Coordenador do MST explica que é preciso entender elementos da conjuntura internacional que atuam no país e os desafios e os instrumentos de luta da classe trabalhadora para conquistar o objetivo de construir um projeto político para o país com hegemonia popular
Durante a Plenária Estadual do Congresso do Povo, realizada em Curitiba na última sexta-feira, 08 de junho, durante a 17ª Jornada de Agroecologia, Neuri Rosseto, um dos coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) elencou elementos internacionais que influenciam na conjuntura do país e traçou objetivos que devem ser percorridos pela classe trabalhadora urbana e rural para a concretização de um projeto político para o país com soberania popular.
As características do cenário internacional são permeadas pela crise do capitalismo, que é prolongada e profunda, mas estrutural e resultante do desenvolvimento desse sistema de governo, em que os países de periferia pagam o custo mais alto dessa crise. Internacionalmente, há também a hegemonia do capital financeiro, em que o lucro foi deslocado da produção para o rentismo, com aprofundamento da exploração da mão de obra e dos recursos naturais. E o mundo também passa pela disputa de qual país tem a hegemonia do planeta, em que a China ganhou força com a globalização, configurando uma guerra entre mercado e os armamentos dos Estados Unidos. “Esses dois países disputam também o apoio de países de periferia para consolidação da hegemonia e esses elementos causam instabilidade no mundo todo”, situou Rosseto.
Ele explica que as três saídas sinalizadas pelo capitalismo para resolver o impasse incluem restringir os espaços democráticos para a população; o aprofundamento de políticas neoliberais; e a apropriação de recursos naturais. Esse cenário inclui as mudanças aqui no Brasil, como as reformas impostas que penalizam os trabalhadores, como a trabalhista, que diminui o custo da mão de obra para aumento do lucro, mas não aumenta o emprego formal; e a criação de facilidades para a concentração de renda e riqueza. “Essas saídas do capitalismo não atendem as necessidades da população, somente atendem ao capital”, afirma. Nesse cenário também estão inseridas as guerras regionais como incremento da economia mundial. Rosseto explica que existe o viés do lucro em destruir países e na disputa pela hegemonia: destruir a Síria enfraquece a Rússia e dá lucro para empresas de armamentos. “É uma sociedade organizada pela barbárie, com valores no individualismo, no consumismo e na competição e é esse o Brasil que eles querem. O que vivemos hoje no Brasil não está deslocado desse cenário internacional”, afirmou.
O desafios para a classe trabalhadora é que essa estruturação do capitalismo internacional, que atuou no golpe de 2016, com a queda da presidenta Dilma, que permanece com a manutenção da prisão política de Lula, culminou no enfraquecimento das categorias e também da esquerda. Rosseto afirmou que é preciso a batalha de ideias junto à população, com o envolvimento do povo na construção desse projeto político de país com hegemonia popular. “É preciso também capacidade de apresentar propostas e de luta por essas ideias, com mobilização”, diz. Esse projeto inclui vida digna para todos, igualdade e diversidade, que os bens sejam comuns a todos, com democracia, participação e autonomia da população, e soberania popular.
“O Brasil que Queremos não é o da Globo, é o dos movimentos populares”, disse, referindo-se à campanha midiática protagonizada pela emissora. “A diferença é que eles abordam direitos individuais, mantém os problemas isolados, sem relacionar com as causas, com o contexto e qual a saída para resolver. Porque a solução mexe nos interesses deles. A democracia mexe no poder do monopólio deles. Não querem mexer nas questões estruturais”, afirmou, relatando sobre como as contribuições da população ao enviarem vídeos são narradas pela Globo. “Queremos que o projeto político desse país seja uma construção popular organizada e fruto da mobilização para que o povo se sinta sujeito deste projeto”, define. “Queremos um mundo melhor e uma sociedade melhor para todos e não para poucos. É preciso mexer na estrutura que concentra poder, riquezas e privilégios na mão de uma minoria”. Para os movimentos populares que constroem o Congresso do Povo, um projeto político de país com hegemonia popular depende da capacidade da classe trabalhadora em elaborar essa proposta, se unir em torno dela e se mobilizar na luta para que se concretize.
Saiba mais: Plenária do Congresso do Povo organiza a luta durante Jornada de Agroecologia
Por Paula Zarth Padilha
FETEC-CUT-PR