FN, que diz defender o “pior dos males” nesse segundo turno, também tem posts que incitam ódio a mulheres, judeus e gays
Mariana Franco Ramos
especial para o Terra Sem Males
Movimento de extrema-direita inspirado no fascismo italiano, a Frente Nacionalista (FN) tem ligação também com o PRTB, partido do General Hamilton Mourão (PRTB-RS), que é vice-candidato a presidente da República na chapa encabeçada por Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Na página do grupo no Facebook, há um post defendendo, no segundo turno, o que seria o “menos pior dos males”. “O PRTB foi o único partido a apoiar a FN e tecnicamente ficaríamos com o candidato deles. Mas aos fenaistas deixamos livre a escolha”, escreveram os administradores.
A FN existe desde abril de 2015. Foi criada em Curitiba (PR), com a pretensão de se tornar um partido político e disputar futuramente as eleições. Naquela época, chegou a divulgar a realização de um congresso de fundação para mil pessoas. Conforme matéria publicada na Deutsche Welle, o encontro acabou cancelado após mobilização de entidades de defesa dos direitos humanos, que alertaram a Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (Sesp), o Ministério Público (MP) Estadual e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre o risco de estimular atos de violência. Leia mais aqui
No cartaz de divulgação do evento, as logomarcas da frente, da Rádio Combate, do PRTB de Mourão e Levy Fidelix e do grupo skinhead “Carecas do ABC”, acusado de envolvimento em ataques contra LGBTs (sigla usada para se referir a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) em São Paulo, foram colocadas lado a lado. Haveria ainda a apresentação de bandas ligadas ao movimento, algumas delas conhecidas por incitar ódio a mulheres, judeus e LGBTs. O PRTB e o PSL, sigla de Bolsonaro, contudo, nunca falaram publicamente sobre o assunto.
Entre as propostas destacadas no site e nas redes sociais da FN estão o fim da imigração, o combate ao “perigo comunista”, o ataque ao feminismo “em defesa dos reais interesses da mulher e da sociedade”, a profissionalização das forças armadas, a pena de morte para corruptos e a retomada da autonomia nuclear. Apesar do grupo rejeitar os “rótulos” de nazista ou fascista, fóruns de discussão na internet fazem apologia a líderes como Benito Mussolini, Adolf Hitler e Plínio Salgado, o último fundador da Ação Integralista Brasileira (AIB), de inclinação fascista.
Nazismo e fascismo
O nazismo surgiu depois da Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), quando a Alemanha foi destruída economicamente. O partido alegava que a culpa de todos os problemas da crise seria dos imigrantes, dos comunistas e dos liberais, que “causavam a desordem” e “roubavam” as oportunidades dos “alemães puros”, isto é, pertencentes à raça ariana.
Hitler chegou ao poder em 1933, pelo voto popular. Sob seu comando teve início o Holocausto, um processo de genocídio da população judia e de outras etnias. Mais de seis milhões de pessoas morreram, a maioria delas em campos de concentração, nas câmaras de gás.
O fascismo também surgiu após a Primeira Guerra, mas na Itália, com a liderança de Mussolini. Tem, da mesma forma, tendências autoritárias e anticomunistas. Os regimes fascistas possuem entre as suas principais características a valorização do sentimento de nacionalismo, da proteção do país e da defesa da segurança nacional. Utilizam, ainda, o militarismo e preceitos religiosos como formas de controle e manipulação do povo.
Veja algumas propostas da Frente Nacionalista:
– Retorno da autoridade do professor e da escola;
– Fim de todos os sistemas de cotas nas universidades;
– Incorporação dos povos indígenas à vida nacional: “o estatuto das Áreas Indígenas deve ser revisto para que os brasileiros indígenas se tornem cidadãos participantes da cultura e da economia nacional, e não meros nobres selvagens do mito iluminista”;
– A mulher que optar por não exercer a condição de maternidade terá sua idade e tempo de aposentadoria iguais aos do homem. Consta no site que a FN “ataca o feminismo em defesa dos reais interesses da mulher e da sociedade”;
– Proibição de financiamento bancário para construção e aquisição de residências para famílias de média e alta renda;
– Eliminação do auxílio-reclusão à família do preso;
– Proibição da apologia ao comunismo e ao separatismo;
– Retomada dos programas de autonomia nuclear;
– Profissionalização das forças armadas, visando à criação de um corpo permanente de militares aptos a operar os armamentos modernos;
– Retomada do desenvolvimento da Amazônia Legal, limitando as áreas de conservação ambiental e criando um zoneamento econômico para a retomada do caminho do progresso. “É inadmissível que hoje mais de 40% da área da Amazônia Legal esteja na categoria de unidade de conservação ambiental”.
Confira frases destacadas no site, atualmente desativado, e no Facebook da frente:
“A unidade doutrinária da FN advém da defesa da família como unidade espiritual e econômica da sociedade (teoria distributivista) e de um modelo político de Estado Orgânico, baseado nas representações de classe e grupo social”.
“A FN defende os valores cristãos e o patriotismo como forma de união de todos os brasileiros que acreditam nas potencialidades de nosso país e de nossa gente”.
“Somos contra o movimento LGBT porque tem nos atacado gratuitamente, apenas por defendermos os valores da família tradicional. Somos levados a crer que esse grupo usa os gays para impor seus objetivos políticos”;
“O brasileiro hoje paga um preço muito alto por confiar em pessoas sem escrúpulos, apátridas que lançam sobre a Pátria a terrível chaga vermelha, que nos quer escravizar e destruir todos os valores e tradições do nosso povo”.
“A FN diz não as drogas pesadas e leves. A droga leve não passa de um trampolim para diversos outros problemas físicos, psicológicos e sociais”.
“Só o nacionalismo é capaz de salvar-nos de tanta injúria, blasfêmia e traição”
“A FN é a materialização dos piores pesadelos dos políticos profissionais da esquerda e da direita, simplesmente porque no modelo de Estado Orgânico o cidadão brasileiro será representado diretamente por suas associações de classe e grupo no congresso, eliminando os intermediários”.
“Somos contra a perversão pós-moderna que reside no conceito de diversidade. A real diversidade a ser levada em conta no Brasil é sua vastidão etno-cultural, cujas matrizes devem ser buscadas no sentido de definirmos nossa identidade e forjarmos o nosso logos nacional”.
Confira músicas de bandas que participariam do Congresso e outras divulgadas pela FN:
Atacando LGBTs, mulheres e o Estado de Israel
https://www.youtube.com/watch?v=aBV9r7AHZXI
Contrárias aos imigrantes
https://www.youtube.com/watch?v=Q0MMbP-alpA
Incitando a violência
https://www.youtube.com/watch?v=IvW6IVSXgNo