Mate, café e letras | Crônica sobre terrenos vazios
November 16, 2017 9:00O mar de capacetes da PM despejou três mil famílias, no mês de novembro de 2008, na região sul da capital. Nove anos depois, o gado pasta tranquilamente no terreno
Por Pedro Carrano
Eu não sei quanto a vocês, mas a mim me dói e ofende cada terreno abandonado que vejo no caminho do centro até o bairro.
Cada espaço vazio me lembra que há certamente milhares de pessoas, apenas em Curitiba, precisando de moradia digna, e o número de imóveis destinados à especulação imobiliária está na mesma quantia, isso apenas na região central, na chamada “cidade A”, anterior à fronteira da Linha Verde.
Do outro lado dessa fronteira invisível, fica o lugar de fala sem fala e dormitório precário reservado para a maioria das famílias.
Cada espaço de muros quebrados, mato alto e alguns grafites borrados é a vitória visível do valor de troca sobre a necessidade das pessoas e o valor de uso. É o gol de placa da especulação imobiliária e financeira em cima da função social da propriedade. É o drible de nossa condição dependente, no país onde os salários mal alcançam para custear necessidades básicas, caso da moradia. É a manutenção do patamar de preço alto do aluguel, cão guloso devorando o salário.
Em alguns lugares sem história escrita, conhecemos as marcas do despojo. Do despejo. Ela pode ser individual e coletiva, como é o caso do terreno do Novo Mundo onde dona Enoeni foi despejada a mando da prefeitura de Rafael Greca, mandato ainda da sua primeira gestão, executado pelo ex-prefeito e “doutô” Luciano Ducci, em 2012.
Ou quando o mar de capacetes e cacetetes da PM despejou com violência seis mil pessoas, no dia 23 de outubro de 2008, na rua João Dembinski, no bairro do Fazendinha, na região sul da república de Curitiba. Passei, no dia em que finalizo esta crônica, na frente do terreno e me deparei com um gado simpático pastando, no lugar onde, nove anos depois, nada foi feito e a “propriedade” tão reivindicada nos discursos, não foi transformada em coisa nenhuma.
Se a exploração do local de trabalho muitas vezes se camufla, invisível, o imóvel abandonado é a cara aparente e feia do despojo da propriedade privada e do capital.
Sim haveria lugar para todo mundo nesse mundão incrível, mas o espaço é de bem poucos e isso delimita a vida.
Confira vídeo feito na época do despejo da ocupação do Fazendinha
#OcupaParaná: Foi numa experiência libertária que ele se politizou
November 15, 2017 19:50Passado mais de um ano das ocupações dos estudantes paranaenses, Leonardo Costa, 18 anos, credita seu atual momento, de militância política, àquelas ações do movimento estudantil
A palavra ‘ocupação’ remete a tomada de um específico espaço físico com o objetivo de criar uma esfera libertária. E hoje, principalmente devido à narrativa da grande imprensa, que usa termos como ‘invasão’ e ‘desordem’ para menosprezar as ações diretas dos estudantes, é comum o estado criminalizar protestos, inclusive por melhoras na educação. Mas esse texto não tem o objetivo de questionar a narrativa da grande mídia ou a força repressiva das autoridades, mas sim mostrar como o #OcupaParaná, ocorrido em outubro de 2016, nas escolas paranaenses, mudou a vida de uma pessoa.
Quando o estudante Leonardo Costa (18) foi visitar uma ocupação, em Campo Largo, um novo mundo se abriu. “Até então eu era contra. Mas fui ver como era. Foi aí que começamos a entrar nas ocupações”, conta o jovem. Leonardo veio até a redação do Classe T para falar um pouco sobre sua experiência durante o #OcupaParaná, em Campo Largo, onde dez colégios foram ocupados e dois totalmente paralisados pelos estudantes.
Leonardo lembra que as ações tomaram grandes proporções, rolou até uma ‘ocupação simultânea’, como se tudo tivesse sido orquestrado. “Foi um negócio muito ‘massa’. Foi praticamente ao mesmo tempo!”, recorda, se referindo ao Colégio Macedo Soares, que foi ocupado seis minutos antes do CAIC. Ele explica ainda que aproximadamente 200 pessoas, entre estudantes, professores, pais e simpatizantes, participaram das ações na cidade da Região Metropolitana de Curitiba.
Passado um ano…
“Hoje eu vejo que aquilo foi um empoderamento do movimento estudantil. Agora eu pauto minha vida nesse movimento e as ocupações me ajudaram muito nisso”
– Leonardo Costa
Revolução
Esta palavra, de forma comum, pode ser definida com uma mudança abrupta, ou seja, uma mudança repentina. Sabe aquela expressão: “mudou da água pro vinho”? Pois então, a sequência de revoluções na vida dos estudantes de Campo Largo é facilmente notável. Até porque, após as ocupações, surgiu a UCES (União Campolarguense de Estudantes Secundaristas), um coletivo que defendem uma escola pública de qualidade e tem o objetivo de levantar debates como a luta do movimento negro e das mulheres.
Para Leonardo Costa, que atualmente é bolsista e faz o curso pré-vestibular no Dinâmico, em Curitiba, as ocupações fizeram com que ele se sentisse parte da escola.
