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Entrevista exclusiva com Beto Almeida: “Precisamos fazer mais jornalismo”

15 de Junho de 2015, 14:48 , por Terra Sem Males - | No one following this article yet.
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O jornalista Beto Almeida, no #3ParanaBlogs. Foto: Joka Madruga

No último sábado, 13 de junho, o jornalista Beto Almeida, da Telesur, Brasil de Fato e TV Senado falou em entrevista exclusiva ao Terra Sem Males durante o 3º Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais do Paraná, realizado em Curitiba. Ele acredita que há diferença entre jornalismo e bloguismo e convoca os ativistas digitais a produzir a fonte original da informação. “Não basta comentar o que já foi feito. Não basta dizer que a mídia tradicional é ruim. Isso é muito pouco”.

Confira a entrevista completa:

Terra Sem Males – Qual a importância da atuação dos blogueiros e ativistas digitais para a comunicação popular?

Beto Almeida - Nas redes sociais, não são os blogueiros que estão produzindo a informação. Estão compartilhando. Eu estou chamando para formar uma grande cooperativa nacional para juntar todo mundo para que a gente faça mais jornalismo do que bloguismo. Há uma diferença entre bloguismo e jornalismo. Jornalismo vai atrás da matéria, cria reportagem, cria visão, vai na regularidade. O bloguismo geralmente comenta aquilo que ele recebeu de alguém. Eventualmente o blogueiro vai num determinado local. Ele cumpre uma função muito importante. Mas nós precisamos criar hoje um jornalismo popular nacional libertário na linguagem, na estética, no humor, ou na forma de escrever que seja acessível ao povo. Porque a internet ainda no Brasil não é acessível ao povo. 

Beto Almeida fala sobre democratização da mídia no #3ParanaBlogs. Foto: Joka Madruga

Qual a importância do uso das redes sociais para a comunicação popular?

A internet também hoje é predominantemente dominada pela grande mídia do capital, não há dúvida. Se você analisar o fluxo da informação, nós temos alguma liberdade dentro da internet. É bom frisar: alguma. Você não tem o grande alcance, você não tem o grande blog, e nem você tem a possiblidade de captar a fonte original da informação. Geralmente ela vem de outra fonte. Então as redes sociais hoje reproduzem, compartilham. E 73% do que é compartilhado vem da grande mídia tradicional. 

Nós temos que produzir a fonte original da informação. A matéria prima está na realidade social, na luta do povo. Mas se não houver o olhar jornalístico para produzir e transformar isso em notícia com o viés libertário, nós não estaremos cumprindo o papel que é exigido de nós. Não basta comentar o que já foi feito. Não basta dizer que a mídia tradicional é ruim. Isso é muito pouco. 

Que outras experiências de comunicação estão ocorrendo no mundo?

Mudanças estão acontecendo na Venezuela, no Equador, na Bolívia, na Argentina. Na Grécia, onde os jornalistas demitidos montaram uma cooperativa nacional, lançaram um jornal que já é o jornal de maior circulação de Atenas. Hoje na Grécia a esquerda está no poder. Então mostra a realidade do que nós estamos falando. O novo jornalismo tem que destruir os mitos. Os mitos econômicos, como “você precisa cortar gastos para baixar a inflação”. Isso é mentira. O que o Brasil precisa é investir na produção de matérias primas, de industrialização, de hospitais, de ferrovias, então nós temos é que ampliar os nossos investimentos. O Brasil tem grandes reservas de dólares, 270 bilhões de dólares investidos em títulos americanos a juro zero. Enquanto aqui precisamos construir casas. O jornalismo tem que desvendar esse mistério. O jornalismo tem que ser questionador do começo ao fim senão perde o sentido.

Para Beto Almeida, a comunicação popular tem que produzir conteúdos e não só replicar. Foto: Joka Madruga

Qual a sua atuação na Telesur (TV com sede em Caracas)?

Eu faço parte do diretório da Telesur, a convite do (ex) presidente Hugo Chavez (faleceu em 2013). Quando ele esteve no Brasil, nos anos 2000, eu o procurei lá em Brasília e apresentei a ele uma ideia para a sua proposta de integração latino-americana, que já previa os aspectos comercial e econômico. Teria que ter também uma tradução comunicativa, cultural, informativa. Ele gostou muito dessa sugestão e disse que ia me chamar. Em 2004 ele me convidou a integrar a equipe que ia estruturar o projeto da Telesur. Desde então a gente vem lutando para expandir a Telesur, que vai fazer 10 anos mês que vem, dia 25 de julho, dia do natalício de Simón Bolívar. A Telesur já é uma realidade, dando voz ao setores populares que são vetados, que são calados, criando uma ideia que os povos devem se respeitar.

O que a Telesur tem de diferente dos meios de comunicação do Brasil?

Tudo. Absolutamente tudo. Por exemplo, se você vai mostrar uma realidade sobre a questão energética, a reportagem da Telesur mostra a história, contextualiza. E mostra que esse sempre foi um tema que provocou golpes de estado ou guerras. E que a informação que é escondida é que as guerras são provocadas pela ideia de rapina que os países imperialistas fazem dos países que têm riqueza energética. Então o jornalismo da Telesur tem uma ótica completamente diferente, outra linguagem simples, direta, sem a mistificação, mostrando quem é responsável pela fabricação das guerras para rapinar outros povos que querem apenas ter o direito à soberania sobre o petróleo, como é o caso da Venezuela, do Brasil, da Bolívia. Por isso são atacados.

Durante sua fala Beto Almeida é observado por Palmério Dória, no #3ParanaBlogs. Foto: Joka Madruga

Sobre a Telesur no Brasil - Quando o Requião era governador do Paraná, a Telesur tinha um convênio com a TV Educativa do estado. “Havia um jornal, eram duas horas de emissão em português. Montamos uma redação em português lá em Caracas com jornalistas brasileiros. Mas depois que o Requião saiu, foi tudo destruído”, finaliza Beto Almeida.

Por Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males


Fonte: http://www.terrasemmales.com.br/entrevista-exclusiva-com-beto-almeida-precisamos-fazer-mais-jornalismo/