“O melhor caçador não é quem atira melhor, mas o que escuta melhor”, Velho Antônio
Brasil de Fato
Nosso povo está doído, sofrido.
É isso o que sentimos no mutirão que movimentos populares estão fazendo em bairros da periferia de Curitiba e região metropolitana. Está sendo um exercício único, de certa forma atrasado, mas de realmente escutar as dores e as questões que as pessoas guardam. É hora de dizer, sim, mas há momentos em que um escutar pode convencer mais, principalmente nos dias de hoje.
Há muito espaço sempre para prosas e conversas nas casas que visitamos, dificilmente as pessoas são reativas, mesmo quando é irreversivelmente eleitor de Bolsonaro. Há muita gente com Haddad, ainda que mais tímida neste momento para externalizar seu voto. Porém, a pesquisa de ontem (23), mostra movimentação e possibilidades de mudança de tendência.
A violência, a estrutura social desigual, o relato que cada pessoa tem pra nos contar, de um parente ou amigo assassinado, o medo e a necessidade de resolver tudo sem passar por um judiciário – também injusto e eficiente quando interessa – tudo isso é alimento pro bolsonarismo.
Em quase todas as conversas, fica claro que não há motivo racional ou propostas para votar em Bolsonaro. A decisão é por conta da rejeição aos partidos (o PT foi colocado fortemente nessa conta) e à desilusão com possíveis saídas. Bolsonaro tem conseguido ser uma velha múmia com traje novo, representar a mudança, descolando-se inclusive das outras múmias, como Temer e Meirelles, a quem ele foi fiel escudeiro nas votações e no golpe contra Dilma.
Não é hora pra análises profundas, apenas é importante dizer que o caminho, neste momento, parece ser de dialogar com as pessoas que estão desconfiadas com o PT e com Haddad, mas têm um grande pé atrás com o discurso violento de Bolsonaro. Estão indecisas, inclusive ao falar de alguma possível opção. É quase unânime a avaliação de que o governo Lula foi o melhor nas últimas décadas, e as pessoas abrem sorrisos ao falar desse tempo, porém é preciso estudar por que isso não se transforma totalmente em votos para Haddad. Mas fica claro nessas conversas que se Lula fosse candidato seria eleito facilmente, se não fosse perseguido politicamente.
Porém esses contatos nos mutirões deixam uma mensagem importante de democracia – a exemplo do que Haddad tem defendido -, enquanto nas outras fileiras o ódio cresce de forma exponencial. E esse contato nos bairros, nas ruas, casa por casa, deve se intensificar nesses quatro dias da reta final das eleições e deve seguir mesmo após o momento eleitoral. É uma das melhores formas de resistir.
Tenhamos fé no nosso povo que ele resiste.
Edição: Laís Melo
Foto: “Não desperdicem um só pensamento”, Brecht / Pedro Carrano