Quais os limites da liberdade de expressão?

Quando em Janeiro de 2011 eu decidi transformar este espaço virtual em um blog sujo, não o fiz para atingir algum tipo de fama, ou para doutrinar quem quer que seja, ou para convencer o leitor de qualquer coisa. Fiz somente porque tenho uma necessidade fisiológica de externar meus pensamentos, meus sonhos minhas ideologias e, como a própria descrição deste espaço confirma, fiz e continuo fazendo isso sem quase nenhuma pretensão.

Ao longo destes 27 meses de resistência do blog Polaco Doido e os mais de 700 textos postados. Colecionei processos, multas judiciais, ameaças, perseguições e inimigos declarados. Também perdi alguns que se declaravam amigos e este é o maior saldo positivo da existência deste espaço insalubre, mal escrito e pouco frequentado. Fiz muito mais amigos do que perdi.

Porque disso?

Simples. Não lembro onde li a frase: “Para se colecionar desafetos, basta dizer o que pensa.” E esta frase, amigo leitor, é muito mais verdadeira do que se possa imaginar sem nunca tê-la sentido na pele.

O melhor de tudo é saber que meus ideais e ideias que surgem na minha cachola, são muitas vezes compartilhados com muitos leitores e talvez seja esse o maior legado da liberdade de expressão que vivemos hoje e que tantos lutaram, sofreram e morreram para conquistar durante os vinte e poucos anos da covarde ditadura militar que tomou de assalto o Brasil.

É muito bom saber que não se está sozinho e que muitos compartilham das mesmas opiniões que você!

E aonde o Polaco quer chegar depois desta introdução enorme?

Bom, o Polaco Doido é um Zé Ninguém, só um cidadão qualquer, com os mesmos problemas, alegrias e frustrações de milhões de brasileiros iguais e que tem o mesmo poder de influência de uma solitária formiga no meio da floresta amazônica.

As liberdades de expressão e pensamento valem para todos. Mas são muito poucos os que têm o poder de influenciar a opinião de muitos, milhares, milhões de pessoas, as vezes até, com opiniões distorcidas do que podemos considerar como realidade.

Claro que a verdade é relativa, a verdade depende do ponto de vista, mas veja a imagem abaixo:

Este que orgulhosamente exibe um cartaz com os dizeres “Queimar Rosca Todo Dia” (sic) é o Deputado Federal Jair Bolsonaro(PP-RJ). É um deputado federal, fazendo isso durante uma sessão da Comissão de Direitos Humanos e Minorias daquela casa.

A frase em questão foi exibida como provocação a um grupo de ativistas que acompanhavam a sessão. Claro que houve bate-boca e provocações do deputado contra os manifestantes e o cartaz é nada mais que mais uma provocação, uma chacota de mau gosto, preconceituosa e agressiva,  contra uma minoria que deveria ser representada dentro daquela comissão. Nunca achincalhada da maneira que fez o deputado.

Mas, por mais surreal que possa parecer, o deputado Bolsonaro é membro da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ocupa a suplência da vaga que pertence a seu partido, o PP.

Bolsonaro já cumpre seu sexto mandato como Deputado Federal, em 2010, foi eleito com nada menos que 120.646 votos nominais dos eleitores cariocas, isso corresponde a mais de 1,5% dos votos válidos naquele estado. E isso também é muito mais do que assustador.

Evidente que como eu, você e todos os 193 milhões de brasileiros, Jair Bolsonaro tem todo direito de expressar suas opiniões. A constituição Federal de 1988 garante a todos nós esse direito.

Porém…

Além de deputado federal, representante de todos os 193 milhões de brasileiros, Jair Bolsonaro é uma figura pública, suas declarações alcançam todo o território nacional e tem o poder de influenciar milhões. Ainda mais, fazendo isso dentro de uma comissão que deveria em tese, defender os direitos humanos e minorias de todo o país.

Não se trata apenas de mais uma declaração polêmica de um deputado que já mandou manifestantes comerem capim, já sugeriu a criação de pelotões de fuzilamento, que admitiu ser a tortura dos tempos da ditadura um erro dos militares, pois deveriam é ter matado todos os considerados subversivos, que já ameaçou o companheiro Paulo Cequinel em seu Blog O Ornitorrinco. Bolsonaro, na minha “subversiva” opinião, é nada mais que um maluco com status de parlamentar.

Cabe lembrar que no ano passado os administradores do blog “O perdedor mais foda do mundo” foram parar no xadrez devido a declarações não muito diferentes das declarações do deputado, igualmente racistas, homofóbicas e sexistas. Aqui.

Lógico que ninguém é obrigado a concordar com as causas defendidas pelo movimento LGBT ou causas de qualquer outro grupo de minorias, mas o ato de discordar de qualquer coisa não dá o direito de ofender, caluniar ou fomentar o ódio por parte daqueles que o admiram.  E, queira ou não, Jair Bolsonaro possui um grande número de admiradores e seguidores que concordam e fazem coro de todas as suas declarações.

O que estamos presenciando hoje na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal é uma verdadeira guerra contra os militantes de Grupos LGBT e os generais desta guerra, entre eles o próprio Bolsonaro, Marco Feliciano, Silas Malafáia e outros tantos, fazem uso de táticas de propaganda fascista para angariar seus exércitos de seguidores e simpatizantes. Esta antiga tática está funcionando tão bem quanto funcionou no inicio do século passado na Europa e também na América Latina.

Se nenhuma providência for tomada corremos o risco de, ao primeiro cochilo das instituições democráticas, sermos tomados de assalto por mais uma ditadura fascista, intolerante e assassina. Já aconteceu antes e pode acontecer novamente sem que ninguém se dê conta da gravidade do caso. A  história da humanidade tem uma mania maluca de se repetir com certa freqüência.

É sempre bom lembrar:

Liberdade sem controle não é liberdade, é bagunça!

Polaco Doido