“Eu vou tacar é fogo nessa bomba” – falou impaciente meu amigo Brutus Martini. Acendeu uma baseadão na sequência.
“Apaga essa merda, tá loko?” – gritou sua companheira, que continuou: “você só fica aí sentado nessa porra desse sofá assistindo essas merdas de politicagem e agora vai ficar roubando minha erva? Na cara dura? Tá achando que é quem? O Temer?”.
– Ooooo meu amor, desculpa!
– Espera eu terminar minhas coisas aqui aí eu acendo.
“Agora é assim” – disse baixinho Brutus em “tom bem Martini”.
Meu amigo estava morando com sua nova companheira e aquietando-se do espírito mais “Brutus”.
– Essa mulher tá me ´emaconhando´ cara! Eu fico o tempo todo anestesiado. To achando que foi a CIA que infiltrou essa deusa pacifista na minha vida!
– Olha… sei não ein… pacifismo e CIA não combinam…
– É… não tinha pensado nisso. É verdade.
Depois de ficarmos um tempo olhando pra nossos celulares, em silêncio, meu amigo disse:
– Cara, quando o Lula veio pra Curitiba eu juro que queria ter ido lá. Ia fumar um baseadão e me divertir com a narrativa motivacional.
– E por que não foi?
– Ah cara… fumei um por aqui mesmo…
– HAHAHAHA… mas perdeu a narrativa…
– Pois é… mas hoje eu consigo acompanhar tudo sem sair da minha casa, tá ligado?
– To ligado.
– Por outro lado, é isso que eles querem, né?
– É. Quanto mais ficamos em casa, vigiados, com medo… mais nos afastamos da realidade. Aí os espaços públicos passam a ser comandados por “terceiros”…
– Acho que tudo isso é uma cortina de fumaça, irmão – disse Martini, soltando muuuuita fumaça pro alto. Depois que sua companheira acendeu o baseadão e passou a bola pro meu amigo…
Que continuou:
“É tudo uma cortina de fumaça, irmão! Eles vêm, eles vão… hora estão no ataque, hora estão na defesa… e nos obrigam a escolher um lado. Como se todo mundo quisesse assinar e entregar um cheque em branco aos “salvadores da pátria”. Vão se foder!”.
– Do quê exatamente você está falando?
“Ele tá falando disso!” – gritou a companheira de Brutus Martini e colocou um som do Garotos Podres na vitrola: “Anarquia Oi Oi!”… gritou ela no refrão!
– Pertinente, não? – olhou irônico Brutus.
– Certeza – concordei.
Faz sentido esse lance de cortina de fumaça, apesar de tudo estar mais explícito, nada é palpável. Você enxerga, mas não é com precisão. É uma forma de criar essa sensação de progresso tecnológico e ao mesmo tempo sentirmos impotência em relação a tudo que acontece.
É como se fossemos eunucos: estamos perto do poder, muitas vezes inseridos nele, mas, ao mesmo tempo, não fazemos parte dele; não temos condições e nem meios de desfrutar ou disputar, em iguais condições, um espaço independente dentro desse organismo gigantesco.
Ou seja: todos somos castrados.
“Ei? Ei?” – gritou meu amigo. Eu levei um susto!
– Tá dormindo?
– Não… tava pensando na cortina de fumaça…
– HAHAHAHA… não to falando, cara… é tudo um grande circo. Um palhaço sai de cena, outro entra. O coadjuvante vai disputar com o ator principal o protagonismo histórico; custe o que custar… porque o combustível que alimenta todo esse espetáculo tem dono. Mais de um, aliás.
E eles sempre aparecem pra cobrar os empréstimos, discutir favores e negociar a liberdade de uns e outros por aí… são tipo o “Master of Puppets” mesmo…
“MASTER! MASTER!” – gritou a companheira de Brutus Martini novamente. Dessa vez pra colocar na vitrola o vinil do Metallica…
Master of puppets I’m pulling your strings
Twisting your mind and smashing your dreams
Blinded by me, you can’t see a thing
Just call my name, ‘cause I’ll hear you scream
Just call my name, ‘cause I’ll hear you scream
Por Regis Luís Cardoso, LP Crônicas Musicais
Terra Sem Males