Fechamento da Praça de Alimentação deixa nativos sem renda e turistas sem estrutura
A lagosta servida no bar da Kaká, a caipirinha de maracujá do bar Kongue e o pastel de camarão do bar da Lila. Essas são algumas das delícias que os visitantes da Vila de Encantadas, na Ilha do Mel, não vão encontrar nesta temporada. A Praça de Alimentação do Mar de Fora, com capacidade para 250 pessoas e fonte de renda para oito famílias, foi interditada pelo poder público e corre o risco de não ser reaberta.
Inaugurada em 1999, a Praça foi construída pelo governo do Estado para realocar famílias de nativas e nativos proprietários de comércio na beira daquela praia desde os anos 80. Em 2018, depois de uma fiscalização da Prefeitura de Paranaguá, foi constatado que alguns dos quiosques estavam funcionando em desacordo com a legislação.
Em meio à correria das proprietárias e proprietários para se adequar às normas e reabrir a Praça, os representantes do Ministério Público – MP – mudaram o entendimento. De acordo com o MP, a Praça não seria mais aberta devido ao vencimento do termo de concessão de uso do local, que vigia até 2009, dez anos após a inauguração.
Depressão – O fechamento da Praça atingiu em cheio o orçamento das oito famílias que há quase 20 anos trabalhavam no local. Juliano Agostinho, 29 anos, cresceu ajudando os pais em um dos bares da Praça. Com preocupação ele conta como o seu pai, Airton Agostinho, mais conhecido como Kongue, tem enfrentado a situação.
Juliano e seu pai tentam minimizar os impactos do fechamento da Praça com a pesca artesanal (Foto: Marcio Mittelbach)
“O pai parece que vive em uma depressão. Ele até tem pescado, mas a pesca aqui na Ilha já não é mais como antes, não dá para pagar as contas”, conta Juliano, que está se virando com fretes náuticos para manter o sustento da família.
Sobre a postura do Estado de fechar a Praça sem aviso prévio, Juliano logo dispara. “O bar da Praça não veio de graça para nós. Eu era pequeno, mas lembro dos bares lá na beira praia, lembro quanto a gente ralava para bem atender os turistas naquela época em que tudo era mais difícil”, conta o jovem sem esconder a revolta contra o poder público.
Turistas – Mas não são só os proprietários dos bares que lamentam o fechamento da Praça. A reclamação também vem dos turistas, que não contam mais com a única estrutura que existia no paradisíaco Mar de Fora.
Paulo Isidoro, 55 anos, morador de São Paulo e frequentador da Ilha desde 1988, quando os bares eram na beira do mar, também se queixa da decisão. “Vejo o fechamento com muita tristeza. Os moradores ficam sem renda e os visitantes ficam sem lugar para comer, descansar e até usar o banheiro, já que lá é totalmente afastado”, explica o veranista.
Os bares na orla do Mar de Fora em janeiro de 1995 (Foto: arquivo pessoal)
Disputa judicial – Embora a solução para o caso ainda pareça distante, Ricardo Furlan, advogado que representa sete das oito famílias envolvidas, acredita que existem argumentos suficientes para mudar o rumo dessa história. “A Praça foi construída com o objetivo de dar melhores condições para quem tinha comércio no Mar de Fora. Esse era, inclusive, o discurso das autoridades na época”, conta o advogado para mostrar quanto é contraditória a retirada das famílias do local.
Furlan ressalta ainda a omissão do poder público diante do impasse. “Em 2010 não só houve tratativas de renovação como havia parecer favorável do poder público, que foi conivente com a não solução do assunto na época adequada”, argumenta o representante legal das famílias.
Privatização – Em sua manifestação mais recente sobre o assunto, o Instituto Ambiental do Paraná – IAP – órgão que administra a Ilha do Mel, se colocou contrário à renovação. A alegação era que tinha planos para dar uma destinação diferente para o local. O Instituto não deu detalhes sobre essa nova destinação.
Ao que tudo indica, a intenção do IAP é integrar as instalações da Praça de Alimentação a um projeto de repasse da administração daquele Parque Estadual à iniciativa privada. Algo que já ocorre nos parques estaduais das Cataratas do Iguaçu e Vila Velha.
Campanha – Em meio à intransigência das autoridades, em especial do Ministério Público, proprietários, trabalhadores e visitantes passaram a apostar na pressão popular para a reabertura da Praça de Alimentação do Mar de Fora. Além de uma campanha das rede e mídias sociais, os moradores organizaram um abaixo assinado online.
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Por Marcio Mittelbach
Terra Sem males