No dia seguinte, gerentes das unidades imprimiram e leram aos seus subordinados, um email da Empresa, no qual a ECT diz que o Acordo Coletivo da Categoria perdeu a validade no dia 1º de agosto – dia da data-base – e que, no caso de os trabalhadores não aceitarem a proposta rebaixada dos Correios, ao final do mês, receberiam somente o que diz a CLT, ou seja, salário e vale transporte. O email foi replicado para o celular dos funcionários, novamente.
Nesse caso, os trabalhadores perderiam o direito ao vale alimentação, auxílio creche entre outros benefícios, pagos para tentar compensar os baixos salários pagos aos ecetistas. Um carteiro ganha em média R$ 1.600 de salário base bruto. O TST havia dado prazo até o dia 9 para os sindicatos se manifestarem e depois prorrogou até o dia 15, a pedido das duas federações que representam os trabalhadores.
A direção da estatal também quis obrigar os funcionários a responder uma sondagem na qual deveriam responder se concordavam com a proposta da empresa. A pesquisa foi feita pelos gestores e pedia identificação e assinatura do trabalhador, num formulário impresso.
Para o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Paraná (SINTCOM-PR), as mensagens têm o objetivo claro de coagir os trabalhadores, além de ferir a Lei, por prática antissindical (Art. 8º da CF e Convenção 98 da OIT), causando dano moral coletivo. “Se antes tínhamos o voto de cabresto, agora estão aplicando a proposta de cabresto, onde o trabalhador é coagido individualmente para aceitar as imposições da Empresa, mesmo que danosas. Os Correios pertencem ao povo brasileiro e aos seus trabalhadores e não a um grupo de políticos entreguistas do patrimônio nacional. É um retrocesso inaceitável em qualquer país que diz fazer parte de uma democracia”, afirmou o secretário geral do sindicato, Marcos Rogério Inocêncio (China).
Correios financiam seminário a favor da reforma trabalhista
ECT aparece como “patrocinador OURO” em site da empresa que realiza o evento
O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Paraná (SINTCOM-PR) protocolou na terça, 7 de agosto, um pedido de informações via Lei de Acesso à Informação (12.527/2011), assim que recebeu a denúncia de que os Correios estão financiando com “patrocínio Ouro” uma jornada de seminários pelo país na defesa e aplicação da reforma trabalhista. É o “Projeto Articulação Política Pelo Emprego – Jornadas Brasileiras de Relações do Trabalho”, realizado pelo Instituto Brasileiro de Ensino e Cultura (IBEC) em parceria com a Câmara dos Deputados e a Secretaria Geral da Presidência da República.
Trata-se de seminários em diversas regiões do país, de 19 de junho a 28 de setembro, com programação fixa e participação de Ministros do Tribunal Superior do Trabalho (TST), incluindo o ex-presidente Ives Gandra Martins Filho, notório defensor das alterações que prejudicam os trabalhadores e favorecem as empresas.
A denúncia chegou à Câmara dos Deputados. A deputada Erika Kokay (PT-DF) afirmou que o deputado Ronaldo Nogueira, presidente da comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara Federal, será formalmente questionado sobre o apoio da comissão aos seminários a favor da Reforma Trabalhista. Kokay é membro da mesma comissão e explica que “a comissão é um colegiado e tem que se posicionar sobre as pautas. Ainda que o presidente negue os dados e ache que a reforma trabalhista modernize a relação, porque a verdade não há modernização, o que há é retrocesso”. A deputada afirma que a posição pessoal do deputado “não pode ser considerada a posição da comissão”, afirmou Kokay.
Ela soube desse encaminhamento por parte de Nogueira após denúncia feita pela Federação das Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-CUT-PR) de que bancos públicos estão patrocinando esses seminários. Com relação aos patrocínios vindo de empresas estatais, a deputada afirma que é ainda mais grave. “Mais grave porque estamos falando de patrocínio de empresas públicas que se negam a negociar respeitosamente com trabalhadores e tem o maior servilismo ou subalternidade de usar dinheiro que deveria ir para crédito social e produtivo, usando esse recurso para construir uma verdadeira enganação da classe trabalhadora”, disse.
*Trabalhadores dos Correios realizam assembleias no dia 14 para decidir se entram em greve*
No dia sete de agosto, data em que os trabalhadores dos Correios de todo o Brasil realizaram assembleias para deflagrar a greve a partir das 22h, o Tribunal Superior do Trabalho, a pedido da direção dos Correios, apresentou uma proposta para que a ECT pagasse a reposição da inflação, medida pelo INPC em 3,68% (de agosto/2017 a julho/2018). As cláusulas do Acordo Coletivo seriam mantidas, mas sem rever o Plano de Saúde, no qual continuam a valer as mesmas regras de cobrança de mensalidade e coparticipação, decididas em março, no julgamento do TST. As cobranças sobre o Plano de Saúde, para titulares e dependentes, já representam 70% de desconto nos salários de muitos trabalhadores, sendo que 16 mil vidas já abandonaram a Postal Saúde e, hoje, dependem exclusivamente do SUS.
Os trabalhadores dos Correios estão em Estado de Greve. Eles pedem 8% de reajuste nos salários e no vale alimentação, além de manutenção dos direitos históricos da categoria, como o auxílio creche e pagamento dos vales durante período de licença médica por acidente de trabalho, direitos que a ECT ameaçou cortar.
Em assembleias a serem realizadas em todo o Paraná e no Brasil, nessa terça, dia 14, eles votam se aceitam a proposta da Empresa ou se iniciam uma greve nacional, no mesmo dia, a partir das 22h. São 5.600 trabalhadores no Paraná e 106 mil em todo o Brasil.
Fonte: Sintcom-PR