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Tânia Mandarino

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

BLUE JASMINE (2013)

9 de Fevereiro de 2014, 19:37, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

O filme ruim da vez de Woody Allen teve três indicações ao Oscar: Melhor atriz (Cate Blanchett), Melhor atriz coadjuvante (Sally Hawkinse Melhor Roteiro Original para Allen, que sempre o abocanha.

Apesar de qualificado como comédia dramática, eu não diria que o cômico seja exatamente a tônica de Blues Jasmine.

Jasmine, a personagem de Cate Blanchett, foi inspirada em Blanche Dubois, da peça teatral Um Bonde Chamado Desejo, de Tenesse Williams, do que deriva minha inquietação sobre o fato de, mesmo assim, Allen ter sido indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original (original?).

A crise econômica americana é o pano de fundo do filme, que retrata a decadente Jasmine retornando para a casa da irmã pobre que sempre negara, após seu marido golpista, Hal (Alec Baldwin), ter perdido a fortuna e se enforcar na prisão.

O filme todo se desenrola a partir da tentativa de Jasmine de seguir a vida em meio à pobreza que tanto abomina, morando com sua irmã Ginger (personagem que Sally Hawkins construiu com brilhantismo!), os dois sobrinhos e tendo que enfrentar o namorado pobretão e troglodita de sua irmã.

Em meio ao que é, conhecemos o que foi através dos flashbacks muito bem colocados por Allen, que costura o passado e o presente de Jasmine nos dando a ideia de um panorama caótico, neurótico e, ao mesmo tempo, recheado de uma inocência a qual ninguém neste mundo teria o direito de portar.

A questão sobre se dinheiro, posição, fama e requinte são ou não importantes fica clara no cotejo entre a vida da dondoca Jasmine e a de sua irmã, Ginger, que sem dinheiro, posição ou qualquer requinte acaba sendo quem recolhe Jasmine em sua decadência e, mais, Ginger é quem tem casa, filhos, namorado e amor suficiente para acolher a irmã que no passado não lhe tratara com tanto acolhimento.

O olhar machista de Allen sobre o filme, entretanto, deixa clara sua conclusão, durante e ao final do filme: com dinheiro ou sem dinheiro, uma mulher não pode existir sem um homem. E é este o sabor mais azedo de Blue Jasmine, que acaba sendo difícil de engolir por trazer esta questão de forma fechada, sem nem ao menos deixar que a conclusão seja nossa, como na questão do dinheiro.

Quanto à festejada atuação de Cate Blanchett como Jasmine, mesmo me parecendo que ela quer ser Meryl Streep, em não raros momentos do filme me remeteu mesmo a alguma coisa de Marília Gabriela que já vi na dramaturgia.

A música é boa; blues de primeira!

1. Back O’ Town Blues – Louis Armstrong
2. Speakeasy Blues – King Oliver
3. Blues My Naughty Sweetie Gives to Me – Noone
4. A Good Man Is Hard To Find – Lizzie Miles
5. Aunt Hagar’s Blues – Louis Armstrong
6. House Party – Mezzrow-Bechet Quintet & Septet
7. Out On The Town – Kully B, Gussy G & Bilkhu
8. West End Blues – King Oliver
9. Black Snake Blues aka Black Swing Blues – King Oliver
10. Great White Way Performed By Julius Block
11. The Vision Performed By Dj Aljaro
12. Ipanema Breeze Performed By Paul Abler
13. Yacht Club Performed By Julius Block
14. Human Static Bob Bradley, Matt Sanchez & Gavin Mcgrath15. Average Joe
16. Miami Sunset Bar Performed By Mireya Medina & Raul Medina
17. Welcome To The Night
18. Love Theme Performed By David Chesky
19. My Baby Sends Me Aka “My Daddy Rocks Me (part 1)” Performed By Trixie Smith



FROZEN (2013) - a subversão do conto de fadas

8 de Fevereiro de 2014, 21:40, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Uma animação contemporânea, finalmente! 

Frozen é um conto de fadas que fala de amor.

Até ai nenhuma novidade.

