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Paraopeba, mais um rio assassinado pela mineração

March 29, 2019 11:29 , von Terra Sem Males - | No one following this article yet.
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Dourado, surubim (em algumas regiões é conhecido como pintado), mandi, corvina, curimbatá e tambaqui são algumas das espécies nativas de peixes na bacia do Rio Paraopeba, que cobre 48 cidades mineiras. São mais de 1,3 milhões de pessoas que dependem do rio. Ele nasce em Cristiano Otoni-MG e tem sua foz na represa de Três Marias, no município de Felixlândia-MG.

Toda esta riqueza natural se foi. Não há mais peixes. A água não pode mais ser usada. Os animais estão morrendo ou migrando para outros lugares. “O rio morreu”, chora um jovem pataxó.
A causa da morte? Ganância. Por causa da mineração desenfreada, sem segurança e sem controle mais um rio foi assassinado.

Confira abaixo uma reportagem fotográfica de Joka Madruga que visitou algumas comunidades e cidades por onde o Paraopeba passa.


Sebastião Feliz Camilo, 63 anos, mora no distrito Córrego do Feijão, em Brumadinho, onde houve o rompimento de uma barragem que matou centenas de pessoas. Ele vivenciou toda a descida da lama tóxica da Vale. Teve um papel importante, pois salvou uma mulher e o sobrinho dela do meio da lama, com a ajuda de um vizinho.

Seo Sebastião, como é conhecido, estava na varanda quando ouviu o estrondo do rompimento. De imediato ele desceu para a beira de um barranco próximo de onde vive. “Sentei aqui e fiquei olhando os ‘trem’ descendo. Não era laminha pouca não, era lama mesmo. Mais de dois metros de altura”, relata. O trem não é só uma expressão mineira, realmente havia um com vagões no local e que foi levado pela enxurrada.

Seo Sebastião voltou para sua casa, uns 200 metros de onde presenciou o ocorrido. Nisto ele ouve os gritos na vizinha e desce para ver o que era. Ao chegar ele depara com o pé de uma criança para fora da lama. “Achei um pezinho e depois achei o outro, me agarrei num fio de arame e o puxei. Ele estava embaixo da tia”, narra com a mão no rosto. Tanto a mulher como a criança se limparam em sua casa. Com um olhar profundo e triste revela que tem noites de insônia por causa de tudo que viu.

Parque da Cachoeira é um distrito de Brumadinho-MG e foi o segundo local mais atingido pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão. Aproximadamente 25 casas foram totalmente destruídas e a lama atingiu parcialmente outras residências. Os moradores reivindicam que a Vale pague o aluguel dos desalojados e outras despesas que as famílias tenham por causa do crime cometido.


A sede do município de Brumadinho-MG não foi atingida com destruição e lama pelas ruas, mas a cidade perdeu dezenas de moradores que morreram soterrados pela lama tóxica da Vale e o rio Paraopeba. É difícil encontrar alguém que não tenha um parente, amigo ou conhecido que perdeu a vida por causa da ganância da empresa.


Pires é um bairro de Brumadinho-MG por onde passa o rio Paraopeba. O local foi atingido porque os moradores não podem mais usar água do rio, nem plantarem. Mas o maior problema é que os que ali vivem correm o risco de serem atingidos novamente. Segundo os moradores a Vale tem um projeto de comprar propriedades no bairro para colocarem a lama que irão tirar do rio.


Tejuco é um distrito de Brumadinho-MG por onde passou a lama tóxica. Assim como nas demais localidades, a população vive a angústia de perderem trabalho já que muitos dependem da agricultura, especialmente hortaliças.


Lucilene de Lourdes Ferreira vivia com Emerson José da Silva Augusto, no distrito Aranha, que está desaparecido até esta publicação. Ele trabalhava para uma empresa terceirizada para a Vale e era ajudante geral. Eles estavam juntos há 5 anos. Emerson não era o pai biológico dos filhos de Lucilene, mas os tratava como se fosse. Ela clama por justiça e aguarda o corpo ser encontrado para dar um enterro digno para seu companheiro.

“Tinha que pegar eles (os donos da Vale) e esfregar a cara deles na lama. Este dinheiro aí não vai comprar nossa dor. Os trabalhadores estavam trabalhando para enriquecer mais ainda eles” desabafa.


