– Desculpa a demora.
– Tudo bem.
– Não apareceu o seu endereço aqui no programa.
– Pois é. Estou usando há pouco tempo, aprendendo ainda.
– Uber black é mais caro, tá?
– Não sabia.
– O senhor está com pressa?
– Não, só crise de ansiedade.
– Oi?
– Nada, não. Há muito tempo nessa do Uber?
– Duas semanas.
– Conheci vários que estão há menos de um mês.
– Já está cheio de gente. Uma bosta.
– Achei que o Uber era a saída mágica.
– Pois é. E 25% fode a gente, mas dá pra viver. A situação tá uma merda né?
– Uma merda.
– Desemprego foda.
– Governo de merda.
– O que você fazia antes?
– Ainda sou motorista do Samu, em Araucária.
– Conheço o sindicato de lá.
– Massa.
– E você leva os dois trabalhos?
– Trabalho doze por trinta e seis lá. E aqui na hora vaga.
(silêncio)
– Largo da Ordem? Vai sair um pouco?
– Um pouco.
– Está tendo batida do Greca lá.
– Eu vi. Foda.
– Foda.
– Eu nem preciso disso.
– Não precisa o quê?
– Sair. Não saio mais.
– Ah, é?
– Uso o tinder se eu quero transar.
– E rola?
– Fácil.
– E você não tem medo não?
– Do quê?
– De trabalhar à noite?
– De trabalhar à noite?
– Sim. Eu teria.
– Ainda mais eu sendo mulher, né? muita violência. Mas é isso.
– É isso.
– Tem filho?
– Tenho, dois. Ficam na minha mãe o tempo todo.
– E você?
– Uma. Está na mãe também.
– Sim.
– Sim.
– É aqui mesmo, obrigado.
– De nada.
– Esqueci seu nome.
– Nem precisa, está lá no programa.
(risos)
– Se possível dá uma avaliação boa, por favor.
– Pode deixar, eu marco lá as cinco estrelas.
Por Pedro Carrano
Mate, café e letras, crônicas latoinoamericanas