Ir para o conteúdo
ou

Menos bala, mais giz!

Por favor, edite este bloco e selecione algumas imagens
Tela cheia
Politica
 Feed RSS

Tânia Mandarino

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

HER (2014)

28 de Janeiro de 2014, 19:41, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Perdoem-me os conceituados críticos de plantão, mas HER é muito mais (mas muito mais mesmo!) do que “um filme de Spike Jonze que cria um relacionamento ‘surpreendentemente possível’ entre homem e máquina”!

Ainda que o personagem Theodore Twombly, interpretado lindamente pelo magistral Joaquin Phoenix, realmente se apaixone por um OS (sistema operacional), cuja bela voz rouca de mulher fora programada em prévia triagem do OS sobre os seus desejos, a questão de ser ou não um software dotado de inteligência artificial é única e tão somente uma parábola.

Do que Spike Jonze (“Quero Ser John Malkovichestá a nos falar ali, na verdade, é sobre o fato de que, amores possíveis ou não, nos apaixonamos e, quando isto acontece, despertamos do perigo de permanecer para sempre adormecidos.

Pena que o filme esteja sendo definido como a história da paixão de um homem pela voz de um sistema operacional... Esqueça a coisa do sistema operacional!

Samantha, a bela voz de Scarlett Johansson pela qual Theodere se enamora e que nasce da instalação de um software em seu smartphone, é, na verdade aquele Outro, para o qual se olha naquele momento em que você tinha certeza de que jamais voltaria a perceber ou se interessar por alguém.

Theodore sofre com o fim de seu casamento e os encontros reais com mulheres de carne e osso não têm sido frutíferos. Nem nos chats em salas de bate-papo o solitário homem consegue se interessar por alguém.

Theodore trabalha numa empresa chamada Cartas de Amor Escritas a Mão ponto com ou algo assim, e tem como profissão escrever belíssimas cartas de amor para as pessoas.

Pela qualidade das cartas que escreve, podemos ver que é dotado de sensibilidade e muita ternura, mas Theodore é uma espécie de Orpheu, que alivia as dores alheias, com suas belas cartas de amor, mas não consegue encontrar remédio para suas próprias dores.

Encontramos o personagem nesse momento difícil, com um trabalho bem inferior ao seu potencial, mergulhado em sofisticados jogos de videogame, cheio de lembranças da esposa, com quem convivera desde muito jovem e se recusando a assinar o divórcio. “Gosto de estar casado”, diz ele a Samanthaquando começa a conversar com a inteligência artificial que logo se mostrará uma deliciosa companheira.

Samantha, de início, se mostra de grande utilidade prática, pois consegue acessar rapidamente os e-mails de Theodore e gerenciá-los, apagando o que não tem utilidade, respondendo com perfeição os que devem ser respondidos, ou seja, o relacionamento entre eles nasce do apoio, da ajuda e da admiração que a eficiência dela gera nele.

A capacidade de interação de Samantha, muito mais do que um simples robô sem corpo, vai atraindo para si Theodoree, quando ele se dá conta, já sente necessidade do contato diário com a voz que o compreende e passa a apoiá-lo também em seus assuntos emocionais, percebendo-o em seus tons de voz, sua tristeza, alegria, desânimo... Sua dores...

A curiosidade de Theodore sobre tamanha capacidade de Samantha leva-a informa-lo: "Eu evoluo a cada momento. Eu quero ser tão complicada quanto todas as pessoas".

Samantha desbrava sua própria existência através da interação com Theodore, e, aos poucos, admite seus pensamentos pessoais, inseguranças e ciúmes, questionando se "esses sentimentos são reais ou só programação?".

É a partir da interação entre ambos, que mergulhamos de cabeça na história, ao tempo em que vislumbramos os nossos próprios relacionamentos e passamos a sentir fortemente aquilo que o filme nos desperta: paixão, ternura, poesia e uma infinidade de sentimentos outros, todos ligados ao amor.

No filme há, certamente, algo voltado para os tempos modernos, mas no sentido das relações virtuais (quem nunca?) e não necessariamente da questão da inteligência artificial e do relacionamento com uma máquina.

Evidencia-se o relacionar-se com alguém sem corpo; as maiores angústias de Samantha, inclusive, nascem do não ser corpo e, ainda que haja sexo entre ambos (numa belíssima cena onde ele desperta nela o desejo nunca dantes sentido e ambos se entregam um ao outro), a maior queixa de Samanthaé o “não ser corpo”.

Tanto que, a certa altura, Samantha convence Theodorea receber em casa uma mulher que “empresta” o corpo para OSs. É interessante e criativo o expediente, pois Samanthavê através da câmera e gruda-se uma, bem pequena, no rosto da mulher, colocando-se um fone de ouvido em ambos, a mulher e Theodore. Quem Theodoreouve é a voz de Samantha.

Olha o nível da angústia do não poder tocar-se, ser-se, dar-se!

