Mística de encerramento da 15ª Jornada de Agroecologia une bandeiras de luta comuns do campo e da cidade, para um público que não vê fronteiras
Por Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males
Entre as 3 mil pessoas participantes da 15ª edição da Jornada de Agroecologia, realizada na cidade da Lapa (PR) entre os dias 27 e 30 de julho, subiram ao palco os “internacionalistas”. Jovens da Venezuela, Guatemala, País Basco, Colômbia e Itália que estão imersos em assentamentos e acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para aprender com as experiências de agroecologia implantadas entre as famílias camponesas. “Para nossos países não existem fronteiras”, disse a colombiana Julie. A porta voz das venezuelanas foi Maria Isabel, que denunciou a ofensiva norte-americana contra a soberania de seu país. “Um mundo melhor é possível e só é possível no socialismo”, defendeu.
Ao som de A Internacional, as famílias dos pequenos agricultores, que passaram os últimos quatro dias acampados no Parque de Exposições da cidade, sob frio de 2° nas madrugadas, cerraram seus punhos para cima e cantaram juntos com os jovens internacionalistas que buscam aqui no Brasil o aprendizado com a revolução do MST.
Protagonistas de suas histórias
A mística de encerramento realizada neste sábado, 30 de julho, teve início com um ato político e a presença do deputado federal Ênio Verri, do Partido dos Trabalhadores, da presidenta da Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT Paraná) Regina Cruz. Outros representantes do povo foram bem recebidos pelas famílias sem terra nos dias anteriores, como o deputado estadual Tadeu Veneri e a senadora Gleisi, ambos também do PT, bem como seus próprios líderes que também tiveram voz no mesmo palco.
“Na defesa da terra, na defesa do território, na defesa da biodiversidade e da vida, não nos calaremos. Nossa luta é para sermos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”, disse Diego, da Via Campesina. “Querem nos tirar tudo mas nós temos a certeza que manteremos o sonho em forma de luta”.
O ato teve a união de bandeiras de luta e a participação da ciranda dos sem-terrinha. O evento teve feira de produtos da reforma agrária, oficinas práticas sobre como cultivar sementes crioulas, melhorar a terra para o plantio, entre outras. Shows culturais e musicais com a participação de acampados e assentados como protagonistas de suas histórias. Teve também a rede de solidariedade ampliada de apoiadores, de pessoas que não são das famílias sem terra, mas que se colocam no lugar de resistência e de luta dessas famílias. Acampam juntos, se alimentam juntos, constroem a solidariedade juntos.
No final, todos puderam pegar amostras de sementes crioulas e mudas de árvores numa grande troca de sementes. “O Brasil pode ser a mesa posta para as fomes do mundo inteiro. A distribuição solidária das sementes é uma forma de defendê-las”, disse Leonardo Boff, que já havia participado de palestra na sexta, mas estava lá para contribuir com o encerramento da jornada.
Leonardo Boff, um guardião das sementes
Pela primeira vez na Jornada de Agroecologia, o teólogo e escritor Leonardo Boff saudou a organização do encontro e as delegações estrangeiras que mostram que a causa não é do Brasil, mas da humanidade. Com a missão de abençoar as sementes, suas palavras demonstraram a importância dos grãos puros para a vida, além da alimentação.
“As sementes são fundamentais para o futuro da vida. Há uma ligação profunda entre a vida humana e as sementes, que hoje são ameaçadas pelo sistema do capital. O mercado controla as fontes de água potável e as sementes. A semente é vida e quem controla a vida tem o poder: pela fome e pelos transgênicos”, afirmou.
Boff denunciou a estratégia de recolonização da América Latina e da África. “Querem nos reduzir a uma nova colônia para produzir alimentos como commodities (mercadoria) para exportação. A exploração e controle não é em função da vida, mas em função do mercado e do lucro”, disse.
Leonardo Boff defende a luta para a criação de bancos de sementes crioulas, criticando a expansão dos transgênicos. “São um crime, são infrutíferos, agridem a natureza”. Seus discurso teve a intervenção de uma mística dos sem-terrinha. “As crianças são as sementes da vida humana, mas queremos que elas tenham alimentos sadios”.
“Cada semente é uma promessa de vida. Devemos nos considerar sementes por onde formos. A semente precisa ser coberta de terra para crescer e produzir frutos”, finalizou.
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