Você não acha que foi muita coincidência o programa Profissão Repórter da Rede Globo apresentar o programa de ontem focado na “falta de estrutura” da saúde brasileira, justamente na semana em recebemos os profissionais do Programa Mais Médicos?
Não costumo assistir aos programas da Vênus Platinada, mas depois de ouvir um relato sobre o Profissão Repórter de ontem, tive que assistir a gravação disponível no site da Globo. Aqui
Depois de assistir ao programa, de queixo no chão, pensei com meus botões que realmente nem 10 mil médicos cubanos resolveriam a situação. E como dizem os contrários ao Programa Mais Médicos, o problema não é a falta de médicos e sim a falta de estrutura. E Pelo que foi apresentado, a situação é um verdadeiro caos generalizado.
Claro que bastaram apenas alguns segundos para os neurônios voltarem a posição “ligado” e depois de uns cliques de mouse, descubro que a coisa não é bem assim.
Primeiro que nenhuma das cidades apresentadas pelo Profissão Repórter faz parte das 701 cidades beneficiadas com médicos estrangeiros pelo Programa Mais Médicos.
Segundo, que são casos diferentes e merecem diferentes abordagens. Ao contrário do que o show televisivo nos quer fazer entender.
Sente só:
A cidade de São Paulo, onde aparece a criança de nove meses com crises convulsivas, não receberá nenhum médico estrangeiro. O problema da capital paulista não se resume apenas a falta de profissionais, também existe lá um grave problema estrutural e administrativo.
Sem dominar o assunto e correndo o risco de ser leviano, acredito que na cidade de São Paulo os problemas na saúde pública devem-se muito mais ao processo de terceirização via OS. Quando prefeito da capital paulista, José Serra, entregou boa parte dos serviços de saúde para a administração de empresas privadas, Organizações sociais (OS) sem fins lucrativos. Tudo nos mesmos moldes do que aconteceu em Curitiba, nos tempos de Taniguchi, com os serviços de Informática entregues de bandeja ao ICI.
Lá, como aqui, não deu certo. A diferença é que o novo prefeito de São Paulo tem conseguido desfazer estas terceirizações e a qualidade nos serviços tende a melhorar.
Já em Curitiba… Alguém viu o novo prefeito por aí?
A Médica do Maranhão e seu plantão de 52 horas. Fico aqui imaginando o tamanho do incremento no contra-cheque dessa menina no final do mês. Um plantãozinho de 24 horas para médicos em Curitiba, dependendo do contrato, rende Milão por plantão. Faça as contas!
E, se ela estava sozinha no plantão, ou faltam médicos na localidade ou os médicos que deveriam estar lá bateram o ponto e vazaram ou pior, alguém bateu por eles com os dedinhos de silicone. Afinal isso já virou moda entre alguns nobres médicos tupiniquins, não é?
O caso mais cabuloso do programa exibido, sem dúvida é o do Hospital Geral de Fortaleza, um hospital estadual, onde os pacientes de emergência recebem atendimento nos corredores, saguão e até em banheiros improvisados como ambulatórios. Realmente uma situação alarmante, vergonhosa e preocupante.
Segundo a reportagem, cerca de 140 pacientes estavam sendo atendidos nestas condições, apinhados em macas em condições completamente desumanas.
Fortaleza é uma das principais capitais brasileiras, possui o 6º PIB per capita do país. É inconcebível uma situação dessas numa cidade deste porte.
Segundo dados que colhi por aí, o Hospital Geral de Fortaleza é uma boa instituição de saúde, isso pode ser confirmado no site da instituição, seu calcanhar de Aquiles é o setor de emergência, exatamente como foi demonstrado na reportagem.
Mas vem cá, eu não encontrei a informação, mas parece que o HGF tem o único pronto socorro público da cidade de Fortaleza, consta também, que nos últimos 10 anos, nada menos que 44 hospitais conveniados ao SUS na região, ou fecharam, ou cancelaram seus convênios com o SUS.