“Quem organizava o colégio éramos nós, quem limpava o colégio éramos nós, quem fazia comida no colégio éramos nós. Isso criou um amadurecimento nos estudantes”
– Leonardo Costa
Depois das ocupações, Leonardo entrou de cabeça no movimento estudantil. Quando questionado sobre “o que pretende fazer no futuro?”, ele foi categórico: “pretendo estudar História”. Hoje, além de estudar pra se tornar historiador, é Diretor de Grêmio da União Campolarguense de Estudantes Secundaristas (UCES) e Diretor de Comunicação da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES). Mas na época, Leonardo definia as ocupações como “uma loucura dos estudantes”.
Atualmente ele entende que as ações representaram “um empoderamento do movimento estudantil”. “Pauto minha vida nesse movimento e as ocupações me ajudaram muito nisso”, explica Leonardo. Um dos resultados mais expressivos do ‘pós ocupação’, em Campo Largo, foi a mudança na ‘agenda estudantil’ na cidade:
“Aqui o movimento estudantil não estava mais pautando a vida dos estudantes e as ocupações vieram pra isso. Tanto é que após as ocupações criamos a UCES – União Campolarguense de Estudantes Secundaristas. A gente vai aos colégios e incentivamos os estudantes na criação de grêmios estudantis”
– Leonardo Costa
O estudante também teve que responder “o quê, de fato, o #OcupaParaná mudou na vida dele?”. Foi então que ele recordou com empolgação sua participação no Encontro Brasileiro de Grêmios Estudantis, realizado pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), em Fortaleza (CE). Na oportunidade ele esteve ao lado de aproximadamente quatro mil estudantes que reivindicavam uma escola pública de qualidade: “esse é o movimento estudantil. Queremos um colégio que debata gênero, religião e políticas públicas”.
Outra paixão que veio depois das ocupações foi pela leitura:
“Leio de tudo um pouco. Um cara que é bastante influente é o Paulo Freire. Ele tem uma visão moderna pra educação. Ainda hoje ele tem uma visão moderna pra educação”
– Leonardo Costa
Hoje, o estudante e militante, após um ano do #OcupaParaná, se considera marxista:
“Minha ideologia é marxista, então eu leio bastante Karl Marx. Leio os revolucionários: Che Guevara, Fidel Castro, pessoas que lutaram por algo melhor. Tenho-os como ídolos, pra ter uma ideia de onde eu quero chegar”
– Leonardo Costa
O estudante deixa claro que todas essas referências vieram após as ocupações:
“Antes da ocupação eu tinha até uma ideológica meio de direita. Mas mais por desinformação. Hoje em dia está tudo jogado na mídia. Não é tudo que sai na Globo que é verdade”
– Leonardo Costa
UCES
Uma das lutas que alimenta a vontade de Leonardo de fazer a diferença em Campo Largo é legitimar o movimento estudantil na cidade. Ele afirma que a militância abrange todos os estudantes, desde escola pública até particular. Inclusive, a União Campolarguense dos Estudantes Secundaristas (UCES) tem chamado jovens dos colégios particulares pra participar do movimento.
O estudante também explica que a estrutura do movimento estudantil está organizada de forma hierárquica. Há a União Brasileira (UBES), a União Paranaense (UPES), a união municipal, no caso a UCES, além dos Grêmios Estudantis, que ficam dentro das escolas.
Leonardo, como representante da UCES e também da UPES, vem percorrendo diversas escolas em Campo Largo, mas também em Curitiba e região metropolitana, e define sua geração como “dividida”:
“Tem uma galera de luta, que participou das ocupações, que tem consciência de classe, e tem a galera que acha que o problema do Brasil é só a corrupção. E não é só isso”
– Leonardo Costa
Sobre política, Leonardo é enfático: é preciso renovação na política. Para ele, o movimento estudantil quer pautar educação nas Câmaras Municipais, mas relata que muitas vezes já foram até barrados de dar continuidade ao debate.
“Queremos entrar no máximo de lugares que conseguirmos. Lutar pra ter deputados, tanto estaduais quanto federais. Aqui em Campo Largo nós também pretendemos fazer isso”
– Leonardo Costa
Uma das ações futuras do movimento estudantil de Campo Largo é lançar a “Frente dos Estudantes”, que vai pautar a juventude. Segundo Leonardo, a cidade precisa de novas representatividades, com origem na classe trabalhadora.
“Se for parar pra pensar são as mesmas famílias que estão na Câmara ou na prefeitura. Tem vereador que está desde os anos 70! Sempre com as mesmas propostas. A nossa ideia é mudar isso. Levar a pauta da juventude”
– Leonardo Costa
Momento histórico
Mesmo com essa empolgação, Leonardo sabe que a atualidade se mostra com diversos obstáculos, tanto para o movimento dos estudantes quanto para a militância progressista. Ao ser questionado sobre a atual onda conservadora que pauta, entre outros temas, a “escola sem partido”, o estudante não foge do debate:
“O problema hoje no debate com os estudantes é que muitas vezes vamos pedir para diretores dos colégios se podemos falar sobre determinados assuntos e somos barrados. Eles dizem que gera tumulto. Que os estudantes não estão preparados para receber esse tipo de assunto”
– Leonardo Costa
Em relação à aceitação nas escolas, o militante explica que há assuntos tranquilos de se conversar, mas ainda se depara com o que considera o principal problema: a desinformação. Leonardo contou uma história de quando ele estava num colégio e resolveu perguntar sobre a redução da maioridade penal aos estudantes.
