Ágora 18 | As histórias que não contam
October 6, 2017 16:32Revista aborda as lutas que têm sido escondidas no Brasil, seja no serviço público, seja nos movimentos sociais
Era uma vez um país das histórias que não são contadas. Nesse lugar, cada vez mais, a informação falsa predomina e a realidade é retaliada. O que vale é quem grita mais, quem conta a melhor lorota. E, de tempos em tempos, as histórias reais são escondidas em algum baú e escondidas em algum porão desativado.
Mas nesse lugar sempre tem também os aventureiros que gostam de espiar pelo buraco, de passar por onde se está escrito “proibido entrar”, que teimam em revelar os segredos que não terminam com “e foram felizes para sempre”. É o caso da reportagem de capa da revista Ágora. Ela conta como em Curitiba a alimentação servida em escolas e cmeis não é bem o banquete que falam. Pelo contrário, antes de chegar ao prato das crianças, o que está em jogo é o controle de quem fornece a comida. O jornalista Pedro Carrano, esse instigador por natureza, percorreu a verdejante e alegre cidade para descobrir que a merenda terceirizada poderia ter um gostinho de comida de vovó se fosse feita dentro dos equipamentos públicos.
Em outra história, contada por Déa Rosendo, ela mostra que o governo golpista acha que a saúde pública é a casa dos três porquinhos. O ministro da saúde, Ricardo Barros, tem assoprado e derrubado diversos programas de reconhecimento internacional apenas para privatizar o atendimento à população.
Já o jornalista Manoel Ramires conversou com Graça Costa. A prosa contada por ela é digna dos contos de terror mais assombrosos. Pessoas sendo ceifadas em seus direitos, trabalhando até morrer, comendo enquanto trabalham, trabalhando enquanto vivem, vivendo enquanto sobrevivem. Tudo isso depois que, num passe de mágica, a “sonhada” reforma trabalhista for implementada no país do gigante belo adormecido.
Agora, o que não te contam de jeito nenhum é que no seu prato tem mais agrotóxico do que comida e que a opção a ele, a agroecologia, é exercida por aquela turma vermelinha que o noticiário diz pra você odiar. Por outro lado, Júlio Carignano visita gente simples e mostra que a história deles é produzir um alimento sustentável e que respeite o meio ambiente.
Nessa edição se dedica um especial espaço em defesa da diversidade. Afinal, cada vez mais no país do faz de conta se apagam, rabiscam e se arrancam páginas de histórias reais apenas por não gostarem de seu colorido. Sendo assim, a sessão “3 cliques” barbariza e traz uma página dupla com Tinna Simpison e sua luz que ilumina e assusta quem vive das sombras do preconceito. Noutro canto de Ágora, Márcio Marins conta que o Brasil, o Paraná e Curitiba têm fechado o livro e recursos para a comunidade LGBTI. A revista ainda abre espaço para mostrar a turma que decidiu sair do armário, pular para fora da casinha e ser protagonista de sua própria história. É o que aborda a coluna “Arte e Cultura em Movimento” sobre “a transgressão da arte.
“Naquele dia faturou mais grana do que o povo na vida toda sem sequer ter pingado uma gota de suor”. Evidentemente que não se trata de um best seller qualquer. É apenas retrato da desigualdade por essas bandas que a coluna “Curtas” conta. Coisas como gente ficando rica com a exploração das pessoas e com sonegação de impostos. Recomenda-se que a leitura dessa sessão de Ágora com o mesmo cuidado que se passa os olhos pela coluna “Pensata”, de Pedro Elói, que aborda os cem anos da revolução russa. Ele explica como essa utopia sobrevive mesmo após tanta gente tentar exterminá-la de fora. E de dentro.
A revista ainda traz um belo texto da ex-deputada Luciana Rafagnin sobre os 60 anos da revolta dos posseiros e o alerta da jornalista Thea Tavares sobre o enfrentamento da violência contra as mulheres. Pois é, nossas heroínas do cotidiano são mortas diariamente enquanto os larápios que nos governam lhes negam abrigo. Essa é, definitivamente, uma história mal contada com a necessidade de escrever novas páginas e capítulos.
Bom, vamos terminando essa apresentação de Ágora 18 falando que a coordenadora do Sismuc, Adriana Claudia Kalckmann nos convida a quebrar uns cadeados e levantar a tampa de alguns baús: “eu tive em mais encontros com a PM do que com a minha família. Levei mais gás de lacrimogêneo no rosto do que pude sentir em algum momento a suave brisa da manhã”, descreve. Adriana, não desista do orvalho. Vamos lavar o rosto e seguir contando histórias não reveladas nas páginas de Ágora com a diagramação da Ctrl S e coordenação de Soraya Cristina Zgoda. Em uma noite fria de lua cheia as estrelas cintilam e nós resistimos em busca de um novo ciclo.
Outubro Rosa: Saúde da Mulher depende do ambiente que está inserida
October 6, 2017 10:55Cuide-se para além do Outubro Rosa e da conscientização para a prevenção do câncer de mama
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece que o conceito de saúde é bem diferente de ausência de doença. Para estar saudável, é preciso o estado de bem estar físico, mental e social, valores adquiridos na coletividade quanto ao acesso a lazer, moradia, educação, mobilidade urbana.
Quando o recorte é de gênero, sobre especificamente a mulher, durante muito tempo ter saúde esteve relacionado a ter saúde reprodutiva, incluindo aí a liberdade sexual, de decisão. Mas ainda assim restringindo saúde ao conceito biológico de ser mãe e exercer um papel dentro de casa.
“Ocorre que toda diferença de direitos entre homens e mulheres, como salário menor e baixa representatividade política, que resultam em poucas políticas públicas, refletem no adoecimento da mulher”, explica Juliana Mittelbach, enfermeira e militante da Marcha Mundial das Mulheres.
