Por Roger Pereira
Terra Sem Males
Há duas semanas, abordei, em minha estreia neste espaço, a volta atrás de nosso presidente, hoje do conselho deliberativo, Mário Celso Petraglia, em algumas de suas teimosias que marcaram os últimos anos do Furacão, como a utilização de um time B no Estadual, a elitização do estádio e as restrições ao trabalho da imprensa. Mas de uma de suas teimosias, ou ousadias, ele não abriu mão: ser o primeiro clube da primeira divisão do futebol brasileiro a implantar piso de grama sintética em seu estádio (O São José, de Porto Alegre, já adotou esse gramado).
Na próxima quarta-feira, diante do Criciúma, pela Copa Sul-Minas-Rio, ou Primeira Liga, o Furacão estreará o novo piso, ainda em meio a muitas dúvidas: o campo terá qualidade? A velocidade da bola muda? A maneira de se jogar muda? O campo artificial causa mais lesões aos jogadores? Futebol em grama sintética é igual a futebol de campo? Liberada pela Fifa em 2001, a grama sintética ainda não caiu no gosto dos principais clubes do futebol mundial, mas já é bastante usada em países árabes, Estados Unidos México e Canadá.
Algumas competições de seleções de base já foram realizadas sobre o piso artificial e a última Copa do Mundo de futebol feminino, ano passado, no Canadá também ocorreu neste tipo de piso. No entanto, a reclamação das atletas do futebol feminino e uma série de fotos por elas divulgadas sobre cortes, ralados e ferimentos em seus corpos por conta da grama aumentam as dúvidas quanto a possíveis prejuízos para a saúde dos jogadores. Há estudos, também que apontam o maior índice de lesões de joelho para quem joga em gramado artificial, em comparação com a grama natural.
A dificuldade do Atlético em manter seu gramado em condições é histórica, a intenção de utilizar a Arena da Baixada, de fato, como uma arena multiuso, com espetáculos que vão muito além do futebol, agrava essa situação. Quem não lembra da vergonha que ficou a grama de nosso caldeirão após o show de Rod Stewart, no ano passado? Esses fatores tornariam lógica a opção pela grama sintética em nosso estádio, mas será que a tecnologia (a promessa da diretoria é que trata-se de um piso de última geração) já nos permite uma grama artificial que simule perfeitamente as condições da grama de verdade? É muito legal ter uma arena multiuso, mas o futebol sempre será a atração principal do Joaquim Américo. Assim, a experiência da grama sintética parece ser válida, mas tem que vir acompanhada de uma análise criteriosa sobre eventuais prejuízos à qualidade do futebol praticado em nosso estádio e de um possível aumento no número de lesões de nossos jogadores.
Atento a isso, nossa diretoria precisa estar preparada para, se necessário, mais uma vez, voltar atrás em seus “pensamentos avançados”, sem teimosia ou intransigência.