87% delas têm saúde afetada pelo ambiente profissional. Dados serão apresentados em evento na UFPR nesta quinta (23)
Quase 70% das agentes penitenciárias do Paraná se consideram insatisfeitas com suas condições de trabalho. Os dados são da pesquisa que será divulgada na próxima quinta-feira (23) durante o 1º Encontro Estadual das Agentes Penitenciárias do Paraná, realizado pelo Sindicato da categoria, o SINDARSPEN.
O perfil das 365 agentes que atuam nas 33 unidades penais do Paraná também é revelado pela pesquisa: mais da metade tem entre 31 e 40 anos, 68% são mães, 80% têm curso superior completo e mais de 90% trabalha exclusivamente no sistema penitenciário.
Apesar do elevado nível de entrega ao trabalho e de capacitação adquirido fora do sistema, 59% delas se consideram insatisfeitas com a autonomia da tomada de decisões; 75% se dizem insatisfeitas com a quantidade de mulheres que ocupam espaços de comando no sistema penitenciário; e 90% estão insatisfeitas com a capacitação que recebem do Estado para a execução de suas funções.
No Paraná existem três unidades destinadas para mulheres condenadas: a Penitenciária Feminina de Piraquara (PFP), o Centro de Reintegração Social Feminino (CRESF), em Foz do Iguaçu, e o Complexo Médico Penal (CMP), em Pinhais, onde ficam as parturientes e presas em medida de segurança. Além dessas três unidades, existem agentes femininas nas outras 29 unidades penais masculinas do Paraná.
Problemas de saúde
A pesquisa aponta que 87% das agentes consideram que sua saúde é afetada pelo ambiente de trabalho. Os problemas mais citados por elas são transtornos mentais e de comportamento (citado por 31% delas), doenças no aparelho digestivo (27,5%), doenças no aparelho respiratório (26%), doenças no sistema nervoso (26%), doenças no sistema osteomuscular (17,5%) e doenças de pele (16%). Quase metade das agentes diz que já precisou se afastar do trabalho por problemas de saúde.
O evento
Com o tema “A humanização do sistema exige melhores condições de trabalho”, o 1º Encontro Estadual das Agentes Penitenciárias do Paraná é voltado para servidoras de todo o estado e será aberto também ao público interessado no tema. O objetivo é debater as principais dificuldades enfrentadas pelas trabalhadoras na execução de suas funções, tanto nas unidades femininas quanto nas masculinas e definir uma pauta de lutas para buscar melhorias.
O Encontro surgiu após demanda das trabalhadoras de completa precariedade nas condições de trabalho. “Se a situação dos agentes penitenciários homens já é preocupante, imagine das mulheres, que são ainda mais invisibilizadas num sistema que foi pensado por e para homens”, destaca a diretora para Assuntos da Mulher do SINDARSPEN, Silvana Dantas.
Entre as principais questões apresentadas ao SINDARSPEN por agentes mulheres, estão: a falta de respeito às especificidades de gênero nas unidades penais; péssimas condições no ambiente de trabalho; falta de mulheres nos postos de comando, inclusive, nas unidades femininas; assédio moral e assédio sexual disfarçado de “brincadeira”; a falta de treinamento específico para lidar com mulheres encarceradas, entre outros.
O painel do evento será apresentado pela professora de Ciência Política da UniCuritiba Karla Pinhel, que também é pesquisadora sobre “Mulher, Paz e Segurança”, da Rede Brasileira de Pesquisa sobre Operações de Paz (REBRAPAZ); pela Coordenadora das Unidades Prisionais Femininas e Cidadania LGBT da Secretaria de Estado e Administração Penitenciária do RJ, Ana Cristina Faulhaber; pela agente penitenciária aposentada Dejanira Veloso, que trabalhou por 30 anos no sistema; pela dirigente do SINDARSPEN, Silvana Dantas; e pelo secretário Especial de Administração Penitenciária do PR, Coronel Elio de Oliveira Manoel.
Está prevista ainda a livre manifestação das agentes participantes para narrarem seu cotidiano.
Os encaminhamentos do 1° Encontro Estadual das Agentes Penitenciárias do Paraná resultarão numa carta que será entregue à Secretaria Especial de Administração Penitenciária do PR e à entidades da sociedade civil organizada que atuam na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres.
Por Waleiska Fernandes
Sindarspen/PR