Anna Flávia Schmitt postou hoje numa rede social, que “o vergonhoso slogan do Apartheid tomou desdobramentos latentes e fortes nos dias atuais. Muitos governantes só se sentem poderosos assim... Separar as pessoas é a melhor tática para uma estratégia de poder se perpetuar. Porque o povo unido é mais difícil de se dominar”.
Em resposta, escrevi a Anna Flávia que aqui em Curitiba temos uma história muito interessante sobre isso.
Em tempos passados, a cidade era efervescente; as pessoas se encontravam no centro da cidade após o trabalho e se reuniam criando férteis situações políticas, culturais, sociais... Havia muitos teatros na cidade, congregando diversos espetáculos teatrais e musicais. Era uma festa! Um iluminismo! Estudantes, sobretudo os de direito e jornalismo, se reuniam ao grupo (Ari Fontoura era um deles) e a coisa toda "pegava fogo" sob o ponto de vista da criação, da arte, do grupo, etc.
Ai veio um arquiteto chamado Jayme Lerner governar a cidade e construiu estações tubo no sistema de transporte local, com uma interligação espetacular que foi cantada em prosa e verso no mundo inteiro, mas que cumpriu o objetivo de levar as pessoas diretamente de seus trabalhos para suas casas, pagando uma só passagem de ônibus, mas sem que precisassem passar pelo centro ou parar em algum lugar para se reunir com outras pessoas (afinal, a coisa estava começando a ficar perigosa!).
Providência seguinte, o estado do Paraná estatizou o Teatro Guaíra e foram se acabando os inúmeros teatros particulares espalhados pela cidade. Com o Teatro Guaíra na mão do governo, os espetáculos eram escolhidos de acordo com o que se queria que as pessoas vissem.
Tempos depois veio uma novela global chamada "Sonho Meu", encomendada por Jaime Lerner para mostrar ao resto do Brasil que Curitiba era uma cidade "europeia", limpa, loura e exemplar.
Durante muito tempo os próprios curitibanos acreditaram nisto e incorporaram a ideia de que aqui seria uma espécie de paraíso, onde tudo é clean, perfeito e modelo para o resto do mundo.
As pessoas ficaram tristes e passaram a seguir, entubadas, de casa para o trabalho e do trabalho para a casa, como se estivessem felizes. O curitibano ganhou fama de povo frio, desanimado e de gente que não gosta nem de cumprimentar outras gentes. Essa fama se espalhou e estava colado o rótulo em cada curitibano.
Mas não é essa a realidade! Tais conceitos foram criados a partir de uma construção programada para isto.
Hoje, estamos voltando a ocupar as ruas. A gente se deu conta do que de fato aconteceu. É como disse a Anna Flávia: "porque o povo unido é mais difícil de se dominar".
E deem-nos Curitiba de volta!
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