Ao sair da manifestação pela Democracia e contra o golpe hoje pela manhã, em Curitiba, entrei numa loja para comprar uma barra de chocolate, daqueles com 85% de cacau, a fim de comemorar, mais tarde, no escritório, com um bom café forte, o êxito do movimento nas ruas curitibanas.
Com o coração em festa, entrei na loja, eu, meu casaco vermelho e um adesivo de apoio a Dilma na lapela.
A jovem mocinha que estava no caixa, ao receber o pagamento, me olhou curiosa e não resistiu em perguntar “você ‘torce’ pela Dilma?”
E eu num impulso lhe respondi “torço”, depois me contive e corrigi “torço, não, luto!”.
“E por quê?” perguntou a jovem.
Eu então lhe disse que é porque sou uma trabalhadora e, como tal, jamais poderia estar do lado daqueles que espoliaram este país e oprimiram os pobres por mais de 500 anos, gerando miséria, desemprego e coisa e tal...
Ela, interessada, contra argumentou que agora também há desemprego e que a Dilma está tirando direitos dos trabalhadores.
E ai eu afirmei para ela que, sim, a Dilma está refém de um Congresso composto, em sua maioria, por bandidos e seres a serviço dos grandes poderosos do mundo e que esse era, também um dos motivos pelos quais eu tinha saído às ruas hoje.
Perguntei a ela quantos anos tinha e ela me respondeu “18”.
E nesta hora passou um filme na minha cabeça... E eu não pude deixar de me recordar de quando eu tinha 18... Das dificuldades que meus pais enfrentavam para assegurar o sustento da família...
Da faculdade de Psicologia na PUC que eu não pude terminar porque não havia dinheiro para as mensalidades... Avancei mais uns cinco anos e me recordei da dificuldade que enfrentava para criar e educar meu filho dignamente, com meu salário de professora, quando ele era criança...
E, neste particular, tive que dizer àquela garota que ela não sabe o que é desemprego, que ela não sabe o que é inflação, que ela não sabe o que desesperança, indignidade, desigualdade... Que ela não sabe o que é ver as prateleiras dos supermercados esvaziadas. Ver um chocolate que hoje custa cinquenta centavos, amanhã custando 10 reais e depois de amanhã 30.
Tive que dizer a ela que a profissão que exerço hoje só se fez possível porque minha faculdade de Direito foi iniciada em 2003, pouco depois da posse do Lula, e a qual só pude terminar porque tive acesso ao Fies.
Tive que dizer a ela que meu filho cursa Administração de Empresas com uma bolsa de 100% pelo Prouni e que isto, lá atrás, quando tive que abandonar minha primeira faculdade, jamais seria sequer imaginável.
Mas, por arremate, segurei firmemente aquela barra de chocolate com 85% de cacau e finalizei:
Sabe o que mais? Danoninho, bolacha recheada, comida gostosa, era privilégio de ricos! Naqueles tempos nefastos, a gente jamais poderia entrar numa chocolataria como esta e levar uma delícia destas pra casa.
E então, como num passe de mágica, ela finalmente entendeu porque estou com Dilma.
E, juntas, concluímos: não vamos parar por ai; queremos mais!
À opressão não mais sujeitos!
Somos iguais todos os seres:
Não mais deveres sem direitos
Não mais direitos sem deveres!