Somente no ano 2000 foi identificado e reconhecido esse caráter, de que o padrão hegemônico de masculinidade e feminilidade causam adoecimento. E mais, que existem especificidades: que mulheres urbanas e rurais, jovens e idosas, adoecem de forma diferente e a análise sobre a saúde da mulher passa a considerar o ambiente em que ela está inserida.
Doenças com maior ocorrência entre as mulheres
O Sindicato lista abaixo as doenças com maior ocorrência entre as mulheres, alertando para a percepção dos sintomas iniciais e recomenda a busca por tratamento médico desde o início, sem auto-medicação, e para a busca de prevenção:
– Mioma: afeta 50% das mulheres (maioria entre as negras) e é causada por produção excessiva de estrogêneo, tem como uma das características a nuliparidade (nenhuma ocorrência de parto);
– Endometriose: é quando o endométrio (a descamação de sangue menstrual) sai do útero e alcança outros órgãos. Ocorre com 6 milhões de brasileiras e não tem cura, mas tem tratamento para alívio dos sintomas, que incluem cólicas intensas durante a menstruação e dor na relação sexual. Em 30% dos casos há chance de esterilidade/infertilidade.
– Doenças sexualmente transmissíveis: entre as que mais afetam as mulheres estão a gonorreia, sífilis, cancro mole, tricomoníase, herpes genital, HPV, HIV/Aids, candidíase (se manifesta também pela imunidade baixa, não somente pelo contato sexual) e clamídia. Os sintomas são semelhantes entre algumas delas, portanto, na ocorrência de corrimentos, feridas, coceira, é preciso consulta médica e exames de identificação, procure atendimento. A forma mais eficaz de prevenção é o uso de preservativo.
Outubro Rosa, mês de prevenção ao câncer de mama
Para prevenção ao câncer de mama, a primeira recomendação é pelo auto-exame, que deve ser feito em casa e com periodicidade no mínimo mensal, para que você possa conhecer sua mama e perceber alterações.
A recomendação do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde é pela realização da mamografia de rastreamento em mulheres de 50 a 69 anos, uma vez a cada dois anos.
Por Paula Zarth Padilha
SEEB Curitiba
Goura: “O projeto do dia sem carne escancarou a ‘merenda sem debate’”
October 6, 2017 9:55Vereador do PDT, propositor do projeto “Segunda-feira sem carne” denuncia em entrevista que vereadores silenciam para mais um monopólio nas mãos de apenas duas fornecedoras de alimentos para a rede municipal. Ele propõe a reestatização e regionalização do sistema
Por Pedro Carrano, para Brasil de Fato Paraná, Porém.net e Terra Sem Males
Fotos: Joka Madruga
Em seu primeiro mandato, o vereador Goura (PDT), 37, eleito a partir de pautas como mobilidade e meio-ambiente, levou à Câmara Municipal de Curitiba o projeto chamado “segunda-feira sem carne”. Frente à resistência de diferentes setores, do funcionalismo à opinião pública, ele passou a verificar a qualidade do fornecimento da merenda da rede municipal de Curitiba. O primeiro diagnóstico foi negativo.
A partir daí, em meio a uma Câmara marcada por medidas antipopulares no primeiro semestre, o vereador ouviu as críticas e pautou a questão do modelo de fornecimento de alimentos. Terceirizado desde 1993, hoje apenas duas empresas têm o monopólio de atendimento de 285 mil refeições. O contrato com a Risotolândia, por exemplo, completa duas décadas e vence em março de 2018.
“Não estou defendendo o prefeito ou as empresas que prestam serviço à prefeitura, como muitos vereadores estão, defendendo interesses privados e do executivo. O papel dos vereadores deveria ser cobrar, fiscalizar”, defende Goura, em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, em parceria com o Porém.net e Terra Sem Males.
Brasil de Fato Paraná, Porém e Terra Sem Males. Você apresentou o Projeto de Lei “Segunda sem carne”. Após receber críticas devido à carência geral na merenda, você abriu o debate. Como foi isso e como estão as posições sobre o tema?
Goura Narataj. Antes de tudo, o Projeto da “Segunda-feira sem carne” foi apresentado como um projeto de lei (PL). Como vereador, ainda mais como vereador que não estou na base do prefeito, muitas proposições que eu faço aqui elas de cara já esbarram numa resistência, numa situação de pouca visibilidade até mesmo. E, como legisladores, temos algumas ferramentas à disposição. Posso fazer uma sugestão de ato de gestão ao prefeito, um requerimento simples, um pedido de informação, e posso fazer um Projeto de Lei, que, na minha visão pessoal, nem sempre tem intuito de virar uma lei efetiva, mas de levantar um debate. E foi o que aconteceu, a ideia de “Meat free Monday”, uma segunda sem carne, do dia sem carne, uma campanha mundial que existe há mais de 20 anos, em que se colocam três eixos de discussão: 1) ligado à nossa saúde 2) o impacto do consumo de carne na natureza, o impacto negativo da produção pecuária principalmente na escala industrial em que isso é feito – 80% do bioma amazônico está sendo destruído justamente em ligação direta com a indústria pecuária. E, por fim, o terceiro item é a questão do sofrimento animal, é uma conscientização também sobre a falta de sensibilidade a que os animais são submetidos nesta escala industrial de produção. Diversas cidades do Brasil aderiram à segunda-feira, cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, diversas cidades, no mundo inteiro, nos EUA.
A partir de projetos de lei?
Também como projeto de lei. E aqui em Curitiba, em anos anteriores, a prefeitura manifestou apoio ao projeto, e a gente fez o projeto para tentar levantar uma discussão, se eu tivesse feito como requerimento, ou como sugestão ao executivo, eu tenho certeza que ele não teria tido essa visibilidade. Ele, como era esperado, levantou polêmica e eu dividi essa reação em duas frentes: uma primeira do preconceito, ignorância, de que sem carne você prejudica nutrição, que vai ficar fraco, uma visão preconceituosa, que ainda existe, de que sem carne você não vai se nutrir adequadamente. E a outra crítica que surgiu por parte dos servidores.

