Apesar do modo depreciativo que quase todos nós brasileiros tratamos nossos visinhos paraguaios, uma coisa deve ser levada em consideração:
O Paraguai é um país livre, soberano e democrático e todas as decisões do governo paraguaio devem sim, ser respeitadas. Desde que, estas decisões não venham de encontro aos tratados internacionais pré-estabelecidos.
A não ser que o prezado leitor estvesse passeando em outro planeta durante a última semana é muito provável que já tenha conhecimento do ocorrido em nosso vizinho Paraguai.
Pois é, o presidente eleito democraticamente, Fernando Lugo, sofreu um processo relâmpago de impedimento e, desde a última sexta feira, não está mais no comando da nação paraguaia.
Nós brasileiros, sufocados pelo nosso próprio ego, nem nos damos ao trabalho de conhecer mais nossos vizinhos latino-americanos, afinal nos achamos muito superiores a esta gente marrom, esta mescla de indígenas e colonizadores espanhóis, são nada mais que uma sub-espécie de gente. E nós brasileiros, por mais pretos de tão pobres. Miseráveis e mesquinhos que somos, nos identificamos muito mais com os chiques europeus, hoje atolados em dívidas e com suas economias esfaceladas devido a políticas neoliberais canibalísticas, ou então aos anglo-saxões do norte da América cuja única similaridade com nossa cultura é o consumismo desenfreado, pregado e forjado por aqui por eles mesmos, onde o único e grande beneficiado é o grande irmão do norte.
Fazer o quê? Eles venceram a batalha e por mais que tentemos nos convencer do contrário, não somos nada mais que mentes colonizadas cujo único objetivo é o consumo, um consumo burro, um ter sem sentido que criou no Brasil todo este exército de seres que não são, seres que resumem-se a seus bens e seu potencial de consumo. (triste, muito triste)
Mas e o ex-presidente Lugo?
Desde que foi eleito em 2008 todas as informações que chegavam até nós, simples mortais consumidores da grande mídia corporativa, limitavam-se a fofocas de folhetim.Que Fernando Lugo foi bispo católico e abandonou a batina para fazer um monte de herdeiros e entre uma e outra amante para ser mãe de seus incontáveis filhos, tornou-se presidente do Paraguai.
Ou você tinha mais informações do que isso?
Mas é claro que não era bem assim.
Sim, Lugo era integrante do clero, mas era também influente dentro círculo dos adeptos da “Teologia da Libertação,” uma corrente política de esquerda da igreja católica que desde o século passado vem sendo combatida pela cúpula da igreja católica. (A imensa quantidade de padres e freiras expulsos ou desligados da igreja nos últimos trinta anos apenas confirma esta perseguição)
Como adepto influente da Teologia da Libertação, Fernando Lugo tentou por em prática muitos dos ideais desta ideologia. Entre eles, uma reforma agrária real e o combate a fome e a pobreza.
E é justamente aqui que história começa a fazer sentido.
O Paraguai é um país quase que exclusivamente agrícola. 70% das exportações do país baseiam-se na produção da soja. É claro que a multinacional Monsanto lá, como aqui no Brasil, fez muito loby para dominar os cultivos com suas sementes transgênicas. Lugo conseguiu segurar a completa invasão dos transgênicos até o fim do governo Requião quando finalmente, após Richa assumir o comando do estado, o porto de Paranaguá foi liberado para a exportação de soja transgênica. Daí foi só um passo para a Monsanto dominar a produção de grãos no país vizinho.
Mas ainda tem muito mais.
Não contente com o domínio total sobre as sementes e cultivos de soja a Monsanto também forçou nos agricultores do Paraguai as sementes de milho, igualmente transgênico e resistente aos pesticidas e fungicidas da Monsanto, mas… No meio do caminho tinha uma pedra, ou melhor, uma lei que impedia a multinacional de espalhar suas sementes de milho transgênico. Por incrível que pareça, os maiores beneficiados com o plantio de sementes transgênicas no Paraguai, não são os paraguaios e sim os agricultores brasileiros que utilizam as terras do país vizinho. O milho transgênico, ilegal no país foi plantado por agricultores brasileiros, os brasiguaios com alguns preferem.
Como os agricultores brasiguaios estavam agindo fora da lei, Lugo viu ali uma oportunidade para por em prática suas idéias de reforma agrária. Você deve lembrar das notícias de jornal sobre a perseguição de brasiguaios no primeiro semestre deste ano, não é?
O governo paraguaio estava tentando colocar a lei em prática, só isso, mais nada.
Mas a Monsanto, os ricos agricultores brasiguaios e a elite oligárquica paraguaia não estavam nem um pouco contentes com estas atitudes. Como, manda quem pode e obedece quem tem juízo, foi só um passo colocar o processo de impedimento do presidente no senado e câmara daquele país e, é evidente que lá, como aqui, todos os políticos têm seu preço. No final saiu até barato para a Monsanto derrubar um presidente eleito. Muito mais barato que o golpe de 1964 no Brasil que, salvo algumas particularidades, foi movido pelos quase mesmos motivos
Agora com o novo presidente, Fernando Franco, político de direita ligado às oligarquias e pró-Monsanto, o liberou geral dos transgênicos no Paraguai chegou para ficar. E a reforma agrária, o fim da exploração dos humildes e pequenos agricultores mais uma vez, vai ficar para uma próxima vez.
Quem ganha com isso é a Multinacional Monsanto, os Agricultores brasiguaios e as oligarquias paraguaias. O povão da nação vizinha só vai pagar o pato.
E pior que tudo.
As reservas do Aquífero Guaraní, a maior reserva de água doce do planeta, estão mais uma vez sobre a séria ameaça de contaminação pelos defensivos agrícolas da Monsanto. No fim esta bomba vai acabar estourando não no nosso colo, mas na saúde e na qualidade de vida dos nossos filhos e dos filhos dos filhos deles.
Em tempo:
As sementes transgênicas por si só não são uma ameaça para a saúde da humanidade. Transgênico é um nome genérico para todas as formas de vida geneticamente modificadas o que, no caso da agricultura é um bom negócio. Pode-se, por exemplo, aumentar a produtividade através de modificações genéticas, pode-se incluir novas proteínas e nutrientes em alimentos através da mesma técnica. Porém o que a multinacional Monsanto faz é algo vil e mesquinho, muito além de qualquer maldade que qualquer vilão histórico já fez.
As únicas modificações genéticas das sementes da Monsanto são a resistência a pesticidas e herbicidas fabricados pela própria Monsanto. Com isso, além de vender as sementes para os agricultores, vendem também, de forma casada, seus herbicidas e pesticidas.
É aqui que reside um grave problema. Estes cultivares geneticamente modificados não são adequados para o consumo humano ou animal e pior, a cada ano, cada vez mais as pragas agrícolas vão ganhando resistência aos defensivos e ficando cada vez mais fortes e, se continuar assim, a médio prazo todas estas terras utilizadas para a agricultura transgênica estarão inviáveis para a agricultura durante um longo período.
Imagine o caos quando o estado do Paraná, o Mato Grosso e o Paraguai não produzirem 10% do que produzem hoje. O mundo morre de fome!
E é bem isso que a Monsanto está fazendo.
Bem vindos ao caos e ao fim do mundo como conhecemos.
Polaco Doido
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