por Manoel Ramires
Pinga-Fogo, Terra Sem Males
Apenas dois deputados federais saíram em defesa de Eduardo Cunha durante a sessão que terminou com a cassação do deputado. Carlos Marun (PMDB-MS) e Edson Moreira (PR-MG) se revezam na tentativa de obstruir a votação. Antigos aliados de Cunha se limitaram a votar contra o processo, mas não se pronunciaram em plenário. São eles Paulinho da Força (SDD) e Marco Feliciano (PSC).
Só 10
Desde a aprovação do parecer no Conselho de Ética, Eduardo Cunha não conseguiu ampliar sua base de defensores. Pelo contrário, foi sendo abandonado voto a voto, parlamentar a parlamentar. Em junho, após o auge da fama, o parecer foi aprovado por 11 votos a 9. No mesmo mês, o recurso do deputado pedindo anulação da votação à Comissão de Constituição e Justiça foi rejeitado por 42 votos a 12. Nessa época, ele já havia sido afastado pelo Supremo Tribunal Federal em outra representação do PSOL e da Rede por 10 a 0.
Os esmagadores 450 votos contra Eduardo Cunha serão capitalizados por muitos políticos e partidos. No entanto, sempre é bom lembrar que a cassação de Eduardo Cunha é resultado da atuação de “meia dúzia” de deputados. Enquanto aliados de Dilma e Cunha/tucanos e demos se entrincheiravam no processo de impeachment, foram os deputados do PSOL Ivan Valente, Luiza Erundina, Chico Alencar e da Rede, Alessandro Molon, que se esforçaram muito pela cassação de Cunha. Todos esses ex-petistas, mostrando como o pragmatismo da sigla perdeu lideranças ideológicas. A esses se somam Jean Wyllys (PSOL), Jandira Feghali (PC do B) e até Aliel Machado (Rede-PR), que foi um dos votos decisivos no Conselho de Ética.
Ao se defender, Eduardo Cunha recorreu a um velho clichê do mundo atual da política brasileira: culpou o PT. Todo político em maus lençóis ou que busca o protagonismo recorre ao mantra para tentar desviar o assunto. É certo que para os petistas e seus aliados, a cassação de Eduardo Cunha era questão de honra. Contudo, de um lado ao outro, concentrar a discussão só na vingança não convence nem criança. No fim das contas, “450 petistas” cassaram Cunha, obrigando o juiz Sérgio Moro a investigá-lo.
De Cunha não se espera metralhadora giratória, mas tiros precisos em seus ex-aliados. Contudo, após ser cassado, a mágoa de Cunha não passou de ressentimento. Ele reafirmou que foi derrubado pelo PT e pela Rede Globo. Também afirmou que o governo federal o traiu ao apoiar Rodrigo Maia (Dem) no lugar de Rogério Rosso (PSD). Questionado, no entanto, não afirmou que Michel Temer o traiu. Se limitou a dizer que vai contar suas histórias em um livro e que não deleta porque não é criminoso. Mais uma vez caberá a Moro, prendendo o ex-deputado e sua família, a missão de saber se a histórias de Cunha derrubaram mais um presidente ou não.
Classe
Mesmo após a queda de seu algoz, Dilma Rousseff não se pronunciou publicamente. Lula também não se declarou. Ah, o PMDB, partido de Cunha, faz de conta que o assunto não é com ele.
