homem-prático do verso, imperialista das sucatas, épico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da baixa imortalidade!

Fora ! Fora !

Fora tu, George Bernard Shaw, vegeteriano do paradoxo, charlatão da sinceridade, tumor frio do ibsenismo, arranjista da intelectualidade inesperada, Kilkenny-Cat de ti próprio, Irish Melody calvinista com letra da Origem das Espécies!

Fora tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, saca-rolhas de papelão para a garrafa da Complexidade!

Fora tu, G. K. Chesterton, cristianismo para uso de prestidigitadores, barril de cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialéctica cockney com o horror ao sabão influindo na limpeza dos raciocínios !

Fora tu, Yeats da céltica bruma à roda de poste sem indicações, saco de podres que veio à praia do naufrágio do simbolismo inglês!

Fora! Fora!

Fora tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em caracteres gregos, «D. Juan em Patmos» (solo de trombone)!

E tu, Maeterlinck, fogão do Mistério apagado!
E tu, Loti, sopa salgada, fria!
E finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!
Fora! Fora! Fora!
E se houver outros que faltem, procurem-nos aí para um canto!
Tirem isso tudo da minha frente!

Fora com isso tudo! Fora!
Aí ! Que fazes tu na celebridade, Guilherme Segundo da Alemanha, canhoto maneta do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume ?!

Quem és tu, tu da juba socialista, David Lloyd George, bobo de barrete frígio feito de Union Jacks?!

E tu, Venizelos, fatia de Péricles com manteiga, caída no chão de manteiga para baixo?!

E tu, qualquer outro, todos os outros, açorda Briand-Dato-Boselli da incompetência ante os factos, todos os estadistas pão-de-guerra que datam de muito antes da guerra! Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem intelectual!

E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados pra baixo à porta da Insuficiência da Época!

Tirem isso tudo da minha frente!

Arranjem feixes de palha e ponham-nos a fingir gente que seja outra!
Tudo daqui para fora! Tudo daqui para fora!
Ultimatum a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!
Se não querem sair, fiquem e lavem-se !
Falência geral de tudo por causa de todos !
Falência geral de todos por causa de tudo !
Falência dos povos e dos destinos — falência total !
Desfile das nações para o meu Desprezo!
Tu, ambição italiana, cão de colo chamado César!

Tu, «esforço francês», galo depenado com a pele pintada de penas! (Não lhe dêem muita corda senão parte-se!)
Tu organização britânica, com Kitchener no fundo do mar desde o princípio da guerra!
(It's a long, long way to Tipperary, and a jolly sight longer way to Berlin !)
Tu, cultura alemã, Esparta podre com azeite de cristianismo e vinagre de nietzschização, colmeia de lata, transbordeamento imperialóide de servilismo engatado!
Tu, Áustria-súbdita, mistura de sub-raças, batente de porta tipo K!
Tu, Von Bélgica, heróica à força, limpa a mão à parede que foste!
Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desoprimida porque se partiu!
Tu, «imperialimo» espanhol, salero em política, com toureiros de sambenito nas almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterradas em Marrocos !
Tu, Estados Unidos da America, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho da aÁorda transatlântica, pronúncia nasal do modernismo inestético!
E tu, Portugal-centavos, resto de Monarquia a apodrecer República, extrema-unção-enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com vergonhas naturais em África!
E tu, Brasil «república irmã», blague de Pedro Álvares Cabral, que nem te queria descobrir!

Ponham-me um pano por cima de .tudo isso!
Fechem-me isso à chave e deitem a chave fora!
Onde estão os antigos, as forças, os homens, os guias, os guardas?
Vão aos cemitérios, que hoje são só nomes nas lápides!

Agora a filosophia é o ter morrido Fouillée!
Agora a arte é o ter ficado Rodin!
Agora a literatura é Barrès significar!
Agora a crítica é haver bestas que não chamam besta ao Bourget!
Agora a política é a degeneração gordurosa da organização da incompetência!
Agora a religião é o catolicismo militante dos taberneiros da fé, o entusiasmo cozinha-franceza dos Maurras de razão-descascada, é a espectaculite dos pragmatistas cristãos, dos intuicionistas católicos, dos ritualistas nirvânicos, angariadores de anúncios para Deus !
Agora é a guerra, jogo do empurra do lado de cá e jogo de porta do lado de lá!

