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Relato de uma moradora de Brumadinho sobre o rompimento

27 de Fevereiro de 2019, 14:14 , por Terra Sem Males - | No one following this article yet.
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Eu tenho medo da noite”

25 de janeiro de 2019, por volta do meio dia e meio, ouviu-se um forte estrondo em Córrego do Feijão, distrito de Brumadinho em Minas Gerais. Para Conceição Leonides de Assis, 69, era o transformador da companhia de energia elétrica que havia estourado. Sem alarme e nenhum aviso das mineradoras que têm na região ela foi descobrir o que aconteceu por causa de uma vizinha aos prantos na rua tentando falar no celular: “Oh meu Deus! Dona Conceição, me acode. A barragem estourou. Minha mãe está lá. Socorro, me ajuda”, gritava a amiga cuja mãe era terceirizada da Vale, segundo dona Conceição. O barulho de mais de 10 minutos a ajudou a compreender realmente o que estava acontecendo.

Dona Conceição no ato ecumenico de um mês do rompimento da barragem no distrito Córrego do Feijão em Brumadinho-MG. Foto: Joka Madruga/MAB

Ela já havia tomado banho e fazia escova no cabelo, pois tinha uma consulta com o fisioterapeuta em Brumadinho-MG. Sua rotina foi brutalmente alterada. A levaram para o refeitório da Mineradora Ibirité Ltda – MIB, junto com os vizinhos. Foi distribuído para eles suco e copinhos com gelatina, mas muitos não quiseram nada devido ao estado emocional que se encontravam. Uma pessoa da empresa apareceu e comunicou que não podiam alojar todos naquele espaço e eles seriam levados para Casa Branca, outro povoado da cidade. Alguns dos atingidos não queriam ir para lá, queriam voltar para suas casas. Enquanto outros diziam que para o lar não poderiam voltar.

“Nunca vi um terror tão grande. Um filme de terror que vivemos e ainda estamos. É muita dor. É um luto que nunca vai sair da gente”, relata dona Conceição que perdeu uma nora. “Quando é de noite vem na cabeça tudo que aconteceu. Eu quero ficar acordada. Eu tenho medo da noite. Eu não tinha medo da noite, era um silêncio, mas agora eu prefiro o dia porque vem gente conversar comigo e se acontecer algo dá tempo de correr”, desabafa com medo de um novo rompimento.

A conversa com Dona Conceição foi após ela terminar de fazer um doce de goiaba numa clara tentativa de continuar com a vida, mas com marcas na alma que provavelmente nunca mais sairão.

Conceição Leonides de Assis atingida pelo rompimento da barragem da Vale na Mina Córrego do Feijão em Brumadinho-MG, faz doce de goiaba para a família. Foto: Joka Madruga/MAB

Fotos: Joka Madruga/MAB/Terra Sem Males


Fonte: http://www.terrasemmales.com.br/relato-de-uma-moradora-de-brumadinho-sobre-o-rompimento/