O expediente não funciona; o que para Samantha parece natural, para Theodore é um sacrifício e a mulher, embarcando nas carícias, acaba mexendo os lábios, a certa altura, o que lembra Theodore de que ela não é Samantha e nada chega a acontecer.

Apesar disto, Theodore, satisfeito, confidencia sobre sua relação para a amiga e vizinha: “quando conversamos eu me sinto próximo dela. Eu sinto que ela está comigo. Quando apagamos a luz durante a noite, eu me sinto abraçado.

Por não ter um corpo, Samantha compõe músicas para Theodoreao piano. “Já que nós não podemos tirar fotografia juntos, eu tento compor  melodias que possam expressar nossos momentos juntos”.

Os diálogos são riquíssimos e a voz rouca de Scarlett Johansson é muito mais que uma voz e merecia a criação de um prêmio extraordinário do Oscar este ano: melhor interpretação de voz!

É simplesmente fantástico o que ela consegue fazer com aquela voz sob a batuta de Jonzee, assim como para Theodore, Samantha assume formas corporais em nosso imaginário.

Quando Theodorediz a Samantha que ainda se lembra da esposa e que conversa com ela mentalmente, lembrando-se das brigas que tiveram e das coisas que disseram um ao outro, Samantha responde que compreende o que ele está dizendo, porque se pegou lembrando-se do dia em que ele lhe dissera que ela “não sabia o que era perder alguém.”

Ele começa a lhe pedir desculpas pela mágoa que lhe causara, mas Samantha lhe responde: “está tudo bem! É só que me pego pensando nisso de novo e de novo... E então percebo que estava só lembrando de algo que estava errado comigo; era uma história que contava a mim mesma, de que eu era inferior. Não é interessante? O passado é uma história que nós contamos!”

É bela a sequência em que eles falam sobre a “fantasia do amor” e ela o lembra de que a paixão é um estado de insanidade, “uma forma socialmente aceitável de insanidade”.

O casamento de Theodore terminara, segundo ele, quando o casal começou a mudar e as mudanças aconteceram muito rápido, sem que deixassem de assustá-los um ao outro. O crescimento do outro como fator de temor e assombro.

O relacionamento entre Theodore e Samanthatermina pelos mesmos motivos, ainda que guardadas as assombrosas proporções da ultra veloz capacidade cibernética de Samantha.

O começo, meio e fim do relacionamento de Theodore e Samantha não é diferente dos nossos! Por isso, não se iludam que o foco do filme seja o apaixonar-se por uma máquina, ou algo assim!

Não é!

HER é um belo conto de amor humano. A forma como ambos constroem uma relação, a compreensão, o dar-se, o desejar-se a partir do apoio mútuo, o amparo, o cuidado, o crescer...

Crescer que muitas vezes é difícil de ser acompanhado pelo outro e traz em si a necessidade da partida, rumo a novas descobertas, experiências, velocidades, paisagens... Não importa, um sempre estará no outro.

Isso, inclusive, é dito por Samantha mais no início do filme, num diálogo em que ele chega em casa e pergunta a ela o que esteve fazendo.

Samantha diz que estivera lendo Física porque achara interessante o quanto ficou brava quando ele foi se encontrar com Catherine pessoalmente para assinar os papéis do divórcio, por ela ter um corpo. “Eu fiquei chateada por tudo em que somos diferentes. Mas depois comecei a pensar em tudo o que somos iguais. Por exemplo, somos todos feitos de matéria; isto me faz sentir que estamos todos sobre o mesmo cobertor, macio e acolhedor; e tudo abaixo dele tem a mesma idade: temos todos 13 bilhões de anos de idade”.


HER foi considerado o melhor filme pela National Board of ReviewSpike Jonze, também foi reconhecido pelo seu trabalho e levou um prêmio para casa. Além de Phoenix e de  Scarlett Johansson, ainda que só de passagem, Amy Adams  também faz parte do elenco.

Vencedor do Golden Globe de Melhor Roteiro, o filme tem, também, uma trilha sonora linda e pertinente.

São treze músicas instrumentais do Arcade Fire, e o filme recebeu indicações ao Oscar de Melhor Som e de Melhor Canção Original (William Butler e Owen Pallet devem receber o prêmio, por Song on the Beatch).

HER, que teve cinco indicações, também foi indicado aos prêmios de Melhor Filme, Melhor Direção de Arte, Melhor Roteiro Original.

A Academia pecou ao não indicar Joaquin Phoenix ao prêmio de Melhor Ator.

Aqui o álbum completo do Arcade Fire que é a linda trilha sonora de HER pra você se deleitar: https://www.dropbox.com/sh/181q1jbyb4iq8la/Nwz-AcpYQC





NYMPHOMANIAC- VOLUME I

13 de Janeiro de 2014, 0:58, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

A gente sai do cinema depois de uma almejada sessão do gênio Lars Von Trier, não, espera... A gente não quer sair nunca mais do cinema depois que, subitamente, sobem os créditos avisando que está encerrado o Volume I de Nymphomaniac, mesmo com cortes visíveis e tendo que aguardar a continuidade do filme que, noticia-se, será em maio no Brasil.