Sufoco de ter só isto à minha volta!
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas !
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo!
Nenhuma ideia grande, ou noção completa ou ambição imperial de imperador-nato!
Nenhuma ideia de uma estrutura, nenhum senso do Edifício, nenhuma ânsia do Orgânico-Criado!
Nem um pequeno Pitt, nem um Goethe de cartão, nem um Napoleão de Nürnberg!
Nem uma corrente literária que seja sequer a sombra do romantismo ao meio-dia!
Nem um impulso militar que tenha sequer o vago cheiro de um Austerlitz!
Nem uma corrente política que soe a uma ideia-grão, chocalhando-a, ó Caios Grachos de tamborilar na vidraça!

Época vil dos secundários, dos aproximados, dos lacaios com aspirações de lacaios a reis-lacaios!
Lacaios que não sabeis ter a Aspiração, burgueses do Desejo, transviados do balcão instintivo! Sim, todos vós que representais a Europa, todos vós que sois políticos em evidência em todo o mundo, que sois literatos meneurs de correntes europeias, que sois qualquer coisa a qualquer coisa neste maelström de chá-morno!
Homens-altos de Lilliput-Europa, passai por baixo do meu Desprezo ! Passai vós, ambiciosos do luxo quotidiano, anseios de costureiras dos dois sexos, vós cujo tipo é o plebeu Annunzio, aristocrata de tanga de ouro!

Passai vós, que sois autores de correntes artísticas, verso da medalha da impotência de criar!
Passai, frouxos que tendes a necessidade de serdes os istas de qualquer ismo!
Passai, radicais do Pouco, incultos do Avanço, que tendes a ignorância por coluna da audácia, que tendes a impotência por esteio das neo-teorias!
Passai, gigantes de formigueiro, ébrios da vossa personalidade de filhos de burguês, com a mania da grande-vida roubada na dispensa paterna e a hereditariedade indesentranhada dos nervos!
Passai, mistos; passai, débeis que só cantais a debilidade; passai, ultra-débeis que cantais só a força, burgueses pasmados ante o atleta de feira que quereis criar na vossa indecisão febril !
Passai, esterco epileptóide sem grandezas, histerialixo dos espectáculos, senilidade social do conceito individual de juventude!
Passai, bolor do Novo, mercadoria em mau estado desde o cérebro de origem!
Passai à esquerda do meu Desdém virado à direita, criadores de «sistemas filosóficos», Boutroux, Bergsons, Euckens, hospitais para religiosos incuráveis, pragmatistas do jornalismo metafísico, lazzaroni da construção meditada!
Passai e não volteis, burgueses da Europa-Total, párias da ambição do parecer-grandes, provincianos de Paris!
Passai, decigramas da Ambição, grandes só numa época que conta a grandeza por centimiligramas!
Passai, provisórios, quotidianos, artistas e políticos estilo lightning-lunch, servos empoleirados da Hora, trintanários da Ocasião!
Passai, «finas sensibilidades» pela falta de espinha dorsal; passai, construtores de café e conferência, monte de tijolos com pretensões a casa!
Passai, cerebrais dos arrabaldes, intensos de esquina-de-rua!
Inútil luxo, passai, vã grandeza ao alcance de todos, megalomonia triunfante do aldeão de Europa-aldeia!
Vós que confundis o humano com o popular, e o aristocrático com o fidalgo! Vós que confundis tudo, que, quando não pensais nada, dizeis sempre outra coisa! Chocalhos, incompletos, maravalhas, passai!
Passai, pretendentes a reis parciais, lords de serradura, senhores feudais do Castelo de Papelão!
Passai, romantismo póstumo dos liberalões de toda a parte, classicismo em álcool dos fetos de Racine, dinamismo dos Whitmans de degrau de porta, dos pedintes da inspiração forçada, cabeças ocas que fazem barulho porque vão bater com elas nas paredes!
Passai, cultores do hipnotismo em casa, dominadores da vizinha do lado, caserneiros da Disciplina que não custa nem cria !
Passai, tradicionalistas auto-convencidos, anarquistas deveras sinceros, socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores para quererem deixar de trabalhar! Rotineiros da revolução, passai!
Passai eugenistas, organizadores de uma vida de lata, prussianos da biologia aplicada, neo-mendelianos da incompreensão sociológica!
Passai, vegeterianos, teetotalers, calvinistas dos outros, kill-joys do imperialismo de sobejo!
Passai, amanuenses do «vivre sa vie» de botequim extremamente de esquina, ibsenóides Bernstein-Bataille do homem forte de sala de palco!

