Começando a entender o furdunço partidário no Brasil

E realmente uma tarefa quase hercúlea tentar entender a dança das cadeiras partidária que ocorreu nos bastidores da política brasileira na última semana passada. Esta estranheza talvez possa ser desenhada através de apenas dois exemplos concretos.

• Kátia Abreu abandonando o PSD e aderindo ao centrismo do PMDB;
• Marina Silva trocando seu Rede Sustentabilidade pelo PSB.

Tudo bem que, apesar de sua origem como oposição aos governos dos militares coloque o PMDB como um partido de esquerda, pela heterogeneidade de seus membros e militância fica muito claro que o Velho MDB de guerra hoje, não é nem de esquerda, nem de direita e nem de centro. Desde a redemocratização em 1985, o PMDB é simplesmente governista, não importando quem esteja no governo. Mas Kátia Abreu, é ruralista e também musa e rainha dos ruralistas brasileiros, com todo seu histórico de filiações no PFL, DEM e PSD e por natureza sempre de oposição às esquerdas, agora no PMDB, torna-se teoricamente uma governista.

Marina silva, na outra ponta do espectro, tem sua carreira política marcada pela militância ambientalista, foi graças a esta militância que atingiu o sucesso eleitoral elegendo-se senadora pelo PT do Acre em 1994, com apenas 36 anos. Agora, filiada ao PSB, compartilha as mesmas bandeiras, ideologias, discursos e palanques que figuras do tipo da família Bornhausen, representantes do que há de mais conservador na política brasileiras e entre os principais articulistas da Candidatura de Eduardo Campos(PSB) à presidência da república em 2014. Ou ainda, a aliança do próprio PSB com o ruralista Ronaldo Caiado (DEM-GO) um ferrenho opositor das causas ambientalistas.

O que aconteceu com Marina Silva e Kátia Abreu? Mudaram de opinião?
Não, simplesmente mudaram de partido, como se muda de emprego, de roupa, de casa ou se troca de carro. Seus projetos pessoais são muito mais importantes do que qualquer programa partidário. Apenas suas carreiras importam e suas ideologias variam conforme a maré ou os desejos de seus financiadores de campanha.

Acontece que a legislação partidária brasileira tem muitos pontos falhos, muitas brechas que permitem que mesmo apesar existirem 32 partidos políticos legalmente estabelecidos no país, a grande maioria deles não pode ser classificada como de direita, de esquerda ou de centro. São legendas e partidos de ocasião, a serviço de candidatos com os maiores potenciais de angariar financiadores de campanha.

A carreira de político no Brasil se assemelha muito a carreira de um piloto de Fórmula 1. Você não precisa ser um dos melhores pilotos para fazer parte do grid, você só precisa de patrocinadores que garantam os altos custos de sua participação nas corridas.

Claro que nem todos partidos estão à venda, há exceções como o PT e o PSDB, mas ainda é muito pouco para um país que se julga democrático, onde a verdadeira participação democracia só pode ser exercida por quem pode pagar por isso.

Uma Reforma Política e Eleitoral é muito mais do que necessária, mas será que dá para confiar numa verdadeira reforma política apresentada por estes partidos e políticos que se compram e se vendem como se fossem uma mercadoria qualquer?

Tenho minhas dúvidas.

Polaco Doido

O desserviço pedagógico de Olavo de Carvalho

Não me considero uma pessoa com inteligência acima da média, tão pouco um formador de opinião, um pensador ou até, como já ouvi dizer por aí, um intelectual orgânico segundo o pensamento de Gramsci.

Muito longe de tudo isso, sou apenas um cara que gosta de escrever no tempo livre e para que estes escritos não fiquem juntando poeira em cadernos e páginas espalhados pelos cantos, publico-os aqui neste espaço insalubre, para que sejam vistos por quem se interessar.

Não, não me levo a sério. Fosse diferente, este espaço não teria o nome de Polaco Doido, poderia ter um nome mais garboso, mais chique, mais requintado que desse ao leitor a sensação de estar absorvendo ideias de uma sumidade em assuntos variados, mas não. É e continuará sendo, Polaco Doido. Polaco, devido a origem étnica deste escrevedor e Doido, não por maluquice e sim por tratarem-se de manifestações carregadas de paixão e entusiasmo em todas as linhas que surgem no editor de textos.

Apesar de assumidamente doido, não tenho sangue de barata e muitas coisas me incomodam profundamente, uma delas é a burrice ou falta de senso crítico de alguns seres supostamente pensantes que se cruzam meu caminho pelas estradas e redes da vida.

Foi em um destes cruzamentos da vida que, há algum tempo  atrás, um conhecido me apresentou o trabalho de Olavo de Carvalho. Apresentou-o como sendo uma grata surpresa para o pensamento ocidental, um “filósofo” que abala as estruturas do pensamento moderno, um homem que fala verdades doa a quem doer e que não tem medo de encarar de frente seus opositores sempre destruindo-os por meio de argumentos e raciocínio lógico.

Depois de toda esta propaganda positiva, fui conhecer o “trabalho” de Olavo de Carvalho. Li vários de seus artigos disponíveis no Mídia sem Máscara, assisti várias de suas palestras disponíveis no Youtube e ainda acompanhei vários programas True Outspeak.

Como resultado de todo este empenho, apenas a decepção pela propaganda enganosa.

Olavo de Carvalho é uma farsa, uma fraude. Sua linha de raciocínio baseia-se unicamente em posicionamentos pessoais, sempre flertando com o ideário fascista, carregados de um ódio insano e que carecem de qualquer tipo método lógico.