De acordo com Leonardo, a maioria se posicionou a favor, dizendo que tem muito menor que rouba e se reduzir a maioridade isso vai diminuir.
“Aí eu expliquei que não é bem assim. Hoje o bandido alicia os menores pra trabalhar. Ele recruta o menor de 16 ou 17 anos, por exemplo. Agora, se reduzir a maioridade, ele vai chamar crianças de 14 anos, até menores! E assim vai diminuindo cada vez mais a média de idade. Vai tirando a criança da escola. Ou seja, vai piorar”
– Leonardo Costa
Ocupação
Na reta final da conversa, o estudante explicou que a revolução em sua vida não foi apenas no sentido de se tornar um militante político ou ler autores revolucionários. Na verdade, dentro das escolas muitas coisas aconteceram e esses relatos merecem ser lembrados.
“Costumo dizer que aprendi mais sobre história, sobre politica e ciências sociais, nas ocupações. Tinha até uma professora que me dava aula e eu achava-a muito chata. A gente ocupou a mesma escola. Depois das ocupações, tudo mudou”
– Leonardo Costa
O estudante explica que os professores que também ocuparam as escolas passaram a interagir mais com os alunos. Outra questão importante foi a ‘reunião coletiva’, que Leonardo define como ‘aulas mais dinâmicas’.
Resgate
No dia 03 de outubro de 2016 um grupo de estudantes começou a ocupar escolas em São Jose dos Pinhais. Seis dias depois, com quase 100 colégios ocupados no Paraná, era a vez de Campo Largo. Estudantes começaram a se organizar, conversar com diretores, pais e professores para explicar o motivo das ações: a PEC 241 (que depois se tornou 55). O Projeto tinha como objetivo congelar investimentos na saúde, educação, segurança pública e assistência social, por 20 anos. Outro motivo era a MP 746, ou: a reforma no ensino médio. A Medida tirava várias matérias importantes do currículo escolar, como: sociologia, filosofia, educação física e artes.
Ao todo foram 20 dias de muita resistência. Em Campo Largo os jovens receberam até intimação do juiz da cidade pedindo que todas as lideranças comparecessem ao Fórum. Depois de quase um mês de ocupações a justiça determinou a reintegração de posse de todas as escolas e acabou com mais de 850 ocupações pelo Paraná.
Por Regis Luís Cardoso
#OcupaParaná: uma experiência libertária que foi politizada
November 15, 2017 19:50Passado mais de um ano das ocupações dos estudantes paranaenses, Leonardo Costa, 18 anos, credita seu atual momento, de militância política, àquelas ações do movimento estudantil
A palavra ‘ocupação’ remete a tomada de um específico espaço físico com o objetivo de criar uma esfera libertária. E hoje, principalmente devido à narrativa da grande imprensa, que usa termos como ‘invasão’ e ‘desordem’ para menosprezar as ações diretas dos estudantes, é comum o estado criminalizar protestos, inclusive por melhoras na educação. Mas esse texto não tem o objetivo de questionar a narrativa da grande mídia ou a força repressiva das autoridades, mas sim mostrar como o #OcupaParaná, ocorrido em outubro de 2016, nas escolas paranaenses, mudou a vida de uma pessoa.
Quando o estudante Leonardo Costa (18) foi visitar uma ocupação, em Campo Largo, um novo mundo se abriu. “Até então eu era contra. Mas fui ver como era. Foi aí que começamos a entrar nas ocupações”, conta o jovem. Leonardo veio até a redação do Classe T para falar um pouco sobre sua experiência durante o #OcupaParaná, em Campo Largo, onde dez colégios foram ocupados e dois totalmente paralisados pelos estudantes.
Leonardo lembra que as ações tomaram grandes proporções, rolou até uma ‘ocupação simultânea’, como se tudo tivesse sido orquestrado. “Foi um negócio muito ‘massa’. Foi praticamente ao mesmo tempo!”, recorda, se referindo ao Colégio Macedo Soares, que foi ocupado seis minutos antes do CAIC. Ele explica ainda que aproximadamente 200 pessoas, entre estudantes, professores, pais e simpatizantes, participaram das ações na cidade da Região Metropolitana de Curitiba.
Passado um ano…
“Hoje eu vejo que aquilo foi um empoderamento do movimento estudantil. Agora eu pauto minha vida nesse movimento e as ocupações me ajudaram muito nisso”
– Leonardo Costa
Revolução
Esta palavra, de forma comum, pode ser definida com uma mudança abrupta, ou seja, uma mudança repentina. Sabe aquela expressão: “mudou da água pro vinho”? Pois então, a sequência de revoluções na vida dos estudantes de Campo Largo é facilmente notável. Até porque, após as ocupações, surgiu a UCES (União Campolarguense de Estudantes Secundaristas), um coletivo que defendem uma escola pública de qualidade e tem o objetivo de levantar debates como a luta do movimento negro e das mulheres.
Para Leonardo Costa, que atualmente é bolsista e faz o curso pré-vestibular no Dinâmico, em Curitiba, as ocupações fizeram com que ele se sentisse parte da escola.
“Quem organizava o colégio éramos nós, quem limpava o colégio éramos nós, quem fazia comida no colégio éramos nós. Isso criou um amadurecimento nos estudantes”
– Leonardo Costa
Depois das ocupações, Leonardo entrou de cabeça no movimento estudantil. Quando questionado sobre “o que pretende fazer no futuro?”, ele foi categórico: “pretendo estudar História”. Hoje, além de estudar pra se tornar historiador, é Diretor de Grêmio da União Campolarguense de Estudantes Secundaristas (UCES) e Diretor de Comunicação da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES). Mas na época, Leonardo definia as ocupações como “uma loucura dos estudantes”.
Atualmente ele entende que as ações representaram “um empoderamento do movimento estudantil”. “Pauto minha vida nesse movimento e as ocupações me ajudaram muito nisso”, explica Leonardo. Um dos resultados mais expressivos do ‘pós ocupação’, em Campo Largo, foi a mudança na ‘agenda estudantil’ na cidade:
“Aqui o movimento estudantil não estava mais pautando a vida dos estudantes e as ocupações vieram pra isso. Tanto é que após as ocupações criamos a UCES – União Campolarguense de Estudantes Secundaristas. A gente vai aos colégios e incentivamos os estudantes na criação de grêmios estudantis”
– Leonardo Costa
O estudante também teve que responder “o quê, de fato, o #OcupaParaná mudou na vida dele?”. Foi então que ele recordou com empolgação sua participação no Encontro Brasileiro de Grêmios Estudantis, realizado pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), em Fortaleza (CE). Na oportunidade ele esteve ao lado de aproximadamente quatro mil estudantes que reivindicavam uma escola pública de qualidade: “esse é o movimento estudantil. Queremos um colégio que debata gênero, religião e políticas públicas”.
Outra paixão que veio depois das ocupações foi pela leitura:
“Leio de tudo um pouco. Um cara que é bastante influente é o Paulo Freire. Ele tem uma visão moderna pra educação. Ainda hoje ele tem uma visão moderna pra educação”
– Leonardo Costa
Hoje, o estudante e militante, após um ano do #OcupaParaná, se considera marxista:
“Minha ideologia é marxista, então eu leio bastante Karl Marx. Leio os revolucionários: Che Guevara, Fidel Castro, pessoas que lutaram por algo melhor. Tenho-os como ídolos, pra ter uma ideia de onde eu quero chegar”
– Leonardo Costa
O estudante deixa claro que todas essas referências vieram após as ocupações:
“Antes da ocupação eu tinha até uma ideológica meio de direita. Mas mais por desinformação. Hoje em dia está tudo jogado na mídia. Não é tudo que sai na Globo que é verdade”
– Leonardo Costa
UCES
Uma das lutas que alimenta a vontade de Leonardo de fazer a diferença em Campo Largo é legitimar o movimento estudantil na cidade. Ele afirma que a militância abrange todos os estudantes, desde escola pública até particular. Inclusive, a União Campolarguense dos Estudantes Secundaristas (UCES) tem chamado jovens dos colégios particulares pra participar do movimento.
O estudante também explica que a estrutura do movimento estudantil está organizada de forma hierárquica. Há a União Brasileira (UBES), a União Paranaense (UPES), a união municipal, no caso a UCES, além dos Grêmios Estudantis, que ficam dentro das escolas.
Leonardo, como representante da UCES e também da UPES, vem percorrendo diversas escolas em Campo Largo, mas também em Curitiba e região metropolitana, e define sua geração como “dividida”:
“Tem uma galera de luta, que participou das ocupações, que tem consciência de classe, e tem a galera que acha que o problema do Brasil é só a corrupção. E não é só isso”
– Leonardo Costa
Sobre política, Leonardo é enfático: é preciso renovação na política. Para ele, o movimento estudantil quer pautar educação nas Câmaras Municipais, mas relata que muitas vezes já foram até barrados de dar continuidade ao debate.
“Queremos entrar no máximo de lugares que conseguirmos. Lutar pra ter deputados, tanto estaduais quanto federais. Aqui em Campo Largo nós também pretendemos fazer isso”
– Leonardo Costa
Uma das ações futuras do movimento estudantil de Campo Largo é lançar a “Frente dos Estudantes”, que vai pautar a juventude. Segundo Leonardo, a cidade precisa de novas representatividades, com origem na classe trabalhadora.
“Se for parar pra pensar são as mesmas famílias que estão na Câmara ou na prefeitura. Tem vereador que está desde os anos 70! Sempre com as mesmas propostas. A nossa ideia é mudar isso. Levar a pauta da juventude”
– Leonardo Costa
Momento histórico
Mesmo com essa empolgação, Leonardo sabe que a atualidade se mostra com diversos obstáculos, tanto para o movimento dos estudantes quanto para a militância progressista. Ao ser questionado sobre a atual onda conservadora que pauta, entre outros temas, a “escola sem partido”, o estudante não foge do debate:
“O problema hoje no debate com os estudantes é que muitas vezes vamos pedir para diretores dos colégios se podemos falar sobre determinados assuntos e somos barrados. Eles dizem que gera tumulto. Que os estudantes não estão preparados para receber esse tipo de assunto”
– Leonardo Costa
Em relação à aceitação nas escolas, o militante explica que há assuntos tranquilos de se conversar, mas ainda se depara com o que considera o principal problema: a desinformação. Leonardo contou uma história de quando ele estava num colégio e resolveu perguntar sobre a redução da maioridade penal aos estudantes.
De acordo com Leonardo, a maioria se posicionou a favor, dizendo que tem muito menor que rouba e se reduzir a maioridade isso vai diminuir.
“Aí eu expliquei que não é bem assim. Hoje o bandido alicia os menores pra trabalhar. Ele recruta o menor de 16 ou 17 anos, por exemplo. Agora, se reduzir a maioridade, ele vai chamar crianças de 14 anos, até menores! E assim vai diminuindo cada vez mais a média de idade. Vai tirando a criança da escola. Ou seja, vai piorar”
– Leonardo Costa
Ocupação
Na reta final da conversa, o estudante explicou que a revolução em sua vida não foi apenas no sentido de se tornar um militante político ou ler autores revolucionários. Na verdade, dentro das escolas muitas coisas aconteceram e esses relatos merecem ser lembrados.
“Costumo dizer que aprendi mais sobre história, sobre politica e ciências sociais, nas ocupações. Tinha até uma professora que me dava aula e eu achava-a muito chata. A gente ocupou a mesma escola. Depois das ocupações, tudo mudou”
– Leonardo Costa
O estudante explica que os professores que também ocuparam as escolas passaram a interagir mais com os alunos. Outra questão importante foi a ‘reunião coletiva’, que Leonardo define como ‘aulas mais dinâmicas’.
Resgate
No dia 03 de outubro de 2016 um grupo de estudantes começou a ocupar escolas em São Jose dos Pinhais. Seis dias depois, com quase 100 colégios ocupados no Paraná, era a vez de Campo Largo. Estudantes começaram a se organizar, conversar com diretores, pais e professores para explicar o motivo das ações: a PEC 241 (que depois se tornou 55). O Projeto tinha como objetivo congelar investimentos na saúde, educação, segurança pública e assistência social, por 20 anos. Outro motivo era a MP 746, ou: a reforma no ensino médio. A Medida tirava várias matérias importantes do currículo escolar, como: sociologia, filosofia, educação física e artes.
Ao todo foram 20 dias de muita resistência. Em Campo Largo os jovens receberam até intimação do juiz da cidade pedindo que todas as lideranças comparecessem ao Fórum. Depois de quase um mês de ocupações a justiça determinou a reintegração de posse de todas as escolas e acabou com mais de 850 ocupações pelo Paraná.
Por Regis Luís Cardoso
Agendas do NPC resgatam lutas das mulheres e dos trabalhadores do mundo
November 13, 2017 15:22Recuperar as mobilizações das mulheres e dos trabalhadores do mundo todo em defesa dos seus direitos. Esse é o objetivo das agendas temáticas produzidas pelo Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC). Quem tem o material em mãos entra em contato com acontecimentos e personagens históricos que se dedicaram a tornar o mundo um lugar melhor para a maioria. Compõem o material pequenas notas e registros diários, poemas, imagens e artigos produzidos por escritores convidados.
Para o ano de 2018, o NPC oferece duas possibilidades de temas. Um deles é “Mulheres de luta”. Devido ao sucesso da agenda do ano passado, resolvemos lançar uma nova edição, revista e atualizada, do material. O outro é o livro-agenda “Lutas por direitos no Brasil e no mundo”, uma recolha de acontecimentos protagonizados por movimentos populares e lutadores sociais em defesa de condições dignas de trabalho e de vida.
Mulheres de garra
O livro-agenda “Mulheres de luta” apresenta, dia a dia, nomes de mulheres que se destacaram em batalhas diversas, seja no movimento feminista, seja em outros movimentos populares. Nessa nova edição, acrescentamos um texto sobre Carolina Maria de Jesus, “escritora que incomoda a classe dominante”, como ressaltou a autora do texto, Miriane Peregrino. Também entrou uma referência à professora Diva Guimarães, que se destacou na Festa Literária de Paraty de 2017 ao denunciar o racismo que sofreu desde a infância.
Também há novas informações sobre, por exemplo, a cineasta camaronesa Pascalo, a pensadora mexicana Juana Inés de la Cruz, a militante brasileira Maria Dalva Correia da Silva, a liderança indígena nahua Maria de Jesus Patricio Martínez, a abolicionista estadunidense Sojourner Truth, dentre outras. Elas figuram ao lado de lutadoras como Dandara dos Palmares, Nísia Floresta, Luísa Mahin, Simone de Beauvoir, Celia Sánchez, Rosa Luxemburgo, Angela Davis e tantas outras referências internacionais.
Trabalhadores de todo o mundo em luta
A novidade deste ano ficou por conta da agenda “Lutas por direitos no Brasil e no mundo”. Em tempo de tanto retrocesso e ataques aos direitos dos trabalhadores, a equipe do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) entendeu ser urgente lembrar a mobilização da classe operária de todo o mundo por pautas como a redução da jornada de trabalho, direito a férias, décimo terceiro salário e tantas outras conquistas históricas que, hoje, estão ameaçadas.
O material conta com textos assinados pelo cientista político Josué Medeiros; pelo professor Reginaldo Moraes (Unicamp); pelo coordenador do MST, João Pedro Stédile; pela jornalista Claudia Santiago; pelo professor Rodrigo Castelo (Unirio); pela escritora Jarid Arraes; e outros colaboradores. Alguns dos temas abordados são a importância dos sindicatos e da comunicação dos trabalhadores; as origens do Primeiro de Maio; a lição das internacionais; a trajetória da luta pela Reforma Agrária e pelos direitos indígenas; o legado da Revolução de Outubro de 1917; dentre outros.
Como adquirir
As agendas custam R$ 30,00 (cada) e estão à venda no Espaço Gramsci: Rua Alcindo Guanabara, 17, térreo, Cinelândia. Também é possível fazer encomendas pelo e-mail npiratininga@piratininga.org.br ou comprar pelo site: http://livrariagramsci.com.br/
Nota do Sindarspen sobre a rebelião em penitenciária no Paraná
November 13, 2017 13:22Rebelião no Paraná poderia ter sido evitada se equipamentos de segurança da unidade estivessem funcionando
Cerca elétrica com alarme não funcionou, permitindo que os presos chegassem ao solário
O Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (SINDARSPEN) refuta toda e qualquer tentativa do governo do estado de jogar sobre os agentes penitenciários a responsabilidade da rebelião que aconteceu na Penitenciária Estadual de Cascavel no último final de semana.
As falhas no sistema de segurança da unidade vêm sido denunciadas pelo Sindicato desde o andamento das obras de reconstrução que precisaram ser feitas após a rebelião que, em 2014, destruiu 80% da penitenciária.
O governo do Paraná gastou R$ 2,5 milhões nas obras, mas entregou apenas a parte de concreto e grades prontas, sem obras de automação na unidade.
Equipamentos de segurança – Quase todos os equipamentos de segurança que constam na PEC, como circuito de monitoramento de TV e um sistema de segurança mecanizada foram possíveis graças às ações dos próprios servidores, que realizaram eventos para arrecadar fundos, pediram apoio para comércios locais e se cotizaram para a compra de equipamentos.
O único equipamento de segurança instalado pelo governo foi a cerca elétrica com alarme que até hoje não está funcionando. Se estivesse, no momento em que os presos fizeram a pirâmide humana e subiram ao solário para render o agente, eles tomariam um choque e seria acionado um alarme, permitindo que o agente deixasse o local e trancasse o acesso dos presos ao restante do prédio pelo solário.
Falta de efetivo – No momento da rendição, havia apenas um agente de cadeia para tomar conta dos quatro pátios de sol, com 36 presos em cada pátio. No total, a PEC tem cerca de 40 agentes por plantão (entre agentes penitenciários e agentes de cadeia temporários) para dar conta dos quase 1.000 presos na unidade, dando um número de 25 presos por trabalhador, quando o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) preconiza que a proporção seja de 5 presos para cada agente.
Conduta dos agentes – A retidão e o profissionalismo com que os agentes da PEC atuam têm impedido a entrada de armas, celulares e outro ilícitos que comprometem a segurança da unidade. A fiscalização constante tem sido feita pelos servidores, algo que tem desagradado à massa carcerária que, para justificar a brutalidade da rebelião, acusam de forma mentirosa os agentes de práticas de tortura.
O SINDARSPEN ressalta que diante dos fatos expostos uma tragédia só não havia acontecido antes graças ao empenho dos agentes penitenciários mesmo diante de tanto descaso do poder público. Não podemos aceitar que se jogue sobre eles uma responsabilidade que só cabe ao Estado.
Curitiba, 13 de novembro de 2017.
Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná
AO VIVO: Seminário sobre a reforma trabalhista para jornalistas
November 11, 2017 10:10A reforma trabalhista, que entre em vigor hoje (11), vai prejudicar os trabalhadores e beneficiar os patrões. Para o jornalismo, teremos cada vez mais abusos, como, por exemplo, a pejotização do trabalhador, contratos intermitentes, entre outros. Porém, há mais um motivo para se preocupar: a possibilidade de os empresários em desrespeitar conquistas importantes, como o piso salarial e a jornada de cinco horas diárias.
Acompanhe abaixo o Seminário “Jornalista na Reforma Trabalhista: conquistas estão ameaçadas”.
Fonte: Sindijor-PR
Arte: CTRL S Comunicação
Representatividade plural marca ato contra a Reforma Trabalhista
November 10, 2017 15:33Curitiba teve um dia quente e ensolarado após semanas de uma primavera fria e cinzenta. E nesta sexta-feira, 10 de novembro, milhares de trabalhadores de diversas categorias, homens e mulheres engajados nos movimentos sociais e sindicais, coletivos que pautam mobilizações pela igualdade, em defesa da diversidade e participantes de frentes populares se uniram em um ato que parou a Boca Maldita, no centro de Curitiba, em pleno sol de meio dia.
O recado desse mar de gente, que poderia ser maior, bem maior, era principalmente a insatisfação com os retrocessos impostos pelos parlamentares que aprovaram a Reforma Trabalhista a mando do governo golpista de Michel Temer. “Se todos estivessem cientes do que vai acontecer em suas vidas a partir de amanhã, quando a nova legislação entrar em vigor, o calçadão da Rua XV seria insuficiente para tanta gente protestando”, falou Elias Jordão, presidente do Sindicato, em cima do caminhão de som do ato.
Para ele, ainda tem muita gente que não sabe que as alterações na legislação trabalhista não vão ampliar a oferta de empregos, mas sim precarizar, e muito, a situação de trabalho (e de remuneração) de quem já está trabalhando com carteira assinada. Nos bancos, algumas mudanças já são perceptíveis, não nos benefícios conquistados ao longo dos anos através de muita greve, muita mobilização e enfrentamento aos banqueiros, mas na rotatividade no setor, que já demonstra sinais de ter se modificado.
Enquanto nos bancos públicos a postura do governo é fechar vagas, com planos de incentivo à aposentadoria e implantação unilateral de processos de reestruturação visando somente a redução de custos, nos bancos privados as demissões atingem níveis alarmantes e os processos de seleção para novas contratações já estão sendo feito via empresas terceirizadas, que não inserem os novos contratados, que vão realizar serviços de bancários, na CCT da categoria.
urante o ato, todas as pessoas que se prontificaram a subir no caminhão de som puderam falar aos manifestantes. Gente de todos os sindicatos, de todas as centrais, de todas as idades, de todas as opiniões e formas de mobilização. Militantes, ativistas, pessoas comuns, que passavam pela famosa calçada. Juventude, mulheres, LGBTI. Quem não quis subir, levantou uma placa, um cartaz, uma bandeira, com todas as cores, vestiu uma camiseta, encorpou uma luta coletiva em nome de todos aqueles que neste dia tiveram que continuar trabalhando.
As mobilizações neste Dia Nacional de Paralisação começaram cedo em Curitiba. O Sindicato dos Bancários e Financiários amanheceu em frente ao Bradesco Palácio Avenida e seguiu, durante a manhã, distribuindo material impresso, fazendo panfletagem, conversando com os trabalhadores na entrada das agências.
“Eles acham que terminou, mas se estivermos continuamente nas ruas, poderemos mudar esse quadro negativo”, finaliza Elias Jordão.
Saiba mais: Dia de Paralisação começa com ato de bancários no Palácio Avenida
Por Paula Zarth Padilha
Foto Joka Madruga/SEEB Curitiba
Imagens de um resgate de imigrantes no mar Mediterrâneo
November 9, 2017 18:40Um total de 588 pessoas está agora no Aquarius, o navio de busca e resgate das organizações Médicos Sem Fronteiras e SOS Mediterranée que atua no mar Mediterrâneo (entre a Europa e África). Um número desconhecido de pessoas está desaparecido, supostamente mortas, depois de um dia difícil de resgates na rota entra Líbia e a Itália. No último 1º de novembro, as equipes do Aquarius ajudaram três botes de borracha sob risco de afundamento, lotados de homens, mulheres e crianças. Além disso, o Aquarius recebeu 248 pessoas transferidas de um navio da Guarda Costeira italiana.
Com dezenas de pessoas na água gelada, houve muitos casos de hipotermia leve a moderada. A equipe médica também tratou pessoas com ferimentos antigos sofridos na Líbia, um país em que refugiados e migrantes estão expostos a níveis alarmantes de violência e exploração.
“Um homem tinha uma fratura exposta e deslocamento no seu tornozelo esquerdo havia um mês. Ele me contou que se feriu quando tentava escapar de tiros na Líbia”, disse o dr. Khirfan, do Médicos Sem Fronteiras. “Um outro homem teve seu braço quebrado há uma semana, quando estava detido arbitrariamente na Líbia.”
A grande maioria das pessoas resgatadas no Mediterrâneo passou pela Líbia. Elas contam a nossas equipes que sofreram abusos nas mãos de contrabandistas, grupos armados e milícias. Os abusos relatados incluem violência (inclusive sexual), detenção arbitrária em condições desumanas, tortura, exploração financeira e trabalho forçado.
As razões pelas quais as pessoas deixam seus lares é complexa, mas, quando estão no mar num bote inflável frágil e superlotado, todas são vulneráveis e precisam ser resgatadas e levadas a um lugar seguro. Muitas não sabem nadar e a maioria não tem colete salva-vidas. É uma situação de vida ou morte, e o risco de afogamento está sempre presente.
Confira abaixo fotos do resgate de autoria de Maud Veith/SOS Méditerranée:
Confira o vídeo:
Fonte: Médicos Sem Fronteiras
Imagens incríveis de um resgate de imigrantes no mar Mediterrâneo
November 9, 2017 18:40Um total de 588 pessoas está agora no Aquarius, o navio de busca e resgate das organizações Médicos Sem Fronteiras e SOS Mediterranée que atua no mar Mediterrâneo (entre a Europa e África). Um número desconhecido de pessoas está desaparecido, supostamente mortas, depois de um dia difícil de resgates na rota entra Líbia e a Itália. No último 1º de novembro, as equipes do Aquarius ajudaram três botes de borracha sob risco de afundamento, lotados de homens, mulheres e crianças. Além disso, o Aquarius recebeu 248 pessoas transferidas de um navio da Guarda Costeira italiana.
Com dezenas de pessoas na água gelada, houve muitos casos de hipotermia leve a moderada. A equipe médica também tratou pessoas com ferimentos antigos sofridos na Líbia, um país em que refugiados e migrantes estão expostos a níveis alarmantes de violência e exploração.
“Um homem tinha uma fratura exposta e deslocamento no seu tornozelo esquerdo havia um mês. Ele me contou que se feriu quando tentava escapar de tiros na Líbia”, disse o dr. Khirfan, do Médicos Sem Fronteiras. “Um outro homem teve seu braço quebrado há uma semana, quando estava detido arbitrariamente na Líbia.”
A grande maioria das pessoas resgatadas no Mediterrâneo passou pela Líbia. Elas contam a nossas equipes que sofreram abusos nas mãos de contrabandistas, grupos armados e milícias. Os abusos relatados incluem violência (inclusive sexual), detenção arbitrária em condições desumanas, tortura, exploração financeira e trabalho forçado.
As razões pelas quais as pessoas deixam seus lares é complexa, mas, quando estão no mar num bote inflável frágil e superlotado, todas são vulneráveis e precisam ser resgatadas e levadas a um lugar seguro. Muitas não sabem nadar e a maioria não tem colete salva-vidas. É uma situação de vida ou morte, e o risco de afogamento está sempre presente.
Confira abaixo fotos do resgate de autoria de Maud Veith/SOS Méditerranée:
Confira o vídeo:
Fonte: Médicos Sem Fronteiras
Primeiro a moral, depois o pão?
November 9, 2017 18:21Crônica sobre as portas escancaradas do conservadorismo
Há poucos dias, topei com a cena de uma mulher sendo agredida pelo marido no centro de Curitiba, sob olhares despreocupados de quem estava na rua. E o sujeito se sentia legitimado para isso pelo fato de que, como ele justificava, “É minha mulher”, e ninguém tinha nada a ver com aquilo.
Na mesma semana, meu amigo Leandro Taques fotografou um episódio, também no centro da capital paranaense, quando um grupo linchava e mantinha dominado um homem que teria agredido uma criança. A ação dele de fato era condenável, mas dentro dos tribunais, não na rua. A humilhação pública do sujeito se arrastou por um bom tempo e contou com cumplicidade da guarda municipal e da PM.
Permissividade no primeiro caso, execução sumária no segundo.
São situações empíricas, mas não consigo desvincular essas cenas, em que se expressa a agressividade, o machismo legitimado, o justiçamento e o tribunal de rua contra os pobres: tudo isso tem um fio invisível de ligação com os tempos que vivemos de crise – econômica, política, ambiental e moral.
Cheguei a pensar num filme que vi há muito tempo – e não recordo o nome! -, mas se passava na época da guerra dos anos 1990 na antiga Iugoslávia. Não havia nenhuma alusão ao conflito militar na película, apenas registros do impacto daquela situação na vida, na agressividade das pessoas e no caos que predominava. O cotidiano virando loucura.
O conservadorismo de um Bolsonaro e da direita que ganha força e assusta setores progressistas e a esquerda obviamente não é novo. Aí está a estrutura de exploração de classes do país para confirmar isso. Mas claro que a intolerância se acentua.
Neste momento, estamos diante de uma polarização política na qual não há chance de uma concertação por cima entre as classes sociais, nem de estabilidade. Não há como todas as classes serem de alguma forma beneficiadas com o excedente econômico, como ocorreu entre os anos de 2005 a 2014. O atual discurso de gestores municipais, estaduais e federais reforça isso. E, na dúvida, jogue nas costas do trabalhador e da população mais pobre as consequências.
Já é hora, então, de questionar o pensamento presente na mídia e sobretudo na classe média de que valeu tudo em nome da “luta contra a corrupção”. Não só porque a corrupção realmente existente não foi combatida com o golpe de Estado de 2016, mas porque chegamos ao raciocínio inverso do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, quem escreveu: “primeiro o pão, depois a moral”.
A alta classe média, a rede Globo, a burguesia brasileira e camadas de cima do judiciário que levaram a cabo o golpe no Brasil apostaram primeiro no discurso da “moral”, não importa se o povo perdeu o pão. Que problema tem, não é mesmo, se a indústria naval-petrolífera seja arruinada, como acontece na cidade de Rio Grande (RS)? Não é positivo que o principal engenheiro do projeto nuclear brasileiro, almirante Bastos, tenha sido preso até pouco tempo? Que as principais empresas públicas, indutoras da economia, sejam sucateadas para ser leiloadas?
Mesmo assim, não sou de revanchismo a exemplo de muita gente nas redes sociais, e acho que posts e textos lembrando “Você que bateu panelas e agora está em silêncio…..” não resolvem absolutamente nada. Apenas com organização popular e dos trabalhadores, coletiva, debatendo um projeto de país, temos chance de barrar o conservadorismo. Mais importante que as redes, deveriam ser as ruas.
O resto é catarse ou desespero, nesses tempos loucos que estamos vivendo. Diariamente.
Por Pedro Carrano