“Nosso projeto de resistência existe e tem base material para contrapor o modelo do agronegócio”, afirma Ceres Hadich, da coordenação nacional do MST
Por Paula Zarth Padilha
Foto Joka Madruga
Terra Sem Males
A agricultura praticada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com a produção de alimentos sem agrotóxicos e sem transgênico, encontra acolhimento em uma necessidade real da população e os resultados são mensuráveis na 17ª Jornada de Agroecologia, realizada em Curitiba.
De acordo com Ceres Hadich, da coordenação nacional do MST, na feira localizada na Praça Santos Andrade, a estimativa é que se comercialize 30 toneladas de alimentos nestes quatro dias de jornada, a maioria produtos com certificação orgânica ou em processo de conversão. Para ela, é preciso agora que a população compreenda que outros fatores são determinantes para a agroecologia: “a democratização do acesso à terra, políticas públicas, educação no campo”, explicou durante coletiva de imprensa na tarde desta sexta-feira, 08 de junho, ao lado do coordenador nacional do MST, João Pedro Stedile.
“Nosso projeto de resistência existe e tem base material para contrapor o modelo do agronegócio, que não é capaz de gerar segurança como um todo”, afirma Ceres. Um exemplo do que ela diz foi mencionar a quantidade de animais que morreram durante a greve dos caminhoneiros. “A insustentabilidade do modelo do agronegócio: um frango morrendo na zona rural é porque lá não se produz alimento”.
Ao ser questionado sobre uma avaliação da greve dos caminhoneiros, Stedile afirmou que foi uma greve didática e pedagógica, que o MST apoiou desde o primeiro momento pois a pauta era pela redução do preço dos combustíveis, algo que penaliza toda a população. Ele refutou que tenha sido locaute, afirmando que a paralisação iniciou com autônomos e que as empresas entraram depois e que a greve foi vitoriosa porque derrubou Pedro Parente.
Ao ser questionado pelo Terra Sem Males sobre quais as dimensões do golpe de 2016 no aumento da violência no campo, Stedile refutou a narrativa de criminalização e destacou que existem três fatores, que são a reforma trabalhista, que transformou os trabalhadores rurais em neo-escravos por possibilitar atrelar pagamento de salário a troca por moradia e comida, e que isso é violência; a suspensão pelo governo das áreas quilombolas e indígenas, incentivando vizinhos fazendeiros a invadir essas áreas; e na região de fronteira amazônica em que posseiros promoveram três massacres nesse período. Para ele, só a organização popular é capaz de proteger os povos desse tipo de agressão. “A violência no campo voltou a crescer, resultado da correlação de forças”.
Ceres destacou que o sentimento de ódio e intolerância não é só no campo, mas depois do golpe o governo federal inviabiliza os programas da agricultura familiar com corte de verbas, referindo-se ao PAA e ao PNAE, e que cada vez que um posto de saúde é fechado é também um processo de violência das cidades distantes.
Stedile declarou que a provável vitória de Lula nas eleições altera essa correlação de forças, trazendo mudanças no congresso e que a ameaça atual, do PL que libera os agrotóxicos, possivelmente haja um ganho de tempo por ser ano eleitoral. Para ele, no período pós golpe “os capitalistas se sentem com mais força para fazerem o que querem, tendo consequências para quem vive no campo”, mas também nas cidades.
Sobre o governo Temer, falou que a crise afeta o presidente, mas está difícil porque não tem diferença se ele sair agora. “A crise política é insustentável porque não tem alternativa para a direita. Para nós, a porta de saída da crise são eleições democráticas e a garantia de Lula disputar a presidência”.