44 Hospitais! É mole?
É humanamente impossível acreditar que um único hospital dê conta dos atendimentos de emergência de uma cidade do tamanho de Fortaleza com seus quase 2,5 milhões de habitantes.
O atual prefeito, Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra (PSB) que é médico, já tomou alguma medida para reverter esta situação?
A ex-prefeita, Luzziane Lins (PT), mesmo sabendo desta situação, durante seus oito anos no comando da prefeitura, não tomou nenhuma providência e, ao invés de construir pronto-socorros, preferiu construir um Hospital da Mulher?
Explica?
É um verdadeiro absurdo o que acontece em Fortaleza e não tem programa Mais Médicos, ou médicos brasileiros, cubanos ou marcianos que resolvam. É um caso de intervenção federal, de se firmar convênios com hospitais particulares e universitários para os atendimentos de emergência. De alguém fazer alguma coisa além de politicagem e propaganda.
Como alguém permitiu que a situação chegasse a este ponto?
Mas Continuando…
No final o programa global ainda mostra a situação do Hospital e Maternidade Assis Chateaubriand, uma instituição federal, hospital universitário ligado a Universidade Federal do Ceará que, em tese, deveria e poderia atender parte dos atendimento de emergência da cidade, mas não o faz.
Por quê?
Porque Lula quando presidente, sei lá porque cargas d’água, no dia 31 de dezembro de 2010, como sua última ação como presidente do Brasil, assinou a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).
Na prática, a EBSERH funciona como uma ANATEL, apenas regula os serviços. As administrações dos hospitais federais passam para a iniciativa privada depois de licitação e a qualidade dos serviços prestados, como de praxe, vai para o beleléu.
Não demora muito e o Hospital de Clínicas aqui de Curitiba também entra no mesmo esquema. Daí, babau atendimento de qualidade no único Hospital Federal de Curitiba.
Tudo bem que cabe aos municípios a prestação dos serviços de saúde para a população, mas não dá para deixar a população na mão em cidades que dependem quase que exclusivamente de instituições estaduais e federais. Fortaleza é o exemplo vivo disso e Lula pisou no tomate com essa canetada. Pisou no tomate feio.
Também é evidente que a Rede Globo não dá ponto sem nó na hora de defender seus interesses, a exibição do programa justo na primeira semana da vinda dos médicos estrangeiros para o país deixa isso muito mais do que claro.
Porém, a proposta do Programa Mais Médicos, não é o de enfrentar estes problemas apresentados na reportagem. Os médicos contratados, principalmente os estrangeiros ou cubanos, vão atuar em regiões que se encontram em situação muito pior àquelas apresentadas no show televisivo. É simplesmente uma questão de prioridade. Afinal, é melhor receber um atendimento precário do que não ter acesso a nenhum tipo de atendimento.
A intenção da Vênus Platinada é desmoralizar o Programa Mais Médicos, inverter valores, defender os interesses dos CRMs e dos convênios particulares sedentos do lucrativo mercado da saúde.
Com este tipo de jornalismo das grandes redes, não são de se estranhar as atitudes de Michelinne Borges e outros tantos com seus comentários racistas e xenófobos contra o estrangeiros e tão pouco, podemos culpar gratuitamente os médicos brasileiros que protestaram contra os estrangeiros em Fortaleza
A situação é preocupante, o programa Mais Médicos é apenas um pequeno passo para reverter esta situação nas regiões mais carentes.
Para resolver esta situação em todo o país, a única saída coerente seria o governo federal voltar as origens e dar uma guinada a esquerda na condução administrativa do Brasil, mas se fizer isso, os golpistas piram, Dilma não se reelege e quiçá, termina o mandato.
Infelizmente, quem manda nesta terra de palmeiras e sabiás ainda é o mercado e o PT ainda não teve coragem de chamar o mercado para a briga.
O duro é conviver com isso e não ter nenhuma alternativa a curto e médio prazo.
Polaco Doido
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