Aconteceu nesta sexta-feira (06) um ato de repúdio à violência contra as mulheres em Altamira-PA. A manifestação aconteceu em frente a Delegacia de Polícia Civil, onde aproximadamente 100 pessoas se fizeram presente e o tom dos discursos era de denúncia e cobrança das autoridades.
Em Altamira os dados da violência contra as mulheres são alarmantes. Somente no ano de 2014 foram mais de 300 ocorrências, onde a mulher foi vítima de algum abuso. Em janeiro de 2015 foram assassinadas duas mulheres, segundo o Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira do Campo e da Cidade. E estes números cresceram com o inicio das obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
Dona Raimunda: com a vinda da usina de Belo Monte sabíamos que os problemas sociais viriam. E o aumento da violência não é só contra as mulheres mas de um modo geral, inclusive no trânsito. Foto: Joka Madruga/Terra Sem Males
A obra é em Vitória do Xingu, mas os impactos sociais vão todos para Altamira, que recebe toda a demanda que sofrem hoje. “A mobilização de hoje foi para sensibilizar as autoridades, em especial o governo do estado que tem sido ausente”, afirma dona Maria Raimunda dos Santos Lima, coordenadora do Movimento de Mulheres de Altamira.
Monica: muitos maridos dizem que se elas forem na delegacia, elas morrerão. E isto as amedrontam. Foto: Joka Madruga/Terra Sem Males
“A Delegacia da Mulher não funciona nos finais de semana porque não tem infraestrutura e as denuncias vão para a Delegacia de Segurança Pública. Muitas mulheres gostariam de fazer a denuncia mas o fato de não verem resultados, por parte das autoridades, as intimidam” informa Monica Brito Soares do Movimento de Mulheres Negras e do Movimento de Mulheres da Transamazônica Xingu.
Lenilda: “foi um desrespeito enorme chegar de paraquedas. Isto aqui é so o começo, não foi um bom negocio para a região”. Foto: Joka Madruga/Terra Sem Males
“A construção de Belo Monte foi a maior tragédia do Xingu. Pois Altamira e outros municípios não estavam preparados para receber esta obra. Toda a região tem capacidade para se desenvolver sem precisar destruir o Xingu. Altamira vai sofrer a maior consequência, pois ela que receberá menos royalties e é ela que recebe todo o fluxo de pessoas sem estrutura. Para isto deveriam ter preparado a cidade com infraestrutura, as empresas não estão absorvendo todas estas pessoas que procuram emprego. Nossa região não precisava de mais uma hidrelétrica, sabemos que o Brasil precisa, mas poderiam ter procurado outra região mais compatível. E quando terminar a obra ficara pior, pois milhares de pessoas ficarão desempregadas”, relata Lenilda de Souza, funcionaria pública.
“Estamos aqui para denunciar a violência contra as mulheres e contra os direitos humanos devido a estes empreendimentos em nossa região. Nos últimos anos houve um aumento da exploração sexual, em especial a infantil”, denuncia Edizângela Barros, conselheira tutelar de Altamira e do Movimento dos Atingidos por Barragens.
Fabiano: “é uma violência contra a mulher, mas antes de tudo é uma violência contra as pessoas que a gente ama”. Foto: Joka Madruga/Terra Sem Males
“Lutamos para que a questão da violência contra a mulher não continue sendo esta realidade feroz, que tem sido na nossa cidade. Isto tem incomodado a gente. E devido a estas relações sociais as mulheres tem sofrido com a violência doméstica, por achar que elas são apenas objetos sexuais”, declara Fabiano Vitoriano, professor e militante do Movimento dos Atingidos por Barragens.
Esta fotorreportagem faz parte do projeto “Águas para a Vida”. Acesse www.jokamadruga.com/aguas e contribua.