Para o leitor não achar que estou exagerando na crítica, cito algumas frases e pensamentos do suposto filósofo:

“A inteligência não está no cérebro, está nos bagos.” (Olavo de Carvalho)

Discorrendo a respeito da feminilização da sociedade e do crescimento de um suposto movimento gayzista. Para ele, a fonte da inteligência está na testosterona e mulheres, afeminados e vítimas de câncer nos testículos têm uma capacidade intelectual inferior a um machão de cozinha que bate na mulher e depois vai procurar briga num estádio de futebol. Sendo assim, para Olavo e seus seguidores,  o bichinho da foto ao lado, deve ser uma das criaturas mais inteligentes do planeta.

“Cientistas descobrem hidrocarbonetos numa galáxia que fica na puta que o pariu. Onde nunca teve dinossauros, nunca teve fóssil, porra! Combustível fóssil é o cu da tua mãe!” (Olavo de Carvalho)

Para o filósofo, os hidrocarbonetos só podem ter uma única origem. Não importa que estes possam ser formados por depósitos de material orgânico na crosta terrestre ou processos químicos naturais no universo. Em Titã, uma das luas de saturno, existe uma grande concentração de metano, um hidrocarboneto, não existe nenhuma evidência daquele satélite já ter possuído qualquer tipo de vida orgânica em seu passado. Para Olavo de carvalho, esta constatação é irrelevante.

“A Pepsi-Cola está usando células de fetos abortados como adoçante. Se você toma Pepsi-Cola, você é um abortista terceirizado.” (Olavo de Carvalho)

Em sua cruzada insana, contrária as propostas da agenda progressista, um dos principais inimigos do “filósofo” é o movimento feminista. Para atingir o movimento feminista, um dos cavalos de batalha de Olavo de Carvalho é seu posicionamento sempre contrário a qualquer tipo de discussão lúcida a respeito do aborto. Dessa vez, mostrando completa falta de método, o “professor” utilizou-se de uma manchete sensacionalista para destilar todo seu ódio e preconceito sem, ao menos, analisar superficialmente o assunto. O Pírula em seu canal do Youtube fez uma série de vídeos sobre o caso, vale uma conferida.

“Não existe a menor prova científica do sistema copernicano, o sistema heliocêntrico” (Olavo de Carvalho)

Para Olavo de Carvalho, que além de filósofo também é uma autoridade intelectual em física e astronomia, o Planeta Terra não se move no espaço e é o centro do universo. O homem, que nasceu no século XX, tem a mentalidade estacionada nos tempos medievais. É o representante moderno da extinta escolástica, uma corrente filosófica da primeira metade do milênio passado e que tentava conciliar a fé cristã com o pensamento racional, dando ênfase na dialética. Para que suas afirmações façam sentido, os sistemas de posicionamento global, os satélites artificiais e as observações astronômicas são convenientemente esquecidas.

“Vai tomá no cu. Porra!” (Olavo de Carvalho)

Como debatedor, a retórica não é o ponto forte de Olavo de Carvalho. Sua fama de nunca ter perdido um debate é apenas uma fantasia propagada por ele e seus seguidores. Quando encurralado ou pego em contradição, sempre se julga vencedor e sempre desfere seu último argumento incisivo e que não permite nenhum tipo de réplica. O seu já famoso “Vai tomar no cu. Porra!”

Os absurdos não param por aqui, existe uma infinidade de outras abobrinhas e groselhas proferidas por Olavo de Carvalho em seu vasto material disponível na internet. Mas, por mais que eu discorde de suas teorias e opiniões, ele continua tendo todo o direito de continuar expressando estas teorias e opiniões, e até, ganhando algum dinheiro com isso, através de seus cursos e seminários.

O problema é que seu discurso simplista, carregado de um ódio doentio e repleto de referências pseudo-cristãs é perigosamente viral.

Apesar de senil, sem conteúdo e carente de razão lógica, Olavo de Carvalho consegue agregar um verdadeiro exército de seguidores a suas causas. Estes seguidores parecem abrir mão de qualquer tipo de senso crítico apenas para dar vazão a um sentimento de ódio insano contra tudo e todos que representem qualquer espécie de avanço social ou quebra da ordem estabelecida.

Olavo emprega este seu discurso carregado de técnicas fascistas como tática para convencimento daqueles sem um posicionamento ideológico definido, aqueles cujas bases ideológicas apenas arranham a superfície do conhecimento político-social. Pessoas carentes de uma figura paterna, um tutor, um mestre, um füher e que encontram no “mestre,” no “professor,” no “filósofo” uma espécie de canal para uma catarse coletiva que expurga e se retroalimenta de seu próprio ódio.

O leitor deve se lembrar que a campanha para sucessão presidencial em 2010 ficou marcada principalmente por uma espécie de ódio ideológico contra as esquerdas. Este ódio nasceu de uma hipotética ameaça comunista, passou pela divulgação de falsas fichas policiais, acusações de terrorismo, homossexualidade, aborto onde a discussão de projetos foi deixada de lado e no fim, passada as eleições, as declarações xenofóbicas Mayara Petruso no twitter.

Para o ano que vem podemos esperar outra infinidade de Mayaras Pretrusos vociferando ódio e xenofobia pelas redes. A campanha já se desenha como um fla-flu ideológico de proporções jamais vistas. As armas e munições virão do filósofo auto-exilado e quem perde com este tipo de embate esdrúxulo não são os prós ou os contras suas idéias senis. Quem perde é o processo democrático, quem perde é o debate que ficará inevitavelmente reduzido as frases de efeito do tipo de um: “Vá tomá no cu. Porra!” (Olavo de carvalho).

Se até o pastor neo-pentecostal, deputado e autoritário presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal, Marco Feliciano, já se entregou de corpo e alma a teologia do ódio de Olavo de Carvalho.

A questão que fica é:

Em que espécie de democracia esse tipo de debate pode nos levar?

Polaco Doido