Tango de pretos, fosses tu ao menos minuete!
Passai, absolutamente, passai!
Vem tu finalmente ao meu Asco, roça-se tu finalmente contra as solas do meu Desdém, grand finale dos parvos, conflagração-escárneo, fogo em pequeno monte de estrume, síntese dinâmica do estatismo ingénito da Época!

Roça-te tu e rojate, impotência a fazer barulho!
Roça-te, canhões declamando a incapacidade de mais ambição que balas, de mais inteligência que bombas!

Que esta é a equação-lama da infâmia do cosmopolitismo de tiros:
JONNART
BÉLGICA
VON BISSING
GRÉCIA

Proclamem bem alto que ninguém combate pela liberdade ou pelo Direito!Todos combatem por medo dos outros ! Não tem mais metros que estes milímetros a estatura das suas direcções!

Lixo guerreiro-palavroso! Esterco Joffre-Hindenburguesco! Sentina europeia de Os Mesmos em excisão balofa!

Quem acredita neles?
Quem acredita nos outros?
Façam a barba aos poilus!
Descasquetem o rebanho inteiro!
Mandem isso tudo pra casa descascar batatas simbólicas!
Lavem essa celha de mixórdia inconsciente!
Atrelem uma locomotiva a essa guerra!
Ponham uma coleira a isso e vão exibi-lo para a Austrália!
Homens, nações, intuitos, está tudo nulo!
Falência de tudo por causa de todos! Falência de todos por causa de tudo! De um modo completo, de um modo total, de um modo integral:
MERDA!
A Europa tem sede de que se crie, tem fome de Futuro !
A Europa quer grandes Poetas, quer grandes Estadistas, quer grandes Generais !
Quer o Político que construa conscientemente os destinos inconscientes do seu povo !
Quer o Poeta que busque a Imortalidade ardentemente, e não se importe com a fama, que é para as actrizes e para os produtos farmacêuticos!
Quer o General que combata pelo Triunfo Construtivo, não pela vitória em que apenas se derrotam os outros!
A Europa quer muito destes Políticos, muitos destes Poetas, muitos destes Generais!
A Europa quer a Grande Ideia que esteja por dentro destes Homens Fortes — a ideia que seja o Nome da sua riqueza anónima!
A Europa quer a Inteligência Nova que seja a Forma da sua Mateira caótica!
Quer a Vontade Nova que faça um Edifício com as pedras-ao-acaso do que é hoje a Vida!
Quer a sensibilidade Nova que reúna de dentro os egoísmos dos lacaios da Hora!
A Europa quer Donos! O Mundo quer a Europa!
A Europa está farta de não existir ainda ! Está farta de ser apenas o arrabalde de si-própria ! A Era das Máquinas procura, tacteando, a vinda da Grande Humanidade!
A Europa anseia, ao menos, por Teóricos de O-que-será, por Cantores-Videntes do seu Futuro!
Dai Homeros À Era das Máquinas, ó Destinos científicos! Dai Miltons à época das Coisas Eléctricas, ó Deuses interiores à Matéria!
Dai-nos Possuidores de si-próprios, Fortes Completos, Harmónicos Subtis!
A Europa quer passar de designação geográfica a pessoa civilizada !
O que aí está a apodrecer a Vida, quando muito é estrume para o Futuro!
O que aí está não pode durar, porque não é nada!
Eu, da Raça dos Navegadores, afirmo que não pode durar!
Eu, da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir um Novo Mundo!
Quem há na Europa que ao menos suspeite de que lado fica o Novo Mundo agora a descobrir?
Quem sabe estar em um Sagres qualquer?
Eu, ao menos, sou uma grande Ânsia, do tamanho exacto do Possível!
Eu, ao menos sou da estatura da Ambição Imperfeita, mas da Ambição para Senhores, não para escravos!
Ergo-me ante, o sol que desce, e a sombra do meu Desprezo anoitece em vós!
Eu, ao menos, sou bastante para indicar o Caminho!
Vou indicar o caminho!
ATENÇÃO!
Proclamo, em primeiro lugar,
A Lei de Malthus da Sensibilidade
Os estímulos da sensibilidade aumentam em progressão geométrica; a própria sensibilidade apenas em progressão aritmética.
Compreende-se a importância desta lei. A sensibilidade — tomada aqui no mais amplo dos seus sentidos possíveis — é a fonte de toda a criação civilizada. Mas essa criação só pode dar-se completamente quando essa sensibilidade esteja adaptada ao meio em que funciona; na proporção da adaptação da sensibilidade ao meio está a grandeza e a força da obra resultante.

