Entrevista exclusiva com Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz, militante dos direitos humanos. Esquivel estará em Curitiba no dia 29 de abril.
Por Paula Zarth Padilha e Joka Madruga
Terra Sem Males

Adolfo Pérez Esquivel em Mandirituba-PR. Foto: Joka Madruga/Terra Sem Males
Adolfo Perez Esquivel tem 84 anos e esteve no Brasil entre os dias 29 e 31 de agosto de 2015 especialmente para participar da 3ª Feira de Sementes Crioulas de Mandirituba, cidade da região metropolitana de Curitiba. Durante o evento, concedeu entrevista exclusiva ao Terra Sem Males sobre a sua militância em defesa dos povos.
Esquivel nasceu na Argentina, é arquiteto, escultor e ativista de direitos humanos. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1980, por sua atuação na militância de enfrentamento de crimes de tortura e desaparecimentos praticados nos anos das ditaduras militares por toda a América Latina.
Esquivel milita em defesa dos pobres, da mãe natureza, dos povos tradicionais e da soberania alimentar. “Toda a política de direitos humanos não passa somente por acalmar a dor do próximo, é uma ação transformadora, de consciência crítica e sociopolítica”, disse.
É parte da entidade Servicio Paz y Justicia en América Latina (SERPAJ-AL), instituição que representa e que atua em 15 países da América Latina, na militância pela educação, povos indígenas, camponeses, todos os povos mais pobres.
Terra Sem Males – O que te motiva a continuar na militância por tantos anos?
Adolfo Perez Esquivel – Para mim a militância sempre foi uma questão de vida. Sempre trabalhei desde pequeno nas organizações sociais, envolvido com tudo isso, a questão da pobreza, as necessidades dos povos. Para mim a militância não começou um dia, são todos os dias.
O que mudou na luta pelos direitos humanos?
Nós vencemos superando as ditaduras militares. Agora estamos trabalhando com as questões dos povos indígenas, tradicionais, tratamos sobre problemas de meio ambiente e creio que há mais consciência social e política sobre o que é a vida, não? O povo está muito mais envolvido. Temos que lutar também pela educação, as políticas sociais, com mais consciência dos povos.
Tem alguma diferença de militância entre o Brasil e outros países da América Latina?
Sim, aqui no Brasil temos o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) há muitos anos. Com camponeses que reclamam seus direitos. É evidente também que o país tem uma preocupação muito grande com os problemas ambientais. Como o problema dos transgênicos. Por isso não são somente denúncias sobre os males que os transgênicos fazem. Os bancos de sementes (orgânicas, crioulas), são fundamentais. Queremos a soberania alimentar de sementes crioulas. As sementes transgênicas geram dependência.

Sementes Crioulas, produzidas sem veneno e transgenia. Foto: Joka Madruga/Terra Sem Males
Os transgênicos são uma ameaça para o seu país?
Sim, para todos. É uma ameaça mundial. Há casos como por exemplo, na Índia, onde há muito suicídio de camponeses, porque com os transgênicos todos perderam. Perderam as terra, as famílias. Temos que buscar as alternativas. A soberania alimentar passa por ter o poder de produção, como as sementes. Temos que ter outra consciência, sobre o equilíbrio do ser humano com a mãe terra.
O que ocorre é outro pensamento além da economia. A economia que vivemos de capitalismo é excludente e violenta. Teremos que criar uma economia solidária. Para isso temos que ter a capacidade de decidir, com a produção de sementes crioulas. Há outros aspectos que hoje estão muito ameaçados, como a água. Os agrotóxicos quebram a biodiversidade e a natureza. A mãe natureza tem uma cadeia biológica que estabelece o equilíbrio e a cadeia de insetos, mamíferos, carnívoros, seres humanos. E o ser humano está destruindo essa biodiversidade com o sistema capitalista. Por isso é muito importante a revolução da semente. Porque é uma revolução de recuperar o direito de decidir. É uma revolução frente a esse mundo excludente, concentrado, que é o capitalismo.
Como é sua vida de militância?
Eu e minha família moramos na Argentina mas eu moro em qualquer parte do mundo. Viajo para Ásia, África, América Latina, Oriente Médio. Não é viagem de turismo. São viagens por necessidade de acompanhar o povo, de falar, por exemplo, sobre o Haiti. Aqui no Brasil chegam muitos haitianos pelas condições de vida no Haiti. E a imigração? Como recebem os imigrantes? Porque ninguém sai de sua terra porque quer. Saem por necessidade, por condições de vida. Estão todos alarmados pela imigração que chega. Mas quem é o responsável? São os países europeus e Estados Unidos que provocaram guerras. Síria, Iraque, Afeganistão. Eu estive no Iraque por 12 dias. Pude ver o horror da guerra, a contaminação e a morte, o bombardeio e a destruição.
Quais são seus próximos destinos?
Possivelmente Europa. E quero voltar à Venezuela, país bombardeado por ações da direita.

Adolfo e uma de suas pinturas, doada para a Fundação Vida Para Todos. Foto: Joka Madruga/Terra Sem Males
Esquivel finalizou a entrevista contando que sua esposa compôs músicas sobre a Terra Sem Males, sintonias sincronizadas com versos de Dom Pedro Casaldáliga.