Ocupação do MST em área da madereira Araupel completa um ano. Na capital, as duas semanas recentes abrigam duas ocupações
Parte I.
Movimento Popular de Moradia reúne mais de 400 famílias em terreno abandonado da Cidade Industrial de Curitiba. Foto: Pedro Carrano
Curitiba. Mais de 600 famílias de trabalhadores sem-teto ocuparam dois terrenos vazios na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), no intervalo de duas semanas. A demanda por moradia cresce e, com isso, o Movimento Popular de Moradia (MPM) organiza três ocupações na região, localizada perto do bolsão Sabará.
Pessoas de diferentes regiões da capital e inclusive do interior do Paraná chegaram à mais recente ocupação, chamada Tiradentes, organizada no dia 17 de abril. Carregavam debaixo dos braços alguns colchões, cobertores, pedaços de madeirites, numa verdadeira migração urbana dentro da capital. Na cabeça, o sonho de livrar-se do aluguel.
O perfil das pessoas que se cadastram para obter um lote são, em geral, de acordo com os organizadores do MPM, trabalhadores da construção civil, outros ainda trabalhadores terceirizados. Mas a grande maioria é mesmo precária e vive de bicos. Embora as ocupações se concentrem na região industrial de Curitiba, ainda não atraem um segmento expressivo dos trabalhadores formalizados da região.
“O alto custo de vida, decorrente da constante elevação das taxas de inflação no preço dos aluguéis e dos imóveis, aliado ao aumento do desemprego (em especial, na indústria) e à diminuição da atividade econômica, simplesmente têm impedido o acesso à moradia digna por grande parte da população dos bairros mais pobres de Curitiba e Região Metropolitana”, descreve o MPM.
Ao lado da ocupação está localizada a empresa Essências, proprietária de um aterro sanitário de grandes proporções. Os moradores da região do Sabará desde 2014 reclamam do cheiro e da poluição local. Desconfiam também do fato de o aterro ficar assustadoramente perto da represa do Passaúna.
Os organizadores do MPM comentam que o atual terreno ocupado já estava recebendo restos de lixo do aterro, devido à superlotação. Imagens feitas na ocupação revelam um verdadeiro rio de chorume que desemboca no rio Barigui. “Há ainda uma pressão muito forte por parte do lixão ‘Essencis’, que há tempos buscava ‘ampliar’ seu território depositando irregularmente lixo tóxico no terreno. Para quem não sabe, a Essencis faz parte do grupo Solvi, citado na operação Lava Jato”, afirma o MPM.
Assustados, os proprietários da região e gestores da Curitiba S/A acionaram a Justiça via a ferramenta do interdito proibitório. Localizado em frente à Sanepar e cercado por terrenos da Curitiba S.A., responsável pela regularização fundiária de empresas na região, o local há muito tempo se encontrava abandonado, segundo a denúncia do movimento. Consta que o proprietário está em falência desde 2009 e que o terreno possui uma série de dívidas de IPTU.
“É mais fácil negociar com a gente do que mandar a polícia tirar a gente daqui”, afirma Silvia, uma das organizadoras do movimento, em assembleia organizada em plena terça-feira de feriado, já de noite, sob uma chuva fina e vento cortante.
Os moradores estão organizados, cadastrados em seus lotes, e o terreno dividido em quatro setores. Todos estão comprometidos a não sair da área ocupada rumo a outro terreno, não destruir árvores nativas e também a participar das assembleias.
Demandas
As novas ocupações do MPM são próximas à ocupação Nova Primavera, organizada desde setembro de 2012. O movimento reivindica a aceleração na efetivação do projeto habitacional Nova Primavera, já negociado e acordado com o poder público municipal, mas que ainda esbarra em trâmites burocráticos.
Por Pedro Carrano
Terra Sem Males