Das tripas coração para não largar o osso!

É claro que o leitor ainda tem viva na memória as graves acusações que causaram a renúncia de João Cláudio Derosso, primeiro da presidência da Câmara Municipal de Curitiba e mais tarde, de seu mandato como vereador da cidade.

O estopim do escândalo foram os contratos de publicidade da Câmara Municipal, que em menos de cinco anos consumiram mais de R$ 31 milhões de reais dos cofres públicos e deste montante, cerca de R$ 5 milhões, foram parar na conta bancária de sua então namoradinha, depois esposa e hoje, ex-esposa, Cláudia Queirós.

R$ 31 milhões! Esse número assim largado, não nos dá uma noção real do quanto foi desviado ou mal empregado sob o comando de Derosso, mas a título de comparação, é quase que o orçamento anual do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba — IPPUC. É dinheiro suficiente para se suprir a falta de creches na cidade, é dinheiro suficiente bancar as tarifas do transporte coletivo de todos os usuários por um bom tempo.

E esta é apenas umas das tretas da gestão Derosso que veio ao público. E os outros desvios e mau emprego de verba pública? É bem provável que nunca tomemos conhecimento.

É por coisas desse tipo que Curitiba deixou de ser referência em tudo. Curitiba já não tem mais planejamento, já não se preocupa mais com seu povo nem com a cidade. As últimas administrações estão muito mais preocupadas com contratos de gestão e conchavos lucrativos do que, necessariamente, com o conforto e qualidade de vida de seus cidadãos.

O resultado desta administração “nas cochas” é exatamente este, a corrupção e o desvio de verbas públicas em todos os lugares possíveis dentro da administração municipal.

E quais foram as punições de João Claudio Derosso pelos desvios de mais de R$ 30 milhões?

Nenhuma! Isso mesmo, absolutamente nenhuma!

• O conselho de ética da Câmara o absolveu.
• A CPI instalada para investigá-lo, não deu em nada.
• Seu partido não o expulsou (ou expulsou de mentirinha, só para ter manchete na Gazeta).
• E ele continua muito bem com as empresas direta ou indiretamente ligadas a ele e os contratos com a prefeitura de Curitiba.

Derosso deixou a presidência da Câmara e abandonou seu mandato, mas e daí? Faz alguma diferença?

O grupo comandado por ele continua dando as cartas na cidade e pretende continuar no comando na próxima legislatura.

E isso não é de agora.

A família Derosso exerce um tipo de dinastia na administração curitibana. É mais ou menos como se o legislativo municipal fosse uma espécie de feudo, sempre com um representante da vez do clã Derosso.

O pai de João Claudio Derosso, João Derosso, foi vereador em Curitiba por 27 anos desde a década de 1960. Em 1988 foi substituído por seu filho, João Cláudio Derosso, que com mandatos consecutivos, permaneceu na casa até 2012. Chefiou os vereadores curitibanos por quase 16 anos, desde 1996 até o final de 2011.

A dinastia Derorosso na câmara Municipal já perdura por mais de meio século e, ao que tudo indica, terá continuidade na próxima legislatura.

Agora chegou a vez de Mary Derosso representar a família na Câmara Municipal. Candidata pelo PSDB, a moça pretende dar continuidade ao legado de seu pai e de seu irmão no legislativo municipal.

E pode contar como certa a eleição do Derosso de calcinhas.

Ela disputa o pleito com apoio do curral eleitoral da família no bairro Xaxim e arredores, Com apoios do prefeito e do governador. Com muita grana (tem um dos maiores patrimônios entre todos os 752 candidatos inscritos) e principalmente, com a maior chapa coligada.

A coligação, Unidos por Curitiba, conta com sete partidos (PRB / DEM / PHS / PMN / PSB / PSDB / PSD). São nada menos que 77 candidatos, entre eles 21 dos atuais vereadores e mais uma infinidade de radialistas, comunicadores, pastores e líderes comunitários.

A coligação é tão forte, que pelas minhas contas, Mary Derosso se elege para a próxima legislatura com menos de 6.000 votos, seu irmão em 2008 foi eleito com cerca de 11.000.

Fenômenos da lei eleitoral.

Por mais que o nome Derosso esteja queimado pelo eleitorado curitibano a legislação e as coligações facilitam em muito as pretensões da nova representante do clã Derosso.

Para cada uma das 38 cadeiras na nova legislatura serão necessários por volta de 25.000 votos. É muito pouco provável que algum vereador consiga este número, mas com 21 vereadores concorrendo na coligação da moça, mais os outros 55 candidatos fazendo o trabalho de cabo eleitoral de luxo, mais apoios da máquina estadual e municipal, mais muita grana, muito vale combustível, muito frango com polenta e muito, mas muito adesivo do “Junto’s” espalhados em pela cidade, a coligação no mínimo, supera o excelente desempenho da coligação PSDB / PR da eleição em 2008, que elegeu 13 dos 38 vereadores.

Entre os “novos” vereadores em 2013, com certeza estará Mary Derosso e a continuidade da dinastia Derosso na Câmara Municipal de Curitiba!

Apesar de ser o Brasil, uma das mais modernas democracias do mundo, apesar de termos uma das melhores legislações eleitorais, um sistema eleitoral moderno e muito bem elaborado, esta formação de verdadeiras dinastias e poder perpétuo de alguns políticos ainda acontecem. Tipo um acidente de percurso, devido a um único e triste motivo.

A total e completa ignorância do eleitor a respeito do sistema eleitoral.

Para evitar que candidatos do tipo de Mary Derosso sejam eleitos não basta apenas não votar nela. É fundamental não votar em nenhum dos candidatos de sua coligação, mas isso, como sabemos, é impossível.

Eleitores muito bem intencionados de candidatos como: Professor Galdino, Jair Cezar, Julieta Reis, Pastor Valdemir e outros tantos do PSD, DEM, PRB, etc.. depois de apertar os botõezinhos na urna, muito pouco provavelmente terão consciência de que contribuíram diretamente para a continuidade de uma ou mais dinastias políticas e que são responsáveis diretos pela atual crise de credibilidade do legislativo municipal e que, é graças a suas escolhas, que a cidade de Curitiba deixou de ser um exemplo de planejamento e administração e, em menos 16 anos, virou uma mera sombra do que era, virou um balcão de negócios entre o município e empresários de informática, radares, shows, locação de veículos sempre com seus vereadores de plantão muito bem remunerados.

E só por isso que nossas crianças carentes são utilizadas como figurantes em campanhas publicitárias de bancos internacionais sem os devidos apoios e remuneração. É por isso que nosso transporte coletivo está cada vez mais caro e ruim, que nosso trânsito é um caos, que os postos de saúde vivem entupidos, que falta escola, falta creche e a merenda das crianças só serve para engordar as contas bancarias de alguns poucos abastados.

E é por isso que o Polaco Doido vai continuar reclamando por muito tempo ainda. Ou até ser calado e multado mais e mais vezes.

Polaco Doido