Ora a sensibilidade, embora varie um pouco pela influência insistente do meio actual, é, nas suas linhas gerais, constante, e determinada no mesmo indivíduo desde a sua nascença, função do temperamento que a hereditariedade lhe infixou. A sensibilidade, portanto, progride por gerações.

As criações da civilização, que constituem o «meio» da sensibilidade, são a cultura, o progresso científico, a alteração nas condições políticas (dando à expressão um sentido completo); ora estes ó e sobretudo o progresso cultural e científico, uma vez começado — progridem não por obra de gerações, mas pela interacção e sobreposição da obra de indivíduos, e, embora lentamente a princípio, breve progridem ao ponto de tomarem proporções em que, de geração a geração, centenas de alterações se dão nestes novos estímulos da sensibilidade, ao passo que a sensibilidade deu; ao mesmo tempo, só um avanço, que é o de uma geração, porque o pai não transmite ao filho senão uma pequena parte das qualidades adquiridas.

Temos, pois, que a uma certa altura da civilização há de haver uma desadaptação da sensibilidade ao meio, que consiste dos seus estímulos — uma falência portanto. Dá-se isso na nossa época, cuja incapacidade de criar grandes valores deriva dessa desadaptação.

A desadaptação não foi grande no primeiro período da nossa civilização, da Renascença ao século XVIII, em que os estímulos da sensibilidade eram sobretudo de ordem cultural, porque esses estímulos, por sua própria natureza, eram de progresso lento, e atingiam a princípio apenas as camadas superiores da sociedade.

Acentuou-se a desadaptação no segundo período, que parte da Revolução para o século XIX, e em que os estímulos são já sobretudo políticos, onde a progressão é facilmente maior e o alcance do estímulo muito mais vasto. Cresceu a desadaptação vertiginosamente no período desde meados do século XIX à nossa época, em que o estímulo, sendo as criações da ciência, produz já uma rapidez de desenvolvimento que deixa atrás os progressos da sensibilidade, e, nas aplicações práticas da ciência, atinge toda a sociedade. Assim se chega à enorme desproporção entre o termo presente da progressão geométrica dos estímulos da sensibilidade e o termo correspondente da progressão aritmética da própria sensibilidade.

Daí a desadaptação, a incapacidade criativa da nossa época. Temos, portanto, um dilema: ou morte da civilização, ou adaptação artificial, visto que a natural, a instinctiva faliu.

Para que a civilização não morra, proclamo, portanto em segundo lugar,
A Necessidade da Adaptação Artificial
O que é a adaptação artificial?

É um acto de cirurgia sociológica. É a transformação violenta da sensibilidade de modo a tornar-se apta a acompanhar pelo menos por algum tempo, a progressão dos seus estímulos.

A sensibilidade chegou a um estado mórbido, porque se desadaptou. Não há que pensar em curá-la. Não há curas sociais. Há que pensar em operá-la para que ela possa continuar a viver. Isto é, temos que substituir a morbidez natural da desadaptação pela sanidade artificial feita pela intervenção cirúrgica, embora envolva uma mutilação.

O que é que é preciso eliminar do psiquismo contemporâneo?

Evidentemente que é aquilo que seja a aquisição fixa mais recente no espírito — isto é, aquela aquisição geral do espírito humano civilizado que seja anterior ao estabelecimento da nossa civilização, mas recentemente anterior; e isto por três razões: (a) porque, por ser a mais recente das fixações psíquicas, é a menos difícil de eliminar; (b) porque, visto que cada civilização se forma por uma reacção contra a anterior, são os princípios da anterior que são os mais antagónicos à actual e que mais impedem a sua adaptação às condições especiais que durante esta apareçam; (c) porque, sendo a aquisição fixa mais recente, a sua eliminação não ferirá tão fundo a sensibilidade geral como o faria a eliminação, ou a pretensão de eliminar, qualquer fundo depósito psíquico.

Qual é a ultima aquisição fixa do espírito humano geral?

Deve ser composta de dogmas do cristianismo, porque a Idade Média, vigência plena daquele sistema religioso, precede imediatamente e duradouramente, a eclosão da nossa civilização, e os princípios cristãos são contraditados pelos firmes ensinamentos da ciência moderna.

