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A Dama da democracia

August 30, 2016 10:01 , by Terra Sem Males - | No one following this article yet.
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Por Manoel Ramires
Terra Sem Males

Se Dilma Vana Rousseff já tinha seu nome gravado na história política do Brasil como a primeira presidenta eleita e reeleita, ontem (29) ela entrou para a história da democracia. Seu depoimento superior a doze horas demonstrou o quanto ela valoriza esse regime e a sua lealdade ao povo e a valores universais de honra e coragem. Sua postura é radicalmente contrária a de políticos que fogem do combate, articulam por debaixo dos panos, traem e ainda temem o crivo da população. Fogem das vaias. Já Dilma, não se suicidou, não renunciou, não fugiu para outro país. Ela encarou. E ao enfrentar seus algozes de forma serena, entrou para a galeria dos mártires da humanidade. Se cair, será em pé.

A lucidez com que a Dama da Democracia entende sobre seu papel na história é impressionante. Não à toa, disse que enfrentou a morte duas vezes. Uma nas mãos da ditadura, torturada por Ustra, que impunha a “Revolução de 1964”. Outra no colo do câncer, doença traiçoeira e dura, agravada pela cafajeste perseguição de setores políticos e midiáticos que torciam pela lápide. Ela, guerreira, sobreviveu. Após essa explanação, no depoimento, Dilma cravou bem que o alvo dessa vez não é ela, mas os votos e as conquistas sociais que devem ser executados em um projeto neoliberal que se avizinha. Dilma, ao apontar o golpe, podia apenas deixar mais claro que a justiça condena inocentes também, embora o rito pretensamente racional esconda vontades odiosas. Nesse ínterim, poderia listar personalidades queimadas no calor do momento que foram posteriormente absolvidas pelo juízo da história.

Aliás, como não introduzir Jorge Luís Borges, que certa vez cravou: “A paternidade e os espelhos são abomináveis porque multiplicam o número de homens”. Trazendo para o domínio popular é como se dissesse que a história trágica se repete como farsa. Por outro lado, mais do que isso, o julgamento de Dilma Vana Rousseff, Dama Dilma, criou as condições para se vivenciar em duas dimensões paralelas. E são poucas as vezes que essas situações são percebidas tão bem claramente. Nessas ocasiões se observa a construção dos fatos momentâneos sendo tragado no futuro pela onipotência. É como se fossemos contemporâneos de Jesus Cristo, em que sabemos ser a sua crucificação tida como derrota naquele instante e uma vitória para futuras gerações. Ou sofrer com a 2ª Guerra Mundial e ter a certeza de que o inimigo hoje herói será derrotado, entrando para os anais como vilão.

É com essas dimensões que Dilma e aqueles que apontam o golpe convivem. Mesmo conscientes de que a conjuntura é propícia para o rompimento dos valores democráticos, têm a fé de que foi justamente essa batalha que restabelecerá a verdade dos fatos. Afinal, demonstrar arrependimento 30 anos depois de defender e compactuar com opressores pode ser apenas mais um sinal de covardia.

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Source: http://www.terrasemmales.com.br/a-dama-da-democracia/