Os servidores que apontaram más condições de qualidade e carência na merenda.
Dizemos que o projeto do “Dia sem Carne” escancarou a “merenda sem debate”, no sentido de que trouxe a discussão da merenda e alimentação nas escolas.
Daí nisso vimos também três frentes de discussão: primeiro, a respeito dos cardápios em si, começamos a ver com professoras e professores. E porque minha filha mais velha está na rede municipal, no Mirazinha Braga, e começamos a ver os cardápios servidos, e você tem coisas muito díspares, além das escolas de tempo integral, em que você tem de fato um almoço e uma coisa mais robusta, mas um cardápio que se segue, na segunda-feira, às 9 da manhã, a criança tem gelatina com chá e no outro dia tem risoto com molho de carne. Noutro dia, tem um bolo com achocolatado com aroma, e no dia seguinte tem arroz com feijão preto, às nove da manhã. Outra crítica que surgiu foi a respeito do modelo, terceirizado desde 1993, em que duas empresas têm o monopólio de atendimento de 285 mil refeições, e fomos analisar os contratos, o contrato com a Risotolândia vence em março de 2018 e não é um valor pequeno, são R$ 67 milhões de reais para esse serviço.
A licitação foi feita com quatro lotes para as escolas municipais e cinco para os cmeis. Sozinha, a Risotolândia pegou os quatro das escolas e mais um dos cmeis e a Denjud pegou os outros quatro dos cmeis. Ou seja, você tem toda uma escala industrial deste alimento, são 285 mil refeições por dia, e a gente viu que começou a surgir esta discussão. Então você vê que o cardápio tem problemas, o modelo de atendimento tem problemas, com uma empresa que atende todas as escolas, o alimento é preparado em Araucária de madrugada, distribuído por caminhões pela cidade inteira, então você tem um impacto de trânsito, de poluição. O alimento é servido em copos plásticos. Muitas escolas têm já o talher metálico, mas muitas vezes é um copo plástico de má qualidade. O alimento quente é servido em um material fininho; a criança se machuca, o alimento cai. Temos discutido a possibilidade da remunicipalização do serviço, da reestatização, da desterceirização, como quisermos chamar. Isso é bem interessante, porque você tem uma indústria que há mais de 25 anos que atende a cidade.
O que lembra outros setores controlados por monopólios em Curitiba.
Pode-se fazer um paralelo com a máfia do transporte coletivo, mesmas empresas atendendo a prefeitura, com o lixo, as mesmas empresas, com a locação de automóveis, as mesmas empresas. Eu de forma sóbria acolhi as críticas, e tive reunião com as nutricionistas da rede municipal e com a diretora de logística da Secretaria Municipal de Educação (SME) e, para a minha surpresa, no dia que eu fui a reunião, fomos recebidos pelo gabinete da secretária. A princípio todo mundo ficou preocupado com a “Segunda-feira sem Carne”. Que a gente queria, supostamente, tirar a carne das crianças e precarizar uma situação que já é precária, e eu expus que não: queremos insistir nisso, pretendemos justamente aproveitar este debate mais amplo sobre as três questões, os cardápios servidos, o modelo de atendimento, e o contrato como um todo, entendendo também que, se vamos mudar esse modelo, não será da noite para o dia essa mudança, para o ano que vem, porém se tivermos ao invés de duas, termos dez empresas atendendo, teremos comparativo, uma prestação de serviço melhor.
Queremos insistir nisso, pretendemos justamente aproveitar este debate mais amplo sobre as três questões, os cardápios servidos, o modelo de atendimento, e o contrato como um todo, entendendo também que, se vamos mudar esse modelo, não será da noite para o dia essa mudança, para o ano que vem, porém se tivermos ao invés de duas, termos dez empresas atendendo, teremos comparativo, uma prestação de serviço melhor
Você foi a campo conhecer a realidade nas escolas. Qual foi o resultado dessas visitas?
Fui provocado pelas redes sociais para ver a situação nas escolas e cmeis. Em uma escola específica, na escola municipal Castro, a professora me pediu para vir à Câmara com os alunos, conversarem sobre este Projeto que estão desenvolvendo lá que é a “patrulha do lanche”. Foi bem interessante porque no quarto ano alunos e professora decidiram começar a fazer uma análise do alimento que está sendo servido. A primeira situação foi a do copo de má qualidade. Então, fizeram pedido à secretaria e começou a vir pelo menos um plástico melhor, conseguiram mudar situação precária. Estive na escola, conheci a iniciativa, comi junto com as crianças a refeição. Isso aqui, por exemplo (mostra documento), é uma pesquisa que as crianças fizeram. Com a opção sim, não e pouco. Com a pergunta: você gosta do lanche da escola? E a maioria respondeu: pouco. E as crianças estão fazendo essa análise lá na escola delas. Eu fui criticado e a gente conseguiu ver na Câmara Municipal que existe um lobby muito forte de defesa a priori sem discutir e analisar os fatos, numa defesa dessa qualidade ‘fantástica’ das empresas que prestam esse serviço, o que não é inteiramente verdade se saímos a campo para ver. Tem quatro perguntas aqui do questionário das crianças que são muito significativas. Você gosta das frutas, do pudim, da vitamina e leite com aroma e do risoto/arroz servido. São os itens que mais sobram, de acordo com as crianças. Perguntei para elas, qual é o problema com as frutas? Muitas vezes vem verde, não está saborosa, não está atrativa, então há um rejeito disso muito grande. Outra coisa, as crianças comem na hora do recreio ou um pouco antes, rapidamente, porque elas querem brincar.

Essa é até outra crítica.
Aumentar o tempo de socialização, do lúdico, da brincadeira, que tem papel educativo muito grande. E outra questão é o papel educativo da alimentação. A criança todo o dia comendo no copo plástico, comendo com pressa, comendo alimento do qual ela não participa, isso cria nesses anos de formação um impacto grande, na própria constituição de um hábito alimentar saudável.