A adaptação artificial será portanto espontanente feita desde que se faça uma eliminação das aquisições fixas do espírito humano, que derivam da sua mergência no cristianismo.

Proclamo, por isso, em terceiro lugar,
A intervenção cirúrgica anti-cristã
Resolve-se ela, como é de ver, na eliminação dos três preconceitos, dogmas, ou atitudes, que o cristianismo fez que se infiltrassem na própria substância da psique humana.
Explicação concreta:
1. — Abolição do dogma da personalidade — isto é, de que temos uma Personalidade «separada» das dos outros. É uma ficção teológica. A personalidade de cada um de nós é composta (como o sabe a psicologia moderna, sobretudo desde a maior atenção dada à sociologia) do cruzamento social com as «personalidades» dos outros, da imersão em correntes e direcções sociais e da fixação de vincos hereditários, oriundos, em grande parte, de fenómenos de ordem colectiva. Isto é, no presente, no futuro, e no passado, somos parte dos outros, e eles parte de nós. Para o auto-sentimento cristão, o homem mais perfeito é o que com mais verdade possa dizer «eu sou eu»; para a ciência, o homem mais perfeito é o que com mais justiça possa dizer «eu sou todos os outros».

Devemos pois operar a alma, de modo a abri-la à consciência da sua interpenetração com as almas alheias obtendo assim uma aproximação concretizada do Homem-Completo, do Homem-Síntese da Humanidade.

Resultados desta operacão:
(a) Em política: Abolição total do conceito de democracia, conforme a Revolução Francesa, pelo qual dois homens correm mais que um homem só, o que é falso, porque um homem que vale por dois é que corre mais que um homem só! Um mais um não são mais do que um, enquanto um e um não formam aquele Um a que se chama Dois. — Substituição, portanto, à Democracia, da Ditadura do Completo, do Homem que seja, em si-próprio, o maior número de Outros; que seja, portanto, A Maioria. Encontra-se assim o Grande Sentido da Democracia, contrário em absoluto ao da actual, que, aliás, nunca existiu.

(b) Em arte: Abolição total do conceito de que cada indivíduo tem o direito ou o dever de exprimir o que sente. Só tem o direito ou o dever de exprimir o que sente, em arte, o indivíduo que sente por vários. Não confundir com «a expressão da Época», que é buscada pelos indivíduos que nem sabem sentir por si-próprios. O que é preciso é o artista que sinta por um certo número de Outros, todos diferentes uns dos outros, uns do passado, outros do presente, outros do futuro. O artista cuja arte seja uma Síntese-Soma, e não uma Síntese-Subtracção dos outros de si, como a arte dos actuais.

(c) Em filosofia: Abolição do conceito de verdade absoluta. Criação da Super-Filosofia. O filósofo passará a ser o interpretador de subjectividades entrecruzadas, sendo o maior filósofo o que maior número de filosofias espontâneas alheias concentrar. Como tudo é subjectivo, cada opinião é verdadeira para cada homem: a maior verdade será a soma-síntese-interior do maior número destas opiniões verdadeiras que se contradizem umas às outras.
2. — Abolição do preconceito da individualidade. — É outra ficção teológica — a de que a alma de cada um é una e indivisível. A ciência ensina, ao contrário, que cada um de nós é um agrupamento de psiquismos subsidiários, uma síntese malfeita de almas celulares. Para o auto-sentimento cristão, o homem mais perfeito é o mais coerente consigo próprio; para o homem de ciência, o mais perfeito é o mais incoerente consigo próprio,

Resultados:
(a) Em política: A abolição de toda a convicção que dure mais que um estado de espírito, o desaparecimento total de toda a fixidez de opiniões e de modos-de-ver; desaparecimento portanto de todas as instituições que se apoiem no facto de qualquer «opinião pública» poder durar mais de meia-hora. A solução de um problema num dado momento histórico será feita pela coordenação ditatorial (vide parágrafo anterior) dos impulsos do momento dos componentes humanos desse problema, que é uma coisa puramente subjectiva, é claro. Abolição total do passado e do futuro como elementos com que se conte, ou em que se pense, nas soluções políticas. Quebra inteira de todas as continuidades.

(b) Em arte: Abolição do dogma da individualidade artística. O maior artista será o que menos se definir, e o que escrever em mais géneros com mais contradições e dissemelhanças. Nenhum artista deverá ter só uma personalidade. Deverá ter várias, organizando cada uma por reunião concretizada de estados de alma semelhantes, dissipando assim a ficção grosseira de que é uno e indivisível.

