Por Manoel Ramires
Terra Sem Males
Foto divulgada pela Prefeitura de São Paulo
A posse de novos prefeitos traz um novo fôlego às administrações municipais. Elas prometem oxigenar ideias e comportamentos. É hora também de implementar propostas de campanha e tentar – de cara – imprimir uma marca ao seu mandato. Com uma semana de posse, no entanto, já é possível observar que nesse país boas ideias de gestões passadas são eliminadas e que os prefeitos preferem mais os “likes” (antigos flashes) do que o trabalho árduo de planejamento e decisões. Mesmo assim, eles ainda prazo de validade. 100 dias é o tempo tradicional que a imprensa e a sociedade dão aos novos gestores para serem cobrados efetivamente. Restam apenas 90.
Dória, me engana que eu gosto
Disparado, o prefeito de São Paulo é o que mais se moveu nesta primeira semana de gestor público. Contudo, suas ações mais parecem prolongamento do programa eleitoral do que ação de prefeito. João Dória Jr não está errado. Ele conta com apoio da imprensa que, em boa parte, repercute seu espetáculo sem julgar a qualidade. Por trás disso, é bom se observar, Dória tem cumprido a risca o projeto pelo qual se elegeu.
O caso emblemático disso é ele vestir-se de gari para varrer as ruas. A demagogia da roupa/fantasia feita, inclusive por alfaiate, não esconde que a grande intenção é a higienização da pobreza. Dória reedita políticas de maquiagem das ruas e das pessoas em situação de rua enquanto amplia a terceirização da conservação da cidade. A confirmação emblemática disso é o cercadinho que fez na ponte 9 de julho – reaberta para carros – para esconder os pobres dos olhos de gente grã-fina (ou nem tanto) que passa pelo local, como ele mesmo. A questão é que vai faltar cerca para esconder toda a pobreza de São Paulo. “Mas o que o preocupa é apenas a vista do centro e de áreas nobres”. Mesmo assim, não dá para passar quatro anos “varrendo a sujeira” para detrás do tapume.
De BH para Almirante Tamandaré
O que a capital mineira tem em comum com a cidade paranaense? Novos prefeitos que começam legislando em causa própria. Em Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil, “ aquele que rouba, mas não recebe propina”, assinou decreto legalizando a utilização da frota municipal e de luxo nos fins de semana e fora dos limites do município. Como na velha política, ele se apropria do estado sem cerimônia, afinal, “o voto lhe concedeu esse direito”.
Já em Almirante Tamandaré, o prefeito “Gelson Colodel (PMDB), revogou a lei que reduzia em 20% o salário do prefeito, do vice e dos secretários municipais. Essa foi a primeira medida adotada pelo prefeito eleito”, informa o Paraná Portal. Ou seja, o gestor corrige uma medida populista – congelamento de salários para fazer economia – da gestão anterior com uma medida personalista. Mas, como não podia deixar de ser, o prefeito afirma que reduziu número de secretarias e comissionados, trazendo economia de 50%. Economia essa que sai do cofre público justamente para crescer a conta corrente do fresquinho gestor.
Da cultura sem prefeito
Dos novos prefeitos com velhas práticas, se destaca o prefeito de Curitiba, Rafael Greca. Vítima de uma tromboembolia pulmonar, ele tomou posse, mas não assumiu de fato. Por estar hospitalizado, talvez não seja cobrado pelas curtas decisões que tem tomado. Como é o caso do cancelamento da Oficina de Música. Após 35 anos, essa é a primeira vez que ela não é realizada. Curiosamente, sob o argumento que o recurso será mais bem empregado em saúde pública. No entanto, o prefeito Rafael Greca tem se tratado em hospital particular. Resta saber se, quando sair recuperado, a conta será paga pelo bolso do cidadão Greca ou pelo SUS.