E outra questão é o papel educativo da alimentação. A criança todo o dia comendo no copo plástico, comendo com pressa, comendo alimento do qual ela não participa, isso cria nesses anos de formação um impacto grande, na constituição de um hábito alimentar saudável
Nas redes sociais, apareceu na crítica de servidores o fato de que o cardápio já é inconstante e já há falta de alimentos como a carne.
Eu acho o cardápio desequilibrado, como eu disse. A rede atende toda uma situação de toda a desigualdade que Curitiba tem. Ela atende escolas no Batel, no Alto da XV, e no Tatuquara, no Sítio Cercado. Claro que é diferente a realidade de uma criança que mora no Osternack é diferente de uma criança que estuda numa escola municipal no Batel. Isso tem que ser levado em consideração também. Óbvio, o Mestre Pop levantou essa crítica: você quer tirar a carne e muita criança só tem carne na escola.
Esse foi o principal argumento que surgiu.
Acho que faz parte esse desequilíbrio na rede, mas tem que ter esse olhar mais próprio, todo o sujeito a acertos e erros. Mas uma proposta de reestatizar você tem professoras da rede falando sobre como seria importante ideal seria voltar a ter merendeiras na escola. Seria um panorama ideal a ser perseguido. O conselho de nutricionistas disse que Campinas reestatizou o modelo em dez anos. Estamos em contato com gente da prefeitura de lá. Assim, todo modelo vai ter problemas, erros e acertos, pontos positivos e negativos. Vamos tentar levar adiante a proposta de criação de comissão especial da Câmara sobre alimentação escolar, com um tempo vigente de seis meses para estudar a sério questão da merenda.
As empresas te deram algum retorno sobre essas denúncias?
Não, diretamente, não.
E qual é a posição dos conselhos e órgãos da área sobre isso?
Estive em três reuniões bem significativas. Uma foi essa com a secretária, como eu disse. No mesmo dia, estive no Conselho Regional de Nutricionistas, também preocupado que eu pudesse impor uma situação. E a terceira reunião foi no Conselho de Alimentação Escolar, reunião muito legal. O CAE reúne representantes da prefeitura, representantes do Conselho Regional de Nutricionistas, representantes de pais e mães, e também do sindicato municipal de professores. E a mesma coisa: muitos estavam armados esperando postura intransigente minha, falei que queremos aprofundar discussão do cardápio, e vermos que estamos todos do mesmo lado. Temos um número de apenas quatro nutricionistas na rede, na secretaria municipal de educação, para dar contra de quase 400 equipamentos quando o Conselho coloca que precisaria ter 56. Ou seja, estamos muito aquém do número adequado.
Qual tem sido a reação dos demais vereadores?
O vereador Sabino Picolo (DEM) disse que a Risotolândia têm nutricionistas. O interesse do nutricionista da empresa é um, mas o interesse da prefeitura é outro. Então, discuto a proposta de uma regionalização, podia começar a ter uma empresa por regional, pelo menos, junto à ideia de uma cozinha modelo em cada uma das dez regionais da cidade.

Você reagiu às críticas com a abertura do debate, sendo que a maioria dos vereadores têm sido refratários. Em épocas de ajuste fiscal à força, é necessário outro método de diálogo no Legislativo?
Nesse primeiro semestre, tivemos o pacotaço. Eu me posicionei ao lado dos servidores desde o início. O PDT infelizmente não teve uma posição unida, em relação a isso, mas a maioria dos cinco vereadores se posicionou no final a favor dos servidores. Como vereador, eu tenho que ter a humildade de saber o que estou fazendo aqui. Quais são os interesses que estou defendendo aqui. Não estou defendendo o prefeito ou as empresas que prestam serviço à prefeitura, como muitos vereadores estão, defendendo interesses privados e do executivo. O papel dos vereadores deveria ser cobrar, fiscalizar. Não tinha como ser diferente, no sentido de o projeto apresentado não ter condições de ser aplicado, eu assumi a crítica, incorporei a crítica, e persegui os sentidos que a crítica está apontando, que é uma postura do mandato.
Inscrições abertas para o 23º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação
October 6, 2017 9:37A organização dos trabalhadores e a sua comunicação vão estar no centro dos debates do 23º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação, que tradicionalmente é realizado no Rio de Janeiro durante cinco dias, em 2017 de 22 a 26 de novembro. As inscrições estão abertas e incluem hospedagem, almoço e participação no curso (acesse aqui para saber mais).
O Núcleo Piratininga de Comunicação foi fundado por Vito Giannotti e Claudia Santiago com o objetivo de formar dirigentes e jornalistas sindicais visando a comunicação contra-hegemônica, fomentando outras narrativas diferente das praticadas pelo jornalismo comercial, com base na comunicação popular e no jornalismo alternativo e independente.
O Terra Sem Males apoia os ideais do NPC por uma outra comunicação.
O NPC disponibilizou um site com todas as informações sobre como participar. Acesse aqui.
Confira a programação completa:
22 de Novembro de 2017
14h30min às 18h
CONTINUAM ABERTAS AS VEIAS DA AMÉRICA LATINA?
