Ir para o conteúdo

Terra Sem Males

Voltar a Blog
Tela cheia Sugerir um artigo

O desafio de qualificar a classe trabalhadora 

16 de Novembro de 2017, 10:59 , por Terra Sem Males - | No one following this article yet.
Visualizado 52 vezes

Em tempos de agenda política pautada pelo mercado financeiro, nunca se viu uma frase tão atual quanto “a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto” – Darcy Ribeiro, antropólogo, educador, escritor e político brasileiro

Quando dirigentes do Sindimovec foram até a Agência do Trabalhador de Campo Largo discutir políticas voltadas à qualificação profissional, surgiu também à necessidade de aprofundar o assunto. Para a entidade que defende os trabalhadores metalúrgicos de Campo Largo, é preciso o envolvimento de todas as partes, desde trabalhadores, empregadores e administração pública, na construção de novas perspectivas educacionais.

Esta entrevista é com João Madureira – diretor geral do Instituto Federal do Paraná (Campus Campo Largo), professor da rede federal de educação, há 25 anos; sobre qualificação profissional da classe trabalhadora. 

Sobre a profissionalização da classe trabalhadora em Campo Largo, qual o trabalho que o Instituto Federal desenvolve? 

João Madureira: Os Institutos Federais e nós, do Instituto de Campo Largo, defendemos uma nova visão de política pública e de qualificação profissional, que se inicia a partir da criação dessas entidades, em 2008. É isso que a gente vem tentando construir e contribuir, aqui na cidade, através da oferta de formação profissional qualificada e integral, para os filhos e filhas da classe trabalhadora. O objetivo é fazer da qualificação profissional um instrumento de emancipação e de empoderamento. Inclusive no sentido de disputar espaço não só profissional, mas como sujeito dessa relação desigual de capital/trabalho. Chamamos essa formação de omnilateral, que garante condições para que o trabalhador se aproprie dos fundamentos, da técnica, do saber, para construir sua autonomia e a sua emancipação. 

Com a sua experiência no mundo da educação e do trabalho, como você define o perfil dos atuais profissionais?  

JM: Com a criação dos institutos federais e de outras escolas técnicas, que procuraram dar uma nova visão para a educação profissional, pudemos observar que, em relação aos jovens, a gente precisa considerar a transformação do próprio sistema produtivo, ao longo das últimas décadas. As próprias mudanças de alguns paradigmas, na formação, trazem para dentro da escola a necessidade de repensar a formação profissional, no sentido de que ela promova um contato, uma formação, mais consistente desse trabalhador, para que ele dê conta também das novas tecnologias e das transformações tecnológicas. 

Como você acha que a reforma trabalhista e a da previdência influenciam na procura por qualificação profissional? 

JM: Essas reformas vêm com um discurso da chamada modernidade. “Porque o mundo evoluiu, então nós temos que modernizar as relações de trabalho”. Mas isto é um engodo. Isto é para enganar os trabalhadores, porque essas poucas conquistas, como a CLT, são conquistas que procuram garantir os direitos dos trabalhadores. Num momento em que os direitos dos trabalhadores são obstáculos para a ganância, o aumentar dos lucros e as garantias de manutenção da estrutura hegemônica, todo esse discurso representa uma forma de opressão e de se exploração. 

Há uma preocupação, do Instituto, com os impactos que virão com as mudanças nas relações de trabalho? 

JM: Há sim. Pois no momento em que se permite a terceirização da atividade fim, que considero a questão mais grave da reforma trabalhista, você está dizendo que não necessariamente eu vou ter que investir num trabalhador. Desfaz-se a perspectiva de carreira, mesmo dentro do setor privado, você constrói uma carreira. E é justamente o oposto do que defendemos, que é uma qualificação onde o trabalhador possa galgar novos postos de trabalho, visando inclusive uma melhoria salaria. Com a terceirização da atividade fim, o trabalhador vai ser obrigado a saber um pouco de tudo – “hoje eu vou ser contratado aqui amanhã vou ser contratado ali”; fará com que surja um impacto na qualificação e formação profissional, o que é um grande perigo. 

Por Regis Luís Cardoso


Fonte: http://www.terrasemmales.com.br/o-desafio-de-qualificar-a-classe-trabalhadora/