Por Claudia Santiago
Teia Popular
O incêndio que destruiu a coleção do Museu Nacional, no domingo, dia 2, à noite, no Rio de Janeiro, parece ter sido a pá de cal no ânimo de muita gente que vem sofrendo com as tragédias que atingem o estado: atraso no pagamento dos servidores públicos, assassinato da vereadora Marielle Franco, assassinatos nas favelas.
Mesmo assim, dois atos foram realizados ontem (dia 3) na cidade. Pela manhã um grupo protestou contra abandono do Museu pelos que são obrigados a cuidar deles.
À noite, na Cinelândia, muita emoção no ato que reuniu muitos professores universitários e muitos estudantes de todas as idades.
“País sem passado, sem memória e com futuro incerto. Que porcaria!”. Assim desabafou uma jornalista, 57 anos, com passagens por grandes jornais e revistas no eixo Rio-São Paulo”.
“Eu quero ser bombeiro”, falava quase chorando um auxiliar de serviços gerais de 22 anos.
Na manhã seguinte (04.09) uma professora solitária discursava veementemente com dedo em riste apontado para a Câmara dos Vereadores. “Vocês não vão destruir o Rio”. “O Rio de Janeiro é nosso”.
UM MUSEU DE TODOS NÓS
Se existe um lugar democrático no Rio de Janeiro, esse lugar é a Quinta da Boa Vista. Lá tem gente de tudo o que é canto da cidade. Além do palácio que abrigava o Museu, tem o lago para andar de pedalinho, o jardim para fazer pequenique, algodão doce, bolas coloridas, comida barata. E jardim zoológico.
Mesmo quem nunca entrou no Museu, já passou por ele.
E fica na Zona Norte. Trabalhadores fazem as contas de quanto vão gastar com a passagem e partem com a filharada.
Não à toa a Quinta da Boa Vista foi palco de tantos Primeiros de Maio. Se a ideia é ficar perto do povo que trabalha duro e ganha pouco, é só ir para para lá.
NÃO TEM COMO RECUPERAR
o acervo destruído pelo fogo não tem retorno. Acabou o maior museu de História Natural e Antropologia da América Latina. Lá estava o crânio de Luzia, uma brasileira de 11 mil anos. Era o fóssil humano mais antigo já encontrado no Brasil.
Foto: Annelize Tozetto/Terra Sem Males