Por Marcelo Veneri
Terra Sem Males
Foi assim que a estudante Ana Júlia Pires Ribeiro, 16 anos, aluna do Colégio Estadual Senador Manoel Alencar Guimarães em Curitiba/PR (uma das mais de 860 escolas ocupadas contra a MP 746 e a PEC 241), iniciou sua aula de cidadania e criticou a campanha de desmoralização e ofensas contra os estudantes das ocupações.
Tanto Ana Julia, quanto Nicoly Moreira do Nascimento, de 15 anos, aluna do Colégio Estadual Santa Felicidade – mesmo colégio em que morreu o estudante Lucas – ressaltaram que os estudantes das ocupações estão lutando contra o retrocesso e o desmonte no ensino público.
Por pouco mais de 10 minutos, Ana deu uma aula de cidadania, demonstrou conhecimento do porquê os estudantes estão lutando, defendeu a reforma do ensino médio, mas “desde que seja feita com diálogo”.
Os parlamentares, atônitos, não esperavam daquela menina de aparência frágil, uma fala forte, convicta e com embasamento, que apresentou elementos para a compreensão do cenário em que as ocupações estão acontecendo e como estão se estruturando enquanto corpo pensante, e não sendo “doutrinados”, como acusam opositores.
Os estudantes não são massa de manobra, são atores de seus destinos, lutam para que não sejam apenas mão de obra apta a cumprir tarefas e a abaixar a cabeça, mas sim, para que possam pensar livremente.
Dois pesos e duas medidas.
Diferentemente do que ocorrera no dia anterior, em que grupos favoráveis à desocupação estiveram na casa, capitaneados por Adãozinho e seus seguidores, quando houveram insultos e xingamentos aos deputados – sem que houvesse qualquer censura por parte da presidência da casa – os estudantes se portaram de maneira extremamente comportada e respeitosa.
Contido, quase ao final de sua fala, a estudante criticou a forma como vêm sendo tratada a morte do estudante Lucas e desabafou: “vocês são responsáveis pelos jovens, e peço para que olhem para suas mãos: elas estão manchadas de sangue, o sangue do Lucas”.
O presidente da casa, Ademar Traiano (PSDB) interrompeu sua fala, cortando-lhe o microfone e disse:
“aqui ninguém está com as mãos manchadas não!”.
Com simplicidade, ela retrucou:
“Peço desculpas, peço desculpas, mas o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescentes) nos diz que a responsabilidade pelos nossos estudantes é da sociedade, da família e do Estado”,
A juventude dá uma aula de cidadania e nos traz a esperança novamente.