Difícil expressar em palavras as impressões causadas pela direção meticulosa, que se faz presente em cada detalhe, na performance dos atores, na luz, no som, nas cores, nos gestos, ahhhhhhhh... Êxtase!

Dividido em capítulos, como já faz Lars há tempos em seus filmes, Nymphomaniac tem dois volumes com oito capítulos: The Compleat AnglerJerome, Mrs. H, Delirium, The Little Organ School, The Eastern and Western Church (The Silent Duck) e The Gun.

Joe, (Charlotte Gainsbourg) é encontrada toda machucada e semi-inconsciente, deitada na rua, pelo velho Seligman (Stellan Skarsgard) que quer chamar uma ambulância, mas, diante da resistência de Joe, a leva para sua própria casa e lhe dispensa tratamento acolhedor.

Durante todo o Volume I, Joe está deitada, recuperando-se numa cama de solteiro, num cômodo da casa de Seligman, a ela dispensado, mas ali é, claramente, a representação de um divã, onde o velho ouve atentamente sua história desde a infância, repleta de culpas, onde ela se confessa uma ninfomaníaca desde criança.

Seligmaninterfere exatamente nos limites de um analista, sem perplexidade diante das histórias picantes relatadas por Joe, inclusive sua relação de desejo consumado por seu pai, interpretado lindamente por Christian Slater, que é o homem fraco da vez no Volume I de Nymphomaniac (em todos os filmes de Lars, há um personagem masculino fraco).

Diante dessa relação incestuosa, a mãe de Joe é descrita como uma mulher que “vira as costas e joga paciência”.

Enquanto Joe, na pele de Charlote Gainsbourg, conta as histórias para o velho Seligman, as cenas são revividas na interpretação da modelo Stacy Martin, a Joe adolescente.

Uma sucessão de personagens masculinos, ao melhor estilo Lars Von Trier, desfila diante de nossos olhos, a começar pelo moço que a deflora a seu pedido, passando pelos inúmeros amantes que a ninfeta viciada em sexo recebe em casa, com destaque para um que, acreditando no logro da jovem decide deixar mulher e filhos e se mudar para a casa de Joe, o que é tudo que ela menos quer, mas tinha usado isto como pretexto para descarta-lo.

Neste particular, impagável a cena em que o homem chega no apartamento de Joe com a mala, e, logo atrás dele estão os dois filhos e a esposa, vivida por Uma Thurman, que vieram juntos para entrega-lo ao “novo lar”.

Discurso impecável da esposa ferida, tentando fazer parecer natural sua “perda” e praticando atos de alienação parental diante dos filhos, histérica, a cena de humor negro na qual Uma Thurman está perfeita, rende uma amargurada vontade de rir, diante de toda aquela angústia que o filme vai nos despertando.

As questões da insaciável Joe vão sendo colocadas sob signos comparativos pelo velho Seligman, o que desperta ainda mais a sensação de uma sessão de terapia. Suas histórias sexuais são comparadas à pesca da truta, ao Número de Ouro de Fibonacci e à polifonia de Bach.

Dentro da narrativa de Joe, algo nos afasta das analogias matemáticas propostas por Seligman: é o tal “ingrediente secreto” do sexo, que aponta para o amor, na figura recorrente de Jerôme (Shia Labouef), o personagem colocado por Joe nas mais distintas situações fantasiosas (fantasiosas?), o “cara da mobilete” que a desvirgina friamente e que mais tarde aparece com outras roupagens, deixando o velho, e a nós todos, incrédulos sobre a veracidade de sua existência na história contada.

O que nos atinge como uma bofetada em Nymphomaniac ao seu final é a impossibilidade de amar, apesar do desejo.

Eu não sinto nada”, confessa Joeao velho, após narrar a morte do pai, na qual a personagem chora por sua sexualidade através de uma cena que somente Lars Von Trier poderia idealizar, onde Joe se descreve “molhada” ao ver o pai morto na cama de hospital, que nos é mostrado por entre suas pernas abertas e de uma delas escorre lentamente uma  lágrima.

Nem um riso jocoso no cinema durante todo o filme. Quem não suporta sai da sala em silêncio.

Sobem os créditos e você quer ficar ali até a última letra, mesmo diante do expediente “cenas dos próximos capítulos” que macula levemente o filme após o final do primeiro volume.

Agora só nos resta esperar por maio, entre a aflição e a falta de ares que te convoca a pensar sobre o gozo, a morte como única fusão possível, o amor, o desejo e o sentir como algo impossível. 

Sem Wagner, desta vez a trilha é hardcore, com destaque para a música  "Fuhre Michdo grupo heavy metal alemão Rammstein, que te sacode como um despertador para o filme: