É tolice achar que os vereadores são inocentes úteis. O que os movia na última gestão e na atual pode ser a sanha por cargos.
Os vereadores de Curitiba estão decidindo o futuro dos servidores municipais no escuro. É difícil acreditar que os 28 parlamentares aprovaram o regime de urgência após três meses de tramitação plenamente convictos de alguma coisa. Isso mais cheira a convencimento fisiológico.

Boa parte dos vereadores que aprovaram a correria na tramitação até ontem – ano passado – eram da bancada governista ou apoiaram o ex-prefeito Gustavo Fruet na eleição. Inclusive o líder do governo, Pier Petruziello, que andava de mãos dadas com o pedetista. E Fruet, semana passada, alertou que o Plano de Recuperação de Greca, também conhecido como Pacote de Maldades, só empurra os problemas para frente, não resolve a crise econômica e ainda piora o atendimento à população. “Adiar o reajuste dos servidores e implementar uma reforma da Previdência liberal não parece ser o caminho adequado”, avaliou. Mesmo assim, os atuais vereadores parecem estar dispostos a dar um tiro no escuro para atender as vontades de Greca. Ou tem certeza de que até o final do ano as contas estarão ajustadas? No plano nacional foi vendida ideia semelhante e o povo brasileiro percebeu que não era bem assim.
Bobo na política
Aprovando o pacotaço, fica a dúvida: foram enganados por Fruet ou estão sendo enganados por Greca, uma vez que os números dos dois não batem? Talvez, o correto seja dizer que se deixaram ser enganados nos dois casos. E quem paga o pato são os servidores e a população.

Toma lá…
É tolice achar que os vereadores são inocentes úteis. O que os movia na última gestão e na atual pode ser a sanha por cargos. Dois belos soldos comissionados dentro da Prefeitura de Curitiba e emendas parlamentares criam a convicção em muito vereador e vereadora de que é necessário “colocar a venda o futuro dos servidores públicos”.
Ninguém mais esconde isso. Ontem (06), o vereador Goura, que não assinou o regime de urgência, colocou o dedo na ferida. “Nós não podemos votar com troca de favores e cargos políticos. A vida do servidor não pode ser trocado por um ou dois cargos no bairro”, revelou.
Da cá.
Outra vereadora que expôs o modelo de convencimento foi Noemia Rocha. Segundo a oposicionista, a Prefeitura de Curitiba não revela, após pedido de informações, quais são os comissionados e se são indicações dos vereadores. O certo é que na prestação de contas do secretário de finanças Vitor Puppi as galerias da Casa estavam repletas de cargos comissionados das regionais e indicados por vereadores.

Mais um bocadinho
Um vereador que vota contra o pacotaço, inclusive, afirmou que seria repreendido perdendo suas duas indicações, mas que honraria a palavra com os servidores públicos. Já outras vereadoras ou mudaram de lado ou saíram do muro a favor do prefeito. Se ganharam cargos, ainda não dá pra afirmar.
Por outro lado, esse pinga fogo recebeu um áudio em que se explica os bastidores do convencimento dos nobres governistas. “Um vereador me disse que a Câmara e os vereadores estão votando o pacotaço porque o prefeito tem dois ou três cargos comissionados na Prefeitura para cada vereador. São pessoas que vocês estão tropeçando por aí. Não ajudam em nada e são C2 (nomenclatura para cargo comissionado)”, expõe o áudio.
Que diferença faz?
Temer dá jantares e distribui ministérios. Greca janta com empresários do transporte e dá cargos comissionados. É assim que se faz política do Brasil. Seja lá em cima, seja aqui por baixo.

Rainha da Inglaterra
Era visível o constragimento do presidente Serginho do Posto durante a sessão que aprovou o regime de urgência. Ele havia empenhado sua palavra que isso não ocorreria, mas foi tratorado pela base governista. A oposição foi solidária. Já o governista Bruno Pessuti destacou que a maioria da Casa define os destinos, não o presidente.
Segue o baile
Se ouvia a todo momento do líder do governo, Pier Petruziello, toda vez que o conflito se acirrava e os servidores condenavam o pacotaço: “segue o baile, segue o baile”. Ele valsou sobre todos, conseguindo aprovar os quatro pedidos com média de 26 votos.
Dom Greca
Autoritário, rei, monarquista. São os adjetivos negativos que passam a colar no prefeito de Curitiba e foram exaustivamente pronunciados por servidores e oposicionistas. Após seis meses de mandato, o prefeito não recebeu os sindicatos, nem com pedido do presidente da casa.
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Manoel Ramires
Pinga-fogo
Terra Sem Males
Fotos: Chico Camargo/CMC