Acontece que Frozen já começa desconstruindo os arquétipos da Imperatriz e do Imperador, fazendo desaparecer o rei e a rainha logo no início da animação, mas, não sem antes deixá-los posicionados em relação às duas filhas que têm.

Frozen parte, portanto, de um ponto para um pouco além do momento em que os pais tratam de forma diferente duas irmãs e, como no mito de Narciso, negam-lhes o conhecimento a respeito de si mesmas, encerrando-lhes num cenário obscuro, de portas cerradas e cortinas fechadas para o mundo.

Para além do rei e da rainha, Frozen se inicia mesmo a partir do amor entre duas irmãs.

Sim, para felicidade geral da nação, há príncipes em Frozen! Ao menos um príncipe titulado, que, depois se vê, é um sapo, e há também um sapo que acaba virando príncipe, mas a animação vai mesmo é na toada das menininhas. 

Há também o apaixonante Olaf, o assexuado boneco de neve que funciona como uma espécie de “grilo falante” da história do Pinóquio, uma consciência reflexiva, só que muito mais ingênua e romântica e, até, nesse aspecto, uma consciência muito mais feminina do que o rígido e masculino grilo da outra história. 

Os meninos coadjuvam a história! Os heroicos atos de bravura e heroísmo em favor de si próprias são praticados mesmo é pelas mulheres e qualquer semelhança com a realidade certamente não terá sido mera coincidência.

Isto porque as verdadeiras heroínas do filme não ficam esperando pelos desajeitados meninos e assumem seus poderes, sem, entretanto, renunciar ao aconchego e ao prazer da companhia masculina.

Uma delas, né, por que a outra irmã (a mais diferentona!) parece mesmo não dar pista sobre se deseja ou não a companhia de um príncipe ao seu lado. Em última análise, é a representação da mulher que escolhe viver só, diante dos imensos poderes que tem e os quais não consegue controlar, por desconhecer-se a si mesma.

E é por isso que o filme é sensível! Por que tem a irmã hetero, tem a que parece não ser hetero, tem o príncipe malvadão que parece ser bonzinho, sabe, aquele que te jura amor eterno, mas só estava era de olho no teu trono?, tem o homem comum e desajeitado que na verdade é um príncipe... Enfim, toda diferença em Frozen é respeitada com carinho, até a subversão da ordem relativa ao complexo de cinderela!

A questão do gelo, do coração congelado que só pode ser curado por um ato de amor verdadeiro, ato este que advém, ao final, de um amor diferente daquele preconizado pelos contos de fadas que ouvimos e assistimos até hoje, e ai está a maior beleza de Frozen, na ousadia de mostrar as coisas como são e não como foram um dia!

A grande riqueza de Frozenestá no fato dessa subversão da ordem posta ter sido trabalhada de modo tão extremamente harmônico e agradável, abrigando e agregando tudo em si, ao tempo em que demonstra e faz sentir uma verdade insofismável sobre o fato de as mulheres terem assumido seu próprio destino como consequência natural da vida, a despeito dos paradigmas arquetípicos.

Em Frozen, as mulheres assumem seu próprio destino com graça, leveza e beleza, sem destituir o masculino, apenas parecendo compreender os elementos presentes na construção do masculino, assim como o ser feminino ali é naturalmente compreendido, sem restrições, chacotas ou jargões.

Os trolls, criaturinhas mágicas da animação, que ocupariam o papel do “divino” na história, mesmo sendo aqueles a quem se busca em procura de ajuda para o que não se pode resolver humanamente (ou contodefadísticamente), também não são detentores do poder absoluto; estão sempre ali, em forma de pedras e convivem harmonicamente com quem os procura, sem impor medo ou temor, ainda que, como dito a certa altura: “todo mundo precisa de algum reparo”.

Sim, “todo mundo precisa de algum reparo” e essa é a ideia central de Frozen, ao lado da coisa do amor verdadeiro: somos seres imperfeitos em constante evolução.

“Todo mundo precisa de algum reparo”, mas, convenhamos, Frozen é irretorquível!

Dedico este post a minha lindíssima irmãzinha, Cristiane Mandarino, na certeza de que o amor de irmãs é o grande arquétipo da vida feminina no Universo: a vida feminina brotada, nascida, parida para fora das águas do mesmo útero materno! Te amo, Irmã!

Frozen tem duas indicações ao Oscar 2014: Melhor Longa de Animação e Melhor Canção Original.



O LOBO DE WALL STREET (2014)

8 de Fevereiro de 2014, 21:26, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

O mais perfeito nome para este filme seria, na verdade, “O que terá acontecido com Martin Scorsese?”

Talvez porque a nova invenção do Scorsese seja mesmo dirigir filmes para ganhar prêmios em Hollywood, talvez porque eu tenha entrado para ver o lobo logo após ter saído da sala de cinema da águia Lars Von Trier com sua Nymphomaniac, mas a verdade é que o que vi ali, em O Lobo de Wall Street, foi um filme milimetricamente planejado para ser premiado na academia, nada mais.

O que espantou mesmo é ser um filme de Scorsese.

Olhando bem, não deveria espantar tanto, pois em 2012 Scorsese já trouxera ao mundo “A Invenção de Hugo Cabret”, feito para ganhar prêmios na Academia – e ganhou cinco.

George Clooney fez muito melhor em TUDO PELO PODER (2012), ainda que a temática fosse outra.  

A fábrica de Scorsese já tem no prelo, para 2014, o filme Silence, cuja sinopse é “Século XVII. Dois padres jesuítas viajam até o Japão, onde precisam investigar acusações de perseguição religiosa” - dessa vez sem Di Caprio, e para 2015 o filme de suspense “The Snowman”, cujos atores ainda são desconhecidos.

O Lobo de Wall Street é uma adaptação do livro de “Memórias de Jordan Belfort”. Tá, dói saber que a história é real e que Belfort foi um vigarista financeiro americano que foi investigado pelo FBI até ser preso e entregar todo mundo por uma pena menor.

Mas o pior de tudo é a forma como o filme nos apresenta “O Lobo” em seu envolvimento com drogas, prostitutas e as transações de seu mercado de ações paralelo, num ensandecido culto ao dinheiro, que parece ter como objetivo continuar sendo apreciado após o final do filme, por quem com ele se identifica.

Jordan Belfort é o cara que representa “o guia”, “o pastor”, “o lobo” que conduz as pessoas que estão com ele à ética da prosperidade americana, sem se importar com os meios, desde que o final “ganhar dinheiro” seja alcançado.

Nisto, temos que admitir que Scorsese consegue nos passar bem a sensação de que toda aquela loucura que está ao redor de Jordan é, na verdade, fundada no mesmo princípio em que se assentam algumas igrejas e seitas, assim como se assentou o Estado norte-americano em sua ética protestante que sempre girou ao redor do dinheiro.

O filme é delirante, é certo, Jordan, após ingressar como corretor no mercado de capitais, vai da extrema perda ao ápice da fortuna aproveitando oportunidades paralelas ao mercado oficial sem dar a menor satisfação à Comissão de Valores Mobiliários e se tornando um lobo poderoso, na medida em que também torna ricos os homens que treinou para comandar este mercado.

No mais, é aquela impressão de eu já vi essa luxúria toda em “Cassino” (do mesmo Scorsese) e, ao final, a sensação de que o crime compensa e de que talvez Jordantenha feito mesmo atos de humanidade ao enriquecer-se e enriquecer pessoas ao seu redor.

Vi um pessoa tirando os óculos e limpando as lágrimas numa cena em que Jordan faz um dramalhão à frente de sua bolsa de valores paralela, a Stratton Oakmont perante as centenas de “corretores” que tinha, com o microfone na mão, dizendo que ajudou uma corretora, que quando chegou para ele estava com o aluguel atrasado e um filho de oito anos pra criar e hoje vestia ternos Armani de três mil dólares e tinha uma Mercedes (amém, irmãos? Amém!).

Eu não chorei, só ri! Aliás, ri muito diante de cenas pastelões do patético Jordan e seu sócio e estranho amigo Donnie Azoff, interpretado pelo excelente Jonah Hillextremamente drogados e caricatos. Aliás, nessa linha comédia besteirol, o filme tem lá o seu mérito.

Di Caprio e Jonah Hill estão muito bem como atores e não me surpreenderia uma indicação para melhor ator e coadjuvante ao Oscar deste ano. Aliás, Di Caprio, como está maduro e bonito e pleno!

Ao final, a sensação é de que Scorsese glorificou mesmo os crimes financeiros de Jordan, absolvendo-o como absolvido devem ser os Estados Unidos da América e como absolvido deve ser (deve?) Scorsese por se preocupar tanto em fazer apenas um filme comercial, quando a gente sabe que o grego pode dar muito mais que isso.

Mais que isso, a certeza de que o filme sublinha um tratamento da mulher como objeto e um culto ao machismo como coisa extremamente natural, com a qual Scorsese não precisaria compactuar, mesmo que quisesse se manter fiel ao livro. Para isso servem os bons diretores.

A falta da catarse aristotélica ao final, tão necessária num filme como este, me soa como algo perigoso para o mundo que absorve o que vê sem criticar.

No mais, mais nada. Só assista se você quiser estar atualizado no dia da premiação do Oscar em março.

Tá, Di Caprio e Jonah Hill valem o filme!



12 YEARS A SLAVE (12 ANOS DE ESCRAVIDÃO) – 2013

8 de Fevereiro de 2014, 21:01, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Forte favorito ao Oscar de Melhor Filme em 2014, 12 Anos de Escravidão baseia-se na história real escrita em 1853 por Solomon Northup, um homem negro, livre, que tinha uma bela família e gozava de excelente posição social em sua comunidade, ao norte dos Estados Unidos, mas foi escravizado após ter sido atraído por uma falsa proposta de trabalho.

Solomon era músico, violinista, e acabou sendo enredado por pessoas que se diziam apreciadoras de seu trabalho e queriam contrata-lo, mas reduziram-lhe a um escravo, levado para longe de sua família e comercializado em um mercado juntamente com outros escravos, ainda que fosse um homem livre.

Os fatos se passam em 1941 e Steve McQueen, que também é um homem negro, nos oferece um filme de grande beleza e sensibilidade; um drama pungente que nos comove e choca.

Steve McQueen é um dos indicados ao Oscar de Melhor Direção.

A interpretação de Chiwetel Ejiofor faz de Solomon Northup é perfeita e a indicação ao Oscar de Melhor Ator pelo papel é acertada.

Algo no filme, entretanto, deixa na boca um sabor amargo em relação ao tema... Há, em 12 Anos de Escravidão, uma espécie de afirmação sub-reptícia em relação à subserviência da alma no negro.

Solomon Northup, ao longo do filme, vai se despindo de sua condição de homem livre e de seus atributos aristocráticos e se vestindo com a condição de escravo de um modo muito tocante e servil.

É certo que, em se tratando de uma história real, escrita pelo próprio Solomon, talvez não tenha restado muito a fazer por Steve McQueen neste sentido, mas, o grande pecado do filme é manter a passividade de Solomon como um homem vitimizado, que vai aceitando seu flagelo e cujas resistências se desarmam a cada nova chibatada e sofrimento.

E por falar em sofrimento, Michael Fassbender está glorioso na pele do fazendeiro que lhe impinge os maiores sofrimentos e merece muito o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante para o qual foi indicado.

John Ridley assina o roteiro e declarou que o escreveu de graça: “Não havia orçamento definido para produzir o longa, então eu disse que encararia como um projeto experimental, o que significa que trabalhei de graça. Porque mistérios insondáveis isto terá influenciado na submissão de Solomon em seu roteiro, somente Freud poderia explicar...

Destaque importante também para Lupita Nyong'o na pele da frágil escrava, Patsey, preferida sexual do fazendeiro exposta ao sadismo de sua esposa e aos ataques violentos do senhor de escravos. Lupita é estreante, mas tenho a impressão de que ainda ouviremos muito seu nome. Sua participação no filme lhe rendeu a merecida indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. 

Quando tudo termina, mesmo com a catártica libertação de Solomon e seu reencontro com a família, fica aquela desagradável sensação de submissão humana, aquela a qual nos sujeitam e a qual, também, estranhamente, nos deixamos sujeitar.

Ah, Brad Pitt faz uma ponta no final do filme, como o advogado canadense que ajuda Solomona recuperar sua liberdade. É uma bela ponta.

12 Anos de Escravidão tem 9indicações ao Oscar de 2014: Melhor Filme, Diretor, Ator (Chiwetel Ejiofor), Ator Coadjuvante (Michael Fassbender), Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong'o), Roteiro Adaptado (John Ridley), Figurino, Montagem e Design de Produção.





THE BUTLER (O MORDOMO DA CASA BRANCA) - 2013

7 de Fevereiro de 2014, 22:13, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Não consigo compreender porque O Mordomo da Casa Branca ficou fora da disputa pelo Oscar sendo um filme completamente americano, como é.

Inspirado na história verídica de Eugene Allen, o mordomo que trabalhou na Casa Branca durante 34 anos (entre 1952 e 1986) e que no começo do filme é um garoto negro que vê seu pai escravo ser assassinado na fazenda de algodão após o estupro de sua mãe pelo senhor de escravos, o filme é uma ode americana aos direitos civis.

Oprah Winfrey (A Cor Púrpura) está perfeita no papel de Gloria, a esposa de Eugene, que no filme recebe o nome de Cecil Gaines (vivido por Forest Whitaker, e merecia uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz).

O filme tem ainda, em papeis secundários, Vanessa Redgrave como a matriarca da fazenda de algodão, Robin Williams como Eisenhower, John Cusack como Richard Nixon, Jane Fonda como Nancy Reagan, além de Cuba Gooding Jr., Terrence Howard, Lenny Kravitz e a cantora Mariah Carey.

O diretor Lee Daniels foi fartamente criticado por ter feito um dramalhão, com trilha sonora manipuladora e absurdos como sugerir que conversas tidas entre o mordomo e alguns presidentes americanos possam ter influenciado decisões destes.

Entretanto, The Butler me parece mais libertador e construtivo do que 12 Anos de Escravidão que, até agora não entendi porque, recebeu 09 indicações ao Oscar.

Explico: em The Butler temos um paradoxal comportamento entre o Mordomo e seu filho Louis (David Oyelowo). O pai, após o assassinato de seu pai na infância, fora levado para dentro da casa e treinado para servir aos brancos sem ser notado.

Mais tarde, como mordomo da Casa Branca, fora advertido de que não poderia ter preferências políticas “não se admite política na Casa Branca!”.  É, portanto, um negro passivo, não resistente às questões raciais que flamejam em seu país à época dos fatos.

Mesmo assim, pacificamente, anualmente se dirige ao gestor dos mordomos na Casa Branca e repete o aviso de que os negros precisam receber como os brancos pelo mesmo trabalho que desenvolvem ali e ter algumas chances de progredir, ainda que saiba que a resposta sempre será algo como “ponha-se no seu lugar”.

Pois bem, o filme recebe críticas ferozes por sugerir que algumas conversas entre presidentes americanos e o mordomo poderiam ter influenciado seus discursos em dados momentos, e eu pergunto: por que não?

A “passividade” do mordomo mais se assemelha a não-resistência proposta por Gandhi do que a submissão do personagem escravizado em 12 Anos de escravidão.

É certo que há um grande conflito entre o mordomo e seu filho Louis, que vai por um caminho de extremo ativismo racial, militando nas colunas de Martin Luther King e Malcon X, sendo constantemente aprisionado e espancado, mas sem desistir de sua luta, jamais se rendendo a imposição de não-resistência do pai.

Mas ao final, a despeito de todo o mega aparato utilizado por Lee Daniels para descrever este longo e crucial período da história norte americana, e apesar de seu excesso de didatismo, o filme traz a identificação da imensa importância dos dois tipos de luta: a aquela que se dá de modo intensamente ativo e a que se dá através da não resistência, mostrando o quanto ambas têm papel fundamental na transformação das coisas.

Em 12 Anos de Escravidão, ao contrário, fica na boca um amargo sabor de submissão e mais nada.