Frente Brasil Popular reúne militância em Curitiba para fomentar organização de projeto de país pelas bases
Por Paula Zarth Padilha
Ao som de violeiros e sanfoneiros da Via Campesina e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Frente Brasil Popular promoveu a Plenária Estadual dos Comitês Populares pela Democracia. “Dia de luta é dia de festa”, convocou a companheira da cantoria da terra para que a plateia do Teatro da Reitora se levantasse e dançasse.
O debate cultural e de formação está inserido na programação da 17ª Jornada de Agroecologia, em Curitiba e foi realizado na fria manhã desta sexta-feira, 08 de junho, com participantes dos movimentos sociais e sindicais do campo e da cidade, da agricultura familiar e da reforma agrária, com o objetivo de compreender a conjuntura e tirar encaminhamentos na construção do Congresso do Povo, vislumbrando um projeto político para o país e a construção da hegemonia popular.
Durante a plenária, Neuri Rosseto, da coordenação nacional do MST, contextualizou a conjuntura internacional e a crise do capitalismo como norteadores do momento político do Brasil e a partir desse contexto, elencou os desafios para a classe trabalhadora, os instrumentos de luta e os caminhos para a construção desse projeto político pela base.
“Nós queremos que o projeto político desse país seja construção popular organizada e fruto da mobilização, para que o povo se sinta sujeito da construção desse projeto”, afirmou a liderança, traçando um comparativo com a campanha da Globo sobre “O Brasil que Queremos”, com foco no individualismo, que mantém os problemas isolados, sem relacionar com as causas e qual a saída para resolver. “Porque democracia mexe no poder do monopólio deles”, disse.
“Queremos um mundo melhor, uma sociedade melhor para todos e não para poucos. Queremos mexer nas estruturas que concentram poder, riquezas e privilégios que estão nas mãos de uma minoria”, afirmou Rosseto. Ele explicou que a via para a conquista da hegemonia popular será através da capacidade da classe trabalhadora elaborar proposta política e criar unidade para mobilizar e lutar por essa proposta, em uma “batalha das ideias junto à população”.
O Congresso do Povo está sendo construído com plenárias estaduais, como essa realizada durante a Jornada de Agroecologia, mas também pela base, com a constituição de comitês populares descentralizados, nas pequenas cidades, nos polos.
Para a realização desse desafio, foram apresentadas duas experiências: a jornalista Geanini, do MST em Minas Gerais, falou sobre a criação da Frente Quem Luta Educa, que surgiu na greve dos professores estaduais mineiros em 2011; o médico popular Hugo, de Londrina, situou como são as ações de envolvimento da população em comitês.
A Frente Quem Luta Educa, de acordo com Geanini, teve a articulação de diversos movimentos sociais e categorias de trabalhadores junto à greve dos professores em Minas Gerais, que foi deliberada em assembleia com 10 mil pessoas e teve duração de 112 dias. Essa adesão popular promoveu o desgaste do que Geanini chamou de “ditadura da direita”, pois enquanto o país era governado por Lula e Dilma, em Minas o poder era de Aécio e Anastasia, do PSDB, que saíram derrotados politicamente após essa efetiva construção popular de resistência e enfrentamento.
Ela explicou que a Quem Luta Educa foi precursora da Frente Brasil Popular, que foi ampliada para agregar partidos de esquerda e hoje conta com uma “frente das massas”, em que as lutas são construídas por coletivos ampliados, por uma brigada de base de agitação e propaganda mas também que promove o mapeamento de diferentes realidades. “O desafio é entender que o Congresso do Povo é maior que a eleição”.
Hugo, médico popular da FBP em Londrina, iniciou sua fala declamando um poema de Carlos Marighela e afirmou que esse é o momento de não ter medo e de vestir as botas, numa referência a estar preparado para a luta. Ele explicou que o Congresso do Povo está sendo apresentado em comitês regionais, estaduais, municipais, em debates de conjuntura, seminários. Que está ocorrendo um mapeamento de territórios para buscas “sementes de militância”.
“O Congresso do Povo coloca o desafio de ouvir para construir nos territórios, avançar na construção do poder popular e quebrar a cultura das falas”, disse. Ele encerrou relembrando Fidel, citando que “juntos de nós, há milhares e milhares que sofrem, que caem e se levantam, por isso a vitória é certa”.
A plenária se manifestou com diversos depoimentos, sugestões, mensagens de otimismo sobre a resistência ser vencedora. Ecoaram “Lula Livre”, “Pátria Livre, Venceremos!”, “Nós também somos brasileiros”, “Fora Temer”, o som de Asa Branca, e o mote: “Estamos construindo o Congresso do Povo e os comitês populares buscando um mundo novo”.
Roberto Baggio, coordenador do MST no Paraná, organizou os encaminhamentos e tarefas tendo como horizonte o objetivo estratégico de construir um projeto popular para o povo brasileiro: direcionar as riquezas para o povo brasileiro, seja a gerada pela força do trabalho, pelos recursos naturais e do estado; usar o conhecimento para o povo e ter como resultado a garantia de vida digna aos 200 milhões de brasileiros.
No final da tarde, uma marcha partiu da Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba, em direção à Vigília Lula Livre, no bairro Santa Cândida. Para a Frente Brasil Popular, é importante a organização de caravanas em todo o estado, para que se revezem e mantenham a resistência popular até o ex-presidente Lula ser solto.
A 17ª Jornada de Agroecologia continua até este sábado, 09 de junho, com palestras, seminários, show culturais e feira de produtos agroecológicos.