Dias corridos. Dias intensos. Dias históricos. Dias ruins, mesmo assim. Dias de rimas pobres. Dias de insegurança. Dias sem poesia. Dias de falta de confiança. Dias de caneta vacilante e escrevendo pouco. Dias de poucos amigos. Dias de casa caindo aos pedaços. Dias de louça acumulando. Dias de pouco sono e madrugadas longas de carro. Dias de pouca bosta. Dias de comida não orgânica e barata. Dias de morte, sua ameaça. Dias de preocupação. Dias de que se foda. Dias de músicas de notas dispersas nalguma caixa de som do bairro. Dias de sentir todas as dores e todos os alívios possíveis que cabem no peito. Dias de respiração em atropelo. Dias de estender algum sentimento na direção de algum lugar. Dias de luta. Dias nas ruas. Dias sem trégua. Dias de anos 1980. Dias de anos 1990. Dias de anos 1960. Dias de mobilizações. Dias coletivos. Dias de tudo junto e misturado. Dias de ausências. Dias de crise. Dias de golpe. Dias de dias. Dias de angústia da geração que sonhou diferente o futuro e a política. Dias de conversas e rancor em lados inconciliáveis. Dias de separação de casais. Dias de solidão preenchida com trabalho morto. Dias não de paz, mas daquele trecho que fala sobre a espada. Dias de seriado progressista na Globo golpista. Dias de trabalho vivo na escassa manhã de domingo. Dias do que não se escreve nas redes sociais, lugar de fala do êxito, da alegria, da autoproclamação. Mas os dias na verdade também têm sido assim.
Por Pedro Carrano
Mate, café e letras, crônicas latinoamericanas
Terra Sem Males