(c) Em filosofia: Abolição total da Verdade como conceito filosófico, mesmo relativo ou subjectivo. Redução da filosofia à arte de ter teorias interessantes sobre o «Universo». O maior filósofo aquele artista do pensamento, ou antes da «arte abstracta» (nome futuro da filosofia) que mais teorias coordenadas, não relacionadas entre si, tiver sobre a «Existência».
3. — Abolição do dogma do objectivismo pessoal. — A objectividade é uma média grosseira entre as subjectividades parciais. Se uma sociedade for composta, por ex., de cinco homens, a, b, c, d, e e, a «verdade» ou «objectividade» para essa sociedade será representada por
a+b+c+d+e
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No futuro cada indivíduo deve tender para realizar em si esta média. Tendência, portanto de cada indivíduo, ou, pelo menos, de cada indivíduo superior, a ser uma harmonia entre as subjectividades alheias (das quais a própria faz parte), para assim se aproximar o mais possível daquela Verdade-Infinito, para a qual idealmente tende a série numérica das verdades parciais.

Resultado:
(a) Em política: O domínio apenas do indivíduo ou dos indivíduos que sejam os mais hábeis Realizadores de Médias, desaparecendo por completo o conceito de que a qualquer indivíduo é lícito ter opiniões sobre política (como sobre qualquer outra coisa), pois que só pode ter opiniões o que for Média.

(b) Em arte: Abolição do conceito de Expressão, sustituído pelo de Entre-Expressão. Só o que tiver a consciência plena de estar exprimindo as opiniões de pessoa nenhuma (o que for Média portanto) pode ter alcance.

(c) Em filosofia: Substituição do conceito de Filosofia pelo de Ciência, visto a Ciência ser a Média concreta entre as opiniões filosóficas, verificando-se ser média pelo seu «carácter objectivo», isto é, pela sua adaptação ao «universo exterior» que é a Média das subjectividades. Desaparecimento portanto da Filosofia em proveito da Ciência.

Resultados finais, sintéticos:
(a) Em política: Monarquia Científica, antitradicionalista e anti-hereditária, absolutamente espontânea pelo aparecimento sempre imprevisto do Rei-Média. Relegação do Povo ao seu papel cientificamente natural de mero fixador dos impulsos de momento.

(b) Em arte: Substituição da expressão de uma época por trinta ou quarenta poetas, pela sua expressão por (por ex.), dois poetas cada um com quinze ou vinte personalidades, cada uma das quais seja uma Média entre correntes sociais do momento.

(c) Em filosofia: Integração da filosofia na arte e na ciência; desaparecimento, portanto, da filosofia como metafísica-ciência. Desaparecimento de todas as formas do sentimento religioso (desde o cristianismo ao humanitarismo revolucion´srio) por não representarem uma Média.
Mas qual o Método, o feitio da operação colectiva que há de organizar, nos homens do futuro, esses resultados? Qual o Método operatório inicial?

O Método sabe-o só a geração por quem grito por quem o cio da Europa se roça contra as paredes ! Se eu soubesse o Método, seria eu-próprio toda essa geração!

Mas eu só vejo o Caminho; não sei onde ele vai ter.
Em todo o caso proclamo a necessidade da vinda da Humanidade dos Engenheiros!
Faço mais: garanto absolutamente a vinda da Humanidade dos Engenheiros!
Proclamo, para um futuro próximo, a criação científica dos Super-homens!
Proclamo a vinda de uma Humanidade matemática e perfeita!
Proclamo a sua Vinda em altos gritos!
Proclamo a sua Obra em altos gritos!
Proclamo‑A, sem mais nada, em altos gritos!
E proclamo também: Primeiro:
O Super-homem será, não o mais forte, mas o mais completo!
E proclamo também: Segundo:
O Super-homem será, não o mais duro, mas o mais complexo!
E proclamo também: Terceiro:
O Super-homem será, não o mais livre, mas o mais harmónico!
Proclamo isto bem alto e bem no auge, na barra do Tejo, de costas para a Europa, braços erguidos, fitando o Atlântico e saudando abstractamente o Infinito.
1917
Portugal Futurista, nº 1. Lisboa: 1917. (Ed. facsimil. Lisboa: Contexto, 1981)

  - 30. 



