Roger Pereira
Terra Sem Males
Salve, salve, galera, atendendo convite dos editores do Terra Sem Males, ocuparei esse espaço para contar tudo o que vejo, sinto e percebo ali da cadeira H40, no setor 118 – Getúlio Vargas Inferior, na nossa espetacular Arena da Baixada. Lugar que frequento semanalmente desde 1999, onde fiz grandes amigos com quem costumo debater os rumos do nosso Clube Atlético Paranaense.
O primeiro pitaco nesta coluna será sobre a surpreendente, mas muito bem-vinda, mudança de posição de nossa diretoria sobre três aspectos fundamentais da vida de nosso clube: o time de futebol, a relação com a torcida e relação com a imprensa. Visto como um visionário por muitos e um teimoso por outros, nosso homem forte na administração do clube, Mário Celso Petraglia, havia adotado, nos últimos anos, algumas posições polêmicas que influenciaram diretamente nos resultados esportivos e econômicos do clube: a utilização da equipe sub-23 no Campeonato Paranaense, a majoração do preço dos ingressos e a divisão do estádio em setores mais “nobres” e a restrição do trabalho da imprensa, proibindo entrevistas e disponibilizando informações apenas através de seus canais oficiais.
Nenhuma das medidas é novidade no futebol mundial, há vários clubes que mesclam elencos de acordo com a importância da competição, há clubes que transformaram o conceito de torcedor em consumidor, majorando os preços de seus ingressos para, intencionalmente, só atrair espectadores com maior poder aquisitivo e conseguir, assim, vender outros produtos oficiais além do ingresso da partida e há também experiências bem sucedidas de equipes europeias com seus próprios veículos de comunicação, que vendem imagens, entrevistas e todo o tipo de material para os demais órgãos de imprensa. Mas tudo isso ainda está (que bom), muito distante do futebol brasileiro.
Futebol é esporte de massa. É, e continuará sendo, o povão o grande responsável pela festa, pelos estádios cheios e pelas mais comoventes histórias de fanatismo. Majorar o preço dos ingressos, criar espaços Vips, camarotes exclusivos e vários outros benefícios caros para torcedores “nobres” só resultou em estádio vazio e torcida insatisfeita. Poupar o time principal do campeonato estadual para priorizar as competições nacionais e internacionais só seria válido se entrássemos nessas competições para ganhar, ou, ao menos, para disputar de igual para igual com os favoritos, o que só aconteceu num lampejo de sorte (quem acreditaria que Marcelo e Ederson iam jogar aquela barbaridade que jogaram?) em 2013. Mas o resultado prático desta política é uma fila de sete anos sem o Atlético erguer uma taça.
Produzir seu próprio conteúdo de mídia, restringir o trabalho da imprensa e impor seu material também só faria sentido se o Atlético fosse A grande potência do futebol nacional, ou, ao menos, se essa fosse a política de boa parte dessas potências. Sozinho num universo de dezenas de clubes com igual ou maior importância para a mídia, a postura só serviu para tornar o clube um dos mais antipáticos do Brasil. Talvez o susto na última eleição, em que venceu de maneira bastante apertada, mostrando o descontentamento de quase metade dos sócios com a forma como o clube vem sendo conduzido possa ser o grande responsável pelas mudanças que estamos presenciando neste início de temporada: o time principal (e com uma quantidade de reforços de bom nível que não víamos há anos) está disputando o estadual para ganhar; a imprensa voltou a ter acesso aos treinamentos e os ingressos, se não baixaram, pelo menos foram todos equalizados ao menor valor anteriormente cobrados.
Dentro das teimosias (ou visão de futuro) de nossa administração, ficou apenas a intransigente posição de trocar a grama de nosso estádio por grama sintética. Mas isso é tema para uma outra coluna. Olho nele.
Dentro de sua megalomania, Mário Celso Petraglia prometeu o Atlético campeão do mundo em um prazo de 10 anos. É bem difícil de acreditar, mas em 1995, ao assumir um destruído clube de segunda divisão, ele prometeu ser campeão brasileiro em igual período e o clube atingiu o feito em 2001. De tudo que é preciso ser feito para que esse sonho improvável se realize, algo já começou a acontecer: o goleiro Roan Pereira transferiu-se do Trieste para o sub-11 do Furacão. Será ele o goleiro do título mundial de 2026?? A coincidência de sobrenome com este colunista é apenas um detalhe…