Mário Campos-MG é uma cidade vizinha a Brumadinho-MG por onde passa o rio Paraopeba. O município era um dos maiores produtores de hortaliças de Minas Gerais. ‘Era’ porque depois da contaminação do rio a produtividade caiu e as vendas também. Os produtores reclamam da desvalorização de seus produtos.

A moradora Claudia Regina e sua família, além da horta, alugavam casas para veraneio e festas. “Tínhamos água em abundância. As pessoas vinham passar o fim de semana aqui. Agora não alugam mais, pois tem medo da água”, conta.

Alguns comerciantes de Brumadinho, na inocência de tranquilizar o consumidor, já dizem que as frutas e verduras não são de Mário Campos e sim de outras regiões.

A falta de água potável tem sido um grande problema também.

“O rio é nossa vida. É nosso ente querido. E quando um ente querido morre, ele não volta”, desabafa o jovem Aracuanã Pataxó, sobrinho do cacique.

Para os Pataxós, o rio é sagrado. Era onde eles iam tomar banho, pescar e davam água para os animais. Tiravam dele somente o necessário para o sustento da aldeia. Agora ficaram na incerteza do futuro, mas sabendo que a resistência à ganância das empresas será uma grande luta.

Uma grande preocupação deles é com relação aos animais predadores, em especial onças pardas e pretas que existem na região. Por causa das caças estarem sumindo da região por não terem mais o rio para beber água e os que sobreviveram estarem migrando para outros lugares, os felinos estão se aproximando cada vez mais da aldeia, onde vivem 27 famílias com várias crianças. Um dia antes de visitarmos o local foram avistadas três onças a uns 100 metros da tribo. Curiosamente, quando voltávamos para a sede do MAB – Movimento dos atingidos por Barragem – antes de sair da reserva, vimos uma onça-preta cruzar a estrada e entrar na floresta.

“Queremos justiça”, finaliza Aracuanã.

A festa das águas no dia 5 de outubro não mais acontecerá nesta comunidade e já foi transferida para outro local, devido as condições poluentes do rio.

Os moradores ribeirinhos em Betim-MG, reclamam do descaso da Vale com o abastecimento de água. Segundo eles as cisternas enviadas não são do tamanho adequado, é duvidosa a qualidade da água e querem que saia dos caminhões pipa direto para as caixas d’água que devem ser instaladas diretamente na casa dos atingidos, como nas demais localidades. Há, ainda, a falta de trabalho por conta da lama tóxica.

Em uma audiência na Câmara de Vereadores os funcionários da Vale disseram que iriam corrigir estes problemas.

De Brumadinho-MG a Pompeu-MG e Felixlândia-MG são aproximadamente 200km. O rio Paraopeba passa pelos últimos dois municípios. Ambos fizeram fortes investimentos na piscicultura incentivando produtores na cultura da tilápia em tanque-rede. Muitos investiram em equipamentos, peixes e ração. A produção de leite também poderá ser afetada, já que muitas propriedades de gado leiteiro dependem da água do rio que hoje está contaminado.

Em Morada Nova de Minas-MG, cerca de 300km de Brumadinho-MG, existem mais de mil pescadores e pescadoras. O município já faz parte do lago da Usina Hidrelétrica de Três Marias, no rio São Francisco. Todos eles estão temerosos com a possível contaminação e por causa disto terem que parar por completo o ganha pão. Mas parte da crise já chegou até eles. Antes vendiam o quilo do peixe até a R$12,00. Agora vendem a R$4,00. Reflexo do medo dos consumidores de várias partes do Brasil para onde exportam.

O município de Três Marias-MG está há 300km de Brumadinho-MG. Assim como Morada Nova de Minas há uma grande quantidade de pescadores que poderão perder trabalho. Porém, não é só a paralisação da atividade pesqueira que preocupa. A cidade é também um polo turístico por causa da barragem da Usina Hidrelétrica Três Marias, onde têm pesca esportiva e balneários que atraem muitos turistas da região e estados vizinhos.


Quelle: http://www.terrasemmales.com.br/paraopeba-mais-um-rio-assassinado-pela-mineracao/