Flavia Braga (UFRRJ)
Maria Lúcia Fatorelli (Auditoria Cidadã)
Igor Fuser (UFABC)
Samuel Pinheiro Guimarães (Embaixador)
Olimpio dos Santos (SENGE-RJ)
18h às 20h
A CLASSE TRABALHADORA, O ESTADO E A DIREITA NO BRASIL E NO MUNDO
Reginaldo Moraes (Unicamp)
Ruy Braga (USP)
23 de Novembro de 2017
9h às 13h30min
AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS, CONGLOMERADOS GLOBAIS E A CONCENTRAÇÃO DA INFORMAÇÃO
Francisco Fonsca (FGV-SP)
Laurinho Leal (USP)
Renata Mielli (FNDC)
Murilo Ramos (UnB)
14h30min às 18h
O PAPEL DA COMUNICAÇÃO E DA EDUCAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO POPULAR
Camila Marins (Fisenge)
Maíra Ribeiro (Psicóloga)
Inessa Lopes (JVC)
Maisa Lima (CUT-GO)
Marcela Cornelli (Sindprevs-SC)
18h30min
CONFRATERNIZAÇÃO
24 de Novembro de 2017
9h às 13h
A CLASSE TRABALHADORA NO SÉCULO 21
Mauro Iasi (UFRJ)
Marcio Pochmann (Perseu Abramo)
Ricardo Antunes (Unicamp)
Virgínia Fontes (Fiocruz)
14h às 16h
COMUNICAÇÃO EM TEMPOS DE GOLPE
Sylvia Moretzsohn (UFF)
Beto Almeida (TeleSur)
José Trajano (Ultrajano)
16h às 19h
O PAPEL DA MÍDIA NA CRIMINALIZAÇÃO DE SINDICATOS, DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E DA POBREZA
Claudia Costa (Conlutas)
Guilherme Boulos (MTST)
Cecília Olliveira (The Intercept)
Kleber Mendonça (UFF)
25 de Novembro de 2017
9h às 13h
A COMUNICAÇÃO E A CULTURA NA LUTA DE CLASSES E NA LUTA DE CADA UM
Erika Kokay (Deputada Federal – DF)
Raphael Calazans (Papo Reto)
Douglas Belchior (Uneafro)
Adenilde Petrina (Mov. Negro)
15h às 18h – OFICINAS
Manual do Guerrilheiro Digital
Gustavo Barreto
Redação
Sheila Jacob
As muralhas da linguagem na redação e na oratória
Claudia Santiago Giannotti
Jornal impresso
Kátia Marko e Mário Camargo
Reportagem
Najla Passos
A comunicação da organização popular
Eliane Dal Gobbo
26 de Novembro de 2017
10h às 13h
A COMUNICAÇÃO NA ERA DOS ROBÔS E A NOSSA COMUNICAÇÃO
Arthur William (EBC)
Andrew Fishman (The Intercept)
Gustavo Barreto (ONU)
Camila Maciel (Brasil de Fato)
NPC divulga nova edição do livro-agenda Mulheres de Luta 2018. Saiba como adquirir:
October 6, 2017 8:59O Núcleo Piratininga de Comunicação relançou o livro-agenda “Mulheres de Luta”, lançado em 2017. A nova edição é limitada em mil exemplares e conta com algumas alterações que contemplam novos textos sobre outras mulheres de luta.
Uma das novidades é o texto da abertura do mês de fevereiro é sobre Carolina Maria de Jesus, “a escritora que incomoda a classe dominante”, segundo Miriane Peregrino, autora do artigo. A cineasta camaronesa Pascale Obolo, a freira mexicana Juana Inés de la Cruz, a escritora brasileira Conceição Evaristo e a lutadora Maria Dalva Correia da Silva, também brasileira, são algumas das novas mulheres apresentadas ao longo das páginas.
É possível reservar a sua agenda pelo e-mail npiratininga@piratininga.org.br. O NPC oferece também, em 2018, o inédito livro-agenda “A luta por direitos no Brasil e no mundo”.
Para divulgar a edição de 2017, o Terra Sem Males publicou uma entrevista com a jornalista Sheila Jacob, que editou o livro-agenda.
Esperamos que a agenda, com os exemplos ali reunidos, possam contribuir para as iniciativas de luta já existentes e para a construção de muitas outras mobilizações! Também esperamos que o material incentive as pessoas a pesquisarem cada vez mais as mulheres resistentes que, de diversas formas, contribuíram para melhorias significativas na sociedade”, explica Sheila Jacob, jornalista do NPC responsável pela pesquisa e pelo conteúdo do livro-agenda.
O livro-agenda traz as mulheres que sonharam com a construção de uma sociedade justa e solidária e batalharam por isso nos mais variados espaços: no campo, nas fábricas, nas manifestações de rua, na guerrilha, nos sindicatos, nas salas de aula, na ciência, na produção intelectual e muitas outras formas mobilização.
Arapuca dos tucanos
October 5, 2017 12:24Permanência no governo Temer diminui chances do partido de retornar à presidência por vias democráticas
ARMADILHA | O PSDB se vê cercado pelas próprias ratoeiras que armou e não há outro rumo a não ser seguir em frente. Os tucanos viram sua principal liderança, Aécio Neves, transformar 51 milhões de votos em pó em menos de dois anos. O mineiro simplesmente não existe mais no jogo eleitoral depois que apareceram as malas de dinheiro em seu nome. É certo que senadores tentam salvar seu mandato. Mas o desgaste é apenas para evitar que denúncias não os atinjam.
PRESA FÁCIL | Por outro lado, o partido tem problemas bem maiores. Os caciques observam a sigla estacionada em um quarto lugar e sem muitas chances de emplacar. É 8% para Dória Jr, que flerta com DEM e MBL. É 8% para Alckmin, que flerta com os cabeças brancas do partido. Com esses números, os tucanos sabem que seu adversário no momento e até 2018 não é Lula, que consolidou sua margem acima dos 30% e está no segundo turno. Os emplumados têm como alvo o radical Jair Bolsonaro e a tergiversante Marina Silva. É com eles que o PSDB – rachado – disputa uma fatia do eleitorado conservador e extremista.
MORRE PELA BOCA | Mas o PSDB parece não perceber que tende a ficar estacionado eleitoralmente enquanto mantiver o apoio a Temer. Aí está sua encruzilhada. Por isso o desespero em abandonar a relatoria do pedido de afastamento que está com o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), mas não conseguir. Ficar no governo e salvar o presidente mais impopular da história revela a troca de favores que sustenta essa aliança. De outro lado, a sigla vê cada vez colada em si a imagem de um partido seletivo e omisso com a corrupção quando essa atinge os seus. Que os diga Beto Richa e a operação “Quadro negro”, Alckmin e Serra com casos do metrô.
CARNÍVOROS | Enquanto isso, Bolsonaro se descola de qualquer compromisso com a quadrilha que governa o país e ainda aprimora seu discurso raivoso. Seus eleitores, pelo o que se vê nas redes, dificilmente migram para o PSDB. Já Marina tenta não dizer nada que possa comprometê-la, nem quando o assunto é meio ambiente. Ela quer ganhar por “desmatamento de outras opções”. Enfim, os tucanos estão sendo abatidos por suas arapucas.
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Manoel Ramires
Pinga-fogo
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Lula participa da abertura do 8º Encontro Nacional do MAB, no Rio de Janeiro
October 5, 2017 10:15Ex-presidente parabenizou o movimento por levantar a bandeira da soberania nacional e prometeu se mobilizar para garantir os direitos dos atingidos pelo crime em Mariana (MG).
“Eu queria começar a minha fala dando os parabéns e agradecendo a direção do MAB por ter tido a ousadia e a coragem de organizar o seu encontro com o tema tão importante para o Brasil que é a soberania, sobretudo discutindo a questão da água e energia”, disse ao microfone o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura oficial do 8º Encontro Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que acontece no Terreirão do Samba, no Rio de Janeiro.
À frente de Lula, aglomeraram-se aproximadamente 3.500 atingidos por barragens vindos de 22 estados brasileiros. Nas suas costas, no palco, somaram-se dezenas de dirigentes sindicais, intelectuais, deputados e senadores. Um deles, o senador paranaense Roberto Requião (PMDB), também destacou a importância de pautar a soberania nacional nesse período de retomada das privatizações.
“Eu acho excepcional que os movimentos sociais encontrem um denominador comum, que é a defesa da soberania nacional. É a matéria-prima da unidade contra o governo entreguista. Quando o MAB acorda pra isso, ele está mostrando que se insere definitivamente, não na luta particular contra a usurpação das barragens, mas em uma luta geral pela independência e soberania do Brasil”, afirmou Requião.
Horas antes da abertura do Encontro do MAB, ocorreu o lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa em Defesa da Soberania Nacional no Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, localizado também na capital carioca. Com Requião na presidência, a Frente reúne nomes como Lindbergh Farias (PT), Jandira Feghali (PCdoB) e Gleisi Hoffmann (PT), que também marcaram presença abertura do Encontro.
O ex-presidente também destacou a importância da auto-organização dos trabalhadores na atual conjuntura política. “Nesse momento é o movimento social que tem coragem de dizer pra elite brasileira: ‘se vocês não têm competência para ganhar uma eleição, se vocês não têm competência de governar esse país, deixe o povo fazer isso, porque o povo sabe fazer isso’”.
No mesmo sentido, a integrante da coordenação nacional do MAB, Ivanei Dalla Costa, exaltou a mobilização popular como única possibilidade para sair do cerco imposto por setores golpistas. “Apenas com o povo ocupando as ruas teremos alguma possibilidade de barrar os retrocessos que o capital internacional está tentando impor no nosso país. Por meio das privatizações, estão tentando seqüestrar nossos rios, nossas florestas e nosso petróleo”, opinou.
Amanhã, terça-feira (2), os atingidos que participam do Encontro, além do ex-presidente Lula, se somarão a diversas categorias que integram a Plataforma Operária e Camponesa da Energia e Frente Brasil Popular no Dia de Luta Pela Soberania Nacional. Com início às 11h na sede da Eletrobras, a mobilização segue até a Petrobras, ambas localizadas no Centro do Rio de Janeiro.
Bacia do Rio Doce
Antes do evento, Lula concedeu entrevista exclusiva às equipes de comunicação do MAB e do Brasil de Fato. Na pauta, criticou a morosidade da Justiça em relação ao crime ocorrido em Mariana (MG). “A justiça, quando é feita para desapropriar o movimento, é mais rápida, quando ela é feita pra favorecer o movimento tende a retardar, porque tem muitos advogados e porque tem muitas petições. Dado concreto é que o que aconteceu lá em Mariana não pode se repetir”.
Ainda neste mês de outubro, Lula fará uma nova Caravana por 11 municípios mineiros, entre eles Governador Valadares, que teve sua distribuição de água prejudicada pelos rejeitos despejados no Rio Doce. “Eu vou passar em Governador Valadares para que a gente faça um protesto exigindo que seja apressado o julgamento e que a Vale possa ressarcir os milhares de produtores, investidores, proprietários rurais e pescadores. Para que possam readquirir as suas condições de vida, com a indenização que a Vale tem que pagar. Por isso, nós vamos fazer um evento lá. Nós vamos fazer questão de mobilizar a sociedade para recuperar a dignidade do povo, que foi perdida com a lama de Mariana”, assegurou.
Foto: Joka Madruga
Fonte: Movimento dos Atingidos por Barragens
Milhares tomam as ruas do Rio de Janeiro em defesa da soberania nacional
October 5, 2017 10:13Cerca de 15 mil pessoas se concentraram em frente à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, no Dia Nacional de Luta em Defesa da Soberania, convocado pela Frente Brasil Popular, nessa terça-feira (3 de outubro), dia de aniversário de 64 anos da estatal do petróleo. Os 4 mil atingidos por barragens de 19 estados brasileiros presentes no Encontro Nacional do MAB também engrossaram essas fileiras.
Na grande marcha, os manifestantes também pararam em frente à Eletrobrás, estatal da eletricidade, que o governo golpista de Michel Temer quer privatizar. Eletricitários, além dos trabalhadores da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE) e da Casa da Moeda – todas no pacote de privatizações – decretaram paralisação no dia de hoje.
O ato também contou com a presença do ex-presidente Lula. “Defender a soberania é mais que defender a Amazônia, mais que defender as águas e os rios. Mais que defender as fronteiras. Mais que defender o ecossistema. É mais que defender o salário e a pauta de reivindicação. É defender a dignidade e a honra de um povo, que só vai acontecer se tiver educação, saúde, trabalho e cabeça em pé criando sua família”, afirmou em discurso.
“A defesa da soberania nacional se faz urgente na atual conjuntura em que o governo golpista de Michel Temer busca entregar riquezas estratégicas com a desculpa de reduzir o déficit fiscal. Isso vai aumentar a dependência do Brasil em relação às economias centrais, aumentar a pobreza e o desemprego, retroceder no desenvolvimento da ciência e tecnologia e nas políticas públicas. E a energia tem um papel central nessa estratégia, sendo muito cobiçada. Não à toa, os maiores ataques são à Eletrobras e à Petrobras”, afirmou Alexania Rossato, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). O 8º Encontro Nacional do MAB elegeu a questão da soberania como um tema central.
Contra a lógica da financeirização
De acordo com Cibele Vieira, diretora da Federação Única dos Petroleiros (FUP), a Petrobras é a empresa que simboliza a defesa da soberania nacional desde sua criação, a partir da campanha “O Petróleo é Nosso”. Segundo a petroleira, “hoje é um ato contra o desmonte do estado, pela soberania nacional e a Petrobras desde a sua criação é um exemplo disso, ela carrega essa história. A Petrobras não pode servir para dar lucro para acionista e nem reduzir o déficit fiscal”.
“Nós, petroleiros e petroleiras, percebemos nitidamente a mudança de uma empresa que tinha uma preocupação social, uma preocupação de segurança, com o meio ambiente, para uma empresa que passou a focar em lucro. Isso ataca diretamente a gente que está no dia a dia da empresa. Nossa vida está em jogo, inclusive. Tem aumentado os acidentes fatais na Petrobrás desde que começou a Lava Jato, quando a empresa começou a ter que responder ao mercado financeiro”, afirmou.
Entrega do pré-sal
O que está em jogo atualmente é uma disputa em torno do modelo de exploração do pré-sal. A riqueza, de 176 bilhões de barris, é responsável por colocar o Brasil como o país com a terceira maior reserva de petróleo do mundo, atrás apenas da Venezuela e da Arábia Saudita. Essa riqueza está sob risco de ser entregue às empresas privadas com o fim da exclusividade da Petrobras na operação do pré-sal. De acordo com Cloviomar Pereira, economista do Dieese, a medida proposta pelo senador José Serra (PSDB) poderá tirar até R$ 1 trilhão em investimentos em saúde e educação.
Para a jovem Lucinete Trindade, militante do MAB e atingida pela hidrelétrica de Belo Monte (PA), a luta é essencial. “Como a Petrobrás e o pré-sal são nossos, nada mais justo do que essa riqueza ser distribuída para o povo brasileiro através de investimentos em saúde e educação”.
Quem paga a conta é o povo
O vendedor ambulante Antônio disse que não pôde participar da manifestação por estar trabalhando, mas afirmou que atos como este têm todo o seu apoio. “Os governantes aproveitam essa crise que é do Estado, pegam o que é do povo e jogam fora. Eles têm muita grana e estão pouco ligando para o povo. O povo vai ter que vir para a rua porque está muito difícil”.
Miguel Azevedo, petroleiro aposentado, também somou-se à manifestação. “Quem descobriu o pré-sal foi a Petrobrás, não foram as empresas estrangeiras. E agora estão querendo entregar esse patrimônio construído pelo povo brasileiro. Como petroleiro, é duro ver o que a gente construiu ser entregue de forma tão banal”.
Foto: Joka Madruga
Fonte: Movimento dos Atingidos por Barragens
Atingidos por barragens defendem Eletrobrás pública
October 5, 2017 10:10Mais de 4 mil atingidos que participam do Encontro Nacional do MAB se somaram ao ato do Dia Nacional em Defesa das Empresas Públicas nesse 3 de outubro. Os atingidos marcharam desde o Sambódromo, onde estão alojados, até a sede da Eletrobrás, na Avenida Presidente Vargas. A estatal, que é a maior empresa do setor elétrico no país, está sob risco de privatização.
O ato foi convocado pela Frente Brasil popular e reuniu milhares de pessoas nas ruas do Rio de Janeiro. Os eletricitários também decretaram paralisação nacional no dia de hoje.
Gilberto Cervinski, da coordenação nacional do MAB, afirma que a participação dos atingidos nessa luta é imprescindível.
“O que está acontecendo é um processo de destruição da soberania. O Brasil está perdendo todas as riquezas do seu controle. A privatização só faz mal, podemos ver, por exemplo, o que aconteceu com a Vale, em Mariana. E é por isso que nós estamos nessa luta, contra as privatizações e em defesa do nosso patrimônio.” afirma.
Com mais de 4 milhões de consumidores, a Eletrobrás produz 30% da energia do país e é dona de 50% das linhas de transmissão do Brasil. Atualmente a Eletrobras é uma empresa de economia mista, e o governo detém 60% das ações ordinárias. A proposta de Temer é entregar estas ações, que dão ao governo majoritariedade na empresa.
Valor da venda X valor real
Temer anuciou que pretende vender a Eletrobras por R$ 20 bilhões. Além de ser uma entrega de um patrimônio público para empresas privadas, o preço de venda da estatal é irrisório. Somente de lucro líquido, a empresa gera por ano mais de R$ 60 bilhões. Para se ter uma idéia, somente 1 das 47 hidrelétricas que a Eletrobras possui, a usina de Belo Monte, tem um preço de custo de R$ 30 bilhões.
Além disso, hoje a Eletrobrás é dona de 16 empresas de energia em todo o país. Caso a estatal seja vendida, todos os trabalhadores dessas companhias também vão sofrer com a mudança. É o que afirma Fabíola Latino Antezana, da Federação Única dos Urbanitários (FNU).
“As experiências que a gente conhece de privatização do setor elétrico resultaram em um aumento dos acidentes de trabalho, na maioria dos casos fatais ou com mutilação. Então a gente com muito medo do que está por vir, porque eles vão querer o menor preço de produção possível e vão colocar toda a pressão em cima dos trabalhadores.”
Aumento da Tarifa
Com a privatização, a tarifa de energia também vai aumentar. Hoje, a Eletrobras vende a energia mais barata de todo o Brasil; R$ 60 por MWts. Isto porque a empresa aderiu ao Projeto de Lei 12.783/2013, que permitia a renovação das concessões das usinas hidrelétricas e definia uma redução na tarifa da energia. Ou seja, atualmente a estatal cobra pela energia uma tarifa de custo. Com a privatização, a especulação é que esse valor passe para R$ 200 o MWts, 3 vezes mais do que o valor atual.
“A consequencia das privatizações você pode ver é na conta de luz, água, gás, de combustível, na perda de trabalho e precarização, redução da qualidade do serviço público. O povo vai pagar a conta e o capital vai lucrar!” denuncia Gilberto Cervinski.
Patrimônio
Se a Eletrobras for entregue para empresas privadas, os brasileiros vão perder um patrimônio gigantesco. Hoje, a empresa possuí 47 hidrelétricas, 114 termelétricas, 2 usinas nucleares, 1 usina solar, 69 usinas eólicas e mais de 70 mil km de linhas de transmissão. Além disso, a Eletrobrás controla 50% da energia da Usina Binacional de Itaipu. Se privatizada, todo este patrimônio será tomado do povo brasileiro e entregue para empresários.
Foto: Joka Madruga
Fonte: Movimento dos Atingidos por Barragens
Cultura e resistência estão na mesa do MAB
October 5, 2017 10:06Dezenove estados brasileiros estão representados no 8º Encontro Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), reunindo cerca de 4 mil, entre atingidos e militantes de entidades parceiras. Na bagagem, descarregada desde domingo (1) no Terreirão do Samba, no Rio de Janeiro (RJ), está a produção local de diferentes regiões, desde produtos cultivados e beneficiados por cooperativas, como o arroz orgânico, do MST/RS, ou o arroz de terra, pilado artesanalmente por famílias do Piauí. Ainda, este grande encontro propicia que mulheres exponham produtos artesanais.
Dona Maria Augusto Oliveira, 53 anos, de Porto Velho (RO), trouxe na mala salgadinhos caseiros, biscoito de tucumã, doce de cupuaçu, óleo de babaçu e outros. “O babaçu é um coco comprido, a gente quebra e há uma entrecasca que é uma massa”, explica Maria. Da massa, elas produzem biscoitos, além do óleo das castanhas que a fruta produz. Ela participa do MAB há três anos e é a primeira vez que participa do Encontro Nacional. O Movimento foi criado dentro do assentamento, no qual vive.
Rapaduras de amendoim e coco, mel de cana, cachaça são expostos por Eudite Oliveira, 35 anos, que trouxe o filho Davi, de três, para o evento. Ela é uma das moradoras de Indaiabira (MG), que faz resistência contra a barragem de Berizal, que está em projeto. “O povo já desmanchou uma estrutura que iniciaram”, conta. “Se este projeto sai, estamos ferrados, porque mexe com a vida de muita gente”.
A produção de subsistência dos militantes do MAB também está na cozinha do acampamento dos militantes do Paraná – alface, beterraba, cenoura, chicória, acelga, feijão, laranja, banana, pães, cucas, doce de abóbora. Elizabete Drabecki, 46, do Paraná, participa como coordenadora da cozinha. Os avós e pais foram vítimas da barragem no Rio Bonito de Iguaçu. “Vi as dificuldades que enfrentaram e que ainda hoje as pessoas enfrentam, abandonando seus restinhos de terra, invadidas pela água, sem qualquer tipo de indenização”, diz.
O Rio Grande do Sul também tem na cozinha produtos da agricultura familiar, produzidos pelos militantes ou da CECAFES – Central de Cooperativas, por exemplo, que reúne cerca de 30. Tereza Pessoa, 46 anos, milita no MAB há cinco anos e participa do Encontro já pela segunda vez. Com as mãos nas panelas, explica que os projetos para construção das barragens nos municípios de Alecrim e Garrudos estão suspensos, “graças à resistência popular”. Estes projetos atingem 19 municípios brasileiros, alagando dois centros urbanos daqui e dois na Argentina, atingindo cerca de 13 mil pessoas, conforme estudo realizado.
Pica-se manjericão, hortelã, cebola de folha e de cabeça, mistura coloral e sal com vinagre ou cachaça e coloca tudo no liquidificador – tá pronto o molho para temperar carnes e saladas. A receita está na cozinha do Piauí, feita pela militante Erlandia de Paula, 37 anos, vítima da Barragem de Boa Esperança. Ela conta com a ajuda de Charles Freitas, tanto na organização da cozinha, como na articulação do Movimento, que é recente. O coloral, utilizado na receita, é produzido pelas famílias da região, assim como o arroz de terra, pilado artesanalmente. Também ali está a farinha de mandioca, misturada, como de costume, com o café. “Fica uma delícia e alimenta”, garante Erlandia.
Na cozinha de Minas Gerais, o menu é carne com mandioca, feijoada e arroz com pequi – fruto nativo. A mulherada, reunida em torno das panelas, é vítima da Barragem de Irapé, além de estar em luta contra a monocultura do eucalipto e do pinho. “O eucalipto tem acabado com nossas nascentes, e a resina do pinho adoecendo nossa gente”, conta Ernani da Silva Rodrigues, 53.
Texto: Luciane Godinho
Foto: Pedro Tucum
Fonte: Movimento dos Atingidos por Barragens