“A câmera é uma arma muito forte!” – Emad Burnat (Cinco Câmeras Quebradas)

10 de Setembro de 2015, 16:33, por Blog da Tânia
EMAD BURNAT, o cineasta palestino do documentário Cinco Câmeras Quebradas, indicado ao Oscar em 2013, conversou com blogueiro e jornalistas na manhã desta quinta-feira (10) no Sindijor, em Curitiba (Confira aqui).


Casado com uma brasileira, EMAD fala português com precisão e respondeu a questões sobre a mídia, os efeitos do sucesso de seu filme, a forma como produziu o documentário e o novo filme que está preparando.


Para EMAD, a mídia tem efeitos nefastos sobre a compreensão da questão palestina pelas pessoas no resto do mundo, uma vez que sempre dá apenas um lado da história e com foco na violência, não abordando a questão real, da luta do Povo Palestino, que na realidade está desarmado.


EMAD conta que essa foi a maior motivação para realizar o seu filme, pois viveu sob a ocupação toda sua vida e “queria mostrar a mundo inteiro como os palestinos vivem por dentro, o lado que o mundo não conhece”.


Foram mais de seis anos filmando as mesmas pessoas e a mesma história, conta EMAD, que filmou pessoas de sua família teve mais de mil horas de filme para editar.



Lembrando que EMAD comprou a primeira câmera quando o seu filho Gibril nasceu e passou a registrar tudo o que acontecia em sua vila natal, sob ocupação militar de Israel. 


O foco era na vida normal das pessoas, na rua, quando não tem exército e nem soldados. “O foco não era o muro; era a vida cotidiana”, diz EMAD, que mora em Bil’in na Cisjordânia – onde o exército está dentro da cidade -, contando com tranquilidade que nada mudou para sua família depois do filme.


Com simplicidade e serenidade, o cineasta de Cinco Câmeras quebradas diz que o mundo convencional do cinema não lhe encantou, pois é feito de muita mentira. “Eu queria descansar desse negócio de ir a festivais porque eu fui muito a eventos de cinema e descobri muita coisa feia por lá, muitas mentiras”, diz ele, afirmando que não saberia fazer cinema sem um olhar que não fosse tradutor da realidade”.


EMAD observa que na América Latina o filme não teve repercussão. Ele nos conta que o filme foi exibido somente quatro ou cinco vezes porque a América Latina não está interessada em contar a História da Palestina.


 “A Europa está mais interessada. Esse lado do mundo não está interessado no que está acontecendo no outro lado do mundo; aqui, se não tem um filme americano muito forte, eles não mostram no cinema”.


Por outro lado, Cinco Câmeras Quebradas foi exibido até na televisão na França, na Holanda, na Alemanha e até nos EUA.


EMAD BURNAT está preparando um novo documentário que dará continuidade à mesma história. “Aconteceu muita coisa pessoal nesses quatro anos que se passaram desde que terminei o primeiro”.



Em seu segundo filme, o cineasta falará sobre o que mudou na vida das pessoas que foram personagens reais do primeiro. “O foco vai ser o que aconteceu e o que mudou na minha vida, em especial”.


Gibril, seu filho, viajou sempre com ele para os festivais onde o filme foi exibido, mas logo se cansou, não queria viajar mais. O filme falará também sobre o que mudou na vida do filho com tudo isso.


O título do filme faz referência às cinco câmeras que o exército israelense inutilizou ao atingi-las com tiros. Numa dessas ocasiões o equipamento salvou a vida do diretor – a câmera deteve a bala atirada na direção da cabeça de EMAD.


Eu fiz filme com muito sofrimento, mas tem pessoas que fazem filme somente para aparecer”.


Do que EMAD talvez não tenha ainda se dado conta, é de que seu estilo de realismo cinematográfico, rechaçando a fantasia sem abrir mão da sensibilidade, certamente inaugura uma nova escola de cinema, daquela que advém da exigência histórica dos tempos e, ainda que fossem necessários muitos e maiores investimentos, a gente fica na torcida para que seu estilo possa ser difundido e multiplicado na Palestina, além de amplamente visualizado no resto do mundo, inclusive aqui, na América Latina.


A câmera é uma arma muito forte e o que é bom é que a câmera não mata pessoas”.


Cinco câmeras quebradas" é o primeiro filme palestino a concorrer a um Oscar; além de muito elogiado pela crítica, vem tendo uma trajetória de sucesso em todo o mundo. Em 2012, foi indicado para o Asian Pacific Screen Award e ganhou o prêmio de melhor documentário no Jerusalém Film Festival; o de melhor diretor de documentário no Sundance e também foi indicado para o Grande Prêmio do Júri desse festival, nos Estados Unidos, e o Busan Cinephile, do Busan International Film Festival, da Coreia. Em 2011 recebeu o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio Especial do Público no International Documentary Film Festival Amsterdam (IDFA), na Holanda. A. O. Scott, crítico do The New York Times, considerou-o uma “comovente e rigorosa obra de arte”. Ele tem razão, no documentário, com sensibilidade, Emad funde sua vida e a de sua família com a história da ocupação de Bil’in. É uma história comum à maioria dos palestinos.

Com legendas em português, o documentário Cinco Câmeras Quebradas terá exibição pública e gratuita em Curitiba na sexta-feira (11) às 19:30 no Cine Guarani, na Av. República Argentina, n°. 3.430, Bairro Portão (subsolo do Espaço Portão Cultural), seguida de debate com o cineasta.


Confira o trailer:







Dilma, o PT e o chocolate

20 de Agosto de 2015, 22:06, por Tânia Mandarino

Ao sair da manifestação pela Democracia e contra o golpe hoje pela manhã, em Curitiba, entrei numa loja para comprar uma barra de chocolate, daqueles com 85% de cacau, a fim de comemorar, mais tarde, no escritório, com um bom café forte, o êxito do movimento nas ruas curitibanas.

Com o coração em festa, entrei na loja, eu, meu casaco vermelho e um adesivo de apoio a Dilma na lapela.

A jovem mocinha que estava no caixa, ao receber o pagamento, me olhou curiosa e não resistiu em perguntar “você ‘torce’ pela Dilma?”

E eu num impulso lhe respondi “torço”, depois me contive e corrigi “torço, não, luto!”.

“E por quê?” perguntou a jovem.

Eu então lhe disse que é porque sou uma trabalhadora e, como tal, jamais poderia estar do lado daqueles que espoliaram este país e oprimiram os pobres por mais de 500 anos, gerando miséria, desemprego e coisa e tal...

Ela, interessada, contra argumentou que agora também há desemprego e que a Dilma está tirando direitos dos trabalhadores.

E ai eu afirmei para ela que, sim, a Dilma está refém de um Congresso composto, em sua maioria, por bandidos e seres a serviço dos grandes poderosos do mundo e que esse era, também um dos motivos pelos quais eu tinha saído às ruas hoje.

Perguntei a ela quantos anos tinha e ela me respondeu “18”.

E nesta hora passou um filme na minha cabeça... E eu não pude deixar de me recordar de quando eu tinha 18... Das dificuldades que meus pais enfrentavam para assegurar o sustento da família...

Da faculdade de Psicologia na PUC que eu não pude terminar porque não havia dinheiro para as mensalidades... Avancei mais uns cinco anos e me recordei da dificuldade que enfrentava para criar e educar meu filho dignamente, com meu salário de professora, quando ele era criança...

E, neste particular, tive que dizer àquela garota que ela não sabe o que é desemprego, que ela não sabe o que é inflação, que ela não sabe o que desesperança, indignidade, desigualdade... Que ela não sabe o que é ver as prateleiras dos supermercados esvaziadas. Ver um chocolate que hoje custa cinquenta centavos, amanhã custando 10 reais e depois de amanhã 30.

Tive que dizer a ela que a profissão que exerço hoje só se fez possível porque minha faculdade de Direito foi iniciada em 2003, pouco depois da posse do Lula, e a qual só pude terminar porque tive acesso ao Fies.

Tive que dizer a ela que meu filho cursa Administração de Empresas com uma bolsa de 100% pelo Prouni e que isto, lá atrás, quando tive que abandonar minha primeira faculdade, jamais seria sequer imaginável.

Mas, por arremate, segurei firmemente aquela barra de chocolate com 85% de cacau e finalizei:

Sabe o que mais? Danoninho, bolacha recheada, comida gostosa, era privilégio de ricos! Naqueles tempos nefastos, a gente jamais poderia entrar numa chocolataria como esta e levar uma delícia destas pra casa.

E então, como num passe de mágica, ela finalmente entendeu porque estou com Dilma.

E, juntas, concluímos: não vamos parar por ai; queremos mais!

À opressão não mais sujeitos!

Somos iguais todos os seres:

Não mais deveres sem direitos

Não mais direitos sem deveres!