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Das escolhas de encarar a vida sob uma perspectiva de gênero

March 7, 2019 10:57 , by Terra Sem Males - | No one following this article yet.
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Não tem outra forma de celebrar o 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres, se não for para nos juntarmos e ocuparmos as ruas

Paula Zarth Padilha*
Foto: Annelize Tozetto

Dia desses eu estava em processo de terminar a escrita da minha dissertação e resolvi encarar os agradecimentos. Achei que era o momento ideal de fazer um registro bem específico de uma entre tantas particularidades da relação com minha orientadora – que também é mãe – e que me mostrou e demonstrou que seguir essa estrada com Carolina ao lado não é nenhuma especificidade que deva ser superada, tampouco impedimento, ou ainda uma escusa para falhar.

Sei bem que muitas pessoas que acompanham a novela da minha vida admiram, pois muitas também verbalizam isso para mim, minha capacidade de lidar com as demandas (ou melhor, o que parece ser um acúmulo): além de mestranda em fim de percurso e mãe solo de uma filha de 6 anos, sou jornalista em dois turnos, atuo num site independente como voluntária, estou dirigente sindical, dedico duas noites por semana para jogar futsal com a mulherada e muitas vezes compareço em atos de militância e reuniões noturnas ou finais de semana. Bom, também tenho três gatos, um lar para me responsabilizar por essas coisas de alimentação, organização, limpeza e gosto (quem nunca) de sair por aí para dançar sempre que possível.

Gosto de pensar em minha vida, desse jeitinho, como possível de ser realizada por um detalhe que muda tudo: decidi viver, atuar, militar, estudar, pagodear, trabalhar, existir pela perspectiva de gênero. Eu não represento, eu não quero representar, não quero que as mulheres, mães ou não, me enxerguem como uma guerreira, uma mulher maravilha, uma mulher foda. Gosto de pensar que represento uma perspectiva possível para mulheres, como eu, que se tornam mães. Que essa escolha (ou não) da vida muda tudo. Mas não necessariamente muda para impedir progressão na carreira, novos objetivos, novas vontades. Para te manter num casamento sem rumo, numa vida sem felicidade, numa existência para criar uma criança.

Ser mãe, em minha existência, representa uma entre tantas possibilidades, dessa outra maior, estruturante, de ser mulher. A mulher de luta, de resistência, de enfrentamento, nesse mundo capitalista, racista, machista, patriarcal. Em que sobrevivemos, respiramos e coletivamente nos reerguemos, diariamente, para seguir em frente.

Não tem outra forma de celebrar o 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres, se não for para nos juntarmos, ocuparmos as ruas, resgatarmos nossas memórias de luta, defendermos nossos direitos, que são tão inferiores aos nossos deveres, imposições feitas a nós, por construções sociais, por termos nascido mulher. Em 2019, nossa responsabilidade é ainda maior, para que nossas filhas e filhos tenham acesso a um futuro digno e melhor. Permaneceremos juntas, para que as meninas possam estudar e crescer mulheres com mais direitos do que deveres, para que suas escolhas e sua voz sejam respeitadas e que nenhum ato de violência as impeçam de seguir em frente.

Essa é uma responsabilidade de todos nós que acreditamos que uma mulher, como eu, possa tomar as rédeas da própria vida, e que nunca é tarde para isso. Meu nome é Paula, tenho 36 anos, sou uma jornalista em Curitiba que demorou mais de 15 anos para voltar a estudar, mais de 30 para parir, e a partir disso se transformar. Mas essa não precisa necessariamente ser a história, seu gatilho. Toda mulher pode ser o que quiser.

______

 *Paula Zarth Padilha é jornalista em Curitiba, atua no site Terra Sem Males e trabalha para o Instituto Democracia Popular e para a FETEC-CUT-PR. É mestranda no Programa de Estudos de Linguagens da UTFPR e diretora de Ação para a Cidadania do SindijorPR. Texto publicado originalmente no site Porém.net


Source: http://www.terrasemmales.com.br/das-escolhas-de-encarar-a-vida-sob-